quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Prefiro ir pro inferno

Era pouco mais de 7 da manhã. Voltando da caminhada matutina, passei no supermercado comprar pão. A fila do "caixa rápido" já estava imensa. Culpa do Lula, dos insaciáveis donos do Walmart e da nossa "cordialidade" brasileira.


Suado, de calção, camiseta e tênis, ninguém imaginaria que ali estava um pastor. Pastor combina com paletó, gravata e barriga com circunferência perigosamente superior a 94 cm.

Além disso, entre a prática esportiva e o ministério pastoral existe o entrave das palavras de Paulo, levadas rigorosamente ao pé da letra pela categoria do cajado: "Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir." (I tim. 4.8). E haja stress e problemas cardiovasculares.

Enquanto a fila seguia a passos de tartaruga por falta de funcionários nos caixas e empacotadores, uma jovem senhora vira-se para trás e começa a falar com o desconhecido, como se estivesse pensando em voz alta, manifestando preocupação:

- "To com a impressão de que deixei o fogo aceso. Nessas alturas a panela já deve estar pegando fogo!".


Todos ao redor dirigiram seus olhares para ela com certa curiosidade, eu inclusive. O rapaz mais próximo, mesmo com cara de pouca conversa, com a cama ainda nas costas, perguntou:

- "Não tem ninguém lá pra desligar?"

- "Tem não. Sai de casa e não tinha mais ninguém!", respondeu ela, agora na condição de centro das atenções.

Penso que, como eu, todos imaginaram imediatamente a cena da panela no fogão e os riscos e, de certa forma, assimilaram a preocupação dela. O rapaz, educadamente sugere:

- "Então, telefona pro vizinho".

Ela, agora com uma imensa platéia de curiosos, responde em alto e bom som, num misto de deboche e ironia:

- "Meu vizinho? Huummm! Aquele povo acorda na igreja, passa o dia na igreja, dorme na igreja. E só vive dizendo que vai pro céu! Se eles forem pro céu, eu quero ir pro inferno. Quero estar bem longe daquela gente!"


A fila andou, a senhora seguiu seu rumo e eu fiquei matutanto em nossa teologia e testemunho evangélicos.

6 comentários:

Pr.Hildebrando Pereira 7 de dezembro de 2009 às 12:15  

É verdade amado e colega de ministério Edvar, pois lamentávelmente temos algumas figuras nos nossos arraias que são simplismentes consumidores de cultos e nunca propagadores do Evangêlho da verdade; teêm até a cara de pau de só convidar o seu vizinho quando tem uma programação especial na igreja e durante o ano todo nem siquer fala com o mesmo, é mole?

Anônimo 8 de dezembro de 2009 às 09:56  

Não sei se posso, contudo, acredito que a senhora queria que a deixassem passar na frente, falava alto propositadamente, usou a estoria dos crentes para ilustrar, nem acredito muito que tenha tal vizinhos, acho. A sim pelo visto a tatica ela não funcionou..rs

Bruno Macedo 8 de dezembro de 2009 às 18:57  

Este relato é um retrato da minha e da sua realidade, no meu caso não sei realmente dizer qual seria o discurso dos meus vizinhos em relação a minha casa e o meu evangelho-religião, esta mulher poderia até ter sido um deles, quem sabe?!
Fica a reflexão, se a nossa fé não impactar positivamente aqueles que dividem o mesmo teto conosco, primeiro os que não são separados por paredes, a minha mulher que compartilha a mesma cama e me conhece como ninguém, os meus filhos (e agregados) que olham para o que eu faço mais do escutam o que eu digo, a pessoa que trabalha na minha casa que é gente como nós, a seguir meu vizinho de porta [já reparou que quase todos nós moramos em ap-e-rtamentos onde finas paredes (em cima, em baixo, e dos lados) separam-nos uns dos outros de vista, mas muitas vezes não dos sons que emitimos], e por fim daquele vizinho que encontra com você e você sabe que conhece, mas não sabe donde, e ai ele diz que mora no seu prédio, e você pergunta se ele acabou se mudar e ele diz que chegou lá primeiro do que você (tipo de coisa que quase nunca acontece nas nossas igrejas, né?).

Que fé é esta nossa que não nos aproxima e nos converte uns aos outros?

"Jesus respondeu: Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: Ame os outros como você ama a você mesmo".”(Mt 22. 37-39)
Ou como disse nosso irmão João como posso dizer que amo a Deus que não vejo e não amo o irmão-vizinho que vejo...

Anônimo 12 de dezembro de 2009 às 13:44  

Caros comentadores,

Eu me pergunto: Por que um pastor ou evangélicos estão tão propenso a dar crédito de imediato a uma pessoa que não conhece e desqualificar com a mesma prontidão pessoas acusadas em sua ausência e incapazes de se defender, e ainda sendo estas professants da mesma fé?

Você acham que os nossos desafetos só falam elogios ao nosso respeito?

Se os irmãos de fé a priori não merecem crédito, o que fazemos ainda numa sociedade como esta?

Bruno 12 de dezembro de 2009 às 20:10  

Caro anonimo,
No meu caso o comentario que postei foi resultado da reflexao que esta situacao/relato gerou em mim, onde tento me colocar na situacao dos meus vizinhos os quais conheço muito pouco assim como eles tambem mal me conhecem. A questao aqui é justamente esta falta de comunicaçao/aproximaçao/distancia que a sociedade se acostumou, o individualismo cronico, onde cada um toma conta da sua vida e pronto.
Nós como cristãos devemos nos dispor a servir, assim como Cristo veio para servir e não para ser servido, gosto muito de uma frase que ouço numa igreja amiga, "aqui se entra para adorar a Deus e daqui se sai para servir o próximo". Esse não parece ser o espirito dos nossos frequentadores de igreja, infelizmente a maioria se ajunta buscando a sua benção e não ser benção. "Sê tu pois uma benção" disse o SENHOR a Abraão.

UP_Training 13 de dezembro de 2009 às 08:25  

Cristo é vivo, não importa se passamos o dia na igreja ou em casa, se Cristo vive em nós, como viveu em Paulo, é preciso que nossa vida cause um impacto positivo nas outras vidas, vamos às igrejas e ofertamos para Missionários na Guiné-Bissau e não damos Bom Dia a um vizinho nem o convidamos para ir conosco à igreja, quiçá sabemos os nomes das pessoas que vivem ao lado, todas as formas de propagar o evangelho são importantes, porém a arvore se conhece pelos frutos, então que possamos dar de graça o que de graça recebemos, sem expeculações se o que a Senhora da hitória disse é verdade ou não, pois o julgamento cabe a Deus, acredimos no seu discurso e reflitamos sobre nosso papel nisso tudo.

Incluse pastor faça uma visita a essa senhora...