O aborto, a Bíblia e as eleições 2010
"Segundo uma pesquisa oficial, 15% das brasileiras com idade entre 18 e 39 anos – ou seja, 5,3 milhões de mulheres – abortaram pelo menos uma vez. Elas pertencem a todos os meios sociais. Mais de uma em cada duas delas teve de ser hospitalizada na sequência. O aborto mal feito e suas sequelas são uma importante causa de mortalidade no Brasil... É uma pena que esse grave problema social, em vez de incentivar um verdadeiro debate, esteja sendo usado como máquina de guerra eleitoral." Jornal Le Monde
.......
As razões que têm levado as pessoas a discutirem o tema aborto nas eleições 2010 no Brasil não são as mesmas. Estudar os motivos de cada uma daria um texto interessante, mas tratarei do assunto visando clarear alguns aspectos relevantes, a fim de ajudar àqueles que estão, de fato, interessados em compatibilizar suas crenças e práticas com razões que não sejam de disputas eleitoreiras.O que gera polêmica na sociedade é o aborto que acontece como resultado da ação proposital, voluntária, do ser humano e não o que se dá “naturalmente” como resultado da ignorância ou falta de recursos, embora esse segundo tipo também devesse ser objeto de preocupação e reflexão, pelas razões sócio-econômico-educacionais que o envolve.
Como me empenho para ser cristão e sigo a tradição batista, gostaria de ponderar, inicialmente, sobre o que encontramos nos textos bíblicos, uma vez que tais textos são aceitos como critério básico na construção dos nossos pensamentos.
O que encontramos na Bíblia sobre o aborto?
Curiosamente a Bíblia não trata do aborto em termos de ação proposital do ser humano. Admitir que o assunto não é tratado na Bíblia, nos termos em que está sendo discutido hoje no Brasil (e no mundo) é uma questão de honestidade.
Na Bíblia encontramos os seguintes textos:
I
"Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela der à luz prematuramente não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensor pagará a indenização que o marido daquela mulher exigir, conforme a determinação dos juízes. Mas, se houver danos graves, a pena será vida por vida...” (Êxodo 21.22-23)
Esse texto não se trata de análise do assunto aborto, muito menos nos termos que hoje discutimos. Trata-se de legislação que visava evitar violência e definia qual seria a indenização a ser paga por aqueles que, numa briga, ferissem uma mulher causando aborto.
Esse texto não se trata de análise do assunto aborto, muito menos nos termos que hoje discutimos. Trata-se de legislação que visava evitar violência e definia qual seria a indenização a ser paga por aqueles que, numa briga, ferissem uma mulher causando aborto.
II
“Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vida de vocês.” (Êxodo 23.26)
A versão revisada de Almeida diz “Na tua terra não haverá mulher que aborte”.
Essa tradução de Almeida tem levado alguns pregadores mal intencionados ou hermeneuticamente despreparados a aplicarem o texto como se fosse imperativo. Entretanto, a leitura do cotexto nos conduz a seguinte compreensão:
Exodo 23.20 = Há uma promessa da presença de um anjo para conduzir o povo de Deus;
Essa tradução de Almeida tem levado alguns pregadores mal intencionados ou hermeneuticamente despreparados a aplicarem o texto como se fosse imperativo. Entretanto, a leitura do cotexto nos conduz a seguinte compreensão:
Exodo 23.20 = Há uma promessa da presença de um anjo para conduzir o povo de Deus;
Êxodo 23.21 = Há uma orientação para que este anjo seja ouvido e obedecido, a fim que ele não puna o povo;
Êxodo 23.22 = Há um esclarecimento das conseqüências da obediência ao anjo;
Êxodo 23.23 = Há uma promessa de que o anjo conduziria o povo ao destino;
Êxodo 23.24 = Há uma orientação de como o povo deveria lidar com os símbolos religiosos dos povos das terras para onde ia;
Êxodo 23.25 = Há uma orientação para que o povo prestasse culto ao Senhor e como conseqüência seria abençoado com: 1) alimento e água; 2) cura das doenças; 3) ausência de aborto natural; 4) ausência de esterilidade.
Está claro, portanto, que não se trata de orientação quanto ao tipo de aborto discutido hoje no Brasil e sim de bênção para um povo que adora ao Senhor.
Está claro, portanto, que não se trata de orientação quanto ao tipo de aborto discutido hoje no Brasil e sim de bênção para um povo que adora ao Senhor.
III
“o nosso gado dará suas crias; não haverá praga alguma nem aborto. Não haverá gritos de aflição em nossas ruas.” (Salmos 144.14)
O Salmo 144.14 segue o mesmo espírito de promessa do texto de Levíticos. Basta lê-lo a partir do verso 12 até o 15.
Portanto, não há nada na Bíblia que fale do aborto nos termos em que o assunto está sendo discutido em nosso país.
Sendo isso verdade, resta a cristãos honestos, admitirem que a formulação do pensamento em torno do assunto deve ser através de diálogo e reflexão visando compatibilizar o desejo de fazer a vida prevalecer, diante de realidades diversas com as quais todos estamos sujeitos a nos encontrar.
Portanto, não há nada na Bíblia que fale do aborto nos termos em que o assunto está sendo discutido em nosso país.
Sendo isso verdade, resta a cristãos honestos, admitirem que a formulação do pensamento em torno do assunto deve ser através de diálogo e reflexão visando compatibilizar o desejo de fazer a vida prevalecer, diante de realidades diversas com as quais todos estamos sujeitos a nos encontrar.
Definir uma posição e demonizar de maneira genérica os que pensam diferente, especialmente em contexto de disputa eleitoral no qual interesses múltiplos estão em jogo, não me parece posicionamento adequado.
A questão da vida
A questão da vida
Lembro-me de quando, na adolescência, um colega tentava convencer os pares de que masturbação seria pecado pelo fato de milhares de espermatozóides serem mortos. Se espermatozóide é vida, ele tinha lá suas lógicas, absurdas, claro! Nenhum adolescente, entretanto, deixa de masturbar-se em nome da preservação de espermatozóides.
É interessante lembrar como os cientistas têm uma forte expectativa de encontrar sinais de vida em outros planetas. A ausência destes sinais faz com que a possibilidade de existência de uma simples bactéria ganhe valor incalculável.
Em nosso planeta, entretanto, no qual é imensa a variedade e complexidade de presença de vida, o valor que damos aos seres vivos não é o mesmo. O valor que damos a vida não está ligado a qualquer tipo de vida, mas ao tipo de relacionamento que com ela mantemos.
É interessante lembrar como os cientistas têm uma forte expectativa de encontrar sinais de vida em outros planetas. A ausência destes sinais faz com que a possibilidade de existência de uma simples bactéria ganhe valor incalculável.
Em nosso planeta, entretanto, no qual é imensa a variedade e complexidade de presença de vida, o valor que damos aos seres vivos não é o mesmo. O valor que damos a vida não está ligado a qualquer tipo de vida, mas ao tipo de relacionamento que com ela mantemos.
Defendemos a vida, mas matamos por diversos motivos como, por exemplo, esporte, medo ou legítima defesa.
Você já ouviu alguma mulher, diante da vida de uma barata, lembrar-se do 6º mandamento: “Não matarás” (Ex. 20.13)? O mandamento é genérico. Não há, entretanto, uma pessoa que aplique esse texto ao pé da letra para todo o tipo de vida. Ele é usado somente em relação à vida humana. As exceções são abertas por nós, individual e coletivamente, com base em leis ou numa construção cultural baseada em fatores vários de interesse individual e sócio-econômico, que define que tipo vida e em que condições pode ser morta e quais devem ser rejeitados.
Aceitamos a morte espontânea – sem interferência humana – mas, contraditoriamente, temos dificuldades para autorizar a retirada de equipamentos médico-hospitalares usados para prolongar a vida de um ente querido. O sentimento de esperança, nesse caso, é aceito como justificativa para prolongar a vida, da mesma forma que a sensibilidade diante da dor do outro, pode levar-nos a desejar que os equipamentos sejam desligados a fim de que a dor cesse.
Os motivos, portanto, que definem nossa relação com a vida e com a morte são variados e regidos por sentimentos, pensamentos, valores culturais, crenças ou imposições legais.
A questão da vida humana
Você já ouviu alguma mulher, diante da vida de uma barata, lembrar-se do 6º mandamento: “Não matarás” (Ex. 20.13)? O mandamento é genérico. Não há, entretanto, uma pessoa que aplique esse texto ao pé da letra para todo o tipo de vida. Ele é usado somente em relação à vida humana. As exceções são abertas por nós, individual e coletivamente, com base em leis ou numa construção cultural baseada em fatores vários de interesse individual e sócio-econômico, que define que tipo vida e em que condições pode ser morta e quais devem ser rejeitados.
Aceitamos a morte espontânea – sem interferência humana – mas, contraditoriamente, temos dificuldades para autorizar a retirada de equipamentos médico-hospitalares usados para prolongar a vida de um ente querido. O sentimento de esperança, nesse caso, é aceito como justificativa para prolongar a vida, da mesma forma que a sensibilidade diante da dor do outro, pode levar-nos a desejar que os equipamentos sejam desligados a fim de que a dor cesse.
Os motivos, portanto, que definem nossa relação com a vida e com a morte são variados e regidos por sentimentos, pensamentos, valores culturais, crenças ou imposições legais.
A questão da vida humana
Se consideramos que espermatozóide e óvulo são vida, como lidar com o fato de milhões deles morrerem o tempo todo neste planeta, inclusive por ação intencional humana? A resposta óbvia é que morte e vida fazem parte de um processo natural inevitável e necessário, portanto aceitável.
Por que então, nos posicionamos contra o aborto intencional, fruto de uma ação proposital humana? A resposta dada é que o aborto representa a morte de um ser humano e nenhum ser humano tem autoridade para tirar uma vida humana.
Se a questão é essa, então chegamos ao ponto crucial. Quando podemos dizer que um uma vida chamada espermatozóide e uma vida chamada óvulo deixam de ser apenas uma vida e, juntos, passam a ser vida humana?
Há os que defendem que a vida humana começa na fecundação. Há tribos indígenas que acreditam que a vida humana inicia quando a criança começa a usar a linguagem. Há a corrente científica que defende que a vida humana começa com o início da atividade cerebral, por volta do 3º mês de gestação.
Por que então, nos posicionamos contra o aborto intencional, fruto de uma ação proposital humana? A resposta dada é que o aborto representa a morte de um ser humano e nenhum ser humano tem autoridade para tirar uma vida humana.
Se a questão é essa, então chegamos ao ponto crucial. Quando podemos dizer que um uma vida chamada espermatozóide e uma vida chamada óvulo deixam de ser apenas uma vida e, juntos, passam a ser vida humana?
Há os que defendem que a vida humana começa na fecundação. Há tribos indígenas que acreditam que a vida humana inicia quando a criança começa a usar a linguagem. Há a corrente científica que defende que a vida humana começa com o início da atividade cerebral, por volta do 3º mês de gestação.
Não há unanimidade quanto a quando exatamente isso se dá.
Do ponto de vista dos registros bíblicos, sabemos duas coisas interessantes:
Do ponto de vista dos registros bíblicos, sabemos duas coisas interessantes:
1. O feto reage a ações humanas
1.1.
"Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo". (Lc 1.41)
"Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria". (Lc 1.44)
Não entrarei em análises teológicas do texto relativas a interpretação dada por Izabel. Destaco apenas o óbvio, que sabemos dos movimentos do feto no útero e de como é afetado pelas ações e reações maternas.
Não entrarei em análises teológicas do texto relativas a interpretação dada por Izabel. Destaco apenas o óbvio, que sabemos dos movimentos do feto no útero e de como é afetado pelas ações e reações maternas.
2. Deus está interessado em nós desde o ventre materno e não somente depois que dele saímos.
2.1.
“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.” (Salmos 139.13-16)
Observe, entretanto, que este texto não aborda o tema aborto. Seu objetivo é mostrar, em linguagem poética (e não científica nos termos que definimos a linguagem científica hoje) como não podemos nos esconder de Deus e como Deus tem acesso a nós em todas as circunstâncias da vida.
Observe, entretanto, que este texto não aborda o tema aborto. Seu objetivo é mostrar, em linguagem poética (e não científica nos termos que definimos a linguagem científica hoje) como não podemos nos esconder de Deus e como Deus tem acesso a nós em todas as circunstâncias da vida.
Ele valoriza a vida intra-uterina, mas silencia a respeito do momento em que espermatozóide deixa de ser espermatozóide, óvulo deixa de ser óvulo ou quando se estabelece um ser humano com direitos civis, cujo desenvolvimento não pode mais ser interrompido por ação humana.
2.2.
"Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações". (Jeremias 1.15)
“Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça.” (Gálatas 1.15)
Observe que esses dois textos não tratam sobre o assunto aborto. São força de expressão ou textos que falam da crença subjetiva do profeta Jeremias e do Apóstolo Paulo a respeito do tempo em que Deus os vocacionou para desenvolverem a tarefa que realizavam.
Conquanto sirvam de referência, no sentido de valorizarmos o ser humano desde a sua concepção, usá-los como sustentação para posicionamentos em relação ao aborto parece-me exagero.
A questão da sexualidade
Observe que esses dois textos não tratam sobre o assunto aborto. São força de expressão ou textos que falam da crença subjetiva do profeta Jeremias e do Apóstolo Paulo a respeito do tempo em que Deus os vocacionou para desenvolverem a tarefa que realizavam.
Conquanto sirvam de referência, no sentido de valorizarmos o ser humano desde a sua concepção, usá-los como sustentação para posicionamentos em relação ao aborto parece-me exagero.
A questão da sexualidade
Uma das dificuldades que temos ao lidar com o assunto é que a cabeça religiosa se move em função de sua dificuldade de lidar com o corpo. Nem catolicismo, nem protestantismo ou outra denominação religiosa elaborou adequadamente uma teologia do corpo. Simplesmente seguem uma moralidade, um costume, não uma teologia em torno do corpo. Não importa se os métodos concepcionais evoluíram, se o tema está sendo tratado abertamente nas escolas, se os direitos individuais, inclusive das mulheres, são diferentes hoje. Nada disso é relevante.
Assim, na questão do aborto, não são muitos que conseguem pensar o assunto por outra ótica senão a da moral sexual. As razões mais profundas para boa parte do religioso comum posicionar-se contrário ao aborto é pela possível liberalização dos relacionamentos sexuais que isso provocaria. Os problemas sociais decorrentes são tratados como resultados do pecado e, portanto, a solução é todos se converterem.
Acreditam, portanto, que a proibição do aborto é meio de controlar o relacionamento sexual antes e fora do casamento. Todos sabemos que isso é ilusão. Todos sabemos que há diversos outros elementos não religiosos – biológicos, emocionais e culturais, por exemplo - envolvidos na questão dos impulsos sexuais, que devem ser trabalhados se queremos reduzir a incidência de gravidez e aborto no país.
Acreditam, portanto, que a proibição do aborto é meio de controlar o relacionamento sexual antes e fora do casamento. Todos sabemos que isso é ilusão. Todos sabemos que há diversos outros elementos não religiosos – biológicos, emocionais e culturais, por exemplo - envolvidos na questão dos impulsos sexuais, que devem ser trabalhados se queremos reduzir a incidência de gravidez e aborto no país.
A questão social
Equivocamos-nos quando pensamos que todas as pessoas são iguais a nós. Nem todos tiveram a família que tivemos, freqüentaram a igreja ou escola que freqüentamos, tiveram acesso ao nosso modelo de habitação, transporte e saúde, por exemplo. Portanto, somos pessoas com sentimentos, pensamentos, valores e crenças diferentes. Assim sendo, não podemos simplesmente querer que todos reajam às realidades com as quais se deparam da mesma maneira como nós reagimos.
Antes de querermos impor nosso modo de ser e crer, precisamos parar para conhecer as pessoas e suas realidades. Se quisermos que todos reajam de maneira semelhante, deveríamos, também, lutar para que todos pudessem ter acesso, também, a boas condições de vida semelhantes. Se isso não existe, devemos, por mais este motivo, aprender a compreender nossas diferenças.
Fico intrigado quando vejo pastores de classe média e média alta, que tiveram acesso a educação, à vida eclesiástica e a habitação adequada que, por falta de contato, não sabem o que é uma família viver num barraco de favela, com padrastos dormindo nos mesmos espaços que afilhadas, sem acesso à educação, alimentação, estrutura sanitária, enfim, e esperam que o comportamento e a cosmovisão de tais pessoas sejam iguais a das criadas nos Jardins em São Paulo, orla de Boa Viagem no Recife ou Itaigara no Salvador, por exemplo. Não é.
A realidade é que pessoas engravidam indesejadamente porque não foram ensinadas a cultivar valores iguais aos nossos, não foram ensinadas sobre sexualidade, vivem expostas a contatos por falta de privacidade, têm uma série de carências que se misturam emocionalmente por falta ou excesso de de recursos, não tem o mesmo temperamento, disciplina, enfim. Quando pessoas nessas condições engravidam, até mesmo pela maneira diferente de entender a vida, não veem o aborto como vemos.
Nesse quadro, é claro que medidas legais precisam ser adotadas para, pelo menos, minimizar os efeitos colaterais maléficos que diferenças acentuadas, e até opostas, de sentimentos, pensamentos e comportamentos causam à convivência social.
Quando se pensa em aborto, num pais com brutais desigualdades sócio-econômicas como as do Brasil, é claro que simplesmente dizer “é proibido” ou “está liberado” não resolve. Dizer que o governo “deveria” fazer isso ou aquilo, também é utópico.
Na verdade, nenhuma pessoa com juízo se coloca levianamente a favor ou contrária ao aborto. Como não vivemos num mundo ideal, o assunto precisa ser estudado em profundidade e decisões precisam ser tomadas.
Antes de querermos impor nosso modo de ser e crer, precisamos parar para conhecer as pessoas e suas realidades. Se quisermos que todos reajam de maneira semelhante, deveríamos, também, lutar para que todos pudessem ter acesso, também, a boas condições de vida semelhantes. Se isso não existe, devemos, por mais este motivo, aprender a compreender nossas diferenças.
Fico intrigado quando vejo pastores de classe média e média alta, que tiveram acesso a educação, à vida eclesiástica e a habitação adequada que, por falta de contato, não sabem o que é uma família viver num barraco de favela, com padrastos dormindo nos mesmos espaços que afilhadas, sem acesso à educação, alimentação, estrutura sanitária, enfim, e esperam que o comportamento e a cosmovisão de tais pessoas sejam iguais a das criadas nos Jardins em São Paulo, orla de Boa Viagem no Recife ou Itaigara no Salvador, por exemplo. Não é.
A realidade é que pessoas engravidam indesejadamente porque não foram ensinadas a cultivar valores iguais aos nossos, não foram ensinadas sobre sexualidade, vivem expostas a contatos por falta de privacidade, têm uma série de carências que se misturam emocionalmente por falta ou excesso de de recursos, não tem o mesmo temperamento, disciplina, enfim. Quando pessoas nessas condições engravidam, até mesmo pela maneira diferente de entender a vida, não veem o aborto como vemos.
Nesse quadro, é claro que medidas legais precisam ser adotadas para, pelo menos, minimizar os efeitos colaterais maléficos que diferenças acentuadas, e até opostas, de sentimentos, pensamentos e comportamentos causam à convivência social.
Quando se pensa em aborto, num pais com brutais desigualdades sócio-econômicas como as do Brasil, é claro que simplesmente dizer “é proibido” ou “está liberado” não resolve. Dizer que o governo “deveria” fazer isso ou aquilo, também é utópico.
Na verdade, nenhuma pessoa com juízo se coloca levianamente a favor ou contrária ao aborto. Como não vivemos num mundo ideal, o assunto precisa ser estudado em profundidade e decisões precisam ser tomadas.
Sendo contrários ou favoráveis a liberação, há exceções que precisam ser estudadas.
O que não pode continuar é pessoas morrerem por falta de dinheiro e acesso a hospitais ou por uma legislação inadequada.
A questão legal
A questão legal
No Brasil o aborto é considerado crime, exceto em duas situações: de estupro e de risco de vida materno. Estuda-se outras possibilidades, como no caso de anomalias fetais ou ainda que possa ocorrer até a 12ª semanas de gravidez, pois até ai, segundo cientistas, os neurônios ainda não se relacionariam, portanto não haveria "vida cerebral".
Em Portugal, por exemplo, cuja legislação sofreu modificações, o aborto não era punido nos seguintes casos:
"1. Por motivo terapêutico, ou seja, quando constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, e ainda se essa interrupção se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão para o corpo ou para a saúde física, psíquica da mulher grávida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez.
2. Pelo motivo eugénico, ou seja, se houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de grave doença ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, exceptuando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção pode ser praticada a todo o tempo, e finalmente;
3. Pelo motivo criminológico, ou seja, quando a gravidez tenha resultado de violação ou crime contra a auto-determinação sexual e a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas."
A legislação que definia como crime, punido com prisão de até 3 anos para a mulher e para quem a fizesse abortar, sofreu alterações, sendo agora permitido que se aborte até a 10ª semana, independente de razões.
Consideração final
Mesmo com a legislação restritiva que temos hoje, só na Bahia quase 50.000 meninas engravidam a cada ano e, no Brasil, “segundo dados do Ministério da Saúde, 220 mil mulheres procuram hospitais públicos por ano para tratar de seqüelas de abortos clandestinos. Há estimativas extra-oficiais de que sejam realizados mais de um 1 milhão de abortos por ano.”
Seria cristão, diante deste quadro, simplesmente ser contrário ao aborto ou ao debate honesto sobre o assunto?
18 comentários:
O aborto expontâneo é uma forma estúpida e violenta de controle da natalidade, não reconhecida oficialmente pelos governos. Essa, é uma discussão que só tem prejudicado os fetos. Concordo com vc. quando diz, nas entrelinhas, que o assunto deve ser definido. Se é permitido o aborto também deveria ser instituída a pena de morte.
Querido Edvar,
Confesso que não tenho condições de fazer nenhum comentário positivo ou negativo agora em relação ao seu texto, pois ele me provocou reações diversas. Ainda estou em processo de reflexão. Só posso dizer uma coisa: uma vez mais, o dogmatismo não é o caminho adequado; é sempre melhor o diálogo.
Realmente é muita coisa a se pensar e discutir, fico imaginando Pr se nós cristãos, devemos optar pelo "que seja o menos prejudicial" ou realmente promover debates públicos e chegarmos de forma definitiva - se for possível - a um fator comum....
Triste é saber que opiniões como esta deste blog são tão escassas quanto um manancial no deserto. Concordo pra caramba com o texto.
Querido colega
Sei que o assunto é por demais complexo, até por que envolve não somente direito à vida, mas a intrincada rede de relacionamentos humanos com direitos mútuos e responsabilidades compartilhadas.
Quanto à prática do abordo espontâneo penso que deveríamos catalogá-los em dois grupos - e aqui já entra outra questão polêmica: quem o fará? Primeiro há aqueles(as) que o fazem por não se sentirem no alcance da lei - estão fora da lei e sendo assim continuarão a praticar seja qual for a lei. Mas há aqueles(as) que estão inseridos em problemas sociais e humanos bem mais profundos que a simples pena da lei - e não será a legislação que os resolverá.
Sendo assim, louvo o seu texto por que nos propõe uma reflexão séria sobre o tema cristão da valorização da vida e do resgate da dignidade humana em sua ampla configuração. Espero que a igreja se mostre sábia para aproveitar o momento e oferecer uma contribuição relevante à nação e não somente se aproveite deste momento para tentar obter dividendo eleitorais.
Continue firme no Senhor que estamos juntos.
Um abraço.
Caro Edvar
Como critão evangelico me alegrei com seu texto, principalmente pela sua lucidez parabens! Nesse momento de tanta alienação e "miopia" ele contribui na reflexão e põe luz na questão. Li apouco no portal da do UOL ( Blog Fernando Rodrigues) Texto de um panfleto da TFP que estava disponivel na reunião da cupula do PSDB , e lendo o texto o conteudo é semelhante ao de varias mensagens que tenho recebido de e-mail enviados por irmãos nossos.
Aproveito para pedir a sua autorização o seu texto para (como cristão evangelico ) dialogar com aqueles (alem de outros é claro) que generalizam a imagem de "evangelicos" a partir desses posicionamentos emprestados de forma automatica dos conteudos que tem circulado pela internet.
Deus nos orinte, nos permita aprender com tudo o que vivemos agora, e continue abençoando a sua vida.
Abrços
Pedro Rocha
Pr Edvar,
Faz muito tempo que não leio algo tão lúcido ! Em tempos de discursos e afirmações levianas e inconsistentes esse texto deveria estar em um veículo de divulgação de grande alcance para provocar reflexões maduras e subsidiadas pela sua experiência na palavra do SENHOR.
Abraços
Ivone Prates
Caro Pastor Edvar,
Realmente, não podemos usar a bíblia para condenar o aborto. Até porque as pessoas que defendem a pratica do aborto, muitas não acreditam na Bíblia. Por isso não adianta usar a Bíblia.
Escrevi um post em meu blog falando sobre isso:
Texto contra o aborto. (Sem usar a Bíblia)
http://blogdofabianocaldas.blogspot.com/2010/10/texto-contra-o-aborto-sem-usar-biblia.html
Creio que minhas posições servem pra combater as idéias dos que defendem o aborto. Não sei se você vai concordar, mas o texto tem fortes argumentos contra a legalização do aborto.
Até Mais.
Pastor, achei interessante. Lhe repasso:
"Para ajudar a campanha oficial, fiz uma compilação dos emails falsos que circulam sobre Dilma Rousseff e seus respectivos desmentidos. Cada link remete ao leitor ao texto em questão. Espalhem, para quem não gosta de mentira, é importante:
A morte de Mário Kosel Filho: http://migre.me/1pfAb
A Ficha Falsa de Dilma Rousseff na ditadura http://migre.me/1pfCc
O porteiro que desistiu de trabalhar para receber o Bolsa-Família http://migre.me/1pfEJ
Marília Gabriela desmente email falso http://migre.me/1pfSW
Dilma não pode entrar nos Estados Unidos http://migre.me/1pfTX
Foto de Dilma ao lado de um fuzíl é uma montagem barata http://migre.me/1pfWn
Lula/Dilma sucatearam a classe média (B) em 8 anos: http://migre.me/1pfYg
Email de Dora Kramer sobre Arnaldo Jabor é montagem http://migre.me/1pfZH
Matéria sobre Dilma em jornais canadenses é falsa: http://migre.me/1pg1t
Declarações de Dilma sobre Jesus Cristo – mais um email falso: http://migre.me/1pg2F
Fraude nas urnas com chip chinês – falsidade que beira o ridículo: http://migre.me/1pg58
Vídeo de Hugo Chaves pedindo votos a Dilma é falso: http://migre.me/1pg6c
Matéria sobre amante lésbica de Dilma é invenção: http://migre.me/1pg7p
Michel Temer não é satanista, veja o desmentido: http://migre.me/1v4rd
Candidatura de Dilma será impugnada pelo Ficha Limpa. MENTIRA http://migre.me/1v4BZpanha oficial, fiz uma compilação dos emails falsos que circulam sobre Dilma Rousseff e seus respectivos desmentidos. Cada link remete ao leitor ao texto em questão. Espalhem, quem não gosta de mentira, é importante:
A morte de Mário Kosel Filho: http://migre.me/1pfAb
A Ficha Falsa de Dilma Rousseff na ditadura http://migre.me/1pfCc
O porteiro que desistiu de trabalhar para receber o Bolsa-Família http://migre.me/1pfEJ
Marília Gabriela desmente email falso http://migre.me/1pfSW
Dilma não pode entrar nos Estados Unidos http://migre.me/1pfTX
Foto de Dilma ao lado de um fuzíl é uma montagem barata http://migre.me/1pfWn
Lula/Dilma sucatearam a classe média (B) em 8 anos: http://migre.me/1pfYg
Email de Dora Kramer sobre Arnaldo Jabor é montagem http://migre.me/1pfZH
Matéria sobre Dilma em jornais canadenses é falsa: http://migre.me/1pg1t
Declarações de Dilma sobre Jesus Cristo – mais um email falso: http://migre.me/1pg2F
Fraude nas urnas com chip chinês – falsidade que beira o ridículo: http://migre.me/1pg58
Vídeo de Hugo Chaves pedindo votos a Dilma é falso: http://migre.me/1pg6c
Matéria sobre amante lésbica de Dilma é invenção: http://migre.me/1pg7p
Michel Temer não é satanista, veja o desmentido: http://migre.me/1v4rd
Candidatura de Dilma será impugnada pelo Ficha Limpa. MENTIRA http://migre.me/1v4BZ "
Se os links não ficarem legais, eu posso passar pro seu email.
Abs, Carlos Jefferson Chase.
Pastor,
Sensatez, equilíbrio, compaixão, misericórdia. O aborto, para mim, só pode ser abordado se esses sentimentos estiverem envolvidos. Muito, muito bom seu texto. A questão não é simples e o sr. conseguiu abordá-la com uma lucidez fantástica.
Obrigada.
Nathália
Meu camarada Edvar, gostei muito da lucidez com que tratou o tema mais aflorado nesses dias. Peço sua permissão para usar esse texto em meu blog. Claro que os créditos serão seus.
Diante de tudo, inclusive das ressonâncias nos comentário, parabéns!
Meu e-mail: josue_og@hotmail.com
Josué
Edvar, precisava mesmo de um texto assim mais amplo e colocado da maneira inteligente de sempre. Ótimo. Tentarei divulgá-lo. Um abraço.
Prezado Pastor: fiquei maravilhado com a sabedoria do texto. Estarei compartilhando com quantos amigos seja possivel. E, a luz dessa leitura, lembro-me das palavras de Jesus cristo, quando diz: " aquele que entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra contra ela" João 8:7-11.
Não sei se todos nós alcançaremos também a misericordia do Senhor Jesus Cristo, mas devemos morrer tentando.
Alcântara
Não preciso da Bíblia para ser contra o aborto. Basta ser contra a violência, contra o crime. Qual a diferença entre matar o feto ainda no útero e matá-lo após o nascimento? Por que, para vocês, só é crime após o anscimento?
As 50 mil adolescentes baianas que engravidam por ano não é justificativa para o aborto. Não o seria ainda que elas fossem 500 mil ou 5 milhões! Aborto não é controle de natalidade! Aborto é violência!
Legalizar aborto por "XIS" mulheres o fazem anualmente, é simplismo cínico. Então por que não se libera a criminalidade? Afinal, o crime tem crescido... Por que não se dá um celular para cada preso, afinal grande parte dos prisioneiros tem... Ora, bolas!
Joaz
Pr. Edvar,
Li seu texto, não concordo com seu posicionamento dúbio, mas respeito sua opnião. Creio que essa questão não é a mais importante para o país no momento, mas ela serviu nestas eleições para mostrar outras coisas:
1-O PT é a favor do aborto e não aceita posições contrárias. Expulsou dois deputados federais por conta disso.
2-O PT é a favor do casamento de homossexuais e qualquer dos seus que votarem contra também serão expulsos ( a propósito, o Sr. também concorda com isso ? )
3-A sua candidata gravou diversas entrevistas se posicionando afavor do aborto e agora se diz contra APENAS para não perder votos. Isso é falsidade eleitoral.
Além disso, a busca pela verdade dos fatos, de quem é cada candidato mostrou o seguinte:
1-A candidata do PT não é democrata, como também o PT não o é. É arrogante, não tem traquejo político e seus marqueteiros tentam inultimente esconder esse "ar de superioridade" com o qual ela olha os demais. Sua luta armada não foi pela democracia, mas por uma ditadura comunista, e por isso assaltou e sequestrou. Como cristãos acreditamos que os fins não justificam os meios, mas para o PT vale tudo para ficar no poder. Lula chamou Collor e Sarney de ladrão e hoje beija suas mãos.
2-O PT deseja sim, ainda, implantar uma ditadura populista no maior modelo chavista no Brasil. Daí os ataques à imprensa, a intimidação com quebras de sigilo, dossiês, etc.
3-O PT é um partido corrupto. Está aliado à pior banda do PMDB, aos políticos da IURD, não afastou seu mensaleiros ( ao contrário, estão todos na equipe de Dilma, nos bastidores ) e ainda querem que nós acreditemos nestas histórias de "não sabia", "não vi".
4-O PT "cospe no prato que come" quando fala mal do governo FHC, pois foram as decisões dos governos passados que derão a Lula as condições para que ele fizesse seu governo. Se foi tão ruim, por que não mudou a política econômica? por que não re-estatizou nada?. É preciso falar a verdade! a conjuntura econômica internacional foi MUITO favorável a Lula e ele aproveitou muito pouco. Os empregos que ele diz que criou foram criadas pelas situação econômica global e pela MANUTENÇÃO da política econômica e não por uma política nova de governo. Lula mesmo diz que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como no governo dele.
Falam mal das privatizações mas graças a elas temos hoje uma telefonia celular e o próprio PT privaatizou bancos e privatizará a Infraero, como disse no debate de ontem à noite. Não estou fazendo juízo de valor sobre as privatizações, mas constatando que o discurso do PT é um e sua prática outra, tudo pelo poder.
5-O mais grave: O PT apoia a lei da mordaça homossexual. Como pastor de Igreja, fico surpreso com seu apoio ao partido que tem entre seus projetos leis que poderão mandá-lo para a cadeia por defender valores bíblicos inquestionáveis como a heterosexualidade, a existência de apenas dois sexos: o masculino e o feminino.
Abraços de sua ex-ovelha em Recife,
Jennecy Júnior
ps: espero que vc seja mais democrático e menos PT de menos para aprovar meu comentário :)
Caro Edvar, como médico não tenho dúvida de que a vida começa na fecundação, como também não tenho dúvida de que o aborto intencional, independente das razões alegadas (a não ser nos dois caso previsto em lei)constitui-se em assassinato de uma vida totalmente indefesa, portanto como médico e como cristão sou totalmente contra a legalização do aborto.
abraços,
Jennecy Cavalcanti
Pr. Edvar, como batista também, permita-me discordar...
"O que encontramos na Bíblia sobre o aborto?
Curiosamente a Bíblia não trata do aborto em termos de ação proposital do ser humano. Admitir que o assunto não é tratado na Bíblia, nos termos em que está sendo discutido hoje no Brasil (e no mundo) é uma questão de honestidade." (blog do Edvar)
Isso vai depender da hemenêutica: se é literal, vai exigir que existam textos literalmente relacionados com o tema em questão.
Contudo, sabemos que há outros tipos de interpretação bíblica além do literal. Quero dizer que, apesar de tal tema não estar explícito literalmente na Bíblia, ele encontra-se vastamente de forma implícita (contexto). Tomarei seu próprio exemplo - “Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vida de vocês.” (Êxodo 23.26).
Esse é o desejo de Deus: QUE NÃO HAJA ESTERILIDADE NEM ABORTO(independente do tipo), OU SEJA: VIDA, VIDA, VIDA... A diferênça é que o "ANJO" (do contexto) era o responsável por GUIAR O POVO. Tudo indica que esterilidade e aborto estavam acontecendo por falta de orientação e, consequentemente, obediência. O fato é que o "ANJO" NÃO LEGITIMOU O ABORTO (repito: independente do tipo), mas assumiu a responsabilidade de guiar o povo através do projeto de Deus de forma a erradicar tais mazelas. Creio que essa deveria ser a função fundamental do ministério pastoral; a de se parecer com aquele ANJO.
Contextualizando, se tal tema está ligado às desigualdades sociais (o que não é somente isso); não justifica legalizar as consequências dessas desigualdades, mas sim, lutarmos para que tais desigualdades sejam extintas. Para mim, legalizar o aborto é um discurso subliminarmente elitista que se abstém de assumir um real, consistente e incansável compromisso de combater as CAUSAS de tantas mazelas sociais; legalizar tais mazelas é legitimar as CAUSAS; portanto, não resolve; a não ser para massagear a consciência de uma burguesia narcisista, cujo pensamento inconsciente é: "Como culpados e impotentes diante da desiguladade social que mantém tantos semelhantes na marginalidade e sofrimento; façamos pelo menos o mínimo: legalizemos o aborto, a prostituição, etc, etc, etc..." É muita piedade! (pra não dizer o contrário).
Fraternalmente, em Cristo.
Pr. Carlos André (PIB Barris - SSA/Ba)
"Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia." (Rubem Alves, sobre a morte. http://psicosaber.wordpress.com/2010/10/21/sobre-a-morte-e-o-morrer/)
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