quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Espaço físico e desenvolvimento ministerial

Não há como uma igreja desenvolver seu ministério se não houver recursos de humanos e financeiros, um mínimo de estrutura organizacional e espaço físico adequado.

Deus nos abençoou com pessoas interessadas no desenvolvimento das coisas do seu reino, tem nos provido com os recursos financeiros necessários, possibilitou que nos interessássemos em ter uma boa organização e deu-nos um excelente e muito bem localizado espaço.

Em face dos rumos que o ministério da igreja tomou, adequações patrimoniais tornaram-se necessárias para melhor atender as necessidades a serem ministerialmente supridas.

Assim, nesses últimos cinco anos, foram feitas as seguintes macro-intervenções patrimoniais:

  1. Reforma interna da Unidade de Saúde (Administrada pelo Cecom), possibilitando melhores condições de trabalho e atendimento;
  2. Ampliação da área interna do estacionamento, modificação no muro e construção de guaritas, aumentando a percepção de segurança;
  3. Construção de cantina, corredor e sanitários, modificando sensivelmente não só a dinâmica dos acessos e dos relacionamentos, mas também do funcionamento das atividades;
  4. Realização de intervenção acústica no auditório e aquisição de equipamentos, possibilitando uma comunicação com melhor qualidade;
  5. Construção de salas equipadas para cada área ministerial dando outra vida ao trabalho dos ministros e equipe;
  6. Reforma interna da unidade de educação, construção de novas salas, kitnetes e banheiros, além da climatização geral;
  7. Reforma do berçário, tornando-o de referência;
  8. Compra de terreno e construção de templo em Coronel João Sá (em parceria com a Missão IDE, de Manaus), ainda em processo de definições quanto ao acabamento.
Agora, dando resposta aos desafios que o desenvolvimento ministerial continua provocando, temos diante de nós:

  1. Adequação das salas de administração do CECOM;
  2. Construção da quadra esportiva visando comunhão, atuação social, ensino e evangelização, além de maior integração sócio-comunitária,
  3. Construção do salão de lazer pelos mesmos motivos da quadra;
  4. Reforma e ampliação da “Praça da Comunhão”;
  5. Finalização da reorganização do estacionamento;
  6. Reforma visando criar melhor espaço para biblioteca, livraria, cantina e recepção;
  7. Construção de Rampa de Acesso à Praça da Graça;
  8. Adequação e ampliação da finalidade do espaço do estúdio para avançarmos nas comunicações;
  9. Restauração da Praça da Graça (em cima do auditório);
  10. Reforma de espaço para servir como cozinha-padaria-refeitório, apoio a recepções e atividades ministeriais e curso de culinária.

Com isso teremos uma estrutura plenamente adequada ao cumprimento de nossa missão e visão estratégica, através das atividades promovidas pelas áreas ministeriais de nossa organização.


Parte desses 10 últimos passos está sendo incluída no Planejamento Organizacional 2010 que será avaliado pelo Conselho Diretor no próximo sábado. Por isso, esperamos que cada um seja fiel aos compromissos assumidos ao se tornar membro, a fim de que possamos avançar. O resultado final certamente será abençoador para todos, como têm sido os 8 primeiros itens realizados.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Agenda pastoral 2010

Considerando ser este o primeiro domingo após o carnaval, tempo em que a regularidade da freqüência dos membros começa a entrar na “normalidade”, compartilho uma visão geral do que poderá ser a agenda pastoral em 2010.

O início de 2010 é também o início do sexto ano de caminhada deste pastor com a IBG. O período aparenta ser favorável à caminhada, uma vez que os relacionamentos se apresentam amistosos, as tensões estão em níveis saudáveis e, portanto, podem ser criativas e não destrutivas, a macroestrutura organizacional está funcionando de maneira aceitável, as soluções para os problemas operacionais identificados nas diversas áreas estão sendo implementadas, as condições financeiras permitem o cumprimento do planejado e as principais adequações da estrutura física às necessidades ministeriais estão concluídas.

Esse quadro permite que nossas energias sejam ainda mais concentradas e com mais tranqüilidade nas realizações que contribuem para que a igreja viva mais intensamente os valores do Reino de Deus.

Assim sendo, em 2010 a agenda pastoral inclui os seguintes compromissos:

1. Pessoal – Aprofundar investimentos na saúde espiritual, emocional, física, intelectual, social e econômica, com destaque para o relacionamento conjugal, o suporte aos filhos, a continuidade dos estudos e reinício de processo psicoterapêutico. Atenção especial será dada no sentido de gozar, paulatinamente, os dois períodos de férias vencidas.

2. Eclesiástico-local – Manter a política de uma agenda saudável de compromissos. Nesse sentido continuará revezando o púlpito; priorizando a visitação exclusiva para enfermos; investindo uma tarde em aconselhamento; cumprindo a agenda de seminários para noivos e novos membros; dirigindo as reuniões do Conselho Diretor e de Ministros, bem como as reuniões essenciais à implementação do Plano Organizacional 2010; participando de maneira racional das atividades dos ministérios subordinados à área pastoral e das 6 outras áreas ministeriais, bem como da membrezia (aniversários, chás, casamentos, formaturas, funerais, etc.). Por razões de prioridade, a política de realizar casamentos somente se um dos cônjuges for membro da igreja será mantida.

3. Denominacional batista – Participar do estritamente necessário das atividades da OPBB-BA, da assembléia da CBBA e da Aliança de Batistas. A meta é não aceitar convite para falar em outras igrejas, concentrando a participação no Grupo de Trabalho - GT da transparência batista – que reavaliará a filosofia e formato dos relatórios das organizações da Convenção Batista Brasileira.

4. Cidade – Nesta área a participação em eventos de natureza religiosa, educacional e social, fora do meio batista, também será criteriosamente selecionada.

Percebe-se que é impossível a qualquer ser humano conviver com as pressões de todas as atividades que envolvem a vida de um pastor. Portanto, se a palavra “não” chegar aos seus ouvidos, lembre-se de que não se trata de ato de má vontade ou falta de consideração, mas de respeito próprio, de humanidade.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O carnaval de Salvador


Não há como não refletir sobre o carnaval. Estou no olho do furacão, a 200 metros de um dos circuitos do maior carnaval de rua do planeta, que é o de Salvador, Bahia. 
 Não fui até o local, mas não posso evitar de saber tudo que está acontecendo na Praça do Campo Grande e Corredor da Vitória, pois daqui ouço tudo o que ali se diz e se canta, pelos potentes equipamentos de som usados nos trios elétricos.
(A Praça do Campo Grande, na qual caminho, em dias normais)
Gláucia está em Manaus assistindo ao pai que está enfermo e, conquanto tenha recebido diversos convites para estar com famílias da Igreja em lugares certamente maravilhosos, a necessidade de colocar em dia algumas leituras e trabalhos acadêmicos não permitiram que eu desfrutasse da companhia de gente que tem me dado carinho e tenho me empenhado para corresponder. Espero, em pelo menos um destes dias de carnaval, poder usufruir da companhia de alguém em uma dessas ofertas.

Por enquanto vou cumprindo meu dever, lendo pela manhã, tarde e noite, com intervalos para cuidar de outras necessidades, incluindo o gato que, quando não está dormindo, me cerca o tempo todo, e o computador que me faz sentir menos isolado.

 As mudanças no cotidiano do bairro

Do alto do 7º andar do meu apartamento, cercado de janelas de vidro por todos os lados, vejo o movimento  de gente que vai e vem.
Na ida ao supermercado que fica a 100 metros da praça, percebi que o perfil do público ali, bem como o produto mais procurado, não é o predominante no cotidiano.

Desde o estacionamento até a parte de dentro da loja, toda uma estrutura de venda de cerveja, no atacado, está montada. Assim, há uma quantidade imensa de moças bonitas atraindo clientes para a marca de cerveja que representa. Todo o acesso imediatamente do lado de dento da loja está abarrotado de pilhas de cerveja e água. A clientela, em sua maioria, são os vendedores de rua reabastecendo seus estoques. No estacionamento, dezenas de pessoas, geralmente grupos de rapazes e moças, ocupam os espaços bebendo, rindo e falando em voz alta para competir com o barulho dos trios.

As pessoas vão e vem. Geralmente em pequenos grupos ou casais de mãos dadas. A música rola o dia todo. Na maior parte, músicas mais agitadas e, vez por outra, músicas mais lentas. Até um "Ave Maria" de Schubert, já rolou, além de discursos de responsáveis pela segurança pública.
(A Praça do Campo Grande, na qual ninguém "caminha" em dias de carnaval)

Motivos para participação e tipos de pessoas

No meio disso tudo, há pessoas olhando o movimento, outras querendo ver de perto alguma celebridade, outras a fim de brincar,  pulando juntamente com a massa ao som das músicas e outras, ainda, com uma infinidade de intenções que vão das comerciais, passando pelas eróticas, chegando a furtos e assim por diante.

É óbvio, portanto, que nem só de gente má intencionada ou interiormente vazia é formada a multidão dos que estão nas ruas. Encaixar todos os que vão às ruas nesse perfil parece-me simplismo. Muitas das pessoas que lá estão, são as mesmas que encontro quase que diariamente pelas ruas do bairro. Pessoas que trabalham, estudam, se alegram e choram como todo ser humano. Algumas já equacionaram o sentido de suas existências, outras ainda não. Umas têm uma compreensão de religiosidade que inclui a diversão e são pessoas vivendo suas vidas segundo os ditames de sua fé e consciência.

Discursar que todos os que ali estão são pessoas desesperadas em busca de alívio e que, depois da folia, cairão numa realidade depressiva, parece não condizer com a realidade toda. Ainda que, como em todo ajuntamento de pessoas, inclusive em reuniões religiosas, haja pessoas buscando uma razão para viver, creio ser necessário distinguir o discurso ideológico religioso que define, a priori, o carnaval como atividade 100% diabólica e as reuniões religiosas como atividade 100% divina. Quem vive e estuda há décadas a realidade das igrejas sabe que também existe muito de diabólico em atividades religiosas.

Referencial para avaliação do evento

Talvez, um referencia que pode nos ajudar em nossa reflexão sobre o carnaval seja uma avaliação do ambiente em termos de riscos. Nesse sentido, o julgamento partiria não de um pressuposto preconceituoso, mas de uma análise de dados mais profunda. Isso significa avaliar o ajuntamento, as finalidades - de lazer, de economia - e a probabilidade de efeitos maléficos.

Ninguém condena ajuntamento de pessoas pelo ajuntamento. Condena-se ajuntamento que, em vez de contribuir para uma vida mais justa, amorosa, feliz ou solidária, leva as pessoas em sentido contrário. É o caso, por exemplo, da condenação ao ajuntamento de pessoas más, declarada por Davi (Sal 6.5) e ao de pessoas religiosas, denunciado por Amós (Am 5.21).

Ninguém condena, também, ajuntamento com a finalidade de diversão. Fui vítima de um período em que evangélico era proibido de ir a estádio de futebol. Hoje, é comum até pastores presentes em ajuntamentos de milhares de pessoas em estádios de futebol.

Quanto ao aspecto econômico, ele é inerente a toda atividade humana. Porque a igreja se reúne, prédios precisam ser construídos, equipados e mantidos, e pessoas constroem, oferecem serviços de manutenção e venda de equipamentos, tirando disso seu sustento. Porque as igrejas cantam, há pessoas que produzem e vendem músicas, partituras, instrumentos musicais, equipamentos de som e vídeo, tirando disso seu sustento. Porque as igrejas ensinam, pessoas produzem livros e revistas, materiais didáticos e promovem cursos de capacitação de professores, tirando disso seu sustento.

Porque pessoas vendem produtos e serviços às igrejas, elas - as igrejas - precisam de recursos financeiros para sua manutenção, cabendo aos fiéis prover tais recursos.

O mesmo raciocínio se aplica ao carnaval e toda atividade humana. Apenas a motivação, finalidade, produtos envolvidos e fontes de financiamento são geralmente diferentes.

O que considerar na hora de decidir

O carnaval coloca pessoas numa encruzilhada na qual precisam decidir entre duas coisas essenciais à vida humana: o princípio do prazer e a aspiração de segurança.

Assim, uma questão que merece reflexão é a probabilidade de efeitos maléficos. A decisão de cada um, nesse caso, depende de fatores objetivos e subjetivos.

Fatores objetivos

Por fatores objetivos considero os dados referentes a elementos disponíveis à observação e crítica comum. Por exemplo: é notório, aos olhos de todos, a quantidade de bebida alcoólica utilizada no ajuntamento de carnaval. Qual seria a consequência disso? Quais os efeitos do álcool no comportamento das pessoas? 

Sabemos que o álcool tem o poder de levar seus usuários a perderem o controle de seus pensamentos e comportamentos e a liberarem seus sentimentos. Assim, em ambiente com elevado índice de pessoas alcoolizadas, aumenta a probabilidade de sentimentos nocivos serem expressos gerando comportamentos que podem expor os presentes a riscos.

Andando  pelo bairro, lembrei-me do meu tempo de Flórida, quando enfrentei quatro furacões. Para minimizar os efeitos dos furacões, tapumes eram colocados em portas e janelas dos prédios comerciais e residenciais. Perguntei-me: o que quer dizer a colocação de tapumes nas portas das lojas e dos condomínios dos bairros onde há um circuito carnavalesco ? De que tipo de furacão se está protegendo?

Outro dado interessante é o elevadíssimo investimento em iluminação das ruas; tecnologia de ponta com câmeras que permitem o acompanhamento, pela segurança, do que está acontecendo nos locais, em tempo real,via internet; uso de helicópteros como reforço policial, além da instalação de postos policiais e de saúde. Qual o significado disso? Que preocupações ocupam a mente dos que exercem o poder público?

Os investimentos em proteção do patrimônio, em segurança e saúde pública indicam os riscos do evento, confirmados pelos dados noticiados pela imprensa, em termos de brigas, roubos e atendimentos nos postos policiais e de saúde. Isso é um fator objetivo que deve ser considerado ao avaliarmos o ajuntamento.

Fatores subjetivos

Quantos aos fatores subjetivos, refiro-me àqueles que não podem ser observados, pois fazem parte do universo interior de cada um. 

Cada pessoa tem uma percepção da realidade e a julga não somente com base em valores e crenças, mas também em termos de sentimentos, de intuição. Assim, a predisposição para arriscar-se não é igual em todas as pessoas. O perfil de cada um varia entre os de pessoas excessivamente inseguras que, portanto, se expõem menos a riscos e, de outras, extremamente seguras que, por isso, muita vez não consegue perceber perigos.

Há também pessoas que não desenvolveram plenamente a capacidade de julgamento próprio e, portanto, no seu agir, dependem da aprovação daqueles que exercem algum tipo de autoridade sobre suas vidas. É o caso de crianças e adolescentes que, inexperientes, não somente dependem emocionalmente de seus pais, mas também estão sob a responsabilidade civil deles. 

Aqui também se inclui religiosos neófitos que, por razões diversas, submetem-se, irrefletida e, às vezes, cegamente, à orientação de instituições e dirigentes religiosos.
Nesse caso, a dependência não se dá só e predominantemente em termos de uma palavra objetiva do líder religioso, dizendo sim ou não a uma consulta sobre ir ou não a ajuntamento carnavalesco, mas também de toda uma construção de crenças desenvolvidas ao longo da caminhada que leva o crente a sentir-se inseguro, sobre se participar de ajuntamento de carnaval seria adequado ou compatível com as crenças abraçadas.

No meio protestante, a Bíblia - tida como única regra de fé e prática -, é usada de acordo com a personalidade de cada pessoa. Umas buscam textos bíblicos que reforcem a represália, outras, a liberação de desejos. Em outras palavras, os textos bíblicos são objetivamente os mesmos, mas o uso deles, a interpretação que se dá, tem a ver com as idiossincrasias de cada um.

Como sou pastor batista, daqueles que acreditam na competência do indivíduo, na liberdade de pensamento e de crença e são vigilantes na preservação de tais princípios históricos, não somente procuro desenvolver um ministério que facilite às pessoas serem capazes de alcançar a autonomia, mas oriento os que buscam minha ajuda a refletirem nisso que escrevi e assim decidir.

Se o sentimento for de insegurança, melhor é refletir um pouco mais, em vez de ferir a consciência, encher-se de sentimento de culpa e, até, adoecer (Rom 14.23; I cor 11.30).

E você, o que pensa disso?


PS.:  
1. Recomendo, também, a leitura do texto "Todas as coisa me são lícitas"

2. Escrevi esta reflexão ao som de Ivete Sangalo, que exatamente agora, 14h30, começa a despedir-se cantando “vai buscar Dalila” e de helicópteros que não param de sobrevoar meu telhado, acredita?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Saudades de Peroba

Passei mais da metade dos carnavais do meu tempo de nordeste neste paraíso.
Hoje, em pleno sábado de Zé Pereira, aqui estou, transitoriamente sozinho, trancado num apartamento, com a cara enfiada nos livros, colocando o dever em dia!!!
U-tê-rê-rê!!!
Praia de Perboa, Maragogi, divisa de Alagoas e Pernambuco
 (Foto copiada de Milla)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Lula e a prisão de Arruda

Gosto de Lula, mas não sou lulista. Por isso, aplaudo o que considero bom em seus feitos e questiono o que considero equívoco.

Aplaudo, por exemplo, o direcionamento dado à economia. Como bem destacou Paulo Rabello de Castro, no jornal A Tarde dessa quarta-feira, o comércio mundial cresceu em média 8,5% em seu governo (sem incluir 2010 e apesar de uma profunda crise mundial), contra 5% no de FHC; o crédito interno saiu da estagnação no governo FHC e cresceu 12,3 anualmente no período Lula e, finalmente, os juros básicos cairam de 14,6 na era FHC para 7,7, na era Lula.

Claro que FHC tem seus méritos nos números de Lula. Reconhecer isso é justo para com FHC e aumenta os méritos de Lula. 

Penso até que, guardando as devidas proporções, a relação Lula-FHC tem semelhanças com a de Davi e Salomão, na Bíblia. Davi conquistou, estabeleceu limites e Salomão construiu a prosperidade. Isso não exalta um em detrimento do outro. Apenas indica que a história não começa nem termina com uma pessoa. Agindo com inteligência, pode-se romper com o que está mal feito e ampliar o que foi bem feito. 

(Observo que não estou discutindo modelos econômicos, mas dados da economia)

Veja o caso da relação bolsa escola, "de" FHC com o bolsa família "de" Lula. A dimensão foi tão maior em Lula e com tal visibilidade que alguns criticam o programa chamando-o de paternalista. Mas não foi também paternalista o "Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional" -  PROER  injetando mlhões em bancos? Injetar dinheiro para salvar milhões de empobrecidos da fome e da miséria e menos importante do que injetar milhões para salvar bancos? Pode-se mensurar os efeitos econômicos que representou injetar dinheiro no bolsa família?

Se o bolsa família não é um programa ideal, o PROER  também não foi. O ideal seria cada cidadão poder fazer dinheiro com seu trabalho e viver dignamente, da mesma forma que o ideal seria os banqueiros agirem com honestidade e competência técnica para que não precisassem ser socorridos. Mas não vivemos no ideal, por isso, há situações que intevenções são necessárias. Que se intervenha, então, não somente no econômico, como também fez Obama nos EUA, mas também no social, ajudando famílias a poderem respirar e pensar o futuro com um pouco mais de esperança.

Gosto de Lula, como já disse, mas não sou lulista. Por isso, por exemplo, da mesma forma que não compro gato por lebre, não compraria Dilma por Lula. Isso não significa que estou decidido a não votar nela. Apenas estou dizendo que o fato de ser a candidata do Lula não signfica que ela faria um bom governo. Estilo não é transferível; feeling não é transferível; carisma não é transferível; percepção não é transferível; coragem não é transferível; diplomacia não é transferível. Em outras palavras: cada um é cada um. Lula é Lula, Dilma é Dilma. Ela até pode fazer um governo melhor do que ele. Mas ela não é ele!

Gosto de Lula, mas a afirmação atribuida a ele, sobre a prisão do governador do DF, seu Arruda, não foi clara. Digo atribuída porque não o ouvi, não ouvi o contexto na qual ela estaria inserida e sei que a imprensa vive de polêmicas e tem seus preconceitos e preferências.
Lula teria dito: "...não é bom para a consciência política do Brasil que um governador vá para a cadeia".  O Daniel, da Igreja Batista da Graça - SSA, disse no twitter que concorda com Lula, completando: "não é bom, é ótimo".  Concordo com Daniel, mas ainda não entendi o que Lula quiz dizer. 
(Charge - Amarildo)
Penso que prender Arruda faz bem para o povo, para os políticos e para a política, ainda que, suponho, o jogo vá se repetir - a PF prende o STF solta - e ele sairá já, já!

Seria bom que um governador não precisasse ser preso, mas se é corrupto, precisa ir e não só ir, mas ficar, sim, ficar atrás das grades.

Qual teria sido o sentimento de Lula? Teria sido um ato falho?Alguém poderia me ajudar a entender o que Lula quis dizer?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

As chamas - ou a grande chama - do amor

Raya, Ahava e Dod

domingo, 7 de fevereiro de 2010

ETNIA & RELIGIOSIDADE Quando a imprensa perpetua estereótipos

 Por Rosiane Rodrigues
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=575FDS007
Jornalistas são pessoas. Por mais distanciamento e olhar crítico, os "operadores da imprensa" são produtos da sociedade em que vivem. Parece óbvio, mas observar em que contexto social nasceram e cresceram editores e repórteres é o primeiro passo para entender por que a maioria esmagadora dos veículos de comunicação presta um desserviço à liberdade religiosa no Brasil. E por que, mesmo diante de afirmações perturbadoras, somos tentados – e levados! – a jogar a opinião pública a perpetuar preconceitos e promover a discriminação.

Há pouco mais de um mês, o país se chocou com os casos das agulhas. Duas crianças – uma na Bahia e outra no Maranhão – teriam sido alvo de rituais macabros, conduzidos por sacerdotes de matriz africana. Dezenas de agulhas foram introduzidas nos corpos das vítimas. Um outro caso, em São Paulo, há cerca de duas semanas, dava conta de uma mulher que assassinou a empregada porque queria lhe tomar a filha recém-nascida. O corpo da jovem foi encontrado com uma vela na boca e sinais de violência. O fato foi atribuído a um ritual de magia negra, orientado por um pai de santo (?) que chegou a prestar depoimento na delegacia.

O interessante dos três casos é que nenhum sacerdote – seja da umbanda, do candomblé, do catimbó, do omolokô, Xangô de Minas – tenha sido ouvido ou consultado. Salvo o jornal Meia Hora (RJ), que após publicar na capa a manchete "Patroa mata empregada em ritual de magia negra", sobre o assassinato ocorrido em São Paulo, ouviu um sacerdote de matriz africana que definiu o caso como um crime bárbaro que absolutamente não tinha ligação com qualquer prática da umbanda e do candomblé. A entrevista com o religioso saiu na edição seguinte, sem o mesmo destaque.

Ancestralidade e lógica familiar
Mas, por que ouvir uma fonte que parece nada ter a ver com a notícia? Primeiro para ter certeza de que os acusados são realmente sacerdotes ou adeptos de algum segmento da religiosidade afrobrasileira. Segundo para saber o que pensam "pais e mães de santo" a respeito dos episódios. É uma lógica simples: ou todos os jornalistas são profundos conhecedores da religiosidade afrobrasileira e por isso autorizados a afirmar a veracidade e origem do sacerdote e suas práticas ou estão faltando mães de santo no país. Não creio em nenhuma das duas hipóteses.

E este é o "xis" da questão. Quem, se não os próprios sacerdotes e adeptos das religiões de matriz africana, pode ratificar a origem de um sacerdote? Quem, se não os próprios ciganos, pode afirmar a ascendência de alguém que lê cartas? Não basta um cocar na cabeça para ser índio. Assim como roupas brancas e "farofas em alguidares" não bastam para titular quem quer que seja como "pai ou mãe de santo". A estruturação organizativa das comunidades que prescindem de ancestralidade possui uma lógica diferente. Seus praticantes precisam necessariamente pertencer a uma comunidade ou família. Na natureza não há geração espontânea. Para ser pai é necessário ter sido filho. E todo sacerdote ancestral (ialorixá, ogan, babalorixá, pajé, baba de umbanda) tem responsabilidade para com seus iniciados.

Digamos que as notícias fossem um pouco diferentes. Os acusados dos crimes se declarassem como padres da Igreja Ortodoxa ou freiras da Ordem do Sagrado Coração de Maria. O que fariam meus colegas? A resposta seria simples, se não fosse cruel. Ligariam imediatamente para o bispo da igreja ou para a madre do convento e checariam se os acusados são membros daquelas instituições. Até porque, chocados, pensariam que este não é um comportamento digno de um verdadeiro religioso. E – claro! – descreveriam detalhadamente todas as sanções que o sacerdote – se realmente o fosse! – sofreria, além de registrar a indignação de toda comunidade. O fato é que igrejas e outras ordens religiosas são organizadas por uma hierarquia vertical, fáceis de ser acessadas. Algo muito diferente do que acontece com as religiões e etnias que pautam suas tradições pela ancestralidade e lógica familiar.

"Um Cristo louro de olhos azuis"
Há pouquíssimo tempo, se esconder e clamar por justiça divina eram as únicas opções dos seguidores das religiões de matriz africana. Com intuito de garantir suas estratégias de sobrevivência, religiosos e grupos étnicos se inviabilizaram – por séculos! – do ponto de vista da mobilização social e representação institucional. E, a verdade é que, poucos se sentem seguros o suficiente para lidar com jornalistas em situações tensas. A grande maioria se amua em seu cantinho e se sente incapaz de instigar as redações a terem um novo olhar sobre esses conflitos. Mas, mesmo a dificuldade de consultar fontes confiáveis não pode servir de argumento para que uma informação não seja honestamente apurada.

Mais que elucubrar possibilidades, percebam que é impensável para qualquer um que uma freira assassine uma mulher para lhe tomar seu bebê ou que um padre oriente um fiel a introduzir agulhas no próprio filho. Mas, por que tendemos a acreditar que aberrações como essas são possíveis de acontecer com seguidores da umbanda e candomblé? Por que não duvidamos que sacerdotes afrobrasileiros se utilizam de seres humanos em rituais macabros? De que tipo de gente estamos falando? É de gente que faz o mal, que tem pacto com demônios e que por isso se tornam assassinos frios e bestiais? Ou de pessoas religiosas, pais e mães de famílias, cidadãos comuns em busca de sua religação com o Criador, com liturgias e especificidades próprias?

Levamos para as redações uma gama inimaginável de (pré)conceitos que nem nós mesmos sabemos. Somos todos nascidos, criados e formados numa sociedade que ao colocar em prática suas idéias de dominação, perseguiu a religiosidade dos descendentes de escravos por 500 anos e que se pensa religiosa e filosoficamente a partir de conceitos europeizados do Cristo "loiro de olhos azuis" e do primitivismo das sociedades ancestrais. A partir desta reflexão superficial, não é difícil entender o porquê de não nos preocuparmos em apurar sumariamente os dados que chegam às redações.

O princípio do contraditório
Nem sequer nos perguntamos: será que existe uma religião ou grupo étnico que sobreviva por meio de assassinatos e bestialidades? O que pensam os adeptos e sacerdotes desses segmentos quando alguém, se intitulando religioso ou membro da comunidade, assassina, rouba ou estupra num suposto ritual? Isso é prática religiosa? Ciganos roubam, mesmo, crianças? Muçulmanos são treinados para explodir bombas? Umbandistas enfiam agulhas em bebezinhos?

Assim também fica fácil entender a lógica utilizada por segmentos fundamentalistas que – possuidores de centenas de canais de rádios e TVs – alicerçaram suas doutrinas e liturgias calcadas na demonização do conteúdo simbólico das comunidades ancestrais. As igrejas neopentecostais apenas reforçam os conceitos aos quais fomos subjetiva e culturalmente doutrinados a aceitar. Desde os tempos da Coroa ouvimos que os rituais ciganos, africanos e indígenas são primitivos, praticados por seres sem almas – e, por que não? – acometidos de doenças mentais e pouco inteligentes. É por isso que o trabalho de "evangelização" da intolerância (desenvolvido por bispos, pastores e apóstolos) nos púlpitos eletrônicos é tão eficaz.

A sociedade brasileira conhece muito pouco de suas origens e ignora conceitos elementares de segmentos que foram (e são) primordiais para a sua construção. Religiosos e comunidades étnicas acreditam que fazer valer o princípio do contraditório em notícias de crimes envolvendo supostas práticas ritualísticas é, ao mesmo tempo, diminuir o nosso próprio desconhecimento relativo aos grupos minoritários e informar genuinamente – sem correr o risco de sedimentar e perpetuar preconceitos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Angra dos Reis e Porto Príncipe

Os olhos do Brasil estavam voltados para Angra dos Reis, talvez a mais badalada cidade, pelas celebridades e elite, do litoral brasileiro. A cidade foi fortemente atingida por chuvas, dezenas de pessoas morreram e centenas ficaram desabrigadas.

Eis que, de repente, a imprensa reduz drasticamente as informações sobre Angra e passa a falar de Porto Príncipe, no Haiti. Segundo algumas fontes, em torno de 212.000 pessoas teriam morrido vítimas de fortíssimo terremoto, além da destruição de toda a cidade, deixando milhões de pessoas literalmente na rua.

Se nos sensibilizava saber da dor de compatriotas de Angra, por que o foco passou a ser Porto Príncipe? Simplesmente porque a diferença entre os dois casos é notável. A magnitude do terremoto e a extrema miséria na qual vive a população haitiana simplesmente soterram o drama de Angra dos Reis.

Em outras palavras, não só o número de vítimas, mas suas condições sociais e a realidade econômica dos dois países que abrigam tais cidades são diametralmente opostas.

Enquanto a renda per capta de Angra dos Reis era, em 2003, de R$ 9.913,00, a de Porto Príncipe, em 1998 era de R$ 700,00 (em torno de 80 vezes inferior a dos Estados Unidos). 80% da população vivem abaixo da linha da pobreza. Mais da metade sobrevive com pouco mais de R$ 50,00 por mês.

Isso significa que, o valor gasto corriqueiramente num restaurante por um casal brasileiro de classe média baixa é o mesmo que mais da metade da população do Haiti dispõe para alimentação, transporte, saúde, educação, lazer, vestuário, etc, durante 30 dias.

Um pastor amigo da Florida, cuja igreja há anos ajuda o povo haitiano, dizia-me certa vez que se os Estados Unidos resolvessem colocar uma fábrica de bolas de beisebol no Haiti, provavelmente a miséria caminharia para o fim. A questão é que a grande bandeira da maioria das igrejas, num país em que mais de 90% da população se declara “cristã”, tem sido tão somente a salvação do inferno futuro, sem se interessar pelo fato de milhões, no presente, já experimentarem o inferno da injustiça social.

Por isso, não podemos nos espantar quando o pastor pentecostal Pat Robertson declara que a catástrofe teria sido fruto de um pacto que os haitianos teriam feito com o diabo para se libertarem dos franceses. Esse discurso é subproduto da teologia obscurantista ensinada em destacados seminários e reproduzida nas igrejas, bem como da política adotada por parte de nossas lideranças cristãs, de boicotar iniciativas que estimulem o envolvimento social das igrejas.

Angra e outras cidades brasileiras estão sofrendo. Nada, porém, se compara à história de Porto Príncipe. Daí a importância de não só levantarmos ofertas, mas também continuarmos lutando para que valores do Reino de Deus brilhem em nós, em nossos relacionamentos e estruturas que dão sustentação às nossas vidas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As várias fomes da Marina, por José Bessa Freire

Ai, ai meu Deus!/ O que foi que aconteceu/ Com a música popular brasileira?

Por José Bessa Freire*

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana. Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados. De um lado, reforçam a idéia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política. A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.

Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel/ (...) Deus do céu!/ Como ela é maldosa!

Nenhum dos dois ­ nem Caetano, nem Rita ­ têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito de roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever. Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT. Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal. Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta

Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que ­ na voz de Rita Lee ­ a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música ­ “Se Manca” ­ dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas ­ “Você vem” ­ ela faz autocrítica antecipada, confessando: Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e cossenos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, il péte de santé. O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil.

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

P.S.: Uma leitora cricri, mas competente, que está fazendo doutorado em São Paulo (e a tese, quando é que sai?) me lembra que a FAPEAM e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas constituem o lado sério da atual política estadual, responsável, em 2007, pela primeira lei de mudanças climáticas no Brasil.

* O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)