terça-feira, 19 de abril de 2011

“Eu vi o Senhor!”

Era domingo, início da manhã. Maria Madalena e a outra Maria foram ao sepulcro  de Jesus. Não foram por acreditar na ressurreição. Foram porque a aproximação do lugar onde o corpo estava amenizaria a dor da separação traumática e dolorosa.

Ainda estava escuro, mas viram que a pedra da porta da sepultura fora removida. A surpresa e a dúvida dominaram seus corações. Então correram para contar aos discípulos.

A correria foi geral. Pedro e um outro discípulo disputaram para ver que chegaria primeiro. Pedro perdeu a corrida, mas, por ser mais ousado, entrou primeiro na sepultura e testemunhou: as faixas de linho estavam de um lado, o lenço usado para cobrir a cabeça, dobrado do outro, mas Jesus, de fato, não estava ali.

Sem compreender o ocorrido, os discípulos voltaram pra casa. Maria, porém, permanece, inconsolável, chorando as dores da saudade. Sob o impacto da morte e agora do desaparecimento do corpo e sem acreditar naquilo tudo, voltou a olhar para dentro do túmulo.

Nova surpresa acontece: dois anjos estavam no lugar onde o corpo de Jesus esteve repousando. Um diálogo se estabelece e ela derrama seu coração: “levaram embora o meu Senhor”. Mal termina de falar, outra surpresa: alguém, parecido com um jardineiro, dirige-se a ela, indagando sobre o porquê das lágrimas. Sem responder ela implora: “Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei”.

Ele pronuncia o nome dela, ela reconhece sua voz: era Jesus.

Por não ter desistido, na pior das adversidades, teve o privilégio de ser missionária da primeira mensagem de Jesus, após a ressurreição: “... Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para o meu pai e Pai de vocês, para o meu Deus e Deus de vocês.

E ela, respondendo positivamente ao desafio missionário, emocionada e cheia de alegria, dirige-se aos discípulos - recolhidos, amedrontados - e anuncia: “Eu vi o Senhor!”

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Futuro dos batistas brasileiros, se não abrirmos os olhos!!!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cristolândia x Cracolândia

sábado, 9 de abril de 2011

Marta Suplicy altera texto do PL 122 e libera pregação anti-gay em igrejas e templos


Iniciei oficialmente minha caminhada pastoral há 28 anos. 

O período coincidia com a tomada do poder, na Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, pelos autodenominados conservadores ou denominados pelos adversários como fundamentalistas. Pra mim a segunda expressão tornou-se mais forte porque presenciei a queda de um professor pela pressão do novo "comando mundial" dos batistas. 

(Trago viva em minha mente a reunião na sala do reitor, quando, sentados no chão pela falta de espaço, David Mein explicava pacientemente porque tomou a decisão de demitir o professor. Depois veio a queda do segundo, quando David Mein já havia saído. E entre eles, a derrubada do novo diretor do Seminário, pelos alunos, quando eu já trabalhava em Maceió) 

Foram anos de histórias tristes, no mérito das quais não entro aqui, mas estou mencionando para informar que neste período iniciava-se, dentre outras, uma mudança de concepção hermenêutica que não era novidade, mas que até então não prevalecia: Jesus deixou de ser a chave hermenêutica dos batistas para interpretação da Bíblia e a expressão "a Bíblia interpreta a própria Bíblia" se popularizou trazendo danos ainda imensuráveis à vida de pessoas e instituições. 

Mantendo as convicções tradicionais dos batistas, até aqui não abri mão de *Jesus como chave hermenêutica de interpretação. 

O que isso tem a ver com o assunto do tópico? É simples: inspiro-me no ministério de Jesus para definir a linha teológico-ministerial que adoto. E quanto mais leio e releio a vida e ensinos de Jesus, nos evangelhos, mais me convenço de que os arquiinimigos de Jesus não foram os pecadores (segundo a definição popular da palavra pecado), mas a religião institucionalizada. Confira nos evangelhos com quem foram os principais embates de Jesus, pra não dizer todos. Foram com líderes fariseus. 

Fundamentado nesse pressuposto, decidi que "púlpito" por mim ocupado não seria usado para atacar manifestações específicas de minorias relativas ao estado de separação no qual a humanidade se encontra (pecado, teologicamente, é quebra de comunhão, diferente de eticamente que é quebra de código de ética). Antes, se não pudesse anunciar o amor que restaura primeiramente a comunhão da pessoa com Deus e, só depois, como consequência, mudanças em nossos relacionamentos com pessoas, coisas e meio ambiente, ficaria em silêncio. 

Nesses 28 anos nunca senti necessidade do discurso fundamentalista, ainda que, certamente, ele também possa ser identificado em meus discursos, afinal, todos somos pecadores. Optei por colocar o acento da minha pregação no caminho da resturação da comunhão com Deus e, ao mencionar sinais da separação, cuido para não deixar que a cultura - responsável pela escolha de algumas manifestações da separação em detrimento de outras - prevaleça, transformando algumas manifestações da ausência de comunhão em "bodes expiatórios". 

Transformando toda essa prolixidade em uma frase: não aderi, não adiro, nem pretendo aderir ao discurso anti gay como bandeira política de pregação. 

Respeito aos que optaram por esse caminho - de combate a gays e outros - e luto para que eles respeitem o escolhido por mim.


 .....
Talvez você goste de ler algo mais que penso sobre sexualidade:
1. Sexualidade, a terceira alternativa
2. "Despertar" o que?
3. A educação sexual dos pastores
4. Sexo não é água

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fidelidade a Deus na Era da Infidelidade


"Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Jesus, em Lc. 16.10)

Não disponho de dados, mas, baseado em diversas evidências, suponho que “nunca antes na história” a infidelidade foi tão perceptível.

Não me refiro à infidelidade a marcas de produtos. Essa já está comprovada por pesquisas e o fato é atribuído a diversos fatores como, por exemplo, aumento na diversidade de marcas e na concorrência; ascensão das classes C e D; maior acesso à informação; advento da internet, enfim.

Também não me refiro à infidelidade conjugal, prática profundamente nociva à saúde individual, familiar e social, já comprovada por pesquisas. Nesse caso, devido a fatores como autonomia econômico-financeira da mulher, redes sociais virtuais, metropolização das cidades, dentre outros. Há quem afirme que agora “os homens estão traindo com culpa. E as mulheres, traindo como nunca”. Percebe-se que não há apenas uma mudança na qualidade do comportamento, mas também na quantidade de casos.

Não me refiro, ainda, à infidelidade eclesiástica. Isso também se tornou compreensível com o fim do monopólio da fé cristã pela Igreja Católica, via reforma constitucional; com a conscientização da pluralização, da diversidade, nas sociedades democráticas; com o uso de mídias modernas por igrejas de matriz protestante ou evangélica; com as infindáveis subdivisões formais e informais em todas as denominações; com a transformação da religiosidade em produto de comercialização pelo pós pentecostalismo ou mesmo com a frustração decorrente da queda na credibilidade de instituições antes irrepreensíveis.

O neoliberalismo atingiu a religião e a iniciativa privada passou a reger a abertura de igrejas em cada esquina, como se abre um empreendimento comercial. Diante disso, as pessoas substituíram a definição doutrinária pelo prazer da convivência como critério primeiro (e até único) de escolha da igreja a qual se unir. Assim, a infidelidade também é realidade em relação às igrejas.

Nada disso, entretanto, me assusta tanto quanto a percepção da infidelidade a Deus. Não que antes não houvesse. Na verdade, Deus sempre foi procurado muito mais como gênio da lâmpada maravilhosa ou pelo encantamento que coisas do sagrado provocam do que como regente de nossa conduta. A diferença é que no conjunto de membros das comunidades chamadas batistas – cito a minha denominação apenas pra não falar da vida alheia - percebia-se mais nitidamente a fidelidade das pessoas a Deus.

O comum, a regra, era a predominância de membros querendo conhecer mais e mais a Deus através do estudo sério das Escrituras, do conhecimento intelectual e existencial da pessoa de Jesus, da busca sincera pela presença do Espírito Santo.
Presença regular na vida da Igreja; prazer em devolver o dízimo, em entregar ofertas, visando manter e expandir as causas divinas e solidariedade, inclusive material, aos necessitados, eram manifestações de fidelidade comuns à maioria.

O que assusta hoje é que o comum foi invertido.

A infidelidade predomina e não é difícil de ser comprovada. Escolha, aleatoriamente, qualquer realidade que possa ser caracterizada como fidelidade a Deus e faça uma avaliação, dentre os membros de sua igreja. Quantos estão comprometidos com ações em seu cotidiano que sejam conseqüência consciente de fidelidade a “revelações” de Deus em seu coração? Quantos se sensibilizam diante da dor alheia como manifestação de compaixão inspirada na vida de Jesus? Quantos trabalham pensando não somente em suprir as próprias necessidades (ou excentricidades), mas também para ter com que acudir a necessitados?
Quantos manifestam interesse em saber se suas atitudes, palavras e ações são compatíveis com o caráter revelado do Deus em que crêem? Quantos se perguntam se Deus tem algo a  ver com o início ou fim de um casamento? Quantos estão comprometidos com a vida em comunidade, como família de Deus, como corpo de Cristo? Quantos devolvem regularmente seus dízimos por acreditar que Deus tem alguma coisa a ver com o uso dos 100% do seu dinheiro? Quantos se perguntam, antes de fechar um negócio, se a ética que envolve a transação é agradável a Deus?
Quantos estão gritando: “Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”? (Is. 6.6)
Parece que Deus virou peça de museu.

Nossa era é a Era da Infidelidade. O padrão infidelidade foi de tal maneira assimilado também dentro das igrejas, está tão perto de nós na forma como nos relacionamos com Deus que me pergunto: será que faz sentido ou surtiria efeito lembrar: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus?


Estou procurando “novos” indicadores de fidelidade a Deus para a Era da Infidelidade, mas, por não encontrar, sinto-me fora de moda. Se fidelidade é fruto de confiança e amor, será que as palavras de Jesus – Quando, porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8) ou “e, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará (Mt 24.12)  – estão se cumprindo em nosso meio?