sexta-feira, 30 de abril de 2010

Lula na Time

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A alegria de trabalhar


É curiosa, no mínimo, a compreensão de trabalho – e de diversos outros conceitos – que muitos desenvolvem, com base no capítulo 3 de Gênesis. A narrativa tem levado alguns leitores a acreditarem que trabalho seria penalidade pela desobediência, como pode ser lido:

Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse... com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte a terra, visto que dela foi tirado”.  (Gen. 3.17,19)

Entretanto, se trabalho fosse penalidade pelo pecado, teríamos que explicar que pecados Deus e Jesus teriam cometido, à luz da declaração do nosso Senhor, quando diz:

“Meu pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo. 5.17)

Se trabalho fosse penalidade pelo pecado, doce não seria o sono do trabalhador (Ecl. 5.12); talvez não houvesse workaholics e, eu e você, não sentiríamos tanto prazer em trabalhar.

Trabalho não é penalidade, é prêmio. Através dele nossa auto-estima se eleva por nos sentirmos criativos ou bem sucedidos quando atingimos objetivos propostos, ou solidários quando percebemos os benefícios do que fazemos à vida de pessoas.

 Não são muitas as palavras que representam tão bem o sentimento de auto-realização de um trabalhador como a descrita pelo narrador do Gênesis para indicar como Deus teria se sentido após seu trabalho criativo:

“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”. (Gen. 1.31)

Trabalho pode soar como penalidade para aqueles que exercem uma profissão somente por causa do salário que recebem ou não compreendem a importância social daquilo que realizam, nem se satisfazem com a qualidade final do que produzem. Aqueles, entretanto, que são convictos da importância do que fazem para indivíduos e coletividade e se sentem desafiados frente às atividades que  envolvem seus trabalhos, são pessoas que não se sentem existencialmente vazias, não necessitam de “drogas” para levar avante suas vidas, nem se alimentam de picuinhas.

Quem consegue distinguir trabalho de salário, profissão ou carreira, por exemplo, e tem consciência da relevância do que é capaz de criar, perante si e a sociedade, e envolve seu ser - pensamentos, sentimentos, corpo – em determinado projeto, pode se considerar uma pessoa feliz.

Seria simplismo afirmar que trabalho seja sinônimo de felicidade, até porque o conceito felicidade é bastante desafiador para ser assim definido, mas, inegavelmente, trabalho é fonte de alegria quando sua realização é resultado de motivação interior e produz benefícios a si e aos semelhantes.

Felizes são aqueles que se sentem realizados nos trabalhos que desenvolvem, mesmo não havendo manifestação pública de reconhecimento.

A relação capital-trabalho e as relações de poder nos ambientes empresariais, são assuntos para outra conversa!

sábado, 17 de abril de 2010

Filosofia de 'lutas"

Aos oito anos meu pai me disse: 1) não brigue; 2) se brigar não apanhe; 3) se apanhar não volte pra casa chorando, senão apanhará de novo. Claro que havia razões, para que ele tenha dito isso. Então, entenda o contexto da fala e a relação com minha filosofia de "lutas", através da versão que dou à história.

Naquele período - 1965 - não pude ser batizado. Lembro-me, como se fosse hoje, do Pr. Olívio dos Santos, de Campinas (SP), então pastor interino em Garça (SP), sentado atrás da mesa, no templo, e eu numa cadeira ao lado, ambos de frente para o auditório, no momento da minha profissão de fé. Ele fez as perguntas e eu respondi uma por uma. 

Meu pai havia preparado uma lista de mais de 3 dezenas de perguntas pra que eu estudasse (lista que guardo até hoje) e, mesmo tendo sido bem sucedido nas respostas não pude batizar-me. Motivo: o estatuto exigia unanimidade dos membros e, como ali já estava selado meu destino de cidadão comum, em torno do qual não haveria unanimidade,  tive que presenciar 3 ou 4 membros se levantando e justificando porque eu não deveria ser batizado. O argumento mais forte era que eu seria, digamos, traquino, e daria muito trabalho à minha santa mãe.

Fui reprovado. Senti-me rejeitado, claro.

 Não sei até que ponto isso afetou minha priorização futura pela militância pastoral e não pela vida acadêmica, nem que relação teve com os problemas do meu oitavo ano de vida, mas lembro-me de coisas, digamos, interessantes daquele período.

Lembro-me de ter me envolvido com confusões na sala de aula, na terceira série, sendo minha camisa de uniforme totalmente riscada de vermelho nas costas e de ter sido levado à direção, etapa anterior das penas de suspensão e expulsão.

Lembro-me da pedrada que quase furou meu olho esquerdo e do sangue descendo pela camisa, quando assistia uma briga depois da aula .

Lembro-me da briga com o filho de um músico da Banda Municipal Santa Cecília - popularmente conhecida como "furiosa" -  e a torcida, ao redor, a meu favor. Aquela eu venci.

Lembro-me do dia em que um grupo de meninos maiores me segurou pra que um outro, menor, me batesse à vontade, sem chance de defesa.

Lembro da noite em que perturbei tanto uma tia que ela correu atrás de mim pra me agredir, obrigando-me a invadir a privacidade de uma casa, onde todos estavam em torno da rara televisão existente na cidade, passando por entre as pessoas em disparada.

Lembro-me da última surra que levei, com a cabeça presa entre as pernas de meu pai, e minhas irmãs chorando com pena de mim. Só não me pergunte o motivo, pois só Freud explicaria as razões do esquecimento

Lembro-me do dia em que meu pai trouxe uma vara de árvore pra casa, "despelou-a" e pendurou-a na parede como advertência.

Lembro-me do domngo em que, juntamente com um grupo de meninos, afastei-me uns três ou quatro quilómetros da cidade. Sabendo que era dia de culto, angustiava-me ao pensar que precisava voltar pra casa, mas tinha medo de voltar sozinho, tanto pela escuridão, quanto por ter que passar perto de uma zona de meretrício. Esperei o quanto pude até decidir voltar correndo, sozinho, choramingando de medo, seja pelos riscos, seja pelo que me aguardava em casa. Ao entrar na cidade, avistei minha mãe que já me procurava, informando que todos tinham ido pra igreja e ela ficou à minha procura. Não apanhei.

Lembro-me de ter ouvido a conversa entre minha mãe e a professora substituta da quarta série, conhecida como a filha do coureiro, na porta de casa, falando do meu comportamento.

Lembro-me do dia em que recebi a notícia da reprovação na quarta série e do meu pai, de cócoras, falando do que representava a reprovação para minha vida, para a vida financeira dele, enfim. A conversa me fez chorar mais do que uma surra.

Claro que posso narrar também muitas coisas boas do período e do respeito e amor que sempre nutri por meu pai, mas, para o contexto desta nossa conversa, narro esses fatos por terem ocorrido na mesma casa onde morei em torno do meu oitavo ano.

Foi nesse contexto que ouvi a frase dita por meu pai: 
1) não brigue; 2) se brigar não apanhe; 3) se apanhar não volte pra casa chorando, senão apanhará de novo.
xxx
Certa ou errada, o fato é que ela acabou se tornando um referencial para minha filosofia de "lutas". Não me considero uma pessoa que gosta de brigas, mas também não fujo daquelas que julgo necessárias. (O problema é que são muitas as lutas que julgo necessárias!)

Hoje, costumo avaliar com a maior profundidade possível as situações que considero dignas de luta ou que fazem com que me sinta sob ameaça. Se exigirem embates políticos acirrados, justamente pra não entrar na luta e apanhar, invisto tempo refletindo em oração, trocando idéias com terceiros, estudando os conteúdos e processos, observando e avaliando as possíveis pessoas envolvidas, declaradas ou disfarçadas, tudo como num jogo de xadrez.

Como Jesus, fujo de fininho, estrategicamente, quando entendo que não está na hora de correr risco de morte (Mt. 12.14-15), mas sou capaz de virar mesas e usar chicotes se estiver convencido de que a causa é justa (Mt. 21.12).

Quando me declaro em luta, entro pra ganhar, sabendo que, se perder não poderei me fazer de vítima, nem chorarei pelos cantos; carregarei minha cruz, mesmo que solitariamente, com dignidade.


xxx

Não costumo me sentir individualmente derrotado quando o resultado não é positivo, até porque não trato as lutas como questões de honra pessoal, mas como causas que não são só minhas. Se a causa "perdida" for justa, a semente ficará plantada e germinará num outro momento, regada por outras mãos.
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Em resumo: hoje empenho-me pra ser pacificador, não pacifista.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Eleições 2010: A Grande Imprensa Como “Partido de Oposição”

Por Robinson Cavalcanti

"Durante o nosso período monárquico (1822-1889) a nossa imprensa seguia o modelo europeu, com cada jornal assumindo abertamente a sua posição política, ideológica ou partidária. Em quase todas as Províncias do Império do Brasil, por exemplo, havia um jornal do Partido Liberal, ainda hoje subsistindo no Estado do Pará. Esse modelo continua sendo adotado no Velho Mundo até os nossos dias. Isso favorece a opção do comprador-leitor, e é muito mais honesto e transparente.

Com a República, fomos, progressivamente, trocando o modelo europeu pelo norte-americano, do jornal-empresa, aparentemente “neutro”, mas, no geral, formando todos um cartel ideológico dos grupos dominantes. Se hoje mais de 80% da opinião pública nacional é formada por apenas uma emissora de televisão (lembrar a “edição” do debate entre Lula e Collor no segundo turno das eleições de 1989), a imprensa escrita nacional é hegemonizada por apenas três jornais: Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo (lembrar o famoso “Diferencial Delta”, que ia roubando a primeira eleição de Brizola ao governo do Rio de Janeiro).

Temos denunciado essa cartelização ideológica e que não temos liberdade de imprensa, mas liberdade de empresa, que qualquer tentativa de quebra desse oligopólio ou a criação de qualquer mecanismo social de controle é violentamente atacado como “estatismo”, “retrógrado”, “ditadura”, “chavismo”, e coisas piores, e os caras continuam a deitar e rolar incontrolados, manipulando e alienando, em relação promíscua com os poderes e os poderosos.

Pois bem, nada como uma confissão sincera. Na semana passada, comentando o quadro das eleições presidenciais que se aproximam, uma das diretoras do jornal Folha de S. Paulo afirmou com todas as letras que, diante de uma oposição fraca, os jornais desempenharão o papel de partidos de oposição. Quer dizer, não teremos um mínimo de isenção informativa nesse pleito, mas uma “imprensa engajada”... contra o atual governo federal.

Não estamos defendendo o governo Lula (longe disso). Como cidadão, já tenho outra candidata para o primeiro turno, que não é a que ele tirou do seu colete. Mas, partido é partido e imprensa é imprensa, e o nosso povo não merece isso, e deve ser alertado. Muita coisa braba pode rolar pelas páginas esse ano.

Esse modelo “norte-americano” de imprensa-empresa pretensamente “neutra”, ou “apartidária” é mesmo uma farsa. Lá também está indo na mesma direção, com a Fox, por exemplo, como a “Pravda” da direita republicana.

No Brasil, falta opção para os leitores, e temos inveja dos cidadãos-leitores europeus.

Preparem-se para a manipulação. O jogo dá sinais que vai ser sujo.

E que Deus tenha piedade desse País!"

domingo, 11 de abril de 2010

A política nas igrejas batistas


Pra começo de conversa, gostaria de esclarecer que, neste texto, igreja é entendida de acordo com a eclesiologia dominante no meio batista, isto é, uma "comunidade local" (equivalente aproximado do conceito "paroquia" na Igreja Católica), democrática, soberana e autônoma. 
 
Por ser democrática,  soberana e autônoma, suas decisões são resultado, geralmente, da vontade da maioria simples de seus membros, expressa em assembléias convocadas e dirigidas na forma dos estatutos e regimentos internos aprovados por esses mesmos membros.

É fácil supor, portanto, que o segundo característico mais evidente da natureza de uma igreja batista, depois do religioso, seja o político. Isso não é apenas uma suposição teórico-eclesiológica. Basta que se estude a origem dos batistas em seus documentos históricos e se perceberá que o viés político - defesa da liberdade religiosa, por exemplo - estava profundamente imbricado nas causas do seu surgimento.
Ainda que todo um discurso bem elaborado e amparado por publicidade fortaleça suas imagens de comunidades missionárias, uma análise, profunda e isenta, da realidade identificará a força que a política exerce no seio de parte considerável de tais comunidades e como pastores precisam permanecer atentos para mantê-las num foco e manterem-se na liderança.
A política é tão presente no desenrolar dos processos internos, nos bastidores especialmente, da vida de uma comunidade que, muita vez, sem que se perceba ou se tenha consciência, o político e o religioso disputam a primazia. (Quando quem tem consciência política não leva a sério os valores espirituais do Reino de Deus, a coisa fica ainda mais difícil)
(Entre parêntesis digo que, claro, o grau de tensão entre o religioso e o político depende:
a) do grau de politização ou despolitização dos membros com perfil de liderança;
b) do tipo de relação mantida com Deus pelos membros com perfil de liderança ou do grau de predominância dos valores do Reino de Deus sobre suas vidas, sejam eles politizados ou não.
Isso faz diferença na vida de cada igreja, na tensão religioso x político).
Na tentativa de corrigir os efeitos colaterais considerados negativos da política na natureza eclesiológica das igrejas, construiu-se um discurso que diz que "crente não se envolve com política". Isso tem feito com que, em vez dos problemas políticos serem encarados como reais e administrados conscientemente, eles são mistificados, demonizados e, portanto, nem sempre administrados adequadamente.
Tal mascaramento da realidade chega, em alguns casos, a uma situação tão nefasta que há pessoas que usam o discurso místico-religioso como meio de fazer prevalecer seus desejos. Assim, a linguagem religiosa deixa de ser uma expressão dos sentimentos e pensamentos que decorrem da relação com o sagrado e passa a ser instrumento de manipulação dos semelhantes e, até, de demolição daqueles que são definidos como obstáculo a interesses particulares.
 (Abro outro parêntese pra lembrar que os interesses que envolvem a vida  numa "paróquia" são múltiplos. Exemplos:
a) Há pessoas em busca de paz espiritual;
b) há desejosas de construir uma vida individual e coletiva saudável, segundo a compreensão que se tem de Deus;
c) há necessitadas de conforto espiritual e emocional;
d) há carentes de esperança e fé para prosseguir na caminhada de vida;
e) há interessadas em platéia para massagear o ego;
f) há interessadas em espaço para liberar a ânsia psicológica por poder;
g) há cabos eleitorais de candidatos e partidos políticos;
h) há aquelas cuja libido tem sido extrema e prejudicialmente mal canalizada;
i) enfim, )

...
Uma vez que a igreja existe dentro de um contexto caracterizado por interesses regidos por diversidade de ideologias, geralmente ela também se posiciona como parte competidora (em vez de cooperadora), visando imprimir os valores que acredita naqueles que estão em seu raio de influência (em vez de ser coparticipante na construção deles)

Nesse caso, para que o trabalho de uma igreja produza os resultados desejados, duas coisas são importantes: 
1) que predomine em seu seio a clareza dos valores que defende; 
2) que ela se multiplique para ampliar sua influência.
 Se essas duas coisas são legítimas, e acredito que sejam, em que ponto a política se torna um problema? A política se torna um problema quando: 1) os valores são equivocados ou não são devidamente sólidos ou não são levados a sério na vida dos participantes;
2) a ânsia pela multiplicação visando exercer influência é tal que se desconsidere a essencialidade dos valores espirituais que são sua razão de existir. 

Quando os valores espirituais deixam de ser prioritários, a predominância de conflitos doentios se torna parte freqüente da história da igreja. A enfermidade se torna tal que, os feitos individuais internos, por exemplo, deixam de ser valorizados pelo resultado positivo que produzem à vida comunitária e passam a ser criticados pelo aumento de prestígio que agrega a quem disparou a idéia ou liderou a execução. 
Assim, como o prestígio e o poder político estão acima dos interesses comunitários, não importa se algo bom para a coletividade esteja acontecendo. O importante é anular o fortalecimento político daquele (s) que é (são) visto (s) como agente(s) decisivo(s) nas ações positivas implementadas: o "não-eu".

(Abro um último parêntese para lembrar que conflitos fazem parte de nossa vida, afinal, todo relacionamento é potencialmente conflitante. Entretanto, é fundamental que se avalie, primeiro, a legitimidade das causas aparentes e, segundo, quem são os atores envolvidos e seu histórico de vida). 

Se queremos canalizar de maneira positiva o elemento político que caracteriza a natureza humana e é tão forte na natureza eclesiológica das igrejas batistas, sermões não são suficientes. A ênfase na construção de valores espirituais é essencial. Por isso, a educação cristã, nas igrejas, e a teológico-ministerial, nas escolas de teologia, deveriam ocupar prioridade. 
 
Porém, como as igrejas são geradas dentro de uma cultura que não valoriza a educação - no caso, a brasileira - educação também não é prioridade nelas. Expansão é prioridade.
Como na política adotada pelos governantes brasileiros, nas igrejas batistas (e nas convenções das quais elas fazem parte), todo o discurso, todo recurso financeiro e esforço dos líderes relacionados à educação são diametralmente opostos aos investidos no sentido da expansão. Cada igreja organizada é comemorada da mesma maneira que governantes político-partidários comemoram construção de prédios escolares, dando pouca importância para o "para quê" da educação que ali será praticada (quando consegue ser praticada).

Sou pela expansão. Mas expansão desacompanhada de investimento em educação ou dos devidos valores espirituais, apenas nos iguala à política culturalmente dominante e aos políticos partidários sem visão pública, que tantos males têm causado ao povo.
Se numa eclesiologia politicamente fértil, como a das igrejas batista, valores espirituais não forem ensinados, cultivados, enfim, levados a sério, as portas do inferno podem não prevalecer contra elas, mas sempre estarão "à porta"  de suas sedes, esquentando e enfumaçando o ambiente.

Diálogo entre opostos em Cuba

Achei muito interessante o texto que segue, seja pelo conteúdo em si (e a relação com o que ocorre em alguns eventos religiosos conservadores ou progressistas), seja pelo contexto social cubano onde foi produzido. 

"Entre las estrategias más usadas por el discurso oficial en Cuba está la de separar a los ciudadanos en compartimentos no conectados. En la medida que cada uno se niega a escuchar al otro, no pueden constatar que tienen observaciones afines sobre su realidad y deseos confluentes de mejorar el país. Por eso se sataniza al crítico y se le impide a los periodistas oficiales invitarlo a los estudios de la televisión a participar en esos paneles aburridos donde todos tienen el mismo punto de vista. Se repite la táctica de “echar a pelear” a personas que sentadas frente a una taza de café confirmarían sus afinidades en lugar de ahondar en sus diferencias. Siempre que escucho denigrar a alguien con adjetivos encendidos al estilo de “mercenario” o “vendepatria” me percato de que el emisor de tantas calumnias teme –en su interior– que en un debate no pueda dejar los gritos y argumentar sus ideas. Los que ofenden son, generalmente, los que temen a la sana polémica por estar carentes de razones."

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A culpa é do "socialismo"

Depois de um longo período de convalescença, voltei a sair de casa. Gláucia convidou-me para acompanhá-la ao oftalmologista uma vez que temia não encontrar lugar para estacionar o carro. Ela estava com a razão. Deixei-a na porta da clínica e consegui uma vaga apertada a 100 metros de distância. 

Pensei em agendar uma consulta pra mim, mas a clínica estava cheia, precisaria entrar na fila do telefone para marcação e, depois, esperar não sei quantos dias. Preferi aguardar pra depois...

Quando voltávamos, decidimos parar num supermercado para umas compras. Estacionamos com dificuldades e, enquanto ela foi à farmácia, sai à procura de um carrinho ou de uma cestinha. Não era o único. Muitos procuravam o mesmo e ninguém achava. Olhei a fila do caixa eletrônico com 30 metros de cumprimento, maior do que a da mega cena acumulada em 39 milhões, do lado de fora da loja.

Depois de olhar pra dentro do supermercado e perceber a multidão, fui ao encontro dela, Gláucia, na farmácia. Ela estava na fila. Desistimos e decidimos ir ao supermercado vizinho de casa, no Canela.

Na ida, parei no Banco do Brasil e ela seguiu à pé para o supermercado. Vencida a fila no Banco, segui para o Bom Preço. 

Quem disse que conseguia estacionamento?

Perdi as contas das vezes que rodei o estacionamento em frente à loja e também o da parte inferior. Passei quase uma hora rodando em fila nos estacionamentos. Havia carro parado irregularmente e gente disputando palmo a palmo uma vaga. Um cidadão discutiu com o policial, pois queria deixar o carro sobre um espaço reservado aos pedestres. Um outro gritou comigo porque estava rodando muito devagar.

O mesmo fenômeno de congestionamento acontecia na rua em frente.

Depois de muito rodar, consegui um cantinho, literalmente, e entrei para procurar Gláucia. Todos os caixas estavam funcionando, fato raro no Bom Preço (não por falta de consumidores, mas por ganância). Ela estava sorrindo numa das filas internas, com quatro carrinhos cheios à sua frente e mais meia dúzia atrás. Esclareço: os carrinhos eram dos outros.

(Em janeiro, no interior de São Paulo, meu sobrinho falava dos planos para o casamento. Provavelmente, compraria uma casa em vez de construir. Motivo: dificuldades para encontrar mão de obra disponível na construção civil).

Qual seria a justificativa? Simples: aumento no poder aquisitivo das pessoas e rápido crescimento da chamada classe média. A chamada classe C ganhou, nos últimos 5 anos, 30,2 milhões de consumidores, enquanto as classes D e E perderam 26,1 milhões. (E, claro, os empresários não multiplicarão suas lojas até quando puderem). Tudo isso em meio a uma profunda crise econômica internacional.

Foi-se o tempo em que não havia engarrafamentos e entrávamos com tranquilidade nos supermercados. Agora, por culpa - ironizando - do "socialismo", milhões de pessoas empobrecidas passaram a ter acesso aos bens de consumo. Até os aeroportos - até pouco tempo símbolo de status de uma minoria - estão lotados.

Escrevo que a culpa  é do "socialismo" - entre aspas - pra dizer que não me refiro a um modelo sócio-político-econômico totalitário. Não me considero tão burro a ponto de defender o igualitarismo. Nem também, tão desinformado a ponto de pensar que modelos sócio-político-econômicos possíveis se resumem a dois: capitalismo versus comunismo. Refiro-me a uma visão de sociedade na qual "justiça social" não seja apenas uma frase de efeito.

Quando se tem uma visão "socialista" de sociedade, busca-se permanentemente os melhores caminhos para que "corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!" (Amós).

Considero inconcebível a alguém que busque uma comunhão sincera, íntima e profunda com Deus e que conheça em profundidade a vida e ensinos de Jesus que se oponha a valores espirituais que nos estimulem a lutar por oportunidades iguais e vida digna para todos.

Compreendo que a transformação de valores espirituais - verdade, honestidade, justiça, solidariedade, por exemplo - em políticas públicas e estruturas organizacionais é um grande desafio técnico e político. Técnico, porque exige conhecimento das causas e efeitos das ações humanas sobre a sociedade e a natureza. Político, porque somos milhões de pessoas com motivações e objetivos de vida diferentes, fato gerador de tensão cada vez que se investe em mudanças. 

Mesmo assim, como cristãos devemos nos alegrar com cada sinal, por menor que seja, que aponte na direção de uma vida em sociedade na qual as pessoas possam viver de maneira digna e adequada à condição de criadas "a imagem e semelhança de Deus".

Isso significa interesse pela vida humana em todas as suas dimensões, especialmente a dimensão espiritual. Se isso é ser "socialista", então sou um deles.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Fidelidade na área financeira


7 razões que me levam a falar sobre dinheiro à igreja
 

Falar sobre dinheiro à igreja, no Brasil, é uma situação constrangedora, por duas razões: primeiro, pela cultura católica, depois, pela prática pós-pentecostal.

A cultura católica dificulta porque até pouco mais de 100 anos a ICAR era a religião oficial no país e, por isso, tinha suas atividades mantidas com os impostos de todos os brasileiros, inclusive dos não católicos. Mesmo hoje, por ter sido favorecida por posse de terra, ela se beneficia de laudêmios, juntamente com a Marinha e a família imperial brasileira e de dinheiro público a título, por exemplo, de preservação de patrimônio cultural. Como os católicos não tiveram a necessidade de sustentar, diretamente, as atividades de sua igreja, acham estranho o levantamento de recursos nos cultos.

Pelo lado pós-pentecostal, o surgimento de igrejas com perfil de empreendimentos financeiros criou uma geração de dirigentes religiosos despreocupados com a ética, que comercializam a fé, fazem propaganda enganosa e se aproveitam do desespero humano, como fazia a ICAR no século XVI, por ocasião do protesto de Lutero. Alguns apresentadores de programas religiosos são tão despudorados que, sabendo da ingenuidade ou desespero das pessoas, pedem até sob a justificativa de que “o programa custa caro”.

Apesar disso, falar sobre dinheiro à igreja pra mim não é problema, pelas razões que enumero a seguir:
1.       Consciência de causa – Acredito na importância das bandeiras levantadas em favor da comunhão do ser humano com Deus, consigo próprio, com os semelhantes e com o meio ambiente onde a vida se desenvolve. Acredito, ainda, que a causa é divina e, portanto, as razões para falar (e contribuir) são espirituais. Se as igrejas arriarem essas bandeiras, as pedras clamarão, pois a natureza e motivação da maioria das instituições sociais seguem noutra direção;

2.       Consciência da necessidade – É óbvio que, seja pela manutenção da sede onde a igreja se reúne ou das atividades desenvolvidas, a sobrevivência sem recursos financeiros é impossível no modelo social do qual fazemos parte. Podemos contribuir de diversas outras maneiras, mas o financeiro é institucionalmente imprescindível;

3.       Consciência do ensino da Palavra – Seja sob pressupostos do chamado primeiro (velho) testamento, seja sob os do segundo (novo), o chamado à responsabilidade dos crentes para o sustento das coisas do Reino de Deus é uma realidade indiscutível. Pode-se discutir modelo, motivação, detalhes, mas a essência das palavras se mantém;

4.       Consciência da democracia – A igreja não pertence a uma pessoa ou um grupo, mas é comunitária. Isso faz com que suas finanças sejam geridas de acordo com diretrizes aprovadas pela assembléia de membros, proporcionando tranqüilidade na abordagem de assuntos financeiros;

5.       Consciência da transparência – Saber que, além das diretrizes orçamentárias, os membros elegem periodicamente, dentre seus pares, os administradores, tesoureiros, Conselho Fiscal e têm acesso a relatórios contabilizados na forma da lei, nos estimula a falar em dinheiro com o coração em paz;

6.       Consciência da austeridade – As divergências em torno de rigor, visão e forma de aplicação do que seja austeridade não anula o fato de que há uma preocupação latente e explicita com o uso dos recursos naquilo que efetivamente colabora para o cumprimento das finalidades institucionais;

7.       Consciência de que todos podem contribuir – Falo com a experiência de quem foi criado em situação financeira precária, mas aprendeu com o exemplo dos pais que ninguém é tão empobrecido que não possa ofertar uma moeda. Sentir-se participante, mesmo que aos olhos humanos pareça apenas um “acionista minoritário”, eleva a auto-estima de qualquer pessoa que acredita na causa em pauta.

Diante disso, falarei em dinheiro sempre que necessário, pedindo a Deus que nos ajude a nos mantermos coerentes e a sermos cooperadores financeiros regulares, sabendo que, como diria Paulo, nosso esforço não é vão no Senhor.

domingo, 4 de abril de 2010

Ressurreição

Ideologia político-partidária à parte, repercuto aqui um texto de Mary Zaidan que merece nossa reflexão.

"Mesmo em ritmo muito aquém do que poderia e deveria, não há dúvidas que o Brasil é um país que cresce e aparece. Com economia estabilizada há mais de 15 anos, inflação sob controle, força de trabalho, vigor e capacidade empresarial ímpar, além de dotes naturais invejáveis, é uma nação com todas as credenciais para sentar-se entre as grandes.

Mas não as tem.

Falta-lhe o principal: apreço pelos valores morais, cada vez mais vilipendiados, inclusive pelo chefe maior da nação, a quem caberia comportamento exemplar.
Dele, vemos exatamente o oposto. Acoberta delitos e protege delituosos sob seu manto de popularidade. E, quando flagrado diretamente pela Justiça, não só volta a desrespeitar a lei, como ainda faz chacota das punições que recebe.

Sob a ótica do presidente Lula, companheiros que tentavam vender um dossiê contra adversários viraram simples “aloprados”. Mensalão travestiu-se de prática corrente, tática utilizada com sucesso para juntar todos no mesmo balaio, como se um crime pudesse ser perdoado porque há outros criminosos.

Por essas e outras, Lula ajudou a dilapidar o que ainda restava de reserva moral ao país e, pior, contribuiu para banalizar a corrupção.
Talvez esse seja um dos motivos para que esta praga que corrói o país desde sempre tenha adquirido dimensão tão assustadora nos últimos anos. Não restou pedra sobre pedra. Escândalos e roubalheira para todos os desgostos, em todos os cantos - Executivo, Legislativo, Judiciário e até no Ministério Público.

Deve também ter sido a inspiração para o discurso do pré-candidato do PSDB, José Serra, ao se despedir do governo paulista. Preferiu jogar luzes em valores essenciais a puramente exibir números de seus feitos. A candidata do PV, Marina Silva, que já carrega a aura da moralidade, vem na mesma balada. E a petista Dilma Rousseff, quer queira ou não, terá de fazê-lo.

Isso poderá enriquecer em muito o debate eleitoral, até então balizado em falsas premissas ideológicas, na pequenez do “nós contra eles” e na contabilidade de obras, as quais, há de se convir, não são benesses, mas obrigação de qualquer governo.
Está posta uma nova e imprescindível arena de combate em que os indicadores morais podem assumir maior importância do que medidores obreiros.

É fato que qualquer país sério repudia a condescendência com malfeitos e malfeitores. Neles, honestidade, ética e respeito jamais teriam chances de virar o centro do debate. São princípios básicos, obrigatórios a todos.

Mas é exatamente a falta desses substantivos que impede o desenvolvimento pleno do país.

Mais do que definir o tamanho do Estado – se mínimo, máximo, ativo -, a maior obra do futuro governo seria fomentar a lisura, inibir e punir corruptos. Criar o Estado do bem, onde as pessoas honestas possam acreditar em algo, já que, para elas, não há hoje chance alguma.

Essa sim seria a ressurreição de que o Brasil tanto necessita.

Feliz Páscoa."

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Marina Silva: pragmática ou programática?