sábado, 10 de setembro de 2016

Amor a missões, uma senha para o pecado.

Edvar Gimenes de Oliveira

Uma das palavras mais fortemente incentivadas no meio batista é a palavra “amor a missões”. Por ter um significado positivo entre nós e, portanto, trazer consigo um forte elemento de aceitação, de inclusão, todos os que circulam nos meios denominacionais batistas, especialmente pastores e líderes, se empenham para, de alguma forma, associar seu nome à frase “amor a missões”.

Ter o nome associado a esta frase é uma espécie de senha que permite acesso a todos os espaços de poder e prestígio denominacionais. Para conseguir essa senha, basta participar de viagens missionárias; contribuir para algum programa de Adoção Missionária; comparecer a congressos missionários; integrar-se em um grupo de promoção missionária; contribuir financeiramente para uma agência missionária ou, pelo menos, declarar, repetida e publicamente seu “amor a missões”. Isso o tornará uma pessoa recebida com elogios, aplausos até, especialmente entre os que trabalham com organizações que sustentam missionários.

A questão é que isso cria um problema à obra genuinamente missionária, um problema bastante simples. É que enfatizar “amor a missões” leva muitos a colocar a atividade meio acima da atividade fim, a substituir o criador pela criatura e o amor às pessoas no cotidiano pelo amor às empresas que atuam como agências missionárias e aos seus empreendedores.

Não por acaso, conhecemos pessoas que são extraordinárias promotoras de missões, que arrancam leite de pedra em nome de missões, mas também são capazes de arrancar o sangue do seu “irmão” que não se iguala a elas nas prioridades eclesiásticas, nos valores espirituais a serem enfatizados, nas atividades a serem desenvolvidas.



Pessoas que foram ensinadas a amar missões sem ser-lhes dito que “amar a missões” não é amar agências missionárias, seus dirigentes e empreendedores, em detrimento do amor a Deus e ao próximo; que para Deus, todo o dinheiro que é levantado por “amor a missões” sem o correspondente amor – que se manifesta em respeito - ao próximo no cotidiano de nada vale.

Não há na Bíblia uma só recomendação para que amemos missões.

A recomendação é, primeiro, que amemos a Deus sobre todas as coisas e, depois, ao próximo como a si mesmo. Ela alerta: se dissermos que amamos a Deus a quem não vemos e não amarmos ao próximo, a quem vemos, somos chamados de mentirosos. Isso, mesmo que em alto e bom som, através de atitudes, palavras ou ações, declaremos “amor a missões”.


Observe que nem estou falando do paradigma errado que define missões como multiplicação de igrejas. Estou enfatizando que, se queremos mesmo que a frase “Jesus transforma” seja eficaz, é essencial deixarmos claro que nosso trabalho missionário é fruto, primeiro de nossa resposta ao amor de Deus por sua criação e, depois, do nosso desejo de amar nossos semelhantes – aqueles que estão próximo de nós no dia-a-dia - , a fim de que sua vida – não só sua alma no futuro – seja afetada, em todas as dimensões, já a partir deste tempo presente, pelo amor de Deus manifesto em nós e através de nós.

Um incentivo missionário à multiplicação de igrejas sem a devida compreensão e consciência de que o fazemos por amor às pessoas, desejando que suas vidas, em todas as áreas, sejam envolvidas pelo amor de Deus, faz com que multipliquemos organizações eclesiásticas que mascaram as injustiças e os desamores presentes em corações de pessoas que declaram amar missões, mas agem como se não amassem o senhor das missões, nem as pessoas que são o alvo do amor do senhor das missões.


É um pecado terrível pensar que estamos ensinando uma nova igreja a ser missionária pelo fato de a ensinarmos, primeiramente, a dar ofertas para agências missionárias, desde a sua organização, sem que ela -  a novel igreja - esteja consciente e livremente convertida à crença de que dar oferta é uma, dentre “N” manifestações do amor de Deus que podemos e devemos demonstrar às pessoas em suas mais diversas necessidades.


Não ensinemos pessoas a “amar missões”, isso é pecado. Que nós as ensinemos a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmas; que todo investimento feito como manifestação de amor pelas pessoas é investimento missionário, inclusive investimentos financeiros que visam sustentar pessoas ou agências missionárias com o objetivo de, através delas, tornar real nosso amor pelo semelhante como um ser integral em suas múltiplas dimensões.

5 comentários:

ethos 10 de setembro de 2016 às 12:34  

Analise show,precisa e iluminadora.

Unknown 18 de setembro de 2016 às 08:25  

Que o Senhor continue te abençoando no cumprimento do vosso exercício profético.

Unknown 25 de setembro de 2016 às 00:15  

Gostaria de lhe agradecer por ter compartilhado uma reflexão tão lúcida e comprometida com aquilo que foi o tema do texto, a nossa missão enquanto filhos de Deus, mas não só, também como seres humanos em busca de uma humanidade melhor.

Unknown 25 de setembro de 2016 às 00:16  

Que Deus continue lhe abençoando!

Ivana Moreira 16 de outubro de 2016 às 00:08  

Que o Esprito Santo do Senhor continue abençoando-lhe, Pastor. Sábia e lúcida reflexão.