sábado, 31 de julho de 2010

Ten Suggestions to Guide Baptists in Their Future

(Texto ainda indisponível em português)

By: Daniel Carro
Posted: Friday, July 30, 2010 6:00 am
Section: EthicsDaily.com's Latest Articles

When I delivered a speech at the Centenary Congress of the Baptist World Alliance in Birmingham, England, in 2005, I quoted a famous sports philosopher, Yogi Berra. He coined several deceptively simplistic and tautological remarks, such as: "It's not over 'til it's over;" "You can observe a lot just by watching" and "Why buy good luggage? You only use it when you travel."

I said that if we would pose to the witty baseball philosopher the question "Where will Baptists be after the next 100 years?", Berra would answer with one of his most ingenious proverbs: "It's very hard to make predictions, particularly about the future."

I still think Berra is absolutely right. When we aim to clarify Baptists at our 400th anniversary, especially when we try to say something intelligent about where in the world have we been and where should we go, we enter into more than just an academic exercise in futurology. Defining such a matter is more than merely elaborating about our past and our future; it has to do with our own essence and it conveys implications that determine our very existence and our identity.

Quoting Berra once more: "You've got to be very careful if you don't know where you're going because you might not get there."

Where should Baptists go?

I want to speak to Baptists as individuals, as well as Baptists as communities and institutions. I want to speak to the majority of Baptist groups in the world, who live in minority situations.

First, learn your story and your doctrine. History is tedious for some. Doctrine is complex. But both need to be learned. Know who you are, who your parents in the faith were and know what you believe. If you are a vagabond Baptist, try to understand at least what are the things in the Baptist way of being that make you unsettled and unsatisfied. That is also a Baptist way.

Second, envision new dreams. Learn something new that will connect you to your future. Buy a new G4 phone, get a Facebook account, enroll in seminary, do something you have never done that is aimed to advance the Redeemer's kingdom in some way. What sustains the Baptist vision is not so much history as eschatology. We live in hope of a better tomorrow. We are part of the redeemed people, citizens of the new heaven and the new earth that come from God. Do not be afraid of your future. Delve into it in the strong confidence that God is the One who is waiting for us in our multiple possible futures.

Third, keep it simple. Do not try to do things that you do not understand. Do the basics: read your Bible, pray, go to church, tell your testimony, get involved in ministry, give, live for others and reach for the sublime. Then, expect God's intervention in your life.

Fourth, keep it small. The Baptist genius has been manifested in the small. Small churches, small associations, small seminaries. If you are already stuck with one big organization, find ways of dividing without creating conflicts or at least create a network of small groups that connect the small to the big. Many of the things that have made Baptists great can only be achieved in small communities.

Fifth, keep it open. Welcome others, especially when they are different. Welcome the new winds of the Spirit and the new kids on the block. Do not be afraid of people, realities or situations that you do not quite understand. Live a lifestyle that can identify you with the poor, the needy, the stranger, the orphan and the widow, a life of service to God through service to others.

Sixth, be discerning. Do not get trapped in useless discussions. Discern the spirits. Be astute as serpents and peaceful as doves. Center your life in experimenting with the presence of God in the Christian community, then empty it out in Christian service.

Seventh, keep it meaningful. The fact is that if it is boring for you, it will be boring for others. Spiritual life, church, seminary, conventional work – they do not need to be dull and repetitive. Make them significant, important and consequential.

Eighth, be honest. Be honest to God, honest to your inner being, honest to your faith community, and honest to all others. Ministry is only done in truthfulness and integrity. Don't do things – especially worship – for the show. Do them in Spirit and in truth. Make the name "Baptist" be valued as the name of someone who is a leader in living a true ethical and Christian life.

Ninth, don't do it alone. The Baptist way of being the church is communal. Find your place into a Christian community of believers, and try to live according to the standards of the community. Relinquish your ego to the will of the community and you will find the will of God for your personal life. Strive for unity in diversity.

Tenth, be intentional and authentic. Do not follow fads or trends unless they are really appropriate in your corner of the world. Whatever you do for the advancement of the Redeemer's kingdom, do it intentionally. Be deliberate, plan, meditate on what you are going to do and, once in prayer you have decided what to do, keep it consistent and keep it coming. There will be rainy days, but later the days of achievement will come, too.

Friends, the challenges of the future are always changing.

The care of the planet, religious freedom, poverty, forced migrations, violence, drugs, health, security, lack of incentives, solidarity, the care of children, youth, the elderly …

These issues and others are joined to our own responsibility of redefining evangelism, Christian education, social aid, human rights and dialogue with other religions in such a pluralistic age.

The agenda is extensive.

Daniel Carro is professor of divinity at the John Leland Center for Theological Studies, first vice president of the Baptist World Alliance (2010-15) and on the board of directors for the Baptist Center for Ethics.

This column is excerpted from Carro's manuscript delivered to the Thursday Focus Group titled "Baptists at 400: Where Have We Been and Where Should We Go?"

sábado, 24 de julho de 2010

Voto Nulo?


Foi-se o tempo em que se anulava voto escrevendo-se palavrões, nome de animais de zoológico ou piadas, na cédula eleitoral. Com o advento das urnas eletrônicas, o uso da palavra, como manifestação de insatisfação, perdeu muito do seu poder catártico. Se no tempo das cédulas, sabia-se que os escrutinadores leriam e a imprensa divulgaria os casos curiosos, hoje, o ato de anular voto não provoca nenhum efeito prático, além do prazer vingativo em eleitores insatisfeitos e impotentes.

Nem mesmo poder para anular eleições, o voto nulo tem. Diferentemente do que se diz, a verdade é que “o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que os votos nulos por manifestação apolítica dos eleitores (protesto) não acarretam a anulação de eleição”. O esclarecimento disponível no site do TSE continua: “O voto em branco ocorre quando o eleitor escolhe a opção “Branco” e confirma na urna eletrônica. Já o voto nulo é aquele que não corresponde a qualquer numeração de partido político ou candidato regularmente inscrito. Tanto o voto nulo como o em branco não são considerados na soma dos votos válidos.

Defensores desta opção alegam que a quantidade grande de votos nulos serve para chamar a atenção dos políticos para o fato de que algo está errado. Entretanto, todos sabem que as coisas não estão bem, independentemente dos índices de votos nulos. Depois, os candidatos não deixarão de ser eleitos, nem o sistema eleitoral sofrerá modificações por causa da opção pela anulação do voto.

ÉTICA, VOTO OBRIGATÓRIO E VOTO NULO

Fere a ética, a opção pelo voto nulo? Não. Cada cidadão é livre para decidir em quem votar ou não votar, bem como para anular ou não seu voto. Lamentavelmente, nossas leis eleitorais não reconhecem o direito que deveríamos ter de ir ou não às urnas.

Somos obrigados a ir às urnas, mas não a votar em alguém ou algum partido. Prova disso é que a própria urna foi programada tanto com uma tecla para “Branco”, quanto para aceitar a anulação mediante digitação e confirmação de número estranho ao processo.
Por que, então, somos obrigados a “votar”? Uma resposta seria a vantagem para os candidatos, pois, do contrário, teriam um custo a mais: convencer eleitores a comparecer. Se a maioria dos legisladores tivesse, de fato, interesse na qualidade da participação dos eleitores, defenderia com ações concretas, por exemplo, a priorização da educação, a ampliação da democracia, a mudança no sistema de representação político-partidária e até os processos internos de escolha de candidatos nos partidos.

Entretanto, como isso não muda, resta ao eleitor insatisfeito reagir a seu modo, anulando o voto. Essa, porém, não é a única, nem a melhor saída. Se não estamos satisfeitos com a qualidade ética e técnica dos nossos representantes, nem com a realidade da sociedade, podemos encontrar alternativas melhores. Cabe aqui, então, a pergunta: Como as igrejas poderiam ajudar?

Como as igrejas poderiam ajudar?

Primeiro, ensinando seus membros a interagirem com a realidade. As palavras de Bertolt Brecht são agressivas, mas reveladoras: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Lamentavelmente, a teologia reinante em parcela significativa das igrejas é alienante, isto é, desestimula a participação. Santidade, nesta teologia, é sinônimo de isolamento, não de saúde. A educação ministerial de parte de nossas escolas ministeriais visa apenas preparar líderes para fazerem a máquina eclesiástico-denominacional funcionar; a educação religiosa, preparar educadores para conservar determinado tipo de cultura moral e, quando muito, preparar líderes para trabalhar para a igreja; a evangelização, o aumento quantitativo de fiéis e a administração, a manutenção e expansão do patrimônio físico-financeiro.

Não nos preparamos para ajudar a construir a vida em sociedade ou, muito menos, para dialogar com o mundo. Definimos-nos como detentores de uma verdade com efeitos futuros para ser anunciada e não receptores de uma vida presente para ser vivida e compartilhada. É o futuro da alma, não o presente da vida, o centro da teologia dominante que norteia nossa praxis.

Segundo, estimulando membros a estudarem problemas que afetam a vida de todos. Não há como encontrarmos solução para problemas se, conformados, não nos interessarmos por eles. Somente insatisfeitos procuram respostas. Mas também, não basta inconformação se não investirmos em estudá-los. Como, por uma questão de formação ministerial, nós pastores não fomos preparados para relacionar teologia com economia, política, ecologia, educação, cultura ou sociologia, por exemplo, não abordamos tais assuntos. Nosso interesse é alcançar resultados em favor do empreendimento religioso e não preparar pessoas para viverem a vida.

Terceiro, unindo-se em causas de interesse coletivo. O projeto FICHA LIMPA é um exemplo de como um sentimento de insatisfação canalizado de maneira inteligente, resultou numa lei que melhora a qualidade dos candidatos no quesito criminalidade. Sobretudo, demonstrou que unidos alcançamos melhores resultados do que separados.

Para nos unirmos em causas de interesse coletivo, precisamos reavaliar a questão da formação do pensamento veiculado em nossos púlpitos, escolas teológicas, órgãos de comunicação e literaturas. Não há como construir diálogo entre pessoas que se acham donas de todas as verdades e excluem, demonizando, os pensamentos divergentes.

Quarto, mudando a postura em relação à participação político-partidária. Alguns pastores parecem encarar outras organizações sociais como competidoras em relação à “mão de obra” dos membros da Igreja. Temem que a participação num partido esfrie o envolvimento do membro com a igreja. Outros temem que isso transforme os membros em pessoas “difíceis” nas reuniões ou assembléias administrativas.

Reclamamos da qualidade dos políticos, discordamos do voto nulo, mas desestimulamos a participação dos membros da igreja nos partidos. Esquecemo-nos de que os candidatos são definidos primeiramente no partido. Se os critérios dos partidos forem ruins, restará aos eleitores escolher dentre os “menos ruins”. Portanto, melhor do que pensar em voto nulo seria estimularmos pessoas éticas, estudiosas, de espírito público a se envolverem com a política partidária.

Nem todos têm perfil para serem candidatos, mas todos têm o dever de aprofundar o conhecimento político a fim de participar ativamente da vida em sociedade, votando de maneira consciente, pensando no melhor para todos, em vez de optar pelo voto nulo e apregoá-lo.

Triste Hemã


Com o coração angustiado de quem acredita, mas não obtém resposta; de quem fala, mas não se sente ouvido; de quem sabe onde está a solução, mas não a experimenta, assim Hemã se retrata em sua poesia.
Ele queixa-se  de sentir-se à beira da sepultura, de ser contado entre os que estão descendo à cova, totalmente enfraquecido.
Seus companheiros não têm vida, pois ele mesmo se sente um cadáver, seu Deus já não se lembra mais dele, pois não sente mais o toque de suas mãos.
Por não sentir o toque das mãos divinas, sua vida é uma cova profunda e escura e somente o sentimento das ondas da ira do criador o atingem.
Seus amigos, até mesmo os melhores, o abandonaram manifestando repugnância.

Sem Deus e sem amigos, a liberdade se esvaiu, seus olhos se enfraqueceram e a tristeza tomou conta.
Mas Hemã não perdeu a capacidade de clamar. Mesmo sentindo-se morto, sua esperança era de que até mesmo aos mortos Deus manifestasse suas maravilhas; de que até mesmo na sepultura pudesse ser alcançado pelo amor e fidelidade divinos; de que até mesmo em meio às trevas, a justiça pudesse resplandecer.
Em meio à pior descrição do que seria sua dor, ele continuava iniciando seus dias clamando por socorro através de orações, na esperança de que seu apelo chegasse à presença do Senhor da vida.
“Por que, Senhor, me rejeitas e escondes de mim o teu rosto?”.
Seu sofrimento o acompanha desde a juventude e a morte é sua companheira aterrorizante. Acreditando-se vítima da ira do criador sente-se destruído por um pavor que o circunda diariamente e o envolve por completo.
Sem amigos, sem companheiros. 

As trevas são sua companhia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Por um Brasil verdadeiramente livre

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor." Lucas 4.18,19)
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Liberdade é a palavra que expressa um dos sentimentos mais profundos da alma humana. Ela retrata o desejo que temos de superar toda e qualquer condição ou situação que aflige nosso ser. Retrata, portanto, a busca por um estágio de vida que nos proporcione um estado de bem-estar interior, de felicidade.

Dentre as muitas realidades que aumentam o anseio por liberdade, as mais comuns são: impossibilidade de ir e vir por imposição política; incapacidade de movimentar-se por enfermidade ou limitação fisiológica; ausência de perspectivas positivas frente a relacionamentos afetivos ou profissionais insatisfatórios; condição precária da vida em termos de segurança, habitação, transporte, por exemplo, em face das limitadas condições econômico-financeiras e, sobretudo, a dificuldade para aceitar as limitações próprias da nossa condição de seres humanos.

Não por acaso, portanto, fazendo uso das palavras do profeta Isaías, Jesus apresenta sua mais forte declaração de missão:

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos" (Lc. 4.18)

Seja qual for o significado escolhido, entre as muitas possibilidades que as palavras pobre, cativo, cego e oprimido oferecem, o fato é que elas abarcam as principais áreas de aflição nas quais nós, seres humanos, nos encontramos e alimentam nosso anseio por liberdade.

Não importa se o sentido dado a elas é de natureza espiritual, existencial, econômico, político, emocional, social, físico, enfim, o fato é que, seja o que nos faz sentir prisioneiros, em maior ou menor grau, pode ser relacionado a uma delas, pelo menos.

Essa declaração de missão, bem como as ações de Jesus, evidencia a visão integral que Ele tinha do ser humano, contrastando com a visão parcial daqueles que, rejeitando o interesse de Deus pelo que nos acontece no aqui e agora, focalizam apenas uma das dimensões da vida humana - a espiritual -, cujos efeitos afetariam somente a definição do endereço do indivíduo na vida pós-túmulo, no céu ou no inferno.

É fácil comprovar, à luz das Escrituras Sagradas por nós aceitas, que a manifestação histórica do amor de Deus pela humanidade não é seletiva. A história não confirma um Deus que seleciona algumas dimensões da vida humana para ser alvo de seu cuidado e, em outras, nos abandona à própria sorte. Exemplo maior dessa compreensão integral são as palavras de Jesus:

"Eu vim para que tenhais vida e vida em abundância" (Jo 10.10).

Diante dos desafios que a condição de pobres, cativos, cegos e oprimidos representa, Jesus assume três posturas como de responsabilidade sua: evangelizar, proclamar e agir. Podemos dizer que a primeira indica que há uma boa notícia em meio às dores humanas; a segunda pode ser relacionada com o conteúdo da boa notícia e a terceira, com o resultado que se espera de quem é alcançado pela boa nova.

Essas três palavras são aplicadas tendo em mente a pessoa humana. Não é o empreendimento religioso chamado igreja ou político chamado Brasil que está no centro das atenções. Um empreendimento religioso ou político pode ser forte a despeito e até a custa do sofrimento humano. Fixar os olhos na igreja ou no país tem seu valor, porém, quando a humanidade é mantida em destaque, o coração se nutre de compaixão. É o que percebemos quando lemos:

"Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor" (Mt 9.36).

O texto acentua, também, que a presença do Espírito na vida de Jesus era a evidência da unção, da legitimação espiritual; era a confirmação do seu papel missionário no mundo.

Diante disso, não há como não sermos despertados para as necessidades integrais de cada brasileiro ou não sermos constrangidos a cumprirmos nossa missão inspirados no exemplo de vida de Jesus, a fim de que possamos ver todo um povo, o povo brasileiro, verdadeiramente livre.

domingo, 18 de julho de 2010

A “advocracia” batista


Há uns dois anos, durante uma reunião do Conselho Geral da Convenção Batista Brasileira, no Rio de Janeiro, diante de uma situação jurídica, comentei rindo com dois advogados, líderes destacados da denominação, sentados à minha frente, que escreveria um texto sobre a “advocracia batista”. Um deles, brincando, respondeu: “não mexe com a gente”. Demorou, mas escrevi!


A “advocracia” batista


A democracia batista, nesses 400 anos, já venceu a “patriarcracia”, a “sacerdotecracia”, a “apostolocracia”, a “gerontocracia”, a “episcocracia”, a “poimencracia”, a "diaconocracia" e agora, ao que algumas evidências indicam, terá que lutar contra a “advocracia". Não por causa da legítima e saudável necessidade de orientação técnico-jurídica, em face da complexidade da relação entre nossas decisões políticas e suas possíveis implicações jurídicas, mas pelo oportunismo político inerente a todos nós, porém exagerado e antiético em alguns.


É que alguns, quando não querem cumprir a vontade soberana do povo batista reunido em Assembléia, usam do artifício do parecer jurídico, geralmente fornecido por advogados por eles nomeados, para advogar causas do seu interesse em vez de esclarecer, imparcialmente, pontos duvidosos.


Como as atas das reuniões de alguns órgãos, para serem aprovadas, precisam de parecer de comissão jurídica, até quando um assunto contrário aos seus interesses é aprovado, eis que uma nova oportunidade de debate surge, com pareceres que deturpam o deliberado.


Pastor e advogado


O problema se agrava quando dirigentes, além de pastor e bacharel em direito, são também narcisistas. Nessa condição,  proclamam sua lucidez superior, sua divina e inquestionável autoridade para interpretar “a lei maior”, a Bíblia, acima de qualquer outro simples mortal; usam toda a influência psico-política que a função pastoral exerce e maximiza sua portabilidade da carteira de filiado à OAB para proferir sentenças, sim, sentenças, não pareceres, em relação a tudo.


Diante desses, que enfiem o rabo entre as pernas todos os seus “interlocutores”, se não quiserem correr o risco de serem lançados na fogueira da marginalização (via difamação), bem ao estilo da Santa Inquisição, ou, no bom “advoguês”, se não quiserem “ser processados” – antiga ameaça usada por dominadores de cultura coronelista, para amedrontar gente empobrecida e ignorante.



A necessidade de assessoria jurídica


Não que seja errado contar com uma assessoria jurídica, nem que a colaboração dos irmãos da área do direito seja dispensável. Pelo contrário, a contribuição de bons advogados, especialmente honestos, verdadeiros, crentes sérios e não mero clientes de banco (de igreja) é essencial em nossas Assembléias. O que não podemos deixar continuar acontecendo é a absolutização de pareceres de indivíduos ou grupos de advogados, sob a alegação de que se trata de “parecer técnico” (leia-se sentença), como se isso significasse, necessariamente, neutralidade política.


Neutralidade política?


Neutralidade política é uma posição que não existe. Nem mesmo nas sentenças da magistratura existe neutralidade política. Todas as nossas palavras, sejam manifestas através de linguajar técnico ou popular, produzem efeitos e, portanto, a elas subjaz interesse político, mesmo que seja o de ficar omisso. Omissão e neutralidade são igualmente posicionamentos políticos.


O sentido verbal da advocacia


Advogar – em seu sentido verbal - não é prerrogativa de bacharéis da área do direito, sejam eles atuantes na iniciativa privada, sejam eles funcionários públicos pagos com dinheiro do nosso trabalho. Advogar é uma possibilidade inerente a todos os seres humanos. Todos nós fomos dotados da capacidade de defender nossos interesses. O que se pode discutir é se estamos devidamente qualificados para advogar todas as causas e se estamos socialmente autorizados, através das leis, para o seu exercício nos tribunais do Poder Judiciário.


Qualificação para advogar


Em relação à qualificação, claro é que isso depende do tempo investido por cada um no estudo das leis. Destaco no estudo, porque encontramos pessoas com diploma de Bacharel em Direito que, além de não terem sido estudiosas na faculdade, não mais investiram em leitura depois de receber o diploma, a carteira da OAB ou serem aprovadas num concurso para ser funcionário público do Poder Judiciário.


Por outro lado, há pessoas que nunca foram ao banco da faculdade de direito, mas, como autodidatas, estudam séria e profundamente os assuntos do seu interesse; nunca entraram numa faculdade de direito, não tem carteira da OAB, mas defendem seus direitos como ninguém. É o caso de Jesus em relação aos pecadores, na linguagem didatica usada por João (I Jo. 2.1).


Autorização para advogar


Quanto à autorização para advogar nos tribunais, esta é uma matéria definida pela lei de cada país. Há causas que não exigem presença de advogado e que o próprio interessado, se julgar-se capaz, pode preparar a defesa de seus interesses. Há outras em que o cidadão sequer pode comparecer à presença do juiz se não estiver acompanhado de um profissional do direito, devidamente habilitado na forma da lei.


Destaque-se ainda que a exigência de advogado definida em lei é fruto, como toda legislação, tanto de estudos sérios e profundos em defesa do interesse democrático da cidadania, quanto de lobbies profissionais em defesa de interesses corporativos e até casuísticos.


Fóruns do Poder Judiciário e Assembléias Batistas


Se há exigência da presença de advogados na maioria dos fóruns do Poder Judiciário, o mesmo não ocorre nas assembléias democráticas dos batistas. Nas assembléias, cada membro-mensageiro é advogado e a sentença é proferida pelo voto da maioria dos presentes. Assim, a razão para contarmos com o auxílio de advogados em nossas assembléias visa tão somente estarmos cientes do cumprimento ou não das leis do país e não para sermos subjugados por alguns, cuja desonestidade é visível, conquanto membros de igrejas.


Sentenças da Assembléia e Sentenças do Poder Judiciário


Parecer de assessoria jurídica sempre será parecer. Cabe ao plenário dar a sentença, pelo voto de aprovação ou rejeição ao parecer, podendo orientar-se ou não por ele. Se o assunto for controvertido e a sentença do plenário ao parecer provocar prejuízos claros de qualquer natureza – seja à instituição, seja aos interesses particulares dos integrantes -, que se busque recuperar o prejuízo através de sentença do Poder Judiciário, na forma da lei. Afinal, não pregamos, nós batistas, corroborando com Paulo, que a autoridade – inclusive a do Poder Judiciário – foi instituída por Deus (Rom. 13.1,5) e está a serviço de Deus (Rom. 13.6)?


O que não pode continuar acontecendo é a soberania das assembléias estar subordinada à interpretação que um advogado ou mesmo um grupo deles, dá aos textos da lei. Sim, falo de interpretação porque, na maioria dos casos, chama-se de “parecer jurídico” uma mera interpretação de texto. Não existe interpretação técnica desvinculada de algum tipo de posicionamento político, explicito ou implícito, objetivo ou subjetivo.


Prerrogativa de interpretação de textos


Interpretação de texto também não é prerrogativa de bacharéis em direito. Pressupõe-se que todos que passam pelos bancos de uma escola são ensinados a interpretar textos desde quando são ensinados a ler, até porque toda leitura, sem exceção, é uma interpretação. Além disso, diversas outras atividades profissionais – além das do Direito - exigem especialidade em interpretação de textos, inclusive o pastorado.


Precisamos, portanto, entender melhor o conceito “interpretação de texto” tanto quanto “parecer jurídico”, “parecer técnico”, “manipulação política”, pois todos estão relacionados ao exercício da advocacia e são direcionados para um objetivo que interessa ou, no mínimo, salta inconscientemente, como um ato falho, aos olhos de quem dá o parecer.


Consideração final


Já identifiquei 5 magistrados e uma infinidade de advogados na igreja à qual sirvo como pastor. Já trabalhei em mais de uma dezena de comissões de reforma de Estatuto ou Regimento Interno, de igrejas ou instituições batistas, ao lado de excelentes advogados. A alguns deles devoto uma admiração imensa, seja pela competência técnico-profissional, seja pelo caráter, pela maneira respeitosa, amorosa, sem empáfia, como tratam seus semelhantes. Esses compreenderão e certamente se aliarão ao espírito deste texto: o de coibir aqueles que estão transformando nossa democracia em “advocracia”; que, escondendo-se atrás de um título, um diploma ou carteira da OAB, semeiam a usurpação, tratam nossa gente como feudos de ignorantes, destruindo um dos principais pilares das instituições batistas que é a soberania democrática de suas assembléias.

domingo, 4 de julho de 2010

87ª Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana realizada em 2010

Depois de 8 horas viajando de carro, chegamos a Vitória da Conquista, cidade próxima à divisa entre Bahia e Minas Gerais. A temperatura, como se esperava, estava muito baixa para quem está acostumado aos padrões do nordeste. A sensação térmica chegou a 9 graus. 

Curtindo o frio e instalados no centro da cidade, nos preparamos e fomos para a 1ª "sessão" da 87ª Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana. Assim fizemos a cada dia, até sexta-feira, uma vez que, "afônico" em função de choque térmico, retornamos no sábado pela manhã, não participando da sessão de encerramento, no sábado à noite.

As reuniões aconteceram numa quadra coberta com muita abertura lateral, fato que fez com que sentíssemos o máximo de frio prossível. A Igreja hospedeira - Igreja Batista Bethelem - sob a liderança do Pr. Sérgio Costa, empenhou-se em fazer o melhor possível e agradecemos a Deus por isso.

As atividades de cada período do dia

Os períodos da manhã foram dedicados ao estudo bíblico. O Pr. Luis Sayão fez uma exposição do livro de Rute, procurando nos aproximar da realidade dos tempos em que o mesmo foi escrito, através do aprofundamento das informações contidas no texto e confrontando o tempo presente com princípios contidos num livro que geralmente é citado apenas em cerimônias de casamento.

Nas reuniões noturnas ouvimos diversos oradores que, dentro da proposta de cada programação, procuraram sensibilizar, alertar e desafiar o povo batista ao aprofundamento do compromisso em áreas diversas da vida.

As reuniões das tardes de quarta a sexta foram reservadas para assuntos deliberativos. Nelas, as organizações e instituições da Convenção apresentaram seus relatórios. 

A apresentação dos relatórios

Confesso meu incômodo com essa parte da programação. Parece-me que algo precisa ser feito com urgência em nossa denominação.  Não fica claro qual seria o objetivo de tais relatórios. Como nenhuma de nossas organizações tem um planejamento organizacional, não há como avaliar seu desenvolvimento. Trabalhamos com discurso e não com dados e as informações dadas representam aquilo que quem prepara o relatório deseja que saibamos e não o que de fato precisamos saber. 

O que de fato precisamos saber é se a organização piorou, estagnou ou melhorou em relação aos dados do relatório da assembléia anterior e como estariam em relação a metas estabelecidas. Mas como fazer isso se não temos metas nem dados ou se eles - os dados -  são publicados de maneira que não favorece uma análise profunda, comparativa e rápida? Como fazer isso se não temos um plano de metas? Assim, os relatórios não servem para avaliação, nem para marketing, muito embora essa segunda opção parece ser a motivação de alguns dos que apresentam relatórios.

Vale salientar que isso não é um problema apenas nosso, na Bahia. Parece ser um problema nacional. Até mesmo a CBB padece deste pecado.

Dados financeiros

Salvo melhor atenção, a área com algum dado apresentado de maneira adequada foi a financeira. 

O Indice de Liquidez Corrente (que relaciona bens e direitos das organizações com suas obrigações e indica a "capacidade de pagamento da empresa no curto prazo sem levar em conta os estoques") é calculado com base em unidade de real. Ele indica o quanto em dinheiro a organização dispõe para cada real de compromisso a ser saldado no curto prazo. Os nove gráficos, salvo melhor atenção, repito, apresentados pelas organizações apontam que aproximadamente 10% delas estão negativas e pioriando; 20% estão negativas e melhorando; 35% estão positivas e melhorando e 35% estão positivas e piorando.

Isso quer dizer que quase metade das organizações terminaram o ano apresentando resultados financeiros piores em relação ao final do ano anterior.

Claro que este não é o único indicador de avaliação, mas é o único que foi disponibilizado. Se fossem disponibilizados outros indicadores, poderíamos avaliar mais rapidamente os relatórios, os discursos dos apresentadores seriam mais agradáveis e nos sentiríamos mais atentos.

Momentos de tensão

Dois momentos de tensão (além do tradicional referente ao preenchimento das vagas nos conselhos) marcaram as sessões deliberativas. O primeiro foi  em relação ao Conselho Fiscal. Por razões que não vêm ao caso, o Conselho Fiscal preparou seu relatório, mas o Conselho da CBBA não tomou conhecimento prévio do mesmo, como determina o Regimento Interno. 

Além disso, o conteúdo do relatório extrapolou as atribuições regimentais do Conselho Fiscal, o que, se regimentalmente estava errado, na prática foi altamente positivo para o plenário que teve acesso a um retrato da realidade administrativa das organizações.

O problema é que não somente um tempo foi reservado no programa para apresentação do referido relatório, mas também seu conteúdo foi publicado no Livro do Mensageiro. O relatório não pode ser apreciado pelo plenário, implicando na não aprovação das contas de todas as organizações.

O segundo momento de tensão ficou para a sessão de eleição da diretoria, pela seguinte razão:

O artigo 14 do Regimento Interno diz: "A diretoria da Convenção será composta de presidente, 1º, 2º e 3º vice-presidentes; 1º,2º e 3º secretários eleitos para um período de dois (2) anos, VEDADA A REELEIÇÃO DOS MEMBROS DA DIRETORIA PARA TERCEIRO MANDATO CONSECUTIVO

O problema foi a divergência de interpretação.

Um parecer da Comissão Jurídica apresentado ao plenário, interpretava que a proibição de reeleição seria para o mesmo cargo. Uma outra tese foi levantada defendendo a proibição para qualquer cargo. A primeira tese permitia a permanência eterna de um convencional na diretoria, num sistema de rodíizio nos cargos; a segunda, defendia a proibição após dois mandatos, gerando alternância, como no caso da presidência da República do Brasil.

(Na Convenção Batista Brasileira a regra diz: "O mandato da diretoria eleita será de dois anos, sem direito à reeleição no período subsequente" (Art 8º, & 1º). A interpretação vigente é que nenhum mensageiro pode continuar na diretoria por mais de um mandato seguido, nem mesmo mudando o cargo).

Depois de muito debate, a questão foi submetida ao plenário e 2/3 dos presentes entenderam que a segunda tese - a de que uma pessoa não pode ficar indefinidamente na diretoria - prevaleceu. 


Apesar disso, o presidente, por razões que somente ele e Deus sabem, decidiu não obedecer a decisão do plenário, permitindo que um mensageiro que já estava na diretoria há pelo menos dois mandatos concorresse e fosse reeleito ilegalmente à luz da decisão interpretativa do plenário.

Pessoalmente pressenti, como parte do plenário, que, se insistíssimos, poderíamos provocar um acirramento tal, com consequências danosas imprevisíveis e irreparáveis. Optei pelo silêncio consciente, pelo mal menor.

(É importante que se destaque que a discussão não ocorreu motivada por um suposto desejo de mudança, muito menos porque qualquer pessoa eventualmente atingida pela regra não fosse qualificada para estar na diretoria. O debate se deu pelo cumprimento do espírito da regra que seria o princípio da alternância)

Candidato único a presidente

Como somente um candidato disponibilizou-se a concorrer à presidência, o escrutíneo foi dispensado na forma da alínea III, do & 1º, Art. 14º do Regimento e o candidato foi eleito, sem votação, totalmente dentro da legalidade.

Mês de Missões Estaduais

Acredito que tais tensões ainda que desagradáveis têm seu lado criativo e serão superadas na caminhada. Agora, como líderes, devemos pensar nos missionários que estão nos campos, nos desafios que temos diante de nós e fazermos o melhor neste mês de julho, dedicado ao levantamento de oferta para o sustento daqueles que estão em frentes pioneiras.