A Convenção Batista Brasileira e as eleições presidenciais de 2026
A Convenção Batista
Brasileira e as eleições presidenciais de 2026
Edvar Gimenes de
Oliveira,
Pastor batista,
Inscrição 5196, OPBB
Recife, PE
Parte
significativa da liderança da Convenção Batista Brasileira é uma ferramenta
eficaz da extrema direita norte americana. Digo parte da liderança, porque a
subserviência não se dá através de acordos políticos explícitos, públicos,
debatidos, transparentes, assinados. Se dá de forma sútil, em acordos
silenciosos, embalados em ações religiosas e vou demonstrar como.
Que
a Convenção Batista Brasileira mantém vínculos fortes com a Convenção Batista
do Sul dos Estados Unidos, isso é indiscutível e não seria um problema em si
mesmo, se a relação fosse de cooperação e não de subserviência. Eu mesmo fui
batizado por um missionário norte americano, no final da década de 60, no
interior de São Paulo e não trato isso como problema para minha identidade.
O
problema é que, a partir do final dos anos 70, uma mudança profunda aconteceu
na Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos que afetou um dos pilares mais
importantes da teologia e eclesiologia batista: o princípio do governo
democrático. (Democrático aqui não se refere apenas ao modelo eleitoral de
escolha dos dirigentes, mas também a outros arquétipos, valores, que constituem
uma democracia, como transparência, igualdade de condições, diálogos públicos,
sistema de alternância, etc)
Por
entender e crer no sacerdócio individual de cada crente, para os batistas, o
modelo de governo congregacional, democrático, seria o que melhor se afinaria
com essa compreensão teológica. Se todos somos iguais perante Deus, a melhor
maneira de reconhecer isso na forma de governo seria através da divisão
igualitária de poder. E, se alguém da comunidade precisasse ter mais poder,
isso se daria através das atribuições conferidas democraticamente pela
comunidade e não através da tomada ou, muito menos, da usurpação do poder pelo
poder.
Mudando
essa lógica, a extrema direita da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos
articulou-se, usou a democracia para eleger seus representantes, assumiu o
poder nos cargos da administração das insntituições, colocou, literalmente,
para fora os divergentes e assim passou a controlar àquela Convenção, desde o
final da década de 70. Os motivos iniciais usados foram teológicos, mas a
história, 45 anos depois, demonstra a preponderância das razões
político-ideológicas. (Essa Convenção pode não ter sido a única forma, mas,
certamente, foi um laboratório para o que hoje acontece nos Estados Unidos e se
tenta fazer mundo afora através da religião).
Uma
subserviente liderança da Convenção Batista Brasileira, tentou reproduzir o processo/modelo
no Brasil. No início da década de 80, iniciou-se um processo de perseguição,
nos seminários, expulsando professores cuja posição não agradava aos batistas
do Sul, agora sob o comando (não liderança) da extrema direita.
(Abrindo
parênteses)
(O
ano era 1983 e eu era concluinte de teologia do STBNB. Lembro-me da noite em
que fui visitado em meu apartamento, no Edf. Canadá do STBNB, pelo missionário,
então executivo da Convenção Batista Alagoana e pastor interino da Igreja
Batista do Pinheiro. Ele me disse que soube do interesse dos membros dessa
igreja em ter-me como pastor, informou-me que esteve com Dr. David Mein, então
reitor do Seminário, o qual teria recomendado meu nome, mas gostaria de saber o
que eu pensava de um editorial d”O Jornal Batista.
Abriu
o jornal sobre a mesa, leu e perguntou qual seria minha posição sobre ele.
Tratava-se de um debate que acontecia à época (julho, agosto de 1983) na
liderança da CBB, entre o diretor d”O Jornal - José dos Reis Pereira -, aliado
da nascente extrema direita no comando da Southern Baptist Convention - SBC e o
então superintendente da JUERP – José Carlos Torres -, conhecido por suas
posições progressistas.
Expus
a ele minha posição – tinha em torno de 26 anos de idade – e ele decidiu que
referendaria meu nome (apesar das minhas posições...). Isso já sinalizava o
raiar de um novo tempo na CBB, de fiscalização ideológica acentuada. Por isso
acompanho com atenção, desde então, cada movimento dela, no Brasil e fora dele).
(Fechando
parênteses)
Desde
então, “capitães do mato” dentro da CBB, passaram a procurar os meios mais
eficazes de policiar político-ideologicamente o sistema e encontrar formas de
inibir a participação de quem não rezava segundo essa cartilha.
A
“liberdade e democracia batista” passou a viver do passado e a ser discursiva,
mas a prática, antagonicamente, tornou-se sutil, fraterna e gentilmente autoritária,
através de mecanismos estatutários e políticos que têm sido aperfeiçoados até o
dia de hoje, cada vez mais draconiano.
Nesse
processo, o principal “gol da vitória” da extrema direita foi marcado em 2007,
sob a presidência de Paschoal Piragine, na cidade de Florianópolis.
A
estrutura organizacional foi reestruturada, sob argumento de maior eficácia
administrativo-financeira (cujos resultados nunca foram avaliados formalmente,
mas há evidências a serem comprovadas de fracasso) e um super Conselho foi
criado, com uma composição interna administrativamente ineficaz (em alguns
casos patética, “pra inglês ver”), que eliminou o princípio do revezamento
pleno e tirou o poder da Assembleia da CBB em sua composição, mas tem sido decisivo,
politicamente, para o projeto de aprofundamento do controle do pensamento dos batistas
e utilização do sistema em favor de interesses político-partidário-ideológicos,
através de meios que citarei posteriormente.
A
partir daí, nesses quase 20 anos pós reestruturação, usando-se estratégias político-eleitorais
eficazes, os batistas do Paraná, através de Paschoal Piragine, Roberto Silvado
e Hilquias Pereira dirigiram a CBB a serviço da extrema direita norte-americana
(confira o livro “A noiva sob o véu, organizado por Sérgio Dusilek). Nos hiatos
dos mandatos desses, aliados ideológicos ocuparam o cargo, tudo em nome de “Deus,
acima de tudo” e a “direita acima de todos”, direita e esquerda, como no
período da revolução francesa. E o povo, parafraseando personagem de Chico
Anysio, ó!
Não
por acaso, a Faculdade Batista do Paraná, sem tradição e a serviço da extrema
direita, passou a ser referência à educação teológica batista, acolhendo
professores dos demais seminários para se especializarem em “teologia”.
O CASO LIFESHAPPE, A CHICK-FILL-A E O CONTROLE POLÍTICO DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA
A *Convenção Batista Brasileira – CBB*, é um sistema, parte de um sistema *batista* mais amplo que, por sua vez, é parte de um sistema *cristão* mais amplo que, por sua vez, é parte de um sistema *religioso* mais amplo que, por sua vez...
No sistema do qual faz parte, a CBB controla instituições educacionais que influenciam alguns milhões de brasileiros que transitam pelas igrejas a ela filiadas. Esse sistema inclui educação formal para preparo de lideranças, educação para o direcionamento da vida dos membros das igrejas, produção de literatura para esses processos educacionais e de eventos para capacitação técnica e manutenção ou atualização de conhecimentos e sua relação com o cotidiano. Sutilmente em nome de *Deus acima de tudo e atualmente, infelizmente, da extrema direita acima de todos*.
Parte das pessoas que frequentam igrejas batistas pensam que ser batista é pensar igual, é obedecer ao pastor em tudo na vida, inclusive nas políticas. A aluna que chega no seminário para ser pastora, pensa que ser pastora batista é reproduzir o pensamento de seus professores. Assim, vai se formando uma geração de pessoas sem autonomia de pensamento, subservientes, acríticas, exatamente do jeito que quem lucra com isso quer.
Como os primeiros batistas no Brasil vieram com o pensamento e cultura religiosa do homem branco do sul dos Estados Unidos (o registro de missionário norte-americano preto no Brasil é raríssimo), há 154 anos a educação bancária recebida se perpetua e somos ensinados que ser batista é seguir essa cultura do homem branco do sul dos Estados Unidos, conhecido por posições de resistência a mudanças necessárias à vida em sociedade, por mexerem com seus privilégios.
E não só isso: a compreensão é que somos o quintal dos Estados Unidos. Por isso, nossas posições políticas devem ser favoráveis aos interesses político-econômicos norte-americanos. Isso, inclusive, já foi defendido de maneira explicita por “pensadores” do Conselho da CBB.
Portanto, se mais da metade do povo batista brasileiro se posiciona na extrema-direita (explicarei o significado disso na última parte do texto), isso não se dá por acaso. Ninguém nasce extrema-direita, tornar-se extrema-direita. Isso, em grande parte, tem a ver com o sistema educacional batista aprisionado aos interesses, repito, do homem branco do sul norte-americano.
*A LIFESHAPPE, A CHICK-FILL-A: O CASO MAIS RECENTE DE DOMINAÇÃO DA EXTREMA DIREITA SOBRE A CABEÇA DOS BATISTAS BRASILEIROS VISANDO AS ELEIÇÕES DE 2026*
Estamos a 13 meses, aproximadamente, das eleições para presidente do Brasil. Nesse mês de julho, educadores batistas das várias convenções estaduais se reuniram em Brasília para “um alinhamento” de pensamento promovido pela CBB. O Paraná – desgastado pelas revelações da “vasa-jato” que empurrou o batista Deltan Dalagnol para fora da linha de fundo – abre espaço como centro irradiador da ideologia da extrema direita entre os batistas e dá lugar ao Distrito Federal. *O pulo do “gato” é a organização responsável pelo “treinamento” de batistas - Lifeshappe Brasil* .
A Lifeshappe é uma organização de origem religiosa, interdenominacional, americana, que atua em 64 países. Seu foco é o desenvolvimento de liderança e transformação social. Sua proposta é o desenvolvimento de uma liderança *“serva”* (quando a educação não é libertadora, servo pode significar servil). Um treinamento foi realizado por ela, em Brasília, para educadores e, em janeiro, ela também desenvolverá atividades com filhos de pastores batistas, em Salvador, no período da Assembleia Anual da CBB, segundo vem anunciando a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - OPBB.
Essa organização – LIFESHAPPE – teria sido criada pela filha do dono de uma cadeia de restaurantes dos Estados Unidos chamada *Chick-fill-A*, conhecida por seus sanduiches de frango.
A *Chick-fill-A* é uma “rede de fast food conhecida por suas convicções religiosas conservadoras” e “tem sido alvo de controvérsias devido às suas contribuições financeiras para organizações anti-LGBTQ+ no passado”, gerando “protestos e boicotes em algumas cidades, como Nova York”. (Lembremo-nos de que o combate aos LGBTQ+, está entre as iscas mais deliciosas e atraentes para pescar batistas para o aquário da extrema direita. Sobre isso falarei na conclusão).
*A pergunta é*: uma Convenção com 3 seminários, sendo um deles o mais antigo da América Latina, o STBNB, com 123 anos, além de dezenas de outras casas de formação de liderança, *precisa de uma organização americana e ainda mais com esse histórico, para treinar lideres batistas brasileiros e para capacitar filhos de pastores ?*.
*MISSIONÁRIOS DA INTERNATIONAL MISSION BOARD DA AMÉRICA LATINA*
No último 06 de agosto foi feita uma publicação da CBB no Instagram, noticiando “reunião estratégica” de representantes das organizações da CBB com missionários da International Mission Board da América Latina, onde se discutiu as prioridades dos seminários, das juntas, da JBB.
*Pergunto*:
*a)* Com 117 anos de existência, quem deveria estar definindo as estratégias para o trabalho da Convenção Batista Brasileira não seriam as lideranças das igrejas batistas da CBB?
*b)* Com 117 anos de existência, precisamos dessa tutela?
*c)* A quem interessa as estratégias que estão sendo articuladas?
*d)* À luz de toda a movimentação política do governo norte-americano, no sentido de não perder a América Latina e o Brasil como seu “quintal” e entrando na reta final para uma eleição presidencial, na qual o governo atual dos Estados Unidos declara, sem pudor, seu objetivo de controlar a América Latina, é razoável que a CBB se deixe envolver por este tipo de “estratégia”?
Observe que isso não tem a ver com xenofobia, mas com a denúncia de alinhamentos extremamente suspeitos, às vésperas de mais um ano eleitoral, numa denominação marcada por perseguições de natureza política contra membros de igrejas a ela filiadas que questionam seus procedimentos, suas escolhas e não se dobram aos seus “pretensos coronéis”.
Poderia citar diversos outros casos vinculados às Juntas Missionárias, organizações de mulheres, de jovens, etc, e como cada uma se deixa controlar pela extrema direita norte americana através da teologia ideologizada, da literatura e eventos que produzem, mas prosseguirei revelando como o sistema se mantém alinhado.
É importante destacar que *o sistema eleitoral, para eleger a diretoria da CBB, é democrático*. Qualquer mensageiro inscrito na Assembleia pode ser indicado e concorrer ao cargo. O cargo não é financeiramente remunerado. Pode ser uma oportunidade de serviço genuíno ou de manipulação do poder, de prestígio, de abertura de oportunidades, enfim. Entretanto, há maneiras de viabilizar ou inviabilizar candidaturas, através de sistemas de pré-seleção não oficiais.
Uma dessas maneiras é o processo de diálogos articuladores nos corredores através dos quais se define em quem votar e em quem não votar. E, na reta final do processo eleitoral, é muito comum mensageiros com pouco envolvimento denominacional, pedirem orientação aos seus pastores que, geralmente, estão mais por dentro da política de bastidores.
A outra maneira de influenciar o processo eleitoral e emplacar candidatos é na definição de quem serão os preletores no evento, especialmente da Assembleia em si da Convenção, das assembleias da Ordem dos Pastores e da União Feminina, que são as mais representativas.
Outra maneira tem a ver com as indicações dos dirigentes das Câmaras Setoriais que acontecem durante a Assembleia. As pessoas indicadas têm maior potencial de terem seus nomes lembrados no momento da votação por um grupo significativo de mensageiros.
Vale destacar que, tanto a indicação de preletores à Assembleia Geral e de dirigentes de Câmaras é feita pela diretoria.
Lembro-me de dois casos emblemáticos: numa certa assembleia, havia um líder dado como certo para ser eleito presidente. Entretanto, a diretoria escalou para pregar todas as manhãs, inclusive imediatamente antes das eleições, um pastor afinadíssimo ideologicamente com quem estava saindo, mas pouco conhecido fora de sua região. O pregador foi eleito e se tornou um dos que mais usou o cargo para fazer a política da extrema direita e de combate aberto ao hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outro caso, foi não só a escala de um filho de um ex-presidente da CBB, militante da extrema direita, para pregar imediatamente antes do processo eleitoral, mas também, ao final de sua pregação, o convite de uma pessoa de sua Convenção Estadual para orar por ele. A “oração”, isto é, as palavras ditas sobre o pregador na oração, foram decisivas para que um jovem totalmente desconhecido do povo batista, sem qualquer experiência anterior na CBB, fosse eleito à diretoria.
Apesar disso, ao final do processo eleitoral, ora-se, empossando-se os eleitos como sendo da “vontade de Deus” e o povo diz: “Amém”.
Vez por outra o esquema não funciona, afinal, o controle humano é limitado. Então, Deus encontra uma brecha e age.
*Quando um batista se torna defensor da extrema direita*, isso se dá primeiramente pelas relações afetivas por ele construídas com um missionário norte-americano ou com um pastor amigo do amigo do amigo do missionário, enfim.
Isso não se dá, primeiramente, portanto, pela consciência das consequências sociais, políticas ou econômicas dessa escolha. A ele não foi dada a oportunidade, pelo menos não dentro de instituição batista, de conhecer os postulados teológicos, filosóficos, econômicos de um lado ou de outro e, muito menos, do que se pode inferir do evangelho de Jesus.
A ele é oferecida uma relação aparentemente benéfica para o “reino de Deus”, de relacionamento com pessoas do país mais poderoso do mundo, que falam em nome de Deus. Em sua maioria, pessoas muito agradáveis, mas muitas delas com uma ideologia que garante vida melhor no céu para os brasileiros e latino-americanos, enquanto a vida melhor na terra fica para eles e para os “zaqueus” (geralmente alimentados pelo prestígio e “poder” do cargo ou pelo bom salário) que, em seu nome, transformam o povo batista, através de processos educacionais alienantes, em subservientes defensores de suas ideologias.
*(Parte 3/3)*
Compreendendo os
conceitos direita e esquerda à luz da história, da filosofia e da psicologia e
oferecendo um caminho de convivência “tolerante” entre diferentes, à luz do
evangelho
Nas duas primeiras partes deste texto,
demonstrei que a Convenção Batista Brasileira – CBB, através da maioria de seus
atuais dirigentes, subserve à Southern Baptist Convention – SBC.
Essa subserviência é evidente pelo fato de ser
uma *relação de cooperação estratégica* na qual um lado – o do norte - diz o
que fazer e o outro – do sul, segue a cartilha. Portanto, não há troca
cooperativa, não existe reciprocidade. Existe servilidade.
Os professores dos seminários brasileiros não
dão aulas em seminários da SBC; os pastores brasileiros, não pregam em
Assembleias da SBC; as igrejas e organizações da SBC não utilizam literatura
produzidas por brasileiros; as igrejas da SBC não cantam produções musicais
brasileiras.
(Esses são exemplos dos mecanismos de
aculturação política – imposição de arquétipos, valores, prioridades,
identificação e solução de problemas, etc, - através da religião, da
denominação, da marca, do selo batista).
Perante o público batista brasileiro tais
dirigentes se colocam como leões da fé, mas diante da SBC parecem gatinhos
dóceis em nome de relacionamento estratégico. Estratégico para quem? De que
maneira, se só recebemos e nada podemos oferecer?
A contribuição “estratégica” norte-americana
não é gratuita. “There is no such thing as a free lunch” . Ou, num bom
português: Não existe almoço grátis. É uma mistura de interesses nos quais “deus”
é figura de linguagem, é metáfora. Há pessoas sinceras? Sim. Há inocentes úteis?
Sim. Há má-fé? Sim, e muita. Cabe a cada um, em cada caso, distinguir cada um.
A Southern Baptist Convention - SBC está para o
Partido Republicano o que os Sindicatos estariam para o Partido Democrata.
Trazendo para a realidade brasileira, seria o mesmo que dizer que a Convenção
Batista Brasileira estaria para o PL de Jair Bolsonaro o que a CUT já esteve
para o PT de Lula.
Hoje,
essas duas convenções se tornaram o braço religioso dos partidos de direita em
seus respectivos países, especialmente quando controlados pela *extrema direita*,
“heresiando-se” de sua natureza e finalidade. Uma, arrogantemente, mais
explicita, outra, perigosamente, mais disfarçada.
Gostaria, então, de, nesta última parte deste
texto, oferecer aos batistas não alinhados uma trilha, uma possibilidade, do que
poderia conduzir a Convenção Batista Brasileira a *libertar-se dessa
condição política*, cuja característica é, repito, ser braço *da*
extrema direita norte americana, representada pela SBC, *e do* PL de
Jair Bolsonaro, e seja uma Convenção coerente com sua natureza estatutária e
princípios teológicos e eclesiológicos batistas.
Para que a leitora entenda o que isso
significa, segue um resumo do que é oferecido neste texto:
*a)* distinção puramente didática entre
direita e esquerda por três ângulos diferentes,
*b)* seguida de uma identificação da extrema
direita que a diferencia da direita, para, ao final,
*c)* apresentar evidências da ligação de
parte da liderança da CBB com a extrema direita e
*d)* indicar princípios identificadores do
evangelho de Jesus e como a CBB conseguiria manter-se fiel a ele, sem se tornar
ferramenta político-partidária, em meio a inevitáveis ideologias que, como
sangue, correm entre as veias da sociedade.
1.
*Direita e esquerda numa compreensão político-histórica*
É
amplamente conhecido que o surgimento dos conceitos direita e esquerda se deram
*na história da Assembleia Nacional Francesa*, nos tempos da revolução
daquele país. Os que defendiam a monarquia ocupavam à direita do plenário e os
que defendiam mudanças nas relações sociais humanas e institucionais, ocupavam
o lado esquerdo.
Desse
fato histórico-político nasce a definição que declara *ser de direita* aquelas
pessoas que se posicionam ao lado dos interesses de quem ocupa o poder político
e econômico e usufruem de privilégios, em detrimento dos interesses *das
populações (esquerda)* que participam da sociedade com a mão ou mente de
obra, sem usufruírem, de maneira digna, justa, dos resultados
econômico-financeiros do seu trabalho, nem participarem dos lobbies políticos
que definem os rumos das escolhas das políticas públicas.
Diante
dessa definição geográfica, numa sala de Assembleia, é mais fácil compreender e
posicionar-se, pois o referencial é objetivo. Ou se está *do lado dos que
detém* o poder político-econômico ou se está *do lado de quem só tem*
como alternativa, oferecer sua mente ou mão de obra.
Ao
meu ver, as escolhas da CBB conservam os interesses dos que detém o poder
político-econômico, e não o da maioria absoluta dos membros, empobrecidos, das
igrejas e do país.
2.
*Direita e esquerda numa compreensão psicológica*
A
perspectiva psicológica aqui exposta retrata a compreensão dos conceitos
direita e esquerda a partir da fala de Luiz Hanns (Psicólogo e administrador)
em vídeo disponível no You Tube, sob o título “os perfis psicológicos de quem é
de direita e de quem é de esquerda”.
Para
ele, *a motivação para uma pessoa votar não está relacionada somente a
qualidade do governo ou a história de um partido* que governou. Defendendo
essa compreensão, ele faz menção a pesquisas em psicologia e neurociência,
feitas por Jonathan Haidt (1963) em cinco continentes e países diferentes, que
concluíram que as escolhas *decorrem de uma simpatia visceral, quase que
genéticas*.
Nessas
pesquisas, identificaram que as escolhas eleitorais das pessoas giram em torno
de 5 fontes iguais, mas a forma de interpretá-las, de encará-las diferencia
direita de esquerda. São elas:
1. Noção de compaixão;
2. Noção de Justiça e
reciprocidade;
3. Noção de pertencimento;
4. Noção da autoridade, da
ordem, do respeito;
5. Noção de pureza, de
virtude.
*Eleitores
mais à esquerda*:
*a)*
priorizam a ideia da compaixão e de governos que dão suporte aos necessitados.
*b)*
Enfatizam mais a justiça em função do empenho do que do resultado
(meritocracia).
*c)*
A autoridade é vista como hierarquias rígidas que desprestigiam pessoas abaixo,
na hierarquia.
*d)*
Tendem a preferir a diversidade no item pertencimento, enquanto os da direita,
mais a uniformidade e entendem a rigidez dos costumes como sufocantes.
*Eleitores
mais à direita*
tem a compreensão inversa:
*a)*
Aceitam a convivência com o diferente, mas não se sentem confortáveis,
preferindo a exclusão.
*b)*
Enxergam a organização como importante para escaparem da anarquia e se manterem
em harmonia.
*c)*
Para esses, a compaixão é mais restrita ao seu grupo e justiça é relacionada à
meritocracia.
Numa
experiência com *escolha de cachorros*, os da *esquerda* preferiram mais um que
brinca, enquanto os da *direita* preferiram mais um que guarda, que os proteja.
Numa
segunda experiência *neurológica*, percebeu-se que os eleitores da *direita*
teriam uma amídala maior, enquanto nos de *esquerda*, a amídala seria mais
relaxada.
Enquanto
os da *esquerda* apresentaram menos medo, os da *direita* se caracterizavam por
maior rejeição a odores e aparência desagradáveis
Luiz
Hanns conclui seu pensamento enfatizando que tais diferenças são necessárias à
sociedade, à cooperação comunitária. Portanto, *a convivência, não a
radicalização excludente, deve ser preservada*.
Esse
critério é mais subjetivo, portanto, mais difícil de definição, uma vez que
cada pessoa não é absolutamente “preto ou branco”, mas portadora de “50 tons de
cinza”.
Reconheço
que genótipo + fenótipo = comportamento. Reconheço, por isso que o modelo de
ser de cada um seja imutável. Reconheço
que a cultura, a educação, o meio ambiente, portanto, têm poder para mudar as
escolhas à luz dos benefícios, desde que haja estímulo suficiente.
Quando
digo que as escolhas da CBB, feitas por parte dos empoderados atuais dirigentes
favorecem à direita e, pior, à extrema direita, reconheço que isso se dá não por
determinação genética de seus integrantes, mas por conveniências políticas.
Por
exemplo: A CBB escolheu o seguinte tema e divisa para 2025:
Tema:
"Anunciemos
o Amor Gracioso"
Divisa:
"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós". I João 3:16ª
*O tema é maravilhoso, mas a divisa foi assassinada
por uma escolha hermenêutica alienadora, verticalizadora, futurista, que nenhuma
motivação produz em favor dos efeitos reais do texto na vida social. *Leia o
texto completo*:
¹⁶
Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, *e
devemos dar a nossa vida por nossos irmãos*.
¹⁷
Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se
compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? (1 João 3:16,17)
*Ao
assassinar o ensino do texto, os dirigentes da CBB estão negando ao povo
batista a importância da função social do amor, a negação de suas implicações
relacionadas aos empobrecidos, mantendo o povo batista na alienação, com aparência
bíblica, religiosa. Isso é negacionismo, é postura de extrema direita*, é
leitura enviesada da Bíblia.
3.
*Direita e esquerda numa compreensão
filosófico-conceitual*
Para
compreender um caminho mais ‘filosófico-conceitual”, recorro ao livro de João
Pereira Coutinho, intitulado “As ideias conservadoras explicadas a
revolucionários e reacionários”.
Como
que na defensiva, o autor procura *desvincular as ideias da direita (chamada
também de “ideias conservadoras”)*, do autoritarismo e supressão de
liberdades individuais (extrema direita ou esquerda) *e associá-las* à
preservação do que há de melhor na “tradição democrática” para garantir “a paz,
a liberdade dos cidadãos e o vigor democrático das instituições”.
(Essa
compreensão é muito importante para diferenciarmos direita de extrema direita)
As
pessoas de direita *não se movem em função de uma sociedade ideal*, mas
em função de inimigos presente, concretos, caso a caso. Somente diante desses
elas se posicionam ideologicamente. Por isso *a direita não é proposicional
ou ideacional e ativa*, mas posicional, reativa. Ela afirma o real e foge
do abstrato. (Mas é a capacidade imaginativa, abstrata, de antecipação do homo sapiens
que pode tornar nossas vidas melhor).
As
pessoas de *direita consideram mudanças perversas, fúteis e ameaçadoras*.
Elas *são apegadas a tradições* e, quanto mais tempo uma tradição dura,
mais os adeptos da direita usam isso – a duração – como motivo para se apegarem
mais a elas, pois a duração ocorreria, segundo elas, justamente por suas
virtudes.
As
pessoas de *direita* defendem que o indivíduo é livre para se posicionar
sem coerção de terceiros. Já a *esquerda* valoriza a igualdade ou a
justiça social e defende a distribuição equitativa dos recursos, por isso
lidaria melhor com o abstrato, o intelecto.
Observa-se
também aqui, que esses elementos fazem parte de e4scolhas culturais e,
portanto, podem ser modificados à luz de uma construção cooperativa, coletiva, de
interesses comuns, portanto, benéficos à coletividade e não apenas a parte dela.
3.1.
*A extrema direita como um desvio*
Quando comparamos a direita com a extrema
direita, percebemos que a diferença está na tonalidade. Em outras palavras, as
características básicas são as mesmas, mas a forma de lidar com elas,
especialmente quando confrontadas com a esquerda, é diferente.
A *direita consegue, por exemplo,
participar do jogo democrático, enquanto a extrema direita não*, por isso,
quando não consegue subvertê-lo, usa de todas as trapaças possíveis para
miná-lo e assim impor sua vontade. (O mesmo pode ser dito da extrema esquerda,
mas não é o caso, no Brasil, no momento, porque essa está sem poder político
representativo relevante).
Para fins de referência, disponibilizo 14
pontos produzidos por Humberto Eco (O fascismo eterno) que, segundo ele, caracterizariam
a extrema direita (ou o fascismo).
A leitura indica que a diferença entre
direita e extrema direita está na forma radicalizada, usurpadora, obscurantista
de lidar com cada um destes aspectos. São eles:
1.
Culto à tradição
2.
Culto à ação pela ação
3.
Rejeição ao modernismo
4.
Medo das diferenças
5.
Apelo à frustração social
6.
Obsessão por conspiração
7.
Desprezo pelos fracos
8.
Machismo e armas
9.
Educação de todos para se transformarem em
heróis
10.
Adoção do populismo seletivo e carismático
11.
Desenvolvimento de linguagem própria
12.
Entendimento de que discordância é traição
13.
Compreensão da figura do inimigo com
humilhação
14.
Entendimento de que pacifismo significa
conspirar com o inimigo
Ainda, diferenciando a direita da extrema
direita, a *direita* reconhece uma multiplicidade de valores e de escala
de valores, bem como de objetivos individuais, mas defende que não compete ao
Estado definir esses valores, prioridades e objetivos, e sim cada indivíduo.
Já os de *extrema direita* não se
satisfazem em poder escolher os valores que devem nortear sua vida, sem prejuízo
dos demais. Eles defendem que todos os participantes da sociedade, seja Estado
ou Religião, sejam obrigados por lei a valorizar, priorizar e objetivar de
maneira uniforme, o que eles acreditam, em nome, repito da metáfora, da figura
de linguagem “deus”.
A *direita* consegue compreender, em
outras palavras, que uma agenda mínima, no campo da moral ou da ética, pode ser
definida democraticamente, diferente da *extrema direita*, cuja política é de imposição,
monocrática e monomaniacamente.
4.
Evidências de que a liderança da Convenção
Batista Brasileira é comprometida com a extrema direita.
Que
parte significativa da liderança da Convenção Batista Brasileira é comprometida
com a direita, isso é indiscutível. As estruturas religiosas geralmente
caminham ao lado do poder e do prestígio, manipulando os enfraquecidos.
Essa
parte da liderança não sente dificuldade alguma em definir-se como conservadora
(sinônimo de direita), sem deixar claro “conservadora em que”, como se esse
rótulo fosse virtuoso em si mesmo. Esse obscurantismo, essa resistência a clarear
o conceito e seu contexto, é próprio da extrema direita que, por definição, é
manipuladora.
Em
2022 o então presidente da CBB prometeu em vídeo que reforma da Declaração
Doutrinária da CBB não seriam feitas na Assembleia de 2023, no Recife.
Entretanto, no intervalo de uma sessão devocional, no qual o espirito de
questionamento coletivo está psicologicamente sob controle, desceu-se goela
abaixo um temas de natureza ética, não doutrinária, polêmico, sem qualquer
debate anterior, incluindo-o na Declaração. Esse espirito impostor é postura de
extrema direita.
A
CBB, quando demoniza, marginaliza, exclui quem não adere à cartilha de seus
dirigentes, demonstra com isso ser de extrema direita.
Saliente-se,
portanto, que a autodefinição “conservadora” não está relacionada ao sentido
etmológico ou filosófico da palavra, mas ao sentido histórico-político. Todos
somos conservadores em muitas escolhas. Mas, no caso desses dirigentes, *a
palavra conservadora tem um sentido publicitário*, trata-se apenas de um
nome que vincula seus usuários a uma ideologia político-partidária: a da
extrema direita branca do sul dos Estados Unidos, hegemônica na SBC.
Participando
há meio século da vida denominacional batista e a quase isso, de reuniões de
órgãos da CBB ou analisando a literatura por ela disponibilizada aos fiéis,
identificamos os seguintes elementos que permitem que ela seja caracterizada de
extrema direita:
1. Ênfase nos “valores
cristãos” sem dizer quais são e porque são escolhidos, permitindo uma confusão
entre costumes ou moral com valores e princípios;
2. Crítica ao comunismo
como se esse fosse um inimigo real no Brasil, sinalizando que só existiria a
possibilidade de alinhar-se a dois modelos. Isso nega aos países a busca de modelo
social próprio que melhor atende as necessidades de dignidade do seu povo.
Rotular, pejorativamente, processos de busca por mudanças é mecanismo de resistência
que favorece a quem domina;
3. Classificação de costumes
relacionados ao corpo (divórcio, homossexualidade, aborto...), como se fossem
valores ou princípios e omissão diante de pautas econômicas, ecológicas, de
direitos humanos, sem se importar com empobrecidos, jornada de trabalho, destruição
do meio ambiente, racismo, etc;
4. Política
antidemocrática na escolha de dirigentes e professores das instituições de
ensino, produção de literatura ou escolha de preletores de eventos;
5. Uso da mentira, da
obscuridade, na eliminação dos divergentes como meio de manutenção do poder;
6. Adoção de alinhamento
aos interesses ideológico-partidários da direita e extrema direita, que não foram
oficializados democraticamente em assembleias, caracterizando clara usurpação
de poder e corrupção política dos princípios batistas e da ordem estatutária;
7. Esperteza maligna no uso
de púlpitos e mesas diretoras das assembleias e eventos denominacionais, excluindo
quem não reza por suas cartilhas, fortalecendo suas crenças e conveniências
diabólicas por contrariarem o espírito do evangelho de Jesus Cristo. (Exemplos:
presença de Bolsonaro e bolsonaristas em púlpitos batistas em Salvador, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, etc);
8. Manifestações através
de documentos escritos ou orais de presidentes da CBB fortalecendo interesses
da direita em detrimento dos da esquerda sem aparo estatutário ou doutrinário
para tal, especialmente nos últimos 17 anos;
9. Impedimento de tensões
necessárias (Exemplo Atos 16) quando se depara com interesses do poderio
econômico, mas claro discurso crítico quando se trata de combater
marginalizados ou empobrecidos, sem poder ou prestígio político;
10. Realização de seus
eventos em ambientes que inviabilizam financeiramente a presença de
empobrecidos ou exigem sacrifício extraordinários;
11. Posicionamento alinhado
com a ideologia da direita e não com o evangelho como espectro de sua
ideologia, quando defendem interesses de quem tem poder financeiro, econômico,
político e social, mantendo os que dependem exclusivamente de sua mente ou mão
de obra anestesiados culturalmente, subservientes, silenciosos diante das
injustiças, através de educação teológica, de literatura e eventos produzidos.
Repito:
a CBB se caracteriza como de extrema direita quando seus dirigentes definem,
monomaniacamente, a instituição como conservadora, de direita, *em torno do
rótulo e não de cada situação, cada realidade*.
O
uso desse rótulo é um truque de linguagem, não uma definição de realidades
verificáveis. Isso cria radicalizações, polarizações, competição apaixonada e engana
ingênuos a permanecerem silenciosos, anestesiados, manipulados a serviço dos
interesses da SBC, que se tornou um mecanismo de controle aliado ao poderes
financeiro, econômico, político e social, do imperialismo, nada tendo a ver com
o evangelho de Jesus Cristo. É religião e politica de braços dados a serviço da
opressão, não da libertação.
5. *O evangelho
e sua relação com os postulados da esquerda e direita e sua rejeição à extrema
direita*
Parte significativa da liderança Convenção
Batista Brasileira, seguindo o exemplo da Southern Baptist Convention – SBC,
têm se empenhado na direção de uma mensagem “bibliocêntrica” e não
“cristocêntrica”. Poucos compreendem o significado, a extensão, a ideologia
dessa escolha diferente e até consideram virtude priorizar a Bíblia.
Essa escolha, na CBB, pode ser vista, por
exemplo, em relação aos “Princípios batistas”. Dependendo de quem está no
comando, o primeiro deles – “Jesus Cristo é o Senhor” – é retirado da lista,
seja em literatura, seja em discurso, e, no lugar dele, entra “a Bíblia é nossa
regra de fé e prática”.
Esse detalhe faz toda a diferença, pois a
centralização da Bíblia inclui o primeiro Testamento, *viabiliza* a
defesa do legalismo de “Moisés”, *atende* a política contemporânea
relacionada ao Estado de Israel (simbolizando alinhamento político da extrema
direita em campanhas eleitorais no Brasil e Estados Unidos) e *descarta*
os problemas que a mensagem “subversiva” que a ética do evangelho de Jesus
provocaria nas relações sociais, uma vez que o evangelho de Jesus em seu
aspecto ético:
12.1.
valoriza primeiro o indivíduo em relação às
instituições;
12.2.
enfatiza mais a inconformação do que a
tradição;
12.3.
dá atenção especial, prioritária, aos
marginalizados e oprimidos;
12.4.
enfatiza prioritariamente a relação com Deus
(abstrato) se contrapondo ao dinheiro (concreto);
12.5.
enfatiza o Reino de Deus, (abstrato), cuja
sustentação são valores éticos ideais (amor, justiça, solidariedade, partilha,
compaixão, honestidade, etc;
12.6.
enfatiza a utopia, pois se guia por valores
desejáveis (arquétipos), não aceitando a realidade pela realidade;
12.7.
empodera fracos e “humilha” poderosos;
12.8.
compromete-nos com a compaixão e a dignidade
humana (Justiça);
12.9.
abre-se a acolhimento de todos os que o
buscam, rejeitando a formação de guetos, não separando o trigo do joio;
12.10.
gira em torno do conceito amor, que une,
aproxima, sendo veementemente contrário ao cultivo do ódio que afasta, exclui,
marginaliza pessoas;
*Considerações
finais*:
Reconheço que os valores éticos do Reino de Deus e os princípios defendidos
historicamente pelos batistas *geram* tensão, *dificultam* a administração, *geram*
insegurança quanto aos resultados numéricos e patrimoniais, *vão*, muita vez, de
encontro a conceitos empresariais modernos, pragmáticos, que visam resultados e
desconsideram os meios.
Essa,
entretanto, é a beleza do evangelho.
Como
batistas, é essencial que tenhamos clareza em torno do que giram nossas vidas:
evangelho de Jesus? Princípios administrativos empresariais? Ideologia político
partidária? Moralismo sem consideração ética?
Se
em 154 anos de presença batista no Brasil conseguimos conviver quase 100 de maneira
menos radicalizada, menos afastada da ética de Jesus, o que nos impede de
retornar ao evangelho, deixando de lado a bibliolatria utilitarista e
politizada?
A
próxima Assembleia da CBB, em janeiro de 2026, em Salvador, tem tudo para ser
dominada por interesses puramente políticos, seja em função da eleição da nova
diretoria, seja por ser ano de eleição para presidente, governadores, senadores
e deputados no Brasil. E agora, com os posicionamentos explícitos do presidente
dos Estados Unidos em transformar o Brasil em seu quintal, isso piora.
Se
quisermos verificar como a relação CBB-política se dará, acompanhe as
publicações, especialmente nas redes sociais, movimentação de preletores e
assuntos nas instituições batistas e discursos em eventos denominacionais.
Exemplo:
o card de oração da Junta de Missões Nacionais nas redes sociais, de 7 de
setembro, trouxe a seguinte mensagem: “Ore para que o Brasil reconheça, *NOVAMENTE*,
o Senhor como sua fonte de vida...”. Esse NOVAMENTE indica que já reconheceu e
se afastou. Isso é fato histórico ou tem a ver com política ideológica?
Creio
ser papel de todos os batistas, de esquerda ou de direita, que acreditam na
democracia, que acreditam que os documentos batistas não favorecem o que tem
sido feito nos últimos anos, repito, o papel de todos é estar de olhos abertos,
denunciando publicamente, a fim de inibirmos os extremistas de plantão que
usurpam os poderes conferidos pelas atribuições estatutárias e manipulam o povo
batista na direção que seus podres interesses, embalados em linguagem religiosa
pietista, convenientemente direcionam.