Vinte centavos versus bilhões de reais RAZÕES. O povo brasileiro vai às ruas!
“Vocês estão transformando o direito em
amargura e atirando a justiça ao chão ... Vocês oprimem o pobre e o forçam a
dar-lhes o trigo. Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra,
nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do
seu vinho ... Pois eu sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus
pecados. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça
ao pobre nos tribunais... Eu odeio e desprezo as suas
festas religiosas; não suporto as suas assembléias solenes. Mesmo que vocês me tragam
holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as
melhores ofertas de comunhão não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das
suas canções e a música das suas liras.. Em vez disso, corra a
retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!" (Amós 5:7,11-12,21-24)
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, pois serão satisfeitos”. (Mt 5:6)
O mundo
enviou suas “câmeras” ao Brasil para ver craques nas até bilionárias novas
arenas de futebol construídas em tempo recorde, mas acabou sendo surpreendido
vendo o povo nas ruas expressando seus sentimentos de contrariedade. A Rede
Globo de televisão, detentora dos direitos exclusivos de transmissão dos jogos da
Copa das Confederações está tendo que dobrar-se diante de outras emissoras que,
até por força das circunstâncias, estão priorizando o povo nas ruas,
mobilizados através das Redes Sociais.
Se o
motivo das manifestações fosse somente os “20 centavos” de aumento nas
passagens de ônibus, já seria de bom tamanho. É que 20 centavos, multiplicados
por milhões de passageiros, significa maior concentração de recursos nas mãos
de uns poucos proprietários de empresas que oferecem péssimo serviço e, vez por
outra, são denunciados como fonte de financiamento de partidos em eleições para
defenderem seus interesses, mini retrato de um dos principais círculos viciosos
da corrupção no país.
Há quem
diga que muitos vão às ruas sem saber bem a razão. E daí? Isso não é demérito. Nem
sempre sabemos com clareza as causas das nossas dores. Muita vez agimos como
bebes incapazes de elaborar pensamentos, de expressar o que sente através da
linguagem oral, por isso, instintivamente, apela para gritos e choro. “Bem
aventurado os que choram...” (Mt. 5). E se não são ouvidos por reconhecimento
de suas necessidades, o são pela inconveniência dos gritos, bem ao estilo da
viúva perseverante diante do juiz ímpio, da Parábola de Jesus (Lc. 18).
Claro que
na medida em que o movimento nas ruas cresce, crescem também as tentativas de
elaboração discursiva do que está ocorrendo. Nesse processo de elaboração o
discurso torna-se, inevitavelmente ideologizado, colocando-se a serviço dos
interesses, das crenças, dos valores de quem discursa. Ainda assim a
manifestação merece nosso apoio.
Alguém
está feliz vendo, por exemplo, a Transnordestina ou o Metro de Salvador que
nunca são concluídos quando arenas de futebol recebem bilhões de financiamento
e são levantadas rapidamente? Alguém está feliz quando, diante de ininterruptas
denúncias terríveis de corrupção no país, políticos propõem a PEC 37 conhecida
como PEC da impunidade, que visa tirar o poder de investigação criminal dos
ministérios públicos federal e estaduais, modificando a constituição? Alguém
está feliz com as notícias diárias de assaltos de aposentados em saídas de
bancos; de pais que perdem filhos assassinados; de aumento no tráfico de
drogas? Alguém está feliz com serviços públicos educacionais e de saúde? Claro
que não!
Isso tudo
não é problema de um partido. Na verdade é problema de todos eles, pois o
próprio Sistema Eleitoral, contrário às necessidades da população, é mantido
por eles que não manifestam disposição para mudá-lo! Iludem-se, portanto,
aqueles que acreditam que a solução está somente nas escolhas que fazemos nas
urnas, inclusive porque nelas apenas ratificamos ou não os nomes de candidatos eleitos
pelos partidos por sabe-se lá que critérios.
Antes de
tudo, claro, devemos orar pelas autoridades, conforme recomendou-nos Paulo (I
Tim. 2). Jamais, porém, isso deve ser usado como ideologia para o silêncio ou
acomodação dos cristãos. Cabem também as palavras de Jesus dadas como resposta aos
que pediam que os discípulos se calassem: "se eles se calarem, as pedras
clamarão." (Lc 19)!
Uma vez
que, no final das contas, vivemos num Estado Democrático de Direito e,
portanto, os problemas da sociedade são nossos, são de cada um de nós,
manifestar-se nas ruas é um meio ética e legalmente legítimo, um importante meio
de expressão de insatisfação. Mas não devemos ficar só nisso!