segunda-feira, 1 de julho de 2019

Relações trabalhistas no ministério pastoral batista

Uma pessoa me questionou: por que pastores batistas nada falam sobre as mudanças na legislação trabalhista?

Simples.

1. Pastor batista não tem carteira de trabalho;

2. Pastor batista não é subordinado às leis trabalhistas;

3. Pastor batista não tem estabilidade no "emprego";

4. Pastor batista, quando muito, negocia com a igreja local suas condições de trabalho (e da parte que representa a igreja nas decisões salariais, há generosos e mesquinho, há patrões e empregados, há desempregados e super bem empregados, há de direita e de esquerda, há economicamente conservadores e liberais, enfim, e poucos se interessam em avaliar a complexidade da instituição e do trabalho pastoral);

5. Férias, 13o,  Fundo de Garantia, Plano de Saúde, INSS, tudo precisa ser acordado entre as partes;

6. A relação entre um pastor e uma igreja batista pode ser rompida  pelo simples desejo de uma das partes;

7. Não existe indenização demissória, exceto se tiver sido acordada no início da caminhada;

8. Pastor batista nem entra com ação na justiça do trabalho porque seu trabalho não é considerado profissão, mas sacerdócio;

9. Há pastor batista com salário (prebenda) digno, mas a maioria vive em condições salariais semelhantes a da maioria empobrecida da população brasileira;

10. A relação de trabalho entre um pastor  e uma igreja batista é classificada como ultraliberal.

Se isso é bom ou ruim, seria outro assunto. Mas é assim. 

Talvez por isso as discussões sobre desregulamentação  das relações de trabalho no Brasil não provocam reações significativas da parte pastoral batista.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Movimento pela volta da discriminação da mulher nas igrejas batistas

Fiz, nessa manhã, no meu momento devocional, uma releitura completa da carta aos Gálatas. Fiz porque ando incomodado. Ando incomodado com o fortalecimento do legalismo patriarcal no meio batista. Esse fortalecimento se dá de maneira sutil, como fermento, visando levedar toda a massa.

A aparência é atraente. Diria, "diabolicamente" atraente. Como o diabo usou a "palavra" para tentar Jesus no deserto, esse movimento também está usando a "palavra".

A pretexto de "ensinar" pastores a pregarem a "palavra", pasmem, proibem mulheres de participarem desses "cursos" e, pior do que isso e decorrente disso, já há pastor ensinando que mulher não pode ensinar a "palavra" numa sala, num templo, se houver homem na platéia.

Irmãs, em 1917, portanto há 102 anos, uma amazonense chamada Josefa da Silva veio ao Recife para estudar a Bíblia. Ao chegar, surpreendeu-se porque mulheres não podiam estudar, nem no STBNB, nem no Colégio Americano Batista.

Ela foi acolhida pelo casal Taylor e, a partir daí, foi organizada a primeira escola feminina do Brasil para estudo da Bíblia, hoje conhecida como Seminário de Educação Cristã - Sec, mantida pela UFMBB.

Ninguém discute a bênção que as ex-alunas do SEC têm sido na obra missionária no Brasil e no exterior. Ninguém discute a bênção que ex-alunas do SEC têm sido na caminhada ministerial de muitos pastores, como suas esposas, atuando, inclusive, no ensino da "palavra".

Por isso, angustia-me o silêncio das mulheres e de pastores, quando sabemos que, sob nossos narizes, sob o teto de nossos templos, até mesmo dentro de nossas escolas de educação teológico-ministerial, um retrocesso de mais de um século está sendo fomentado e fermentado, objetivando colocar as mulheres sob o legalismo da era de Moisés e não sob a graça do ministério de Jesus.

Reli a história de Josefa da Silva e também a carta de Paulo aos Gálatas e como o apóstolo digo: "“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo.” (Gálatas‬ ‭1:6-7‬)

Mulheres e homens, por favor, estudemos a Carta aos Gálatas para nos defendermos dessa questão que está sendo "levantada porque alguns falsos irmãos infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que temos em Cristo Jesus e nos reduzir à escravidão.” (Gálatas‬ ‭2:4).

É hora de começarmos a nos perguntar com veemência como Paulo: "Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez?” (Gálatas‬ ‭4:9)

Perguntemos-nos a nós mesmos: “Vocês corriam bem. Quem os impediu de continuar obedecendo à verdade? TAL PERSUASÃO NÃO PROVÉM DAQUELE QUE OS CHAMA. “Um pouco de fermento leveda toda a massa.” Estou convencido no Senhor de que vocês não pensarão de nenhum outro modo. Aquele que os perturba, seja quem for, sofrerá a condenação.” (Gálatas‬ ‭5:7-10‬)

Pensemos no que Paulo ensinou. “Os que desejam causar boa impressão exteriormente, tentando obrigá-los a se circuncidarem, agem desse modo apenas para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Nem mesmo os que são circuncidados cumprem a Lei; querem, no entanto, que vocês sejam circuncidados a fim de se gloriarem no corpo de vocês.

Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação.

Paz e misericórdia estejam sobre todos os que andam conforme essa regra e também sobre o Israel de Deus. Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus. Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém.” (Gálatas‬ ‭6:12-18‬)

Está na hora de bradarmos com veemência. Moisés nunca mais. "Cristo é a única esperança". "Só Jesus Cristo Salva". "Jesus Transforma". "Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.” (Gálatas‬ ‭3:26-28‬)

@blogdoedvar

domingo, 23 de junho de 2019

Propaganda enganosa do evangelho de Jesus

Sob o discurso do "é bíblico" algumas igrejas estão usando a embalagem Jesus para fazer descer goela abaixo o conteúdo Moisés.

O resultado é que, em vez de água da vida, o povo está bebendo refrigerante de quinta categoria com gosto de chiclete sem banana.

Levemos a sério o que preceitua a Declaração Doutrinária da CBB sobre as Escrituras Sagradas: "Ela deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo."

Igreja Batista que não é ensinada nisso está sendo induzida, "biblicamente", à heresia.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

O amor


O amor

Uns dizem ser um sentimento
Outros, atitude que modela a ação
Outros, ainda, uma escolha
E ainda alguns outros, uma decisão.
E também é comum admitir-se:
Ele é, quimicamente, uma emoção.

Se ele brota espontaneamente
E não precisa ser cultivado.
Se ele pode ser cultivado,
Mas pode e precisa ser controlado
Se seus alvos são abrangentes
Ou se podem ser canalizados,
O fato é que a todos  toca
E, diante dele, ninguém fica alienado.

Quando ele alcança o coração
Enfrentamos tudo em seu nome 
Curtimos os tempos de calmaria
Arregaçamos as mangas nas tempestades
Lutamos contra tudo, todos e todo tipo de dificuldades
Mas não abandonamos o que nos fez experimentar
Este fenômeno que altera a realidade.

Por ele choramos
Por ele sorrimos
Por ele acordamos
Por ele dormimos
Por ele nos iluminamos
Por ele nos iludimos
Por ele negamos
Por ele assumimos
E seja por tanto bem que nos faz
Ou mesmo pelas dores que sentimos
Ele sempre estará lá, agindo.
É por ele que reagimos.

Olhe para trás e recorde o quanto sorriu
Olhe para trás e recorde o quanto sofreu
Olhe para trás e recorde tudo que partiu 
Olhe para trás e recorde tudo que uniu
Olhe para trás, foi ele que  moveu,
Mesmo que não tenha tido consciência,
Mesmo que, envolvido, não percebeu.
Foi pelo amor que lutou.
Foi por ele que sobreviveu.


(Enquanto hoje chove muito e continuamente lá fora e  me lembro de ontem, do "Dia dos Namorados", resolvi escrever estas linhas pensando nessas décadas de vida com Gláucia, começadas oficialmente em 15/10/1981)

terça-feira, 21 de maio de 2019

Autonomia, cooperação e liberdade

Autonomia, cooperação e liberdade

Um dos maiores desafios da caminhada de uma Convenção Batista é, pelo lado de seus dirigentes, terem cosciência indubitável da AUTONOMIA da igreja local e, pelo lado das igrejas, estarem profundamente convencidas de que a COOPERAÇÃO é a chave do desenvolvimento de um grupo, seja de indivíduos, seja de igrejas.

Autonomia e cooperação são dois valores que, isolados um do outro, nos fazem sentir numa corda bamba. 

A autonomia das igrejas exige que os dirigentes da Convenção se convençam de que a participação de uma igreja é uma conquista contínua permanente e que sua manutenção exige clareza de missão, visão e valores como trilhas da cooperação, transparência das informações como sustentação da fidelidade e democracia, formal ou informal, como caminho decisório.

A necessidade de cooperação deve apntar às lideranças das igrejas que, sem esse espírito, família, igreja, denominação e sociedade em geral estão fadadas à morte, ainda que os sinais não indiquem,  nem se perceba isso no curto e médio prazo.

O binômio autonomia-cooperação transita pela estrada da liberdade. É no reconhecimento da liberdade como princípio fundamental, não na chantagem, na coação, na manipulação, na imposição, na uniformidade, na mentira, na exclusão do diferente, no uso do medo, enfim, que relações saudáveis e duradouras se constroem. 

A liberdade de pensar, de expressar o pensamento, de crença, seja em termos teológicos, políticos, organizacional-administrativo-operacionais, enfim, é frágil, mas sem ela a autonomia e a cooperação se definham.

Não por acaso, a liberdade é um dos pilares da história dos batistas. Ameaçá-la é o primeiro sintoma de que estamos perdendo o equilíbrio na relação entre autonomia e cooperação.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Verdade e testemunho verdadeiro

(A verdade, as narrativas bíblicas e a educação teológico-ministerial ou a relação entre os dois mais importantes princípios dos batistas: o senhorio de Cristo e a autoridade bíblica)

"O amor não se alegra com a injustica, mas sim com a verdade" (I Cor. 13:6): "... seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” (Efésios‬ ‭4:15‬).


A verdade é única, mas narrativas dela podem ser múltiplas e cada uma dessas sempre será contada na forma percebida ou desejada pelo narrador:
1. a partir do lugar, da posição, onde  estava posicionado como testemunha da verdade ("cada ponto de vista é a vista de um ponto");
2. com base em sua capacidade de percepção (qualidade de seus órgãos do sentido);
3. com base em sua capacidade de memorização do que percebeu (armazenamento de dados);
4. com base em sua capacidade de abstração (processamento dos dados percebidos, avaliação, análise, reflexão, enfim, e transformação em conhecimento);
5. com base na qualidade da reação de seus sentimentos (favoráveis ou desfavoráveis aos elementos que caracterizam a verdade percebida);
6. com base em suas finalidades e conveniências político-ideológicas (por prever consequências de sua narrativa da verdade testemunhada, para sua vida e de seus ouvintes/leitores).

A verdade pode ser um evento, um acontecimento, um fenômeno qualquer e  jamais se repete de maneira absolutamente igual. Suas características essenciais ou mesmo aparentes podem se manter, mas sempre haverá algo, em cada repetição, que a tornará diferente.

A "repetição de uma verdade", (evento ou fenômeno) pode até parecer igual a olhos nus, mas basta que se utilize "olhos clínicos" ou "olhos tecnológicos" e se perceberá, no mínimo, que há nuances que a torna diferente.

I. Jesus como verdade

Jesus foi um evento. Um evento tão duradouro e extraordinário que João, um dos narradores que mais conviveram com a "verdade Jesus", declarou: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais milagrosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome.” (João‬ ‭20:30-31‬).

Ele - João - termina sua narrativa do evento, da "verdade Jesus", dizendo: “Este é o discípulo que DÁ TESTEMUNHO dessas coisas e que as registrou. Sabemos que o SEU TESTEMUNHO é verdadeiro. Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos.” (João‬ ‭21:24-25‬)

Lucas nunca esteve com a "verdade", com o "evento Jesus", portanto, não a testemunhou, mas foi um exímio narrador do "fenômeno". E como fez? Ele mesmo responde: “Muitos já se dedicaram a elaborar um RELATO DOS FATOS que se cumpriram entre nós, conforme nos foram TRANSMITIDOS por aqueles que desde o início foram TESTEMUNHAS OCULARES e servos da palavra. Eu mesmo INVESTIGUEI tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um RELATO ORDENADO, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas.” (Lucas‬ ‭1:1-4‬)

As histórias que envolvem "a verdade Jesus", foram narradas, então, por discípulos de primeira ou segunda mão. Narradores privilegiados, marcados de tal maneira, emocional e existencialmente, pelo que viram, ouviram dizer, leram, investigaram, que suas narrativas continuam produzindo impacto semelhante ao experimentado por aqueles que testemunharam a "verdade Jesus".

Teoricamente, por mais honestos, cuidadosos e fiéis que sejam os narradores, uma narrativa jamais consegue descrever 100% da verdade que a caracteriza (Jo. 21:24-25). Sempre haverá um recorte que atenda uma finalidade, do tipo: "...para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome" (João) ou "...para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas". (Lucas).

As narrativas da verdade são a única maneira de pessoas ausentes no instante do acontecimento terem acesso à ocorrência. Nesse caso, a narrativa e a verdade se con-fundem, restando a quem não testemunhou, não presenciou, crer ou não na narrativa.

Uma narrativa em si, tem poder para libertar ou oprimir,  produzir prazer ou dor, alegria ou medo, amor ou raiva, tristeza ou graça, esperança ou desespero e desesperança. O interesse pela verdade narrada depende, então, da condição emocional, das expectativas, de quem por ela está sendo afetado e das consequências que ela percebe e abstrai disso.

II. A narrativa bíblica como verdade

Se duas pessoas estiverem envolvidades em um crime, uma como vítima, outra como ré, as narrativas do mesmo evento, da mesma verdade, certamente serão diferentes. Daí a importância de especialistas em investigação, em advocacia e em  julgamento e da necessidade de provas e das narrativas de testemunhas.

No caso da Bíblia, esse é um dos papéis do teólogo. Investigar. Isso porque trabalha com uma verdade não testemunhada por ele, não presenciada no ato da ocorrência, mas conhecida através de narrativas, de testemunhos.

Um de seus trabalhos, por exemplo, é lidar com o conflito de autoridade entre Jesus - a verdade - e a Bíblia - a narrativa da verdade -, elemento que exige investigação e alertas constantes tanto sobre a verdade - Jesus - , quanto sobre as narrativas - textos bíblicos -.

Sendo a Bíblia a única fonte de narrativas a respeito da "verdade Jesus", se ela for desacreditada, cairia por terra tudo o que se prega a respeito de Jesus. Por outro lado, a priorização dela como narrativa, em detrimento dele, como a verdade, pode induzir os leitores a se tornarem apenas, por exemplo, religiosos legalistas ou moralistas, transformando Jesus em apenas mais um de seus personagens, anulando assim os efeitos soterológicos, amorosos e graciosos de seu nascimento, vida, ensinos, morte e ressurreição.

Como nenhum de nós tem acesso, senão espiritual, à "verdade Jesus", mas somente às narrativas a respeito dela, isso  faz com que a autoridade da narrativa seja tão ou mais enfatizada por muitos, do que a autoridade de Jesus - o fato, evento, fenômeno em si, a verdade.

No evangelho, Jesus é a verdade e o Novo Testamento, a narrativa da verdade, a interpretação da verdade, a aplicação da verdade. Não custa lembrar, então, que por mais fiéis e verdadeiros que os narradores, intérpretes e aplicadores tenham sido, jamais seriam capazes de reproduzir, de traduzir em grafia o evento real.

(Daí o pressuposto teológico "inspiração", acrescido do polêmico adjetivo "verbal", que transforma os escritores bíblicos em "psicografistas", visando transferir a autoria absoluta dos textos para Deus, retirando a responsabilidade humana e, com ela, a incompletude ou a possibilidade de erros no conteúdo ou na forma da verdade que narra).

De qualquer forma, daqueles que leem as narrativas, sempre será exigido um elemento chamado fé, pois devem crer não no que viram, mas no que outros viram, vivenciaram, perceberam e narraram. É a narrativa que toca de maneira significativa em suas almas, reorientando o sentido de suas existências e legitimando a sua verdade.

Não por acaso desde os primeiros textos da fé judaico-cristã, a ênfase na importância das narrativas é grande.

Exemplo no Antigo (ou primeiro) Testamento: "Gravem estas minhas palavras no coração e na mente; amarrem-nas como sinal nas mãos e prendam-nas na testa. Ensinem-nas a seus filhos, conversando a respeito delas quando estiverem sentados em casa e quando estiverem andando pelo caminho, quando se deitarem e quando se levantarem. Escrevam-nas nos batentes das portas de suas casas e nos seus portões, para que, na terra que o Senhor jurou que daria aos seus antepassados, os seus dias e os dias dos seus filhos sejam muitos, sejam tantos como os dias durante os quais o céu está acima da terra.” (Deuteronômio‬ ‭11:18-21‬).

Exemplo no Novo (ou Segundo) Testamento: “Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo‬ ‭3:14-17‬)

A igreja, em tese, é uma comunidade formada por pessoas que já creram nas narrativas a respeito do evento, do fenômeno, da "verdade Jesus". Ocorre que em sua caminhada ela está exposta  a versōes - pregações, palestras - das narrativas que podem alterar, omitir, até mesmo incluir elementos, "pegando carona" na "verdade Jesus". São elementos de interesse de indivíduos ou grupos no exercício do poder, visando a manutenção ou modificação do "status quo" social vigente.

Leia este caso clássico que pode ilustrar a diferença entre a verdade testemunhada por mulheres e a narrativa elaborada por líderes religiosos mal-intencionados.

1. A verdade
“Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que sobreveio um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu dos céus e, chegando ao sepulcro, rolou a pedra da entrada e assentou-se sobre ela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve.

O anjo disse às mulheres: “Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: Ele ressuscitou dentre os mortos e está indo adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês o verão. Notem que eu já os avisei”. As mulheres saíram depressa do sepulcro, amedrontadas e cheias de alegria, e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus. De repente, Jesus as encontrou e disse: “Salve!” Elas se aproximaram dele, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Então Jesus lhes disse: “Não tenham medo. Vão dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá eles me verão”.  (Mateus‬ ‭28:1-3, 5-10)

2. A narrativa falsa para atender interesses corporativos
"Enquanto as mulheres estavam a caminho, alguns dos guardas dirigiram-se à cidade e contaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que havia acontecido. Quando os chefes dos sacerdotes se reuniram com os líderes religiosos, elaboraram um plano. Deram aos soldados grande soma de dinheiro, DIZENDO-lhes: “Vocês devem declarar o seguinte: Os discípulos dele vieram durante a noite e furtaram o corpo, enquanto estávamos dormindo. Se isso chegar aos ouvidos do governador, nós lhe daremos explicações e livraremos vocês de qualquer problema”. Assim, os soldados receberam o dinheiro e fizeram como tinham sido instruídos. E esta VERSÃO se divulgou entre os judeus até o dia de hoje.” (Mateus‬ ‭28:11-15‬)

É compreensível, portanto, a disputa entre correntes de pensamento teológico visando fazer prevalecer sua narrativa da "verdade Jesus". Uns focam no Jesus de Nazaré, outros no Cristo paulino, outros nos dois. Uns estão, de fato, interessados na "verdade", outros, em garantir seus interesses pessoais, sociais, grupais, institucionais, usando as narrativas como elemento de imposição da verdade que lhes interessa, lhes beneficia, inclusive política e socialmente.

Por isso, considerando que uma narrativa pode provocar impactos relevantes na vida de um ouvinte/leitor, ele deve ser estimulado exercitar o direito de pesquisar todas as variáveis envolvidas numa narrativa a fim de depositar ou não sua confiança nela.

Também nesse sentido podemos entender as palavras de João quando diz: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas EXAMINEM os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” (1 João‬ ‭4:1‬).

Além disso, sabemos que as narrativas bíblicas não servem somente para narrar a "verdade Jesus". Há outros interesses aos quais ela também pode servir. É comum que a autoridade dela, por narrar a "verdade Jesus", também seja usada para emplacar outros interesses.

Exemplo disso foi o uso de narrativas bíblicas para sustentar ou destruir interesses político-econômicos nas revoluções inglesas do século XVII (período do surgimento dos batistas), como foi demonstrado por Christopher Hill em "A Bíblia Inglesa e as revoluções do século XVII".

Isso fortalece a importância de investimento,  nas escolas teológico-ministeriais, em estudos profundos sobre a Bíblia e não apenas relacionados à formação ministerial visando  preparar mão de obra técnica para gerenciar um negócio religioso ou reproduzir uma ideologia teológica ou para aumentar o número de frequentadores de igreja ou para aumentar a capacidade financeiro-patrimonial eclesiástica e o poder político-denominacional.

Nesse caso, é essencial que se faça a pergunta básica de quem trabalha com educação: para que a instituição educacional existe? Existe para elucidar a "verdade" e seus efeitos a partir das narrativas existentes e da pesquisa de todos os elementos relacionados a ela ou existe para  divulgar narrativas convenientes aos interesses de quem delas tira proveito estritamente particular ou corporativo? Qual é a finalidade da educação teológico-ministerial oferecida?

A meu ver, o aprofundamento do estudo das narrativas visando lançar luzes sobre as implicações da "verdade" testemunhada pelos narradores bíblicos, bem como das interpretações dadas pelas DIVERSAS correntes de pensamento teológico é essencial:
1. numa sociedade que se caracteriza pela velocidade na veiculação de informação e na falta de priorização da analise, elaboração e construção de conhecimento;
2. numa época em que a polarização de interesses se aprofunda e "fake news", pós-verdades, são usadas para obscurecer a verdade e ludibriar as pessoas;
3. numa sociedade na qual a fé tem sido usada por muitos como um produto financeiramente rentável, num mercado consumidor em expansão ou elemento de sustentação de ideologias políticas e suas estruturas operacionais.

Desejo, então, que essas linhas tenham despertado seu desejo para refletir sobre os assuntos "verdade"  e "narrativas da verdade" e ajudado a entender o porquê, a importância, de continuar estudando esses dois elementos no que se refere à fé cristã, a formação teológica e ao exercício ministerial.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Quando o plug da panela de pressão estoura - Administrando em situaçōes de crise

O QUE É QUE EU FAÇO? O QUE É QUE EU FAÇO? O QUE É QUE EU FAÇO?, gritei três vezes, como se clamasse à trindade.

Gláucia chega correndo na cozinha perguntando pelo que estava acontecendo e eu, ali parado. Foi em questão de segundos.

Tudo transcorria normalmente num sábado ensolarado. Logo no início da manhã os amigos Wilde e Maria passaram em casa pra me ajudar a resolver um problema que sozinho não conseguiria. Terminado o serviço, tomamos um suco, rimos um pouco e eles partiram.

Pouco mais tarde vou preparar uma carne de panela. Separo os ingredientes, corto a cebola, o tomate, o pimentão,  a cebolinha, o coentro; acrescento alho, batatinha, abóbora e alguns temperos, coloco na panela de pressão, ligo o fogo e começo a lavar alguns utensílios que estavam na pia.

De repente, um estouro tipo abertura de champanhe, um susto inesperado, um esguicho de água quente atingindo o exaustor e espirrando pelos arredores e a chama do fogo parecendo multiplicar-se.

No automático, repito 3 vezes a pergunta: O que devo fazer?

E enquanto a repetia, naqueles segundos, o cérebro identificava e conectava o perigo do fogo, indicando que a primeira coisa a fazer seria desligar o gás, mas, ao mesmo tempo, apontava o risco de queimadura com água quente, inclusive porque estava sem camisa.

Dos males, o menor pareceu-me arriscar desligar o gás, apagando o fogo, e assim o fiz, com sucesso.

Feito isso, restava diagnosticar e avaliar a situação, repensar o almoço, limpar o fogão, o exaustor, prateleiras próximas, paredes, piso, enfim, fazer uma bela de uma faxina e pensar em outro ingrediente para o almoço...

... e ainda, responder ao porquê do estouro, pra evitar repetições futuras...

Sem pressão da panela e do perigo e com a ajuda experiente de Gláucia, as ações foram replanejadas, medidas preliminares para garantir o almoço e ações que restaurassem a limpeza do ambiente foram adotadas.

E então, depois que a situação estava sob controle, almoçamos pelo plano B, descansei, iniciei a faxina enquanto pensava na relação "estouro da panela de pressão" e administração.

Ao longo da vida exerci muitos cargos e funções de liderança. Especializei-me em apagar incêndios. A maioria criada por terceiros; alguns, por mim mesmo. Alguns estavam em andamento e fui chamado pra apagar. Outros surgiram na caminhada.

A meu ver, esses que acontecem na caminhada são mais difíceis de debelar porque estamos envolvidos no processo. Sob pressão, fazer diagnóstico, identificar o que está acontecendo e decidir como agir para alcançar o melhor resultado visualizado, provocando o menor efeito colateral negativo, é o grande desafio. (Essencial, nestas situações, é definir focos, estabelecer ordem de prioridade e atacá-los, um por um).

Por isso tenho pouca paciência com "engenheiros de obras prontas", especialmente os que não demonstram competência para entender que uma coisa é tratar de um problema sentado numa sala confortável ouvindo narrativas passadas e dando opinião e outra é estar envolvido no problema concreto, sob a pressão de variáveis nem sempre tão claras, mas precisando tomar decisões urgentes. (Desconfio das intenções de quem assume um cargo, critica depreciativamente as decisões do antecessor sem levar em conta o contexto de seus erros e acertos. Se não estava lá quando as coisas foram feitas, que autoridade têm para criticar?)

Particularizando, nas reuniões de conselhos e assembléias de igrejas e denominação isso é muito comum. Algumas pessoas - portanto nem todas, muito menos a maioria -  participam apenas dos cultos, mas quando estão em reuniões deliberativas exercem seus poderes como se fossem totalmente envolvidas nos processos cotidianos objetos de decisão. Não são. Precisam, por isso, ser mais prudentes, humildes, generosas, em suas colocações.

Liderar é decidir e decidir, muita vez, sob pressão. Decidir sob pressão dificulta o diagnóstico e, consequentemente a escolha da melhor opção para solucionar um problema.

Já decidi muito. Milhares de pessoas já foram afetadas por decisões que tive que tomar em cargos e funções que ocupei. Muitas vezes errei, mas não mais do que acertei.  E digo com tranquilidade que, em todas as vezes que errei, nas difíceis decisões que tive que tomar, nenhuma delas foi com a intenção de prejudicar alguém. Se houve prejudicados em decisões tomadas, certamente faziam parte da escolha menos ruim enxergada no contexto, pois, como se diz, "não se faz omelete sem quebrar ovos".

Você que já viveu experiências com estouro de panela de pressão ou já estudou o assunto, pode fazer mil comentários dos "porquês" da explosão, dos "comos" que poderiam ser adotados nessa situação, das etapas do durante e do depois, mas colocar na berlinda, impiedosamente, quem viveu o caso concreto e precisou decidir sob a pressão do contexto é um grande equívoco.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

"Os cristão batistas em Pernambuco..."

Estive na Biblioteca do STBNB fazendo uma pesquisa e, dentre os livros, tive acesso a este, "Os cristãos batistas em Pernambuco...", de Francisco Pereira, o qual recomendo.

Apenas para registro, por se tratar de história da qual fiz parte em um período, ficam as seguintes observações, visando subsidiar eventuais pesquisadores:

1. Página 399

Assembléia Convenção Batista de Pernambuco (out/1991)
A presidência da diretoria: Israel Dourado Guerra, Edvar Gimenes de Oliveira e Livingstone Cunha. (Livingstone deixou a Secretaria em 1991 - por isso pode fazer parte da diretoria - e não em 92 como apresentado na página 400).

Esta diretoria - Israel, Edvar e Livingstone - dirigiu a Assembléia de Arcoverde (out. 91) e a de Bairro Novo (out. 92), pois foi a diretoria da transição. Até Arcoverde, a eleição ocorria na sessão de abertura, como mandava o estatuto e era responsável até a eleição  na abertura da Assembléia seguinte.

A partir daí (na Assembléia de Olinda), a eleição passou a ocorrer na penúltima sessão. Por essa razão, a diretoria que tinha na presidência Israel, Edvar e Livingstone dirigiu duas Assembléias: da abertura  da de Arcoverde (out/91) ao encerramento da de Olinda (Out. 92)

(Como não havia impedimento estatutário até a reforma estatutária de 91 em Acoverde, na Assembléia de Olinda eu era vice-presidente (eleito na abertura de Arcoverde) e diretor do CAB. A partir daí, funcionário da CBPE ou suas instituiçōes foi impedido de participar da diretoria).

2. Pag. 401

Ney Ladeia (Página 401) - Quando Ney era pastor da Igreja Batista do Zumbi ele não era capelão no CAB. Era professor de ensino religioso. Deixou o cargo de professor para trabalhar na trabalhar na JEVAN em 92. Alguns anos depois, quando deixou a JEVAN voltou a trabalhar no Colégio como capelão.

xxx

A primeira observação pode ser confirmada no Livro de Atas da CBPE. A segunda, somente em boletins semanais do CAB que foram encadernados e deixados nas bibliotecas do CAB e STBNB.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Trilha para sucessão pastoral

Era um concílio para examinar um colega de turma com vistas ao pastorado. A reunião acontecia numa grande igreja de interior no nordeste. Um líder, depois de ouvir para onde o candidato iria, pediu a palavra e, em tom reprovador, declarou que não era para aquela igreja que ele gostaria que o candidato fosse.

O candidato reagiu dizendo algo como: esta é a sua vontade, mas não é a de Deus. Como o senhor não é Deus, não irei para onde o senhor gostaría. O líder, silenciosamente, sentou-se.

O conflito de vontades faz parte da experiência humana. Acontece entre pessoas e também na relação com Deus.

Afinar a vontade de pessoas parece-me um desafio maior. Os motivos, interesses e escalonamento de valores são diferentes, nem sempre conscientes e transparentes, e não há, nem nunca houve neste planeta, pessoa capaz de atender em 100% as expectativas de outra. Muito menos de um grupo de outras.

Quando se trata de escolher um pastor, uma trilha de conciliação seria *relacionar* diversos aspectos definidos por envolvidos e pedir a quem vai decidir que marque, para cada um deles, quais das seguintes categorias retrataria melhor seus sentimentos e pensamentos: "muito importante", "importante", "pouco importante" ou "sem importância".

A partir disso, procuraria-se alguém que mais se aproxima daquilo que é entendido pela maioria como "muito importante" ou "importante", deixando em segundo plano os "pouco importantes" ou "sem importância" à maioria da igreja.

Perceba-se que, nesse caso, é a vontade humana que se estaria buscando reconhecer.

Há quem defenda que afinar-se à vontade Deus seria menos difícil. Bastaria elencar princípios do reinado de Deus, manifestos na vida e ensinos de Jesus, confrontá-los com os motivos que movem os corações dos que têm que decidir em busca de afinação entre as duas vontades - divina e humana - e seguir adiante, confiando na graça divina.

O problema é que há situações excepcionais nas quais o agir de Deus se manifesta de maneira imprevisível, misteriosa. Lucas, por exemplo, conta que Paulo e seus companheiros foram impedidos, pelo Espírito, de pregar a palavra na Ásia e na Bitínia e, depois, através de sonho "concluiram" que Deus os tinha chamado à Macedônia.  (At. 16:6-10).

Um  bom caminho, então, seria conciliar muita e sincera oração, com aquilo que as pessoas que decidirão consideram muito importante, buscando harmonia com o reconhecimento e priorização dos valores espirituais do reinado de Deus, manifestos em Jesus.

Seguir por esse caminho aumenta significativamente as chances de acerto.  E, se houver erro, que cada um seja humilde para reconhecer o seu e, nesse espírito, colaborar para corrigir a rota.

xxx


*Ilustração de pesquisa para definição de perfil pastoral

Estas perguntas têm por objetivo:

A) Ajudar os membros da igreja a terem uma visão ampla do que pode envolver a vida ministerial de um pastor. (É, portanto, essencial que antes de responder se faça uma leitura geral);

B) Ajudar a igreja a ter clareza do que é essencial no perfil de pastor que buscará;

C) Facilitar o trabalho da Comissão de Sucessão Pastoral na classificação de nomes que efetivamente participarão do processo.

As perguntas que seguem são apenas ilustrativas, podendo ser alteradas ou suprimidas de acordo com a valorização da Comissão que a elaborará ou, ainda, podendo receber outras que não aparecem nesta ilustração.

1. ASPECTOS MINISTERIAIS
1.1. Que o pastor se dedique exclusivamente à Igreja
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.2. Que o pastor dedique tempo à visitação dos membros
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.3. Que o pastor dedique tempo a aconselhamento
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.4. Que o pastor dedique tempo à administração eclesiástica
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.5. Que o pastor dedique tempo à preparação dos sermões e estudos bíblicos
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.6. Que o pastor dê expediente diário na sede da igreja
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.7. Que o pastor exerça magistério em instituição batista
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

1.8. Que o pastor já tenha experiência ministerial comprovada
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância


2. ASPECTOS LITÚRGICOS

2.1. Que o pastor use paletó e gravata nos cultos dominicais
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

2.2. Que o pastor pregue em todos os cultos dominicais
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

3. ASPECTOS DENOMINACIONAIS

3.1. Que o pastor seja formado em seminário batista reconhecido pela ABIBET da CBB
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

3.2. Que o pastor seja filiado à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

3.3. Que o pastor participe de assembléias das convenções batistas
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

4. ASPECTOS FAMILIARES
4.1. Que o pastor seja casado
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

4.2. Que a esposa do pastor exerça cargo na igreja
( ) Importante
( ) Pouco importante
( ) Muito importante
( ) Sem importância

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Jesus e a rivalidade

Fazendo uma leitura bíblica para iniciar a preparação da mensagem que compartilharei no próximo domingo, à tarde, me deparo com o seguinte registro de João: “Os fariseus ouviram falar que Jesus estava fazendo e batizando mais discípulos do que João, embora não fosse Jesus quem batizasse, mas os seus discípulos. Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judeia e voltou uma vez mais à Galileia.” (João‬ ‭4:1-3)

Deixei de lado o foco da preparação da mensagem para refletir em como, até mesmo na realização de atividades relacionadas ao Reino de Deus, pessoas com segundas intenções, especialmente travestidas de roupagem religiosa, encontram uma forma de criar conflitos.

João batizava. Os discípulos de Jesus batizavam. Batizar é um ato simbólico, cujo significado inclui reconciliação, pacificação de relacionamentos. Mas aos ouvidos fariseus, isso era o menos importante. Importante para eles era gerar conflito e, para isso, nada melhor do que semear a competição, fazendo uma maliciosa comparação: "Jesus" batiza mais do que João.

Quem nunca vivenciou isso nos corredores de nossas instituições religiosas? Quem nunca se deparou com alguém comparando as qualidades de um líder em relação a outro? A pregação de um pastor em relação a outro? A eficiência administrativa de um dirigente em relação a outro? O conhecimento bíblico de um professor em relação a outro?

Não é problema reconhecer as qualidades de alguém. A quem honra, honra. A questão é a comparação maliciosa, geradora de rivalidade, que visa enfraquecer alguém, semeando desavença.

Tocou-me, entretanto, o fato de Jesus se retirar do ambiente. Sua presença ali não seria benéfica aos propósitos do Reino. Permanecer ali serviria de munição para os fariseus. Certamente também criaria problemas entre os discípulos dele e os de João e isso não fazia parte de seu ministério.

Não que Jesus não se envolvesse em conflitos. Ele virou as mesas dos cambistas, tratou o rei Herodes como "raposa velha", enfim, ele era pacificador, mas não era pacifista. A diferença é que ele sabia escolher quais conflitos precisavam ser enfrentados e quais ser evitados.

Esse conflito - quem batizava mais - não agregaria nada de útil ou benéfico à vida das pessoas ou ao seu ministério. Diante disso, sua atitude foi exemplar: "deixou a Judéia e retornou à Galiléia".

Fica a dica. Quando o ambiente dá sinais de favorecer a rivalidade entre agentes do Reino, melhor seguir o exemplo de Jesus: retirar-se.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Michelle Bolsonaro e a causa dos surdos

"Nossa cabeça pensa, onde pisam nossos pés!"

A Primeira Dama, Michelle Bolsonaro, roubou a cena no dia da posse do Presidente da República, ao discursar em LIBRAS, no parlatório, antes do seu marido. O ato foi simbólico sobretudo por trazer a debate os desafios enfrentados pelos surdos, uma parcela da população brasileira cujos problemas são desconhecidos ou ignorados pela maioria.

Criada na perifera de Brasília, Michelle teria se dedicado a aprender a Lingua Brasileira de Sinais - LIBRAS - pelo fato de ter convivido com um tio surdo. Disso teria nascido seu interesse por dedicar-se a este segmento.

Nossas escolhas pessoais têm relação direta com as experiências que tivemos. Isso ocorre inclusive na produção acadêmica. "É a relação afetiva para com um objeto, que me atrai ou me ameaça, que cria as condições para a concentração de minha atenção", escreveu Rubem Alves. Somos impulsionados a agir, visando entender e alterar uma realidade, quando nosso coração é tocado por uma situação que presenciamos, por uma narrativa que lemos ou ouvimos, por uma experiência que afetou nosso sentimento.

Lembro-me de narrativas dos pastores Paulo Eduardo, da PIB de São Paulo e Fernando Brandão, da Junta de Missões Nacionais e de como teriam sido movidos a agir após contato, "in loco", com a miserabilidade dos moradores da Cracolândia, na capital paulista. Essa experiência fez surgir um dos mais destacados projetos de recuperação e apoio a dependentes químicos conhecidos atualmente no Brasil.

O tête-à-tête dificulta nossa indiferença e nos faz tratar melhor quem está ao nosso lado. As palavras de Paulo indicam isso: “Vocês bem sabem que nunca fiz questão de riqueza ou de vestir do bom e do melhor. Com estas mãos limpas, cuidei das necessidades básicas, minhas e dos que trabalham comigo. Em tudo o que fiz, demonstrei a vocês que é preciso trabalhar a favor dos fracos, não explorá-los. Vocês não estão errando se guardarem a lembrança daquilo que o Senhor disse: ‘Vocês são mais felizes dando do que recebendo’.” (At. 20:32-35, em A Mensagem)

Mateus registra que Jesus, movido por compaixão, curou e alimentou pessoas quando VIU a multidão e seus enfermos e OUVIU que pessoas estariam com fome. (Mt 14). É, portanto, natural que, havendo um mínimo de compaixão em nosso coração, há empenho para usar os meios de poder acessíveis, por menores que sejam, para agirmos em favor de quem está em situação de vunerabilidade, desfavorecimento ou injustiça.

Michelle usou o parlatório, um instante de visibilidade "mundial", para alavancar, potencializar, o que tocou sua vida, seu coração, e fez bem. Importante, entretanto, é entendermos que não apenas sentimentos ou experiências particulares devem mover nossas ações. Não é preciso, por exemplo, ter na família um sem-teto para lutar por moradia ou uma mulher que foi violentada, para lutar pelos direitos das mulheres.

O conhecimento de dados da realidade, mesmo referentes àqueles que não fazem parte do nosso "mundo significativo", deve mover nossas escolhas, nossas lutas, como manifestação de amor ao ser humano, como Deus ama. E isso não somente para minorar a dor, assistencialmente, mas para atacar as causas geradoras e seus efeitos nocivos.

Michelle, repito, fez bem ao usar seu novo papel social e a repercussão de seus atos em favor daquilo que toca seu coração. E nós, temos usado nossas oportunidades e recursos para alavancar e potencializar não apenas o que mexe com nossas emoções, mas, sobretudo, o que move o coração de Deus, revelado em Jesus?