sábado, 20 de março de 2010

Juventude missionária


Neste sábado, 27 de março, a IBG terá o privilégio de hospedar o congresso da Juventude Batista Baiana. Será mais uma oportunidade de abençoarmos e sermos abençoados graças aos investimentos feitos em estrutura física e à generosidade, hospitalidade, disposição e disponibilidade que cada membro tem demonstrado.



Penso que a realização deste evento em nossa sede chega em boa hora. Primeiro, porque estamos enfatizando os desafios missionários, especialmente os da América Latina, nestes tempos de terremotos que ressalta nossa pobreza em diversas dimensões. Depois, porque é visivelmente crescente a presença jovem em nossos cultos.





Penso que os desafios dos tempos em que vivemos estão exigindo um olhar especial para a juventude. O mundo está passando por um processo profundo nas relações de poder. O poder norte-americano está enfraquecido, o da comunidade européia não se consolidou, os emergentes (Bric) se destacam na economia e aproveitam para ocupar espaços políticos, os tigres asiáticos começam a dialogar entre si, o radicalismo do oriente médio não arrefece e a África continua sendo campeã de miserabilidade social.





Diante deste quadro amedrontador, é fundamental que nossos olhares estejam voltados para a juventude, pois, a qualidade de vida, das relações interpessoais que reinará em nosso planeta, depende do investimento que nela fizermos.





Mais do que nunca precisamos ter clareza do perfil de jovens que estamos precisando e investir pesadamente nele. Pessoalmente estou convencido de que precisamos de jovens que apresentem, primeiramente, confiança, intimidade e compromisso com o doador da vida. Da qualidade da relação mantida com Deus depende a qualidade de vida intrapessoal, interpessoal e extrapessoal.





Depois, precisamos de jovens com boa educação. Por boa educação refiro-me não somente à capacidade de dominar conteúdos produzidos por terceiros, mas sobretudo, à competência para analisar de forma crítico-criativa os conteúdos disponíveis e reelaborar a compreensão que se tem da realidade, oferecendo alternativas de saída para situações desafiadoras da vida.





Assim, se queremos construir dias melhores, precisamos entender que uma juventude missionária não é somente aquela que se envolve com a dimensão religiosa da vida. É claro que precisamos de jovens que se dediquem exclusivamente a atividades religiosas. Entretanto, precisamos muito de jovens que se envolvem com todas as dimensões da vida sem perder o referencial de comunhão com o sagrado.





Meu desafio, então, para os mais jovens é que mantenham a “cabeça no vento e os pés no chão”. Invistam na comunhão com Deus sem perder de vista a realidade que os cerca. Pensem nas coisas que são de cima não no sentido de alienação, mas no sentido de busca de respostas para a caminhada que tem diante de si, no aqui e agora. Fortaleçam a perspectiva de missão, pois o mundo está precisando muito que a juventude recupere a dimensão missionária do viver.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ajuntamento - Jorge Camargo

Há fenômenos para os quais não encontramos explicação imediata. Refiro-me, agora, ao fato de que não consigo ouvir/cantar esta música sem que minha voz embargue e meus olhos encham-se de lágrimas. É algo sobre o qual não tenho controle (e como me sinto feliz hoje, cada vez que me vejo diante de situações sobre as quais não tenho controle, diferentemente do passado, quando agia como se fosse necessário ter tudo sob controle para sentir-me feliz!).

Seria, o motivo do choro, a junção de uma boa melodia, com uma boa harmonia, com uma boa execução, com uma boa letra? Seria pela letra que é uma oração? Seria porque a oração expressa, de ponta a ponta, algo que acredito e de que necessito? Seria pela profunda consciência de dependência que ela retrata? Seria por lembranças do passado, por “memórias emocionais” como, por exemplo, pela associação entre ela e momentos especiais que vivi na Igreja Emanuel, onde a cantei pela primeira vez? Seria pela consciência de pecado, presente na vida do pastor e igreja, que se maximiza nos ajuntamentos que chamamos culto?

Não sei, mas não importa. Como gosto de cantar, de ouvir musica e não me envergonho de chorar tenho todos os motivos pra continuar ouvindo-a.

E que rolem as lágrimas!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Estamos “evangelizando” ou discipulando?

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” (Mt. 28.19-20)


A palavra evangelho, já sabemos, significa boas notícias. A boa notícia, no caso, é que cada pessoa pode alcançar comunhão com Deus através da graça manifesta em Cristo Jesus, dando início, assim, a uma nova caminhada de vida marcada por novos valores que estimulam a permanente revisão de sentimentos, pensamentos e comportamentos. A prática, por exemplo, de sacrificar animais e a necessidade de seguir cegamente leis e costumes, como meio de justificação de pecados, foram anuladas na cruz de Cristo.

 Embora o anúncio de uma boa notícia tenha o poder de mudar o rumo da vida de uma pessoa, a notícia em si não é capaz de trazer respostas para todas as questões que envolvem nossa caminhada neste planeta. Daí Jesus ter colocado claramente em seus desafios que a missão dos seus discípulos seria fazer novos discípulos, caminhando com eles, e não apenas dar uma notícia e abandona-los à própria sorte.

Influenciados pelas linhas de produção industrial, pela cultura do “fast food”, do instantâneo, fizemos adaptações ao IDE de Jesus, substituindo o interesse por pessoas e construção de suas vidas a partir do aqui e agora, pela salvação futura de almas, visando povoar o céu rapidamente, fabricando “crentes” em série.

Assim, criamos uma perigosa diferença entre evangelizar e discipular que, além de não representar o desejo de Jesus, tem sido, se não o principal, um dos principais fatores da desmoralização das igrejas cristãs em nossos dias.

Se essa visão fabril de evangelho declara que evangelizar é libertar pessoas do inferno futuro, a proposta de discipulado de Jesus significa ajudar pessoas a se identificarem com Ele na maneira de sentir e pensar a vida e, consequentemente, de comportar-se frente às realidades do aqui e agora.

Se essa visão fabril de evangelho compreende evangelizar como sair em busca de pessoas para serem catequizadas no templo, a proposta de discipulado de Jesus nos desafia à construção de relacionamentos que sirvam de encorajamento “ao amor e às boas obras”.

Se essa visão fabril de evangelho indica que o papel do cristão é levar conceitos teológicos e morais que devem ser observados, a proposta de discipulado de Jesus estabelece a construção de uma nova vida com base em relacionamento direto entre a pessoa e Jesus, à luz dos registros de sua história.

Se essa visão fabril de evangelho gira em torno da ideologia que o crente tem uma verdade para dar, e o incrédulo  a alternativa de recebe-la ou ir para o inferno, a proposta de discipulado de Jesus gira em torno da experiência do compartilhar o que uma pessoa passou a ser em Cristo, com uma outra que abre o coração para conhecer e experimentar o modelo de vida de Jesus.

Se essa visão fabril de evangelho visa povoar o céu no futuro e aumentar o número de fiéis da igreja no presente, a proposta de discipulado de Jesus leva pessoas a se identificarem com valores do Reino de Deus visando agir como sal e luz neste tempo e espaço e, no futuro, a continuarem a vida em plena comunhão com Deus.

Se essa visão fabril de evangelho faz com que cristãos entendam que o trabalho com não cristãos termina quando a pessoa “levanta a mão aceitando a cristo”, a proposta de discipulado de Jesus nunca termina, pois visa uma permanente identificação da pessoa com Cristo, construída de forma comunitária, numa caminhada solidária.

Estamos “evangelizando” ou discipulando?

quarta-feira, 3 de março de 2010

O alcance da nossa luz


“A luz que brilha mais longe, brilha mais, perto” 
(Oswald Smith)
Num primeiro momento, o impacto ideológico da frase em epígrafe – que marcou profundamente minha vida pastoral desde o seu início - foi maior do que todo o significado que nela encontramos quando refletimos em suas implicações. Por impacto ideológico, refiro-me ao que ela diz através do que não se percebe imediatamente, em função do contexto no qual está inserida.

A idéia inicial é de incentivo à realização da obra missionária em lugares distantes da pessoa que lê e não somente no local onde ela está inserida. Em outras palavras, agora pensando na igreja: quanto mais distante a igreja for capaz de levar a mensagem do evangelho, maior será sua influência no local onde ela está.

Olhando a afirmação por outro ângulo, percebemos que, se o interesse que a igreja mostra por alcançar quem está ao seu redor não for maior do que o demonstrado em alcançar quem está longe, alguma coisa está errada.

Se o interesse de uma pessoa por alcançar um amigo com o amor de Deus não for maior do que o de alcançar quem está distante, alguma coisa está errada.

Se gasto milhares de reais para ir ao Japão numa “viagem missionária” e não sou capaz de convidar um amigo pra tomar um sorvete do outro lado da rua, visando compartilhar o amor de Deus, alguma coisa está errada.

Se me disponho a participar de campanhas de levantamento de ofertas missionária, mas nunca sequer trago alguém para ouvir o evangelho, alguma coisa está errada.

Então, se queremos medir o real amor de alguém por missões, o critério primeiro é: o que ela faz para ajudar pessoas próximas de si a conhecerem a Jesus?

Falar em amor por missões, sem manifestar ações concretas em favor de quem está ao lado, evidencia que nosso envolvimento com campanhas missionárias é fantasioso. Amor maduro pela obra missionária é daqueles que entendem que, de fato, não amamos missões, amamos pessoas.

Se me envolvo com campanhas missionárias, mas não demonstro interesse, respeito e amor às pessoas, posso ser classificado, no máximo, como um marqueteiro especializado em arrancar dinheiro do bolso de pessoas em prol de uma causa, mas, jamais, como missionário.

Se “a luz que brilha mais longe, brilha mais, perto”, quem se interessa por missões, deve demonstrar isso primeiramente sendo uma testemunha viva, ambulante, do amor de Deus a quem está perto e, depois, também levantando recursos para sustentar quem está pregando longe.

Conquanto eu mesmo - digo isso tão somente como exemplo do quanto nos equivocamos em nossa percepção do que significa ser missionário - não seja classificado por alguns como “missionário”, “evangelista”, por não me encaixar em determinados paradigmas, Deus sabe a quantidade de pessoas que passaram a seguir a Jesus através do meu testemunho e pregação.

As igrejas por mim pastoreadas em Alagoas e Pernambuco, por exemplo, sempre estiveram entre as primeiras em número de batismos e valor das ofertas missionárias, por interessar-se pela comunhão de pessoas com Deus e não por alcançar prestígio ou poder no universo eclesiástico.

Repito: não confundamos visão e envolvimento missionário com capacidade para mobilizar e levantar recursos financeiros para agências missionárias. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Somos missionários quando usamos nossos diferentes dons e recursos para facilitar a aproximação de pessoas com Deus, a partir do local onde estamos.


Que tal, então, usarmos a frase inicial - neste mês em que os batistas brasileiros enfatizam missões mundiais - não somente para justificar a importância de olharmos para os campos distantes de nós, mas também para brilharmos mais forte, amorosamente, em favor das pessoas, onde estamos?