terça-feira, 6 de abril de 2010

Fidelidade na área financeira


7 razões que me levam a falar sobre dinheiro à igreja
 

Falar sobre dinheiro à igreja, no Brasil, é uma situação constrangedora, por duas razões: primeiro, pela cultura católica, depois, pela prática pós-pentecostal.

A cultura católica dificulta porque até pouco mais de 100 anos a ICAR era a religião oficial no país e, por isso, tinha suas atividades mantidas com os impostos de todos os brasileiros, inclusive dos não católicos. Mesmo hoje, por ter sido favorecida por posse de terra, ela se beneficia de laudêmios, juntamente com a Marinha e a família imperial brasileira e de dinheiro público a título, por exemplo, de preservação de patrimônio cultural. Como os católicos não tiveram a necessidade de sustentar, diretamente, as atividades de sua igreja, acham estranho o levantamento de recursos nos cultos.

Pelo lado pós-pentecostal, o surgimento de igrejas com perfil de empreendimentos financeiros criou uma geração de dirigentes religiosos despreocupados com a ética, que comercializam a fé, fazem propaganda enganosa e se aproveitam do desespero humano, como fazia a ICAR no século XVI, por ocasião do protesto de Lutero. Alguns apresentadores de programas religiosos são tão despudorados que, sabendo da ingenuidade ou desespero das pessoas, pedem até sob a justificativa de que “o programa custa caro”.

Apesar disso, falar sobre dinheiro à igreja pra mim não é problema, pelas razões que enumero a seguir:
1.       Consciência de causa – Acredito na importância das bandeiras levantadas em favor da comunhão do ser humano com Deus, consigo próprio, com os semelhantes e com o meio ambiente onde a vida se desenvolve. Acredito, ainda, que a causa é divina e, portanto, as razões para falar (e contribuir) são espirituais. Se as igrejas arriarem essas bandeiras, as pedras clamarão, pois a natureza e motivação da maioria das instituições sociais seguem noutra direção;

2.       Consciência da necessidade – É óbvio que, seja pela manutenção da sede onde a igreja se reúne ou das atividades desenvolvidas, a sobrevivência sem recursos financeiros é impossível no modelo social do qual fazemos parte. Podemos contribuir de diversas outras maneiras, mas o financeiro é institucionalmente imprescindível;

3.       Consciência do ensino da Palavra – Seja sob pressupostos do chamado primeiro (velho) testamento, seja sob os do segundo (novo), o chamado à responsabilidade dos crentes para o sustento das coisas do Reino de Deus é uma realidade indiscutível. Pode-se discutir modelo, motivação, detalhes, mas a essência das palavras se mantém;

4.       Consciência da democracia – A igreja não pertence a uma pessoa ou um grupo, mas é comunitária. Isso faz com que suas finanças sejam geridas de acordo com diretrizes aprovadas pela assembléia de membros, proporcionando tranqüilidade na abordagem de assuntos financeiros;

5.       Consciência da transparência – Saber que, além das diretrizes orçamentárias, os membros elegem periodicamente, dentre seus pares, os administradores, tesoureiros, Conselho Fiscal e têm acesso a relatórios contabilizados na forma da lei, nos estimula a falar em dinheiro com o coração em paz;

6.       Consciência da austeridade – As divergências em torno de rigor, visão e forma de aplicação do que seja austeridade não anula o fato de que há uma preocupação latente e explicita com o uso dos recursos naquilo que efetivamente colabora para o cumprimento das finalidades institucionais;

7.       Consciência de que todos podem contribuir – Falo com a experiência de quem foi criado em situação financeira precária, mas aprendeu com o exemplo dos pais que ninguém é tão empobrecido que não possa ofertar uma moeda. Sentir-se participante, mesmo que aos olhos humanos pareça apenas um “acionista minoritário”, eleva a auto-estima de qualquer pessoa que acredita na causa em pauta.

Diante disso, falarei em dinheiro sempre que necessário, pedindo a Deus que nos ajude a nos mantermos coerentes e a sermos cooperadores financeiros regulares, sabendo que, como diria Paulo, nosso esforço não é vão no Senhor.

3 comentários:

Anônimo 6 de abril de 2010 às 23:06  

Pr. Edvar Gimenes, gostei muito deste texto sobre dízimos nas igrejas evangélicas.Constantemente lido com colegas que desconhecem estas razões, que são muito bem exemplificadas neste artigo,e por isto fazem comentários jocosos. Isto não me incomoda, porque dízimos e ofertas para mim são privilégios, porque fui criada em igreja evangélica. Por isto louvo a Deus por este artigo tão em escrito.Quero saber se posso divulgar este texto, não para polemizar, mas para educar. Creio que que nossa sociedade precisa que
nós compartilhemos nossas razões e nossos serviços que prestamos ao nosso Senhor. Deus o abençoe. Sua amiga Marli B. Santos

Walber Baptista 7 de abril de 2010 às 19:55  

Edvar,

seria importante que as pessoas pudessem ler "A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO", de Max Weber.

Nesse livro o autor apresenta as diversas razões pelas quais os protestantes (onde se incluem os Batistas, Presbiterianos, Luteranos, Metodistas, et al., mas não se incluem os pentecostais e os neo-pentecostais)), viam o enriquecimento como uma bênção, enquanto que os católicos criam que era um pecado; além de que, como a IGREJA ROMANA incentivava a prática de permições para se realiza algo (inclusive a abertura de negócios), os protestante eram independentes e não esperavam, ou seja: ELES EMPREENDIAM.
Ser protestante é ser RICO PELA GRAÇA DE D'US.

PROF. MARCOS LIMA (ARATU) 11 de abril de 2010 às 19:02  

Realmente, o livro de Max Weber é esclarecedor. Como sempre o texto do Meu Pastor é de uma lucidez admirável.