quinta-feira, 12 de julho de 2018

Entrega teu caminho ao Senhor


"Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará" (Salmos 37:5)

O caminho não é meu, é da vida. A vida não é minha, eu sou dela. Posso traçar um caminho que advogo ser meu e nele iniciar a caminhada, mas os fatos revelam que não se trata de um "caminho", cujo controle, do começo ao fim, está em minhas mãos, mas de uma picada, de uma trilha.

Projeto o ponto de chegada, a direção desejada, mas quando olho para trás o caminho construído não é o caminho que desejava, mas o que a vida permitiu. E o ponto almejado continua no horizonte, pois o caminho não é meu, é da vida e a vida, repito, não é minha, eu sou dela.

A vida é surpreendente. Quando parece plana, eis que do nada surge uma montanha, um abismo... Quando o caminho é tortuoso, obscuro, tenebroso, eis que nos deparamos com uma retilínea, com uma visão panorâmica cinematográfica, encantadora...

Somos responsáveis pelos passos que damos nos caminhos que escolhemos, mas não controlamos as variáveis que se apresentam diante de nós, muito menos as alternativas que nos são oferecidas. Essas pertencem à vida e a nós cabe escolher uma delas ou simplesmente escolher ficarmos paralisados, por medo, receio ou simplesmente por necessidade de reflexão.

Daí a pertinência das palavras do poeta religioso: "Entrega teu caminho ao Senhor...". 

Em outras palavras, aceite que o controle que tem sobre o caminho pelo qual gostaria de caminhar é relativo e que entristecer-se, amedrontar-se, enraivecer-se ou desesperar-se diante do imprevisto, do inadequado, do indesejado, não é atitude saudável.

Se o caminho possível está diferente do desejado ou, pior, é indesejado, entrega-o a Deus. Ao Deus que se revela ao povo de Israel, mas não é propriedade de Israel. Ao Deus que se revela através das páginas da Bíblia, mas nela não está encadernado. Ao Deus que se revela à igreja, mas não se tornou membro exclusivo de qualquer uma delas. Ao Deus que se revela e se autolimita através do humano Jesus de Nazaré, mas não se torna presa das limitações da humanidade. Ao Deus que é identificado como masculino numa linguagem cultural patriarcal, mas que, por ser espírito, não é prisioneiro de um gênero...

Entrega-o a esse Deus, livre e sobrerano, que está para além de todas as possibilidades de definição, que pode ser intuido, mas não dissecado, experimentado, mas não manipulado, solicitado, mas não chantageado.

"Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará".