domingo, 30 de janeiro de 2011

Como endireitar um esquerdista

por Frei Betto *
 
"Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social. Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros.

Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como "doença infantil do comunismo" - é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele.

O esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças...

O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito!


Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal.


Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários.


Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas.


Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do "chato". Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.

 Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu...).

Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, encontrei num evento um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa "gente da periferia". E pontificou: "Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo."


Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: "Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles."
"

* Frei dominicano. Escritor.
  Fonte: Agência de Informação Frei Tito para a América Latina - ADITAL, 19 de outubro de 2007.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O amanhã

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” (Mt. 6.34)

Nesses dias de adversidade, acentuou-se em meu coração um sentimento profundo: o de que o controle que temos sobre nossa vida é bastante relativo e precário. A esse sentimento juntaram-se o da dependência e da liberdade. O da dependência porque há “n” fatores incontroláveis que influenciam os rumos do nosso amanhã; o da liberdade, porque se, de fato, nos colocamos confiantemente nas mãos de Deus, seu amor lança fora o nosso medo.

É interessante que, quando o assunto é o amanhã, a formação religiosa e a concepção filosófico-teológica podem ser diferentes, mas o sentimento e a linguagem de quem os expressam se aproximam. Veja o caso da poesia de uma música classificada como popular e outra sacra:
Como será amanhã? Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser
(João Sérgio)

Porque ele vive posso crer no amanhã
Porque ele vive temor não há
Mas eu bem sei, eu sei que a minha vida
Está nas mãos de meu Jesus que vivo está
(Glória e William J. Gaither)

Curioso também é observar que, mesmo na tentativa de fugir da cosmovisão religiosa da vida, quando o assunto é o futuro, o sentimento de dependência de algo se faz presente. É o caso da canção de Sérgio Britto.
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído

O que vemos nos três textos é o reconhecimento de que não temos controle sobre o futuro, portanto, a saída é deixá-lo nas mãos do “acaso” ou de Deus – mesmo percebido de forma diferente –.

Quando o sentimento de dependência do eterno se acentua em nossa caminhada de vida, os fatos deixam de ser relevantes pelos possíveis resultados bons ou ruins do curto prazo. O importante passa a ser a confiança que se tem de lidar com eles em seu tempo e assim construir a caminhada.

A consciência de que a vida se constrói no passo a passo de cada dia não significa desleixo quanto ao estabelecimento de metas e projetos, muito menos passividade irresponsável, mas reconhecimento da possibilidade de surgimento de fatores alheios ao nosso controle que devem ser encarados não com ansiedade neurótica ou desespero destrutivo, mas com a maior confiança e serenidade possíveis.

Podemos e devemos nos preparar o melhor possível – em todas as dimensões da vida - para enfrentar o amanhã, mas não há preparo melhor, capaz de nos ajudar a enfrentá-lo, do que um coração cheio de confiança no amor, na generosidade, nas misericórdias - renováveis a cada manhã - do doador da vida.

Coração confiante é coração cheio de dependência e, paradoxalmente, de liberdade para enfrentar o amanhã da maneira como se apresentar, seja repleto de facilidades ou dificuldades.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Manifestação da Ordem dos Pastores

 ORDEM DOS PASTORES BATISTAS DA CIDADE DO SALVADOR
 RUA FÉLlX MENDES, 12 - GARCIA - SALVADOR - BAHIA –
 CEP 40100-020  TEL.3328-0087 - CNPJ 00828329/0001-45

No momento em que fomos surpreendidos por uma decisão estranha da justiça, afastando temporariamente o Pr. Edvar Gimenes da presidência da Igreja Batista da Graça, função que ocupava há mais de 05 anos,  desenvolvendo-a com competência, responsabilidade, observando criteriosamente o estatuto, regimento interno e sobretudo a Palavra de Deus;
Sabedores que esta ação foi movida por um pequenino grupo que se insurgiu deslealmente contra o seu líder espiritual, reconhecendo a postura ética e comprometido com os valores do reino de Deus adotada    pelo nobre colega membro desta Ordem, tomamos a seguinte posição:
1.     Hipotecar completo apoio ao colega, e as decisões que o mesmo vier a tomar  
     daqui para frente;
2.     Repudiar a atitude do referido grupo que conceituamos desvairada, rancorosa e  
     antibíblica;
   3) Denunciar a injustiça e a desumanidade no trato com as pessoas envolvidas, especialmente Pr. Edvar   e sua família;
      4) Apoiar completamente a membresia desta Igreja (a maioria absoluta) que          
     compreensivelmente sempre  esteve ao lado do seu pastor;
   5) Entendendo que a Ordem dos Pastores Batistas da Cidade do Salvador foi ofendida com o achincalho de um dos seus membros, coloca-se com uma instituição jurídica a disposição do referido colega para toda e qualquer atitude judicial cabível, ao tempo em que reafirmamos que estaremos em constante       oração para que Deus incline o coração do rei para a justiça.

         Salvador, 20 de dezembro de 2010
 
      Pr. Judson de Freitas Rocha                                  Pr. José Roberto Amorim Lima
              Presidente                                                                               Vice- Presidente