segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Uma carta que mexeu com meu coração

Salvador, 14/10/2016.

Amado Pastor Edvar,
A minha fidelidade e o meu amor o acompanharão...”Salmo 89:24
Dirijo-me ao senhor nesse momento com triste sentimento de perda: a nossa igreja está perdendo o seu pastor e eu, na qualidade de membro dessa igreja, sinto-me frustrada, decepcionada, vendo-o partir.
 Eu, que acreditava na sua permanência na Igreja Batista da Graça por muitos e muitos anos, que sempre o vi como o pastor ideal, sempre revestido de compreensão, delicadeza, simpatia e de grande respeito pelo seu rebanho, fui pega de surpresa e, estupefata, ainda me recuso a aceitar sua renúncia. 
       Somos testemunhas do como o senhor cuidou de suas ovelhas, guiando-as com a  dignidade dos sábios e lucidez cristã, com a autonomia e a autoridade que o cargo lhe conferia, à semelhança dos profetas e homens de Deus.
Com o senhor, vislumbramos um mundo mais transparente, mais verdadeiro, despido de preconceitos; aprendemos a ler também a Bíblia nas suas entrelinhas e assim perceber adimensão dos seus personagens bíblicos com seus erros e acertos; vimos a importância da leitura contextual e o perigo da leitura literal dos textos; descobrimos a necessidade das interpretações bíblicas mais atualizadas e enriquecedoras para compreensão do comportamento humano. E mais, muito mais ficou em nós fortalecendo e embelezando a nossa alma de cristãos.
Ficaremos, doravante, sem seus belos sermões carregados de vida, de otimismo, perdão e amor. Não mais desfrutaremos da sua palavra, despida  daqueles velhos chavões já desgastados,daquelas críticas destituídas de conhecimento e informações que humilham e desprezam grupos de pessoas vítimas de opressão.
Obrigada, pastor! A Igreja Batista da Graça aprendeu muito com a sua mensagem renovadora, provida deautenticidade, senso de justiça e, sobretudo, de coragem para proferi-la. Deu o seu recado; disse a que veio.
Pessoalmente, deixo registrada minha gratidão. Por favor, recomende-me carinhosamente à Gláucia e receba meu abraço e de minha família.
O seu rebanho está chorando, pastor. Sentirá a sua faltapois ainda está a precisar muito das suas lições. 
Fraternalmente em Cristo,
Ellen  

P.S. Em tempo, externo minha solidariedade pelo falecimento da  senhora sua mãe. 


sábado, 19 de novembro de 2016

Sofrendo com o Garotinho


Em seu livro, O Foco, Daniel Goleman dedica um capítulo intitulado  "a triade da empatia". Refere-se à "empatia cognitiva", "empatia emocional" e "preocupação cognitiva". Trata da empatia que nos leva a compreender a dor do outro, a nos unirmos à dor do outro e a nos preocuparmos com o outro, respectivamente.

Segundo ele, "o circuito de empatia foi projetado para momentos em que estamos frente a frente com o outro".

"Um lado mais sombrio da empatia cognitiva emerge quando alguém a utiliza para identificar a fraqueza de uma pessoa e tira vantagem disso. Essa vantagem caracteriza sociopatas, que usam a empatia cognitiva para manipular outrem".

Ele mostra como o contato visual gera uma conexão emocional e une os cérebros dos envolvidos. Mostra também como, quando assimilamos os sinais faciais, vocais e outros indícios de emoções, entramos em sintonia com a pessoa.

Quando vi a cena envolvendo Garotinho, ainda no twitter, antes de viralizar e ir à TV, fui tocado pela fala da filha, em meio ao choro: "meu pai não é bandido". Fui tocado também pela humanidade de um homem poderoso esperneando como uma criança diante da punição por erro grave e, de repente, percebi que havia esquecido tantos males atribuidos a ele durante os anos de poder em desfavor de milhões de seres humanos.

Depois disso, de volta à realidade, pus-me a pensar em como equilibrar o sentimento de empatia com a necessidade de justiça.

Pior é que, no contexto político, cada um usa a emoção que sentiu e o conhecimento que tem de como o outro reage emocionalmente, para tirar proveito político de imediato ou do que possa vir a ocorrer consigo próprio ou com seus aliados quando e estão na mira da PF, do MPF, da RFB  e do Poder Judiciário

As vezes lemos um texto extremamente racional que nos tira do foco anterior que nos movia frente a uma situação, sem sabermos que, antes da escrita racional, com linguagem acadêmico-científica até, houve no autor um mover emocional, como bem explicita Rubem Alves, que tb era psicanalista, na introdução do seu livro Protestantismo e Repressão (relançado como Religião e Repressão).

Passada, então, a euforia da transferência de Garotinho para o Complexo Prisional de Bangu, é hora de reavaliar nossas emoções frente a realidade de corrupção, seja em que grau e de que natureza for, e de todos os males que ela causa a milhões de brasileiros e continuar lutando para que vilões não sejam transformados em vítimas e "tudo continue como dantes no quartel de Abrantes".

Lembremo-nos: uma coisa é o fato, outra, a interpretação do fatos e outra ainda, a aplicação política do fato, que visa tirar proveito para si ou para aliados.