A alegria de trabalhar
É curiosa, no mínimo, a compreensão de trabalho – e de diversos outros conceitos – que muitos desenvolvem, com base no capítulo 3 de Gênesis. A narrativa tem levado alguns leitores a acreditarem que trabalho seria penalidade pela desobediência, como pode ser lido:
”Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse... com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte a terra, visto que dela foi tirado”. (Gen. 3.17,19)
Entretanto, se trabalho fosse penalidade pelo pecado, teríamos que explicar que pecados Deus e Jesus teriam cometido, à luz da declaração do nosso Senhor, quando diz:
“Meu pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo. 5.17)
Se trabalho fosse penalidade pelo pecado, doce não seria o sono do trabalhador (Ecl. 5.12); talvez não houvesse workaholics e, eu e você, não sentiríamos tanto prazer em trabalhar.
Trabalho não é penalidade, é prêmio. Através dele nossa auto-estima se eleva por nos sentirmos criativos ou bem sucedidos quando atingimos objetivos propostos, ou solidários quando percebemos os benefícios do que fazemos à vida de pessoas.
Não são muitas as palavras que representam tão bem o sentimento de auto-realização de um trabalhador como a descrita pelo narrador do Gênesis para indicar como Deus teria se sentido após seu trabalho criativo:
“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”. (Gen. 1.31)
Trabalho pode soar como penalidade para aqueles que exercem uma profissão somente por causa do salário que recebem ou não compreendem a importância social daquilo que realizam, nem se satisfazem com a qualidade final do que produzem. Aqueles, entretanto, que são convictos da importância do que fazem para indivíduos e coletividade e se sentem desafiados frente às atividades que envolvem seus trabalhos, são pessoas que não se sentem existencialmente vazias, não necessitam de “drogas” para levar avante suas vidas, nem se alimentam de picuinhas.
Quem consegue distinguir trabalho de salário, profissão ou carreira, por exemplo, e tem consciência da relevância do que é capaz de criar, perante si e a sociedade, e envolve seu ser - pensamentos, sentimentos, corpo – em determinado projeto, pode se considerar uma pessoa feliz.
Seria simplismo afirmar que trabalho seja sinônimo de felicidade, até porque o conceito felicidade é bastante desafiador para ser assim definido, mas, inegavelmente, trabalho é fonte de alegria quando sua realização é resultado de motivação interior e produz benefícios a si e aos semelhantes.
Felizes são aqueles que se sentem realizados nos trabalhos que desenvolvem, mesmo não havendo manifestação pública de reconhecimento.
A relação capital-trabalho e as relações de poder nos ambientes empresariais, são assuntos para outra conversa!
1 comentários:
Querido Pr. Edvar.
Belo TRABALHO!
Carinhoso abraço.
Rodolfo - Campinas
Postar um comentário