domingo, 5 de maio de 2013

FAMÍLIA E SOCIEDADE


Desde criança ouço que “a família é a célula mater da sociedade”. E é. Porém, o uso ideologizado que se faz dessa
afirmação não é, necessariamente, positivo. Atrás dela, além de ser possível escondermos o interesse de desviarmos
o foco de diversas naturezas de problemas (por medo ou por ganho), inclusive da própria família, há também uma
boa dose de conveniência política.

Não tenho dúvidas da importância, necessidade até, da família nuclear na construção do caráter de uma pessoa. Na
família nos sentimos em casa. Revelamos mais profundamente os sentimentos que nos movem ou nos incomodam,
que produzem saúde ou enfermidade. Nela, portanto, isso pode ser tratado, seja com palavras conscientemente
explicitadas, seja no silêncio empático, seja, enfim, por mera, mas não sem importância, intuição.

Mas a família nuclear não gira em torno de si mesma. Ela é parte de uma engrenagem chamada sociedade. Ela é
parte, portanto, de um círculo que pode ser vicioso ou virtuoso, dependendo de como é tratada em relação ao
conjunto de instituições que compõe o todo (família, educação, religião, política, economia...). Por isso, ao mesmo
tempo que o que nela é vivido influencia o restante da sociedade, o restante da sociedade a influencia.

Além disso, o eixo comum entre família e sociedade é o indivíduo que é uma caixa de surpresas. Ele age e reage
movido por razões “que a própria razão desconhece”. Ele é o ponto de interligação que pode influenciar e é influenciado
por tudo, por onde passa. Seus sentimentos e pensamentos fazem-no criar situações muita vez imprevisíveis,
favorecendo ou desfavorecendo a manutenção do equilíbrio entre as partes.

Então, se a família tem o poder de influenciar fortemente a sociedade, a sociedade também influencia fortemente
a família. Em termos práticos, podemos afirmar que não se pode atribuir à família as causas do que é bom ou ruim
na sociedade, se a própria família precisa da sociedade para cumprir seu papel.

Uma família inserida num contexto social que não lhe permite acesso a habitação, transporte, segurança, justiça,
alimentação, educação, enfim, de qualidade, poderá gerar pessoas que não contribuirão favoravelmente à saúde da
sociedade. Portanto, é um equívoco lutar pela família, por exemplo, colocando holofotes somente nas questões da
sexualidade, desconsiderando como o poder e o dinheiro estão distribuídos na sociedade. Equívoco, primeiro,
porque a qualidade da família não depende apenas da maneira como lidamos com a sexualidade e, segundo, porque
lutar somente no referido campo, por medo ou conveniência, mascara outras origens de problemas da família na
sociedade.

Pior ainda é quando o discurso de defesa da família é usado como vidro fumê, para esconder fobias de toda natureza
que, em vez de ajudar na construção de uma sociedade mais pacífica, incita ódio em corações manipuláveis.
Se queremos fortalecer a família, devemos tirar os olhos do nosso umbigo para perceber que há outros fatores, além
dos derivados diretamente de nossa sexualidade, influenciando a saúde dela. Eles também devem fazer parte da
nossa luta em defesa de famílias saudáveis.

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