quinta-feira, 28 de maio de 2015

Escândalo, escândalo e mais escândalo e as igrejas em silêncio



“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (I Tim 6:9-10)


Os olhos do mundo estavam focados na Suiça. Quando falo “do mundo”, não se trata de força de expressão. Não há país cujo jornalismo não estava atento às eleições do novo presidente da FIFA, organização que responde pelo esporte mais popular do planeta. De repente, de maneira surpreendente, portanto inesperada, a polícia Suíça age e 7 dos dirigentes globais desta empresa privada são presos a pedido da polícia americana.


Claro que, ao falar da polícia americana, o leitor desatento pensaria que estou falando de mais um filme de Hollywood. Melhor que fosse, mas não era. Tratava-se de uma operação visando prender envolvidos em corrupção financeira, dentre eles um brasileiro, ex governador do estado mais rico do pais e atual vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Eles deverão ser extraditados para os Estados Unidos e poderão ser condenados a até 20 anos de prisão.


Na entrevista concedida pelos responsáveis pela investigação, chamou-me a atenção o uso da palavra “ganância”. Ela expressa o perfil dos envolvidos, pois não se trata de ato praticado por alguém desesperado em busca de sobrevivência, mas de milhões de dólares acumulados com base em um sistema de corrupção executado por décadas.

Quando estourou a operação “Lava jato”  e envolvidos se dispuseram a devolver mais de uma centena de milhões de reais, também ali ficou evidente que o problema dos envolvidos chama-se “ganância”, pois ninguém precisa de tal quantidade de dinheiro para viver a vida toda, exceto por profundos problemas de natureza emocional, ética e espiritual.

O que estamos vendo no Congresso Nacional, nesses dias, também é um verdadeiro escândalo. Sob olhares atônitos de quem está atento e sob a alienação de quem vive na igreja pedindo ajuda a Deus pra resolver seus problemas, seja por ignorância, conformação ou indisposição para agir, dirigentes políticos reformam um péssimo sistema político-eleitoral que corrobora o aumento da corrupção e do sofrimento da população, mas, em vez de reformarem para melhorar em favor do país, reformam para facilitar seus maus feitos visando alimentar suas ganâncias.
 


Aumenta a minha angústia quando me lembro que o presidente da Câmara, que comanda o processo naquela casa, é classificado como “evangélico” e suas preocupações são com temas que envolvem a moralidade sexual individual, aparentando defender posições  “bíblicas”, enquanto defende a manutenção de sistemas que, estes sim, corroem as estruturas da vida, sejam da família, da educação, da saúde, da segurança, do transporte, enfim, e causam malefícios indescritíveis.
 


Minha angústia transborda quando percebo a passividade das igrejas e seus dirigentes; quando não percebo muitas vozes se  levantando perante suas comunidades para alertar que “se nós nos calarmos, as pedras clamarão”, mas não sem antes soterrarem a vida em suas diversas manifestações.


Quero, por isso, desafiá-lo a erguer sua voz. Use a internet, use e-mails e as redes sociais. Levante o assunto ao se encontrar com amigos e irmãos na fé. Expresse seus sentimentos, suas discordâncias e insatisfação. Declare sua revolta aos candidatos que receberam seu voto. As andorinhas só fazem verão quando cada uma decide voar.


domingo, 24 de maio de 2015

Umas e outras (Férias, igreja, Convenção, Lula, Malafaia, ovos, mortadela, VEJA, cientistas...)

Gláucia perguntou-me o que iria fazer. Respondi que iria escrever, como terapia. É assim: uns pescam, outros ficam na rede, outros escrevem... Cada um faz o que lhe dá prazer com seu tempo livre.
Férias, igreja e Convenção
Hoje, posso dizer, é meu último dia de férias. Amanhã volto à rotina: aula no seminário, palestra para missionários em seu retiro anual, texto para boletim, estudo bíblico para quarta-feira, mensagens para o domingo, agenda de aconselhamento, reunião com ministros e, enfim, o que ocorrer na família, igreja, Convenção...
Férias é um tempo bom. A igreja merece. Eu também.
 Fazia tempo que não tirava 30 dias corridos. A última vez que fiz isso foi para dedicar-me integralmente à Convenção Batista. Tempos difíceis, mas superados. Diga-se de passagem, em 3 anos, pela primeira vez fiquei 21 dias sem acessar as contas bancárias da Convenção. Com a situação sob controle e mais de uma pessoa controlando, não me arrependi.
 Estamos terminando maio, período historicamente difícil pras finanças da CBBA, sem dever nada a ninguém, com os salários dos missionários que vencerão dia 30 já pagos e com perspectivas que trarão muita alegria ao povo batista baiano. Isso, claro, graças à fidelidade das igrejas e a uma equipe de funcionários nas diversas áreas com o coração e a cabeça na obra.
Voltando à igreja, cheguei de viagem e já dei uma passada por lá. Coisas boas estão acontecendo e desafios também.
Lula e Malafaia
 Acompanhei nesse final de semana, o debate Lula x Malafaia. Lula precisa conversar um pouco com Pelé, com Xuxa, especialmente se pretende concorrer novamente à presidência. Se não fizer isso, visando administrar melhor a imagem, as coisas ficarão mais difíceis.
Dessa vez, segundo se noticiou tanto na mídia do alto, quanto do baixo clero, na de chapa branca e na marrom,  ou, se preferirem, na da Casagrande e da Senzala, ele fez comentários jocosos com pastores neopentecostais que mexeu com os brios da população dita evangélica. De repente esqueceu-se de que a maioria do povo chamado evangélico é feita de empobrecidos, seu nicho eleitoral.
Malafaia, em seu papel de comentarista político de religião  mandou ver. (Não estranhe. Não é demérito ser comentarista de religião. Há comentaristas de economia, de futebol, de gatos e cachorros, enfim, nada demais nem de mal, um comentarista de religião). Com sua capacidade indiscutível de comunicar-se, de articular as palavras, de defender seu nicho, como Lula defende o seu, Malafaia  mostrou com quantos paus se faz uma canoa.
 Negando a acusação que Lula teria feito, de que pastores neopentecostais atribuem tudo ao diabo, não só discursou contra essa idéia como denunciou um monte de maracutaias que o PT, não o diabo, teria feito. Disse que a única paternidade do diabo declarada na Bíblia seria a mentira e, portanto, diante da mentirosa campanha eleitoral do PT e das negações de Lula de nada saber em relação à corrupção, classificou-os como filhos do Dito Cujo. Finalizou, com um apelo que pode ser chamado, no contexto, de “tiro de misericórdia”: declarou que não odeia Lula e que Jesus tem poder para libertar da cachaça quem o aceita.  Pronto, em nome de Jesus xingou Lula de pinguço, como se dizia lá em Garrça, na minha longínqua infância.
Lula deixou de representar minhas expectativas políticas por reformas estruturais há algum tempo; Malafaia nunca me representou. Acompanhando esta discussão, choro mais do que rio. Choro pelos de esquerda que Lula declara defender, choro pelos pobres dos pastores evangélicos que Malafaia auto declara-se representar. Choro pelos dois lados: por ter sido rotulado ao longo de minha vida como evangélico e de esquerda.
Ovos, mortadela, VEJA e cientistas
 Nessa semana senti vontade de comer mortadela. São as lembranças do meu lado paulista. Comprei meia dúzia de fatias, passei um pouco de manteiga num pão francês, coloquei uma fatia de mortadela dentro e curti  lembranças de padarias e botecos da minha adolescência em Garrrça.
Comprei também meia dúzia de ovos, caros, no Bom Preço. Cresci comendo ovos. Ovos fritos, batidos, cozidos na água e no feijão, na salada. Gosto de bater um ovo com cebola e Orégano e comer como omelete. Delicioso. Naquele tempo não se questionava a “saudabilidade” dos ovos, até porque havia dias em que eram a única “mistura” do almoço, graças às galinhas criadas no quintal.
Depois veio a conversa de que a ciência destacava seus malefícios. Continuei comendo.
Não costumo dar ouvido a discursos só porque estão embalados em batas brancas e óculos de grau. Já pensava assim antes de ler “Filosofia da Ciência” e “Entre a ciência e a sapiência”, ambos de Rubem Alves. Lê-los ajudou-me a organizar melhor meus pensamentos nessa área.
Nada contra a ciência. Tudo contra a absolutização dela, como linguagem única para se entender e se relacionar com a vida.
Voltando aos ovos. A chamada de capa da VEJA (sim, minha insegurança política não é tal, a ponto de não ler Veja).  diz: “OVO. Depois de muito vai e vem, a ciência finalmente dá o diagnóstico: ele faz bem”. Ri. Eu já sabia. Sinto muito pelos teleguiados que deixaram de comer ovos, só porque a “ciência”, irmã gêmea do “mercado”, disse ou deixou de dizer.
Abro as páginas amarelas da revista e lá está uma entrevista publicitária com Richard Dawkins. Ele está lançando mais um livro no Brasil e se VEJA prepara o caminho do lançamento com a presença dele, é sucesso de vendas num segmento. Dawkins, professor de Oxford, decidiu construir um caminho literário num nicho pouco explorado comercialmente: a defesa do ateísmo. Se deu bem comercialmente.
O problema da teoria de Dawkins é igual a dos ovos. Tem um monte de gente que só acredita no que a ciência diz, por isso para de comer ovos. Se um cientista diz que Deus não existe, serei ateu. Não importa as diferenciações filosóficas muito bem feitas por Paul Tillich entre ser e existir. Não importa a reflexão de Carl Jung sobre a incapacidade da parte explicar o todo. Muito menos importa se, por razões que não vem ao caso, Dawkins decidiu dar um corte epistemológico em seu trabalho, decidindo não entrar no terreno dos “fatores desconhecidos e aleatórios” como ele diz. Ora, se optou por não entrar neste terreno, por que abraçou o discurso do ateísmo? Discursar-se como ateu é apenas o outro lado da moeda da reflexão sobre “fatores desconhecidos e aleatórios”, repito, como ele diz. É uma forma de encarar e se relacionar com o mistério.
Agora, o fato dele ter optado por desconsiderar Deus em seus estudos, de ser cientista de Oxford, de defender o ateísmo, de ser entrevistado nas páginas amarelas de VEJA, não me impedirá de comer ovos. Ele faz a escolha dele com os critérios que escolheu, eu faço as minhas com os meus. Ele responde por ele. Por mim respondo eu. Sem crise.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Cadê o dinheiro da aposentadoria? O Fator Previdenciário


Comecei a trabalhar aos 15 anos. À época, a promessa era que com 35 anos de trabalho me aposentaria. Além disso, o cálculo do valor a ser recebido era simples: baseava-se no Salário Mínimo.

Funcionava assim: o governo tinha uma tabela de valores mensais a serem pagos. Se seu desejo era aposentar-se recebendo 2 SM, pagava o valor correspondente da tabela; se quisesse 10 SM, bastava pagar o correspondente da tabela.

Com menos de 30 anos, comecei a pagar como autônomo sobre o máximo da tabela. Procurei ser disciplinado por duas razões: 1) sabia que quanto mais cedo iniciasse o pagamento, mais cedo teria direito à aposentadoria; 2) se viesse a falecer antes, a família não ficaria desamparada.

Ocorre que, tendo ultrapassado mais da metade do tempo de trabalho, o governo do PSDB, sob protestos do PT (diga-se de passagem, protesto que posteriormente confirmou-se ser tão somente político-eleitoreiro, pois não ocorreu em função do trabalhador, mas da mentira, do jogo de cena para conseguir voto), repito, o governo mudou as regras do jogo, desconsiderando a expectativa daqueles que há décadas pagavam rigorosamente na forma da lei.

A mudança se deveu ao argumento de que a quantidade de pessoas com perspectiva de aposentadoria era maior, desproporcional, em relação aos trabalhadores na ativa, o que criaria um rombo a longo prazo que prejudicaria a todos.

Nada se falou do que foi feito com a dinheirama recebida dos trabalhadores nas décadas passadas. Não se falou dos bilhões desviados do INSS em corrupção pela incompetência, inclusive na punição de quem roubava e da recuperação de bens. Nada se falou dos milhões gastos com aposentadoria para pessoas que nunca contribuíram com um centavo.

(Diga-se de passagem, não sou contrário a benefícios sociais a agricultores ou pessoas com mais de 65 anos, por exemplo, que passaram a receber benefícios sem terem contribuído. O que não concordo é o benefício ser pago com dinheiro de nossas contribuições e sermos penalizados por isso, quando se poderia recorrer a outras fontes, como por exemplo, impostos sobre grandes fortunas).

O problema é que, os políticos que decidem não dependem da aposentadoria do INSS, além de terem salários diametralmente opostos ao da média dos trabalhadores que dependem do INSS, isso sem falar nas falcatruas nas quais alguns deles se envolvem enriquecendo-se ilicitamente.

Outro problema é que os técnicos do governo que elaboram os dados fazem parte de uma casta, cuja aposentadoria não segue os mesmos critérios de quem paga seus salários com mil impostos, muitos desses impostos com alíquotas injustas.

Daí, sem considerar o passado, esquecendo-se de quem pagou direitinho, na forma da lei e, claro, visando garantir dinheiro para aqueles que os beneficiam de maneira corrupta, os políticos, da situação e da oposição, optam por arrebentar a corda do lado mais fraco.

Pior ainda, e isso me enoja ainda mais, é ter que ouvir jornalistas muito bem pagos, que vivem financeiramente no mundo dos sonhos, pagos pra fazer política de oposição/situação pelos donos das empresas a que servem, irem às mídias defender apenas os supostos interesses do equilíbrio das contas futuras, sem considerar o passado e as pessoas que pagaram honesta e legalmente, contando com o recebimento.

Desonestamente, não oferecem alternativa. Digo desonestamente porque, se não é papel do jornalista dar solução, mas noticiar os fatos, então, que noticiem os fatos como são e não como fazem, ou seja, para defender os interesses de seus patrões ou correligionários políticos, noticiando apenas a parte que lhes interessa.

Ora, se houve erros na administração passada da previdência, que se busque solução, mas não a mais fácil que é colocar a dívida toda nas costas dos aposentados ou que estão em fase de aposentadoria. 

Que se busque soluções intermediárias, afinal, governos que pagam bilhões em juros para banqueiros; que silenciam diante de desvios bilionários em favor de seus partidos, aliados políticos e de "consultores de elite"; que oferecem milhões de reais de incentivo cultural a quem não tem necessidade; que transformam ministérios em cabides de empregos para comprar a passividade de aliados, enfim, têm sim como encontrar saídas que não sejam tão absurdamente nocivas aos aposentados.

Quero conclamar àqueles que tiveram paciência de ler até aqui. Especialmente você que está longe da aposentadoria, em função de sua idade ou que este assunto não atinge por contar com boas condições financeiras:

Lembre-se de pessoas de sua família, de amigos que já estão sofrendo por isso;

Lembre-se de que trata-se de causa justa e de que amanhã você estará na mesma situação e poderá não ter com quem contar;

Lembre-se de que, neste universo decisório, não há análise econômica ou decisão administrativa sem consciência do componente político;

Lembre-se de que toda decisão beneficia ou prejudica alguém e, portanto, é essencial saber quem ganha e quem perde, visando buscar a decisão mais próxima do que é justo para todos ou, na pior das hipóteses para a maioria, com o máximo de respeito possível às minorias.

Então, peço-lhe que descubra o e-mail, o twitter, o facebook do senador e deputado de seu estado e manifeste em favor de solução urgente que resgate a justiça previdenciária, lembrando-o de que a decisão da Câmara nesses dias é menos ruim e que, se não há outra melhor, que ela seja mantida.






A nova vida comunitária em Cristo e a função social do trabalho

“O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.” (‭Efésios‬ ‭4‬:‭28‬ NVI)‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬‬

Nossa leitura e prática dos ensinos bíblicos é seletiva. Desde a busca por palavras de conforto nas famosas caixinhas de promessa até a necessidade de rechear nossos sermōes para garantir que eles sejam percebido como bíblicos, a seleção faz parte de nossa relação com as Escrituras Sagradas.

Seletivo também é o destaque que damos aos textos que sustentam nossas crenças, valores e até mesmo a ideologia das ênfases ministeriais que abraçamos. Os textos que fortalecem, por exemplo, a ética corporal, conjugal ou familiar por nós defendidas, estão sempre na ponta da língua. Já os que tratam das relaçōes econômico-sociais não recebem qualquer atenção, quando não passam  totalmente despercebidos ou até “espiritualizados”.

Esse é o caso do versículo em epígrafe. Raramente se prega sobre ele, talvez porque não haja como aplicá-lo sem incomodar o “stablishment”. Como geralmente não queremos ter problemas políticos com aqueles que se beneficiam do modelo estabelecido de relacionamento sócio-econômico-financeiro, optamos por retirá-lo do nosso cardápio diário.

Mas ele está ali e o mesmo Espirito Santo que inspirou Paulo, continua livre, inclusive livre dos poderosos príncipes deste modelo cultural opressivo, e, vez por outra, quando abrimos a Palavra em busca de luz para os nossos caminhos ele nos brinda e faz nosso coração pulsar um pouco mais aceleradamente. Quando isso ocorre, até procuramos seguir a leitura devocional adiante, mas é como se ele travasse o sentimento e não o liberasse enquanto não dermos a atenção devida àquilo que ele quer nos dizer.

O que ele disse a mim, foi a mim. A você, leitora, cabe examinar os espíritos conforme I Jo 4:1 e decidir o que fazer com esta palavra.

A mim sinto que ele está dizendo que, na nova vida em Cristo roubar é um verbo que deve ser retirado não só do meu vocabulário, mas também do vocabulário de nossas comunidades. Ele está dizendo que, embora seja importante estarmos informados dos roubos praticados contra nosso dinheiro administrado pelos governos públicos e que, como cidadãos, devemos participar do combate a ele, está dizendo que o não roubar deve ser realidade primeiramente em minha vida,  família, igreja, trabalho, escola ou denominação religiosa, círculos enfim, que fazem parte do meu mundo significativo imediato.

Roubar, sob qualquer nomenclatura ou motivação, não deve pertencer ao nosso novo modelo de vida em Cristo.

Mas ele me diz mais através desse desconfortável texto. Diz que devemos nos conscientizar da finalidade de nossas mãos. Elas devem ser usadas de maneira útil, isto, de maneira que o resultado de seus movimentos seja benéfico e não maléfico, altruísta e não egoísta.

Nesse sentido, a palavra nos anima a entendermos que há uma evolução no desenvolvimento da nova vida em Cristo, nas relaçōes com as coisas. Inicialmente respeitamos o direito à propriedade; em seguida resignificamos o uso das mãos, depois passamos a trabalhar e, finalmente, passamos a incluir o outro no resultado do nosso trabalho. É uma mudança incrível. Partimos de uma situação pecaminosa na qual  tirávamos do outro e atingimos uma graciosa na qual compartilhamos o que é nosso com o outro.

Dividir com o outro é parte essencial da nova vida em Cristo. Como cada um administra isso deve ser fruto da própria comunhão com Deus, mas não há como negar que compartilhar o fruto do nosso trabalho seja evidência da nova vida em Cristo.

É claro que muitos detalhes precisam ser ponderados. Por exemplo: como agir com os aproveitadores, diante das palavras bíblicas que dizem: “aquele que não trabalha que não coma”? (II Tess. 3:4). Como encarar aqueles que acumulam dinheiro como resultado de relações trabalhistas ou comerciais injustas, exploradoras e aparentam generosidade fazendo doações financeiras generosas? Sim, esses são exemplos de pontos que merecem reflexão, mas não alteram o princípio que nos ensina que não há como viver sinceramente a vida em Cristo sem que haja alteração em nossa relação com as coisas do outro e na finalidade do nosso trabalho. O trabalho deixa de ser apenas para sobrevivência econômico-financeira individual e passa a ter também uma finalidade social. O que passar disso, parece-me, é de procedência maligna.