Amor a missões, uma senha para o pecado.
Edvar Gimenes
de Oliveira
Uma das palavras mais fortemente
incentivadas no meio batista é a palavra “amor a missões”. Por ter um
significado positivo entre nós e, portanto, trazer consigo um forte elemento de
aceitação, de inclusão, todos os que circulam nos meios denominacionais
batistas, especialmente pastores e líderes, se empenham para, de alguma forma, associar
seu nome à frase “amor a missões”.
Ter o nome associado a esta frase é
uma espécie de senha que permite acesso a todos os espaços de poder e prestígio
denominacionais. Para conseguir essa senha, basta participar de viagens missionárias;
contribuir para algum programa de Adoção Missionária; comparecer a congressos
missionários; integrar-se em um grupo de promoção missionária; contribuir
financeiramente para uma agência missionária ou, pelo menos, declarar, repetida
e publicamente seu “amor a missões”. Isso o tornará uma pessoa recebida com
elogios, aplausos até, especialmente entre os que trabalham com organizações
que sustentam missionários.
A questão é que isso cria um problema
à obra genuinamente missionária, um problema bastante simples. É que enfatizar “amor
a missões” leva muitos a colocar a atividade meio acima da atividade fim, a
substituir o criador pela criatura e o amor às pessoas no cotidiano pelo amor
às empresas que atuam como agências missionárias e aos seus empreendedores.
Não por acaso, conhecemos pessoas que
são extraordinárias promotoras de missões, que arrancam leite de pedra em nome
de missões, mas também são capazes de arrancar o sangue do seu “irmão” que não
se iguala a elas nas prioridades eclesiásticas, nos valores espirituais a serem
enfatizados, nas atividades a serem desenvolvidas.
Pessoas que foram ensinadas a amar
missões sem ser-lhes dito que “amar a missões” não é amar agências missionárias,
seus dirigentes e empreendedores, em detrimento do amor a Deus e ao próximo;
que para Deus, todo o dinheiro que é levantado por “amor a missões” sem o
correspondente amor – que se manifesta em respeito - ao próximo no cotidiano de
nada vale.
Não há na Bíblia uma só recomendação
para que amemos missões.
A recomendação é, primeiro, que amemos
a Deus sobre todas as coisas e, depois, ao próximo como a si mesmo. Ela alerta:
se dissermos que amamos a Deus a quem não vemos e não amarmos ao próximo, a
quem vemos, somos chamados de mentirosos. Isso, mesmo que em alto e bom som,
através de atitudes, palavras ou ações, declaremos “amor a missões”.
Observe que nem estou falando do
paradigma errado que define missões como multiplicação de igrejas. Estou
enfatizando que, se queremos mesmo que a frase “Jesus transforma” seja eficaz,
é essencial deixarmos claro que nosso trabalho missionário é fruto, primeiro de
nossa resposta ao amor de Deus por sua criação e, depois, do nosso desejo de
amar nossos semelhantes – aqueles que estão próximo de nós no dia-a-dia - , a
fim de que sua vida – não só sua alma no futuro – seja afetada, em todas as
dimensões, já a partir deste tempo presente, pelo amor de Deus manifesto em nós
e através de nós.
Um incentivo missionário à
multiplicação de igrejas sem a devida compreensão e consciência de que o fazemos
por amor às pessoas, desejando que suas vidas, em todas as áreas, sejam
envolvidas pelo amor de Deus, faz com que multipliquemos organizações eclesiásticas
que mascaram as injustiças e os desamores presentes em corações de pessoas que declaram
amar missões, mas agem como se não amassem o senhor das missões, nem as pessoas
que são o alvo do amor do senhor das missões.
É um pecado terrível pensar que
estamos ensinando uma nova igreja a ser missionária pelo fato de a ensinarmos, primeiramente,
a dar ofertas para agências missionárias, desde a sua organização, sem que ela - a novel igreja - esteja consciente e
livremente convertida à crença de que dar oferta é uma, dentre “N”
manifestações do amor de Deus que podemos e devemos demonstrar às pessoas em
suas mais diversas necessidades.
Não ensinemos pessoas a “amar missões”,
isso é pecado. Que nós as ensinemos a amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmas; que todo investimento feito como manifestação de
amor pelas pessoas é investimento missionário, inclusive investimentos financeiros
que visam sustentar pessoas ou agências missionárias com o objetivo de, através delas, tornar real nosso
amor pelo semelhante como um ser integral em suas múltiplas dimensões.
5 comentários:
Analise show,precisa e iluminadora.
Que o Senhor continue te abençoando no cumprimento do vosso exercício profético.
Gostaria de lhe agradecer por ter compartilhado uma reflexão tão lúcida e comprometida com aquilo que foi o tema do texto, a nossa missão enquanto filhos de Deus, mas não só, também como seres humanos em busca de uma humanidade melhor.
Que Deus continue lhe abençoando!
Que o Esprito Santo do Senhor continue abençoando-lhe, Pastor. Sábia e lúcida reflexão.
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