Depois de 8 horas viajando de carro, chegamos a Vitória da Conquista, cidade próxima à divisa entre Bahia e Minas Gerais. A temperatura, como se esperava, estava muito baixa para quem está acostumado aos padrões do nordeste. A sensação térmica chegou a 9 graus.
Curtindo o frio e instalados no centro da cidade, nos preparamos e fomos para a 1ª "sessão" da 87ª Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana. Assim fizemos a cada dia, até sexta-feira, uma vez que, "afônico" em função de choque térmico, retornamos no sábado pela manhã, não participando da sessão de encerramento, no sábado à noite.
As reuniões aconteceram numa quadra coberta com muita abertura lateral, fato que fez com que sentíssemos o máximo de frio prossível. A Igreja hospedeira - Igreja Batista Bethelem - sob a liderança do Pr. Sérgio Costa, empenhou-se em fazer o melhor possível e agradecemos a Deus por isso.
As atividades de cada período do dia
Os períodos da manhã foram dedicados ao estudo bíblico. O Pr. Luis Sayão fez uma exposição do livro de Rute, procurando nos aproximar da realidade dos tempos em que o mesmo foi escrito, através do aprofundamento das informações contidas no texto e confrontando o tempo presente com princípios contidos num livro que geralmente é citado apenas em cerimônias de casamento.
Nas reuniões noturnas ouvimos diversos oradores que, dentro da proposta de cada programação, procuraram sensibilizar, alertar e desafiar o povo batista ao aprofundamento do compromisso em áreas diversas da vida.
As reuniões das tardes de quarta a sexta foram reservadas para assuntos deliberativos. Nelas, as organizações e instituições da Convenção apresentaram seus relatórios.
A apresentação dos relatórios
Confesso meu incômodo com essa parte da programação. Parece-me que algo precisa ser feito com urgência em nossa denominação. Não fica claro qual seria o objetivo de tais relatórios. Como nenhuma de nossas organizações tem um planejamento organizacional, não há como avaliar seu desenvolvimento. Trabalhamos com discurso e não com dados e as informações dadas representam aquilo que quem prepara o relatório deseja que saibamos e não o que de fato precisamos saber.
O que de fato precisamos saber é se a organização piorou, estagnou ou melhorou em relação aos dados do relatório da assembléia anterior e como estariam em relação a metas estabelecidas. Mas como fazer isso se não temos metas nem dados ou se eles - os dados - são publicados de maneira que não favorece uma análise profunda, comparativa e rápida? Como fazer isso se não temos um plano de metas? Assim, os relatórios não servem para avaliação, nem para marketing, muito embora essa segunda opção parece ser a motivação de alguns dos que apresentam relatórios.
Vale salientar que isso não é um problema apenas nosso, na Bahia. Parece ser um problema nacional. Até mesmo a CBB padece deste pecado.
Dados financeiros
Salvo melhor atenção, a área com algum dado apresentado de maneira adequada foi a financeira.
O Indice de Liquidez Corrente (que relaciona bens e direitos das organizações com suas obrigações e indica a "capacidade de pagamento da empresa no curto prazo sem levar em conta os estoques") é calculado com base em unidade de real. Ele indica o quanto em dinheiro a organização dispõe para cada real de compromisso a ser saldado no curto prazo. Os nove gráficos, salvo melhor atenção, repito, apresentados pelas organizações apontam que aproximadamente 10% delas estão negativas e pioriando; 20% estão negativas e melhorando; 35% estão positivas e melhorando e 35% estão positivas e piorando.
Isso quer dizer que quase metade das organizações terminaram o ano apresentando resultados financeiros piores em relação ao final do ano anterior.
Claro que este não é o único indicador de avaliação, mas é o único que foi disponibilizado. Se fossem disponibilizados outros indicadores, poderíamos avaliar mais rapidamente os relatórios, os discursos dos apresentadores seriam mais agradáveis e nos sentiríamos mais atentos.
Momentos de tensão
Dois momentos de tensão (além do tradicional referente ao preenchimento das vagas nos conselhos) marcaram as sessões deliberativas. O primeiro foi em relação ao Conselho Fiscal. Por razões que não vêm ao caso, o Conselho Fiscal preparou seu relatório, mas o Conselho da CBBA não tomou conhecimento prévio do mesmo, como determina o Regimento Interno.
Além disso, o conteúdo do relatório extrapolou as atribuições regimentais do Conselho Fiscal, o que, se regimentalmente estava errado, na prática foi altamente positivo para o plenário que teve acesso a um retrato da realidade administrativa das organizações.
O problema é que não somente um tempo foi reservado no programa para apresentação do referido relatório, mas também seu conteúdo foi publicado no Livro do Mensageiro. O relatório não pode ser apreciado pelo plenário, implicando na não aprovação das contas de todas as organizações.
O segundo momento de tensão ficou para a sessão de eleição da diretoria, pela seguinte razão:
O artigo 14 do Regimento Interno diz: "A diretoria da Convenção será composta de presidente, 1º, 2º e 3º vice-presidentes; 1º,2º e 3º secretários eleitos para um período de dois (2) anos, VEDADA A REELEIÇÃO DOS MEMBROS DA DIRETORIA PARA TERCEIRO MANDATO CONSECUTIVO"
O problema foi a divergência de interpretação.
Um parecer da Comissão Jurídica apresentado ao plenário, interpretava que a proibição de reeleição seria para o mesmo cargo. Uma outra tese foi levantada defendendo a proibição para qualquer cargo. A primeira tese permitia a permanência eterna de um convencional na diretoria, num sistema de rodíizio nos cargos; a segunda, defendia a proibição após dois mandatos, gerando alternância, como no caso da presidência da República do Brasil.
(Na Convenção Batista Brasileira a regra diz: "O mandato da diretoria eleita será de dois anos, sem direito à reeleição no período subsequente" (Art 8º, & 1º). A interpretação vigente é que nenhum mensageiro pode continuar na diretoria por mais de um mandato seguido, nem mesmo mudando o cargo).
Depois de muito debate, a questão foi submetida ao plenário e 2/3 dos presentes entenderam que a segunda tese - a de que uma pessoa não pode ficar indefinidamente na diretoria - prevaleceu.
Apesar disso, o presidente, por razões que somente ele e Deus sabem, decidiu não obedecer a decisão do plenário, permitindo que um mensageiro que já estava na diretoria há pelo menos dois mandatos concorresse e fosse reeleito ilegalmente à luz da decisão interpretativa do plenário.
Pessoalmente pressenti, como parte do plenário, que, se insistíssimos, poderíamos provocar um acirramento tal, com consequências danosas imprevisíveis e irreparáveis. Optei pelo silêncio consciente, pelo mal menor.
(É importante que se destaque que a discussão não ocorreu motivada por um suposto desejo de mudança, muito menos porque qualquer pessoa eventualmente atingida pela regra não fosse qualificada para estar na diretoria. O debate se deu pelo cumprimento do espírito da regra que seria o princípio da alternância)
Candidato único a presidente
Como somente um candidato disponibilizou-se a concorrer à presidência, o escrutíneo foi dispensado na forma da alínea III, do & 1º, Art. 14º do Regimento e o candidato foi eleito, sem votação, totalmente dentro da legalidade.
Mês de Missões Estaduais
Acredito que tais tensões ainda que desagradáveis têm seu lado criativo e serão superadas na caminhada. Agora, como líderes, devemos pensar nos missionários que estão nos campos, nos desafios que temos diante de nós e fazermos o melhor neste mês de julho, dedicado ao levantamento de oferta para o sustento daqueles que estão em frentes pioneiras.