sábado, 7 de junho de 2014

O pão nosso, feito pela dona Nena, de cada dia.

Minha mãe faz um pão extraordinário, conhecido a milhares de quilómetros de Garça, para além das fronteiras do país. Pão e Nena são tão unidos que as palavras que ela ensinava aos netos em idade de colo era "luna dame pan...".

Aos 84 anos ela continua preparando a massa, colocando no forno (à gás) e servindo à mesa quase que diariamente.

Recordo-me da cena desde quando tínhamos que ajudá-la a cortar a lenha, colocar no forno de barro, acender o fogo, esperar queimar, limpar o forno, colocar a massa sobre folhas de bananeira, depois tirar com uma "pá", colocar numa bacia de alumínio,  cobrir com um pano de cozinha e esperar ficar menos quente pra comer vendo a manteiga derretendo nele. (Quando ela inventava de colocar torresmo na massa, era insuperável!)

Isso sem falar na preparação da massa e na ansiedade que gerava esperar o pedacinho de massa deixar o fundo do copo com água, sinalizando que estava pronta pra ir ao forno.

Se o pão era tão bom, tão concorrido, por que ela não o vendia? Por que não fez dele um negócio, uma fonte de renda? Muitas vezes me perguntei isso. Cheguei a pensar numa marca, numa embalagem...

Só depois de muitos anos entendi que o negócio dela não era fazer pão, muito menos fazer dinheiro com ele; que o que ela gostava mesmo não era de fazer pão. O que ela gostava mesmo era de ver a família e amigos em torno da mesa da cozinha dela, rindo, discutindo às vezes em alta temperatura, disputando a vez de falar, falando em voz alta bem ao estilo espanhol, mas todos ali juntos "na alegria e na tristeza".

O pão sempre foi só um meio, uma desculpa, um detalhe, bem diferente do pão "sagrado" da "santa ceia" das liturgias eclesiásticas de nossos dias. A paixão dela, na verdade, sempre foi o ajuntamento, a aproximação, a família, família sem fronteiras de sangue, raça, cor, religião... curtindo em torno do pão.

Tenho pra mim que nisso está sua principal semelhança com Jesus, Jesus que no caso dela não é só um discurso, mas uma "encarnacion".

Que julho chegue logo!

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