sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ser quem se é


Por Osvaldo Luiz Ribeiro

1. Desarmar-se. Acreditar na possibilidade de agir sem armas, na nudez de coração, na transparência de ser quem se é. Não, ainda não são dias de jogarmos fora os escudos. Mas as espadas, as lanças, os punhais, derretê-los ao fogo, e fazer do ferro líquido um molde de peso de papéis finos, com os quais façamos pipas e as soltemos, ao vento do outono. Desarmar-se.

2. Para desarmarmo-nos, antes de tudo, temos de decidir abrir mão das estratégias políticas, dos ataques e dos medos. Há muita necessidade de confiança no Mistério, então. Porque, quando você se desarma, e abre mão das estratégias, as coisas podem e não podem acontecer. Você não faz contas, não mexe pauzinhos, você corre riscos. Assim, é preciso coragem, mansidão, determinação para... desarmar-se.

3. Porque estar armado produz a falsa sensação de estar protegido. Tolice. Estar armado só faz de você uma pessoa pronta para derramar sangue. Desarmar-se deixa você sob a exigência de apenas deixar a vida correr, numa confiança silenciosa. E confiança silenciosa é rara, é cara, em dias de espiritualidades ruidosas, estrepitosas, radiofônicas, alucinadas. Mas bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor (Lm 3,26).

4. Desarmar-se é poder ser quem se é, sem máscaras. É poder dizer o que se pensa, na sinceridade das palavras honestas, ainda que estranhas, ainda que causadoras de perplexidade aos que vivem armados, com medo, cientes dos riscos do jogo de viver-se armado. Mas não é possível que se viva livre, se você tem coldre e cartucho. A liberdade, nesse caso, é poder caminhar com os mesmos pés em cada lugar onde você está, é poder escrever a mesma coisa em qualquer lugar, sem compartimentos, sem reservas, na transparência das coisas translúcidas, sem medo de ter dito, sem medo do que vão pensar... Quem tem medo, arma-se. Quem se arma, recrudesce o medo. Recrudescido o medo, aumenta-se o calibre da bala... O círculo é viciado em craque.

5. Não se enganem. As palavras que emprego são palavras que nascem na carne, como a transpiração. Nem todas fazem parte dos jargões evangélicos da moda - algumas, são transgressoras. Entregar-se a jargões é entregar-se às ondas, é ser arrastado pelo vagalhão da impessoalidade desumanizante. Você diz as coisas-jargões, e você nem existe, porque são os jargões na sua boca. Prefiro dizer as coisas que sinto, ainda que enviezadas, e, assim, inspirar a alteridade, a autonomia, a subjetividade ativa, consciente, programática, a consciência de si, o ser quem sem é. Eu sei, assusta a alguns, porque revela o quanto estamos encaixados em esquemas de ser, de fazer, de dizer. Mas não há esquemas. Há a vida. Há o risco de viver. O risco de ser. O risco de fazer. O risco de dizer. Há o risco. O que me lembra a infância, quando as melhores brincadeiras eram aquelas mais arriscadas, aquelas que nos deixavam o coração à boca, o peito a explodir. Com cuja lembraça me convenço de que nossa religião ficou velha, nossos homens religiosos, velhos, nossos costumes, velhos, e eu uso a palavra velho aqui em seu sentido mais pervertido. É preciso rejuvenescer. Velhos, grisalhos, mas rejuvenescidos. Centenares, mas rejuvenescidos. Vestidos, que cabe à moda, naturalmente, mas nus.

1 comentários:

Franco 23 de maio de 2010 às 14:42  

Cante/Deguste ao modo antigo; sem arranjos que o "modernizem" e por fim o descaracterizem; este belo hino.
Meus 26 anos de idade não me impediram de assim fazer.


Hino 426 CC “Gratidão na Luta”

Com gratidão e com fervor
cantemos, já, ao bom Senhor,
pois seu poder nos libertou
e seu amor nos revelou.

Aceita-nos, Senhor, querido Salvador!
Aqui presente sê, dirige a tua grei.
E faze prosperar o nosso trabalhar
fazer o mundo todo teu nome conhecer.

Vem conservar-nos em união;
e encher-nos vem o coração
do teu amor tão singular,
e em tua luz nos faze andar.

Pra bem lutar vem conceder
o teu favor, o teu poder;
ajuda-nos a prosseguir
no bom querer de Te servir.