segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Meu primeiro batismo por aspersão


Hoje é aniversário de Gláucia, meu dia de folga, numa semana em que completo 27 anos de ministério pastoral. O céu está claro e o sol maravilhoso, depois de um domingo extraordinariamente abençoador.


Ontem  16 pessoas adultas foram batizadas pela manhã, num culto em que todos os espaços do auditório foram ocupados e muita gente ficou do lado de fora. Pr. Amauri Munguba Cardoso trouxe-nos a mensagem. À noite celebramos a Ceia do Senhor, num ambiente não menos acolhedor, com pessoas afirmando publicamente seu desejo de viverem uma vida norteada pelos valores do Reino de Deus.


A novidade, entretanto, foi o batismo de Dona Pomposa, o primeiro por aspersão, por mim realizado.


Dona Pomposa tem 93 anos de idade. Já não ouve tão bem, está encurvada e anda sempre com o apoio de alguém. Frequenta assiduamente as reuniões da 3ª idade promovidas pelo Cecom/IBG e é avó de Marcela, competente líder do ministério com surdos da Igreja.


Passou a ler regularmente sua Bíblia e, há algum tempo, fez sua decisão de seguir a Jesus. Uma das primeiras manifestações de desejo, neste novo momento de sua fé, foi pedir que os símbolos religiosos antigos, fossem  retirados das paredes de sua casa. Diante da resistência de filhos, de atender seu desejo, ameaçou ela mesma subir numa cadeira e retirá-los. Segundo testemunho, o desejo foi atendido, por conhecerem sua determinação e temerem uma operação tão arriscada na idade dela.


Com a mesma determinação decidiu que queria ser batizada. Foi dando cada passo do processo, até passar pelo Conselho Diretor e ser aprovada pela Assembléia de Membros da Igreja. Nesse processo eu ficava indagando com meus botões: como realizarei este batismo? Ela é muito idosa e pode haver complicações em termos de saúde. Poderia ocorrer problemas ortopédicos, pulmonares, enfim. Pensando nisso, decidi que ela seria batizada por aspersão.


Já sei - dirá um fundamentalista - não existe “batismo por aspersão”, pois, etmologicamente, a palavra batismo quer dizer mergulho. E Paulo, quando se refere ao batismo, usa a imagem do sepultamento (Rom. 6.4; Col.2.12).


Sei muito bem tudo isso. Meu pai converteu-se no presbiterianismo, mas tornou-se batista por entender que a forma neotestamentária do batismo seria a imersão. Então, esse dado foi muito forte em minha trajetória de vida. 
Se não bastasse isso, minha formação cristã se deu numa igreja batista influenciada por missionários batistas do sul dos Estados Unidos, cujo discurso trazia fortes traços do anticatolicismo.  Portanto, forma de batismo era dado extremamente relevante. Chegava a ser argumento para distinguir uma igreja "bíblica" de outra não "bíblica", claro, pra mostrar a superioridade "bíblica" da que fazíamos parte.


Mas cresci, ganhei asas, desenvolvi meu senso crítico, ampliei meu universo de diálogos e leituras e tornei-me um pouco mais autônomo e honesto comigo mesmo. Assim, conquanto mantenha a compreensão da forma mais evidente de batismo no Novo Testamento, entendi que o mundo dos símbolos não é regido por etmologias ou figuras de linguagem; que suas razões têm vida própria; que símbolos podem fazer parte da cultura de uma coletividade, mas  só é efetivamente relevante quando está integrado ao mundo significativo da individualidade.


Por ter aprendido, desde a minha Profissão de Fé para o batismo, em fevereiro de 1968, que batismo não salva; que batismo é símbolo; que o verdadeiro batismo é o efetuado pelo Espírito Santo no ato da entrega da vida a Cristo, decidi que dona Pomposa seria batizada por aspersão.


Foi emocionamente vê-la sendo conduzida para dentro do batistério, bem maquiada, com um largo sorriso no rosto, declarando sua fé em Jesus, ouvindo: “como ministro do evangelho, devidamente autorizado por esta igreja, eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém” e, em vez de ser mergulhada, receber um punhado de água sobre a cabeça e ouvir a igreja inteira aplaudir, ratificando tão belo testemunho de fé.


Foi o primeiro em centenas de batismos já realizados. Continuarei seguindo a compreensão da imersão. Não tenho nenhuma inclinação para ser apologeta da aspersão, nem, muito menos, intenção de dar ao assunto relevância além do que efetivamente merece, pois, parafraseando Paulo: De nada vale ser batizado ou não. O que importa é ser uma nova criação.(Gal. 6.15)

12 comentários:

Anônimo 30 de agosto de 2010 às 13:04  

Muito bem, meu amigo Edvar. A experiência só demonstra o seu autêntico coração de pastor: acima de tudo está o amor. Que Deus continue a abençoá-lo.
Jilton Moraes

Rinado Costa 30 de agosto de 2010 às 13:25  

Parabéns Pastor,
É preciso coragem para fazer o que precisa ser feito em certas circunstâncias. O batismo feito à irmã Pomposa de 93 anos traz consigo o maior simbolo do cristianismo: o amor!

Fco.Araújo 30 de agosto de 2010 às 15:32  

Parabéns pastor, por sua atitude e pelo apoio da sua comunidade.
Já passei por duas situações assim, uma senhora idosa, quase 90 anos e uma jovem muito doente, em fase terminal. A jovem foi batizada na sua residencia e lá mesmo servimos a ceia. Parte da Igreja estava presente. A felicidade daquela jovem foi comovente e a elegria de haver se batizado e participado da ceia a deixou extremamente radiante. uma semana depois ela se foi. A senhora idosa foi batizada no mesmo dia em sua residencia e de igual modo lhe foi servido a ceia. Viveu uns dois anos a mais e o seu testetumnho foi marcante. A Igreja cresceu com estas duas atitudes de fé e comprensão. Tudo para honra e glória do Senhor Jesus!

Anônimo 30 de agosto de 2010 às 23:58  

Estimado Pastor. Sou diácono batista e todos sabemos (em especial os que assim crêem)o valor simbólico do batismo por imersão. No entanto, a medida que vamos amadurecendo na fé cristã, começamos a enxergar mais claramente e a entender como Paulo:
"Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,

Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.
(...)
As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens;
As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.

O Senhor continue lhe abençoando a ao ministério que lhe concedeu.

Grande abraço.

Waldemir Soares
quartosabio@hotmail.com

Unknown 31 de agosto de 2010 às 16:10  

Fico muito feliz em saber que a Bíblia é, de fato, nossa única regra de fé e conduta! Que Deus continue a abençoar seu ministério e vida!
você é 'meu herói"!

Paulo Lomba

Rev. Marcelo Mateus† 1 de setembro de 2010 às 10:39  

Edvar,

Deus te abençoe!
Devo muito o que sei a Igreja Batista - CBB, isso não posso negar. Hoje, estou na Igreja Episcopal Carismática do Brasil. Mas posso te dizer, mesmo quando Batista, meus filhos foram batizados por "aspersão" pelo então Pastor Paulo Garcia. Nunca vi nada que prejudicasse minha fé ou a minha concepção teológica. Já batizei muitos por imersão, aspersão... na IEC do Brasil o Batismo é um sacramento, e hoje vejo isso com muita reverência, algo lindo e de um significado importante. Parabéns pela atitude, isso mostra que você é ousado naquilo que entende e crer. Pax et bonum
Rev. Marcelo Mateus†
Paróquia Deus Conosco - Igreja Episcopal Carismática do Brasil

prado 2 de setembro de 2010 às 09:35  

nao vejo mal algum, pelo contrario, creio que precisamos quebrar as barreiras e facilitarmos o ingresso de pessoas verdadeiramente salvas em nossas igrejas. pr. Carlos Prado

Anônimo 2 de setembro de 2010 às 10:54  

Pastor Edvar, tudo bem contigo, Família e Igreja? Espero que sim.

Eu não concordo com vc.

O grego é bem claro sobre batismo; (bAPTISMO GR QUER DIZER IMERSÃO) ,para mim é o suficiente.

Continuo sendo batista, aliás, Edvar, caro colega, nós viemos exatamente de João, O BATISTA
(O BATIZADOR).

O que quer dizer Batista, senão batismo, imersão!!!

Você não encontra na História o começo dos batistas. As igrejas da reforma do século 16, sim, os chamados protestantes, mas nós não somos da reforma. Lembra-se do valdenses, anabatistas e outros grupos pequenos que esposavam os mesmos princípios e doutrins que nós? Caiu o prefixo ana que quer dizer 're' (rebatizador). Batizávamos os pagãos da igreja romana e outros; caiu o prefixo e permaneceu BATISTA.

Ser servo no Senhor Jesus,
N

DANILO GOMES 6 de setembro de 2010 às 14:33  

Ainda existe JJJ nos dias de hoje? Dizer que os batistas receberam influência das anabatistas tudo bem. Mas querer situar os batistas antes da reforma é forçar demais a barra, não é não? Mas tudo bem. Celebremos a diversidade!
Mais importante que a palavra grega é a Palavra do Espírito! Muito sábia a sua decisão.
Como respondeu um amigo meu em seu concílio examinatório, ao ser repreendido por um "batistão", por ter afirmado que não rebatizaria um irmão presbiteriano que por acaso viesse a congregar em sua igreja batista, "mas importante que a quantidade de água é a quantidade de fé!"

Anônimo 6 de setembro de 2010 às 17:28  

Parabéns Pastor Edvar!

Não só por uma quebra de paradigma, mas acima de tudo por entender que as pessoas estão acima normas, quando estas impedem um ato verdadeiro, tal quanto quanto aquele que mergulhou no batistério.
Quem vai duvidar???

Marcela 1 de outubro de 2010 às 00:30  

OI Pr. Edvard,

Obrigada pelas suas palavras! Fiquei aliviada com a reação da Igreja, ufa! Vc sabe por quê. A minha vó no dia do batismo acordou as 5h da madrugada, as 6h já estava me chamando para arrumá-la, tamanha a ansiedade. Muitas pessoas da minha família, inclusive pessoas que logo no começo fizeram ameaças para ela não se batizar estiveram presente na celebração do batismo. Ela queria ir a noite para a ceia, mas eu não estava bem, no sábado havia passado mal e no domingo não estava tão bem.
A minha vó ia falar naquele dia, mas o tempo era curto. Eu pensava ser a primeira pessoa a servir a Cristo na minha família, mas não. O meu tio, filho mais velho dela na juventude começou a servir a Cristo e depois de muita pressão da família desistiu. Ela sempre disse que nasceu católica e que morreria católica. Há mais de 50 anos ela é amiga de Nair esposa de Paulo Enon, eles viviam convidando ela para ir pra Igreja, mas ela era irredutível. Mas Deus é poderoso e o Espírito Santo verdadeiramente opera maravilhas, para ser breve rsrsrs, ela aceitou a Cristo e entendeu muito bem isso.Ela sempre assistia o canal carismático e depois disso sem influência nenhuma passou a assistir canais de televisão gospel e ainda faz seus familiares também assistirem, estuda a Biblia e tira suas dúvidas. Pena o meu tempo ser curto. Ela tem deixado o povo de cabelo branco, porque as terças feiras qd eles pensam que ela tá em casa, ela sai sozinha para o culto matutino, é um corre corre atrás dela. Ela fala que começou a ir pra Igreja, porque quer paz e quer dar o exemplo para seus filhos.
Estou muito feliz com tudo que Deus tem operado na vida dela, Deus é fiel!!!

Obrigado por ser vaso de benção nas nossas vidas e ousar diante de tantas lutas atuais.

abraços,

Marcela

MISSIONÁRIO LAERTE BRITO. 23 de fevereiro de 2013 às 21:40  

Muito bacana, louvo a Deus por homens, que tem percepções do Espirito Santo, intendendo que a Graça de Deus, nos proporciona discernimento. Deus continue abençoando a sua vida, família e ministério. interessante, que minha mãe, teve uma experiencia com Deus, ele já esta avançada em idade. Ela manifestou o desejo de se batizar, a decisão que tomei foi justamente essa. Vou batiza-la por aspersão. Deus abençoe. Navegando aqui na internet, encontrei o seu Blog, com essa postagem. Deus abençoe, Em CRISTO POR CRISTO E PARA CRISTO.