sábado, 14 de junho de 2014

Quem tem acima da média pode lutar contra a pobreza?

Estava aqui pensando, antes de sair pra almoçar, que o primeiro livro que retirei da biblioteca do STBNB quando cheguei lá em 79, foi "Jesus Cristo Libertador", de L Boff. Nem sabia do que se tratava, nem nada de Teologia da Libertação. O título - a tal da liberdade - me atraiu.

Lembrei-me também agora, lendo comentários sobre política, (parece que o Brasil está dividido entre petistas, antipetistas e apetistas, até porque nenhum partido ou pessoa conseguiu até aqui tornar-se um novo eixo catalizador de respostas aos problemas graves do país), lembrei-me, repito, do primeiro livro que comprei no Recife, na então Livraria Rangel, entitulado "Suécia, uma democracia social". 

Pura curiosidade, intuição, "vocação", enfim...

Não militava em nada político-social. Era um adolescente chegando do interior sem noção de política ou teologia. Só "pensava" que sabia de Bíblia por ter sido professor de EBD aos 14 anos baseando meus estudos das aulas exclusivamente nos comentários das revistas da JUERP. O foco era o futuro, o pós morte física total.

Voltando ao início do pensamento. Foi no livro de capa azul e amarela, de cujo autor não me lembro o nome agora, que li um diálogo entre um ex-ditador de Portugal e um ex-primeiro-ministro suéco, mais ou menos assim:
- Como vai Portugal, perguntou o sueco.
- Vai bem, retrucou o ditador, mas ainda precisamos acabar com os pobres.
- Aqui na Suécia, teria respondido o Primeiro Ministro em tom de brincadeira, queremos acabar com a pobreza.

Sutil diferença.

Isso me ocorreu porque leio alguns criticando pessoas que, tendo um padrão sócio-econômico acima da média, lutam pelo fim da pobreza injusta (injusta porque justa é a pobreza dos que, franciscanamente, optam por um estilo de vida independente ao máximo, do ter). Um ex-professor meu ironizava um ex-diretor de Visão Mundial que, trabalhando contra a pobreza, mantinha um padrão de vida econômico-financeiro acima da média.

Ora, ninguém luta para que todos nos tornemos pobres. Lutamos para que todos possam viver com dignidade. Em alguns momentos dando o pão, noutros ensinando a pescar e noutros, ainda, ensinando sobre porque rios produzem mais ou menos peixe e uns pescadores têm mais e melhores equipamentos de pesca do que outros. 

É nessa última parte de atuação que o bicho pega. Nas duas primeiras, sentimos alívio de consciência, nos sentimos bondosos e até poderosos, porque o outro depende de nós. Mas, na última, estamos abrindo caminho para que o outro se liberte colocando no palco das discussões as diferenças de poder, a igualdade essencial dos seres humanos, etc. É aí que nossa zona de conforto é incomodada. Aí o pau quebra!


Bora almoçar? Vc paga!

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