domingo, 8 de abril de 2018

Sobre elogios, críticas e amizades

Como pastor, sempre fiquei com um pé atrás frente a elogios, especialmente à porta do templo, após os cultos. Sempre preferí entrar no carro com Gláucia para, 100 mts depois de afastar-nos do estacionamento, ouvir seus comentários.

Quando ela gosta muito do que preguei, diz logo; quando gosta pouco, fica um  trecho em silêncio; quando não gosta de algo que disse, espera eu perguntar. (Nesse caso, geralmente eu me antecipo e começo a fazer minhas autocríticas. Ela confirma, eu me contorço interiormente, digiro com dificuldade e começo a pensar em como poderia melhorar da próxima vez).

Prefiro elogios à críticas. Não sou Santo Agostinho ("prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem"). Não sou masoquista. Elogios massageiam o ego, elevam a autoestima, produzem sensação de prazer.

Mas o tempo nos faz aprender que nem todos são sinceros e que uma crítica não passional, feita com racionalidade por alguém que nos ama, faz mais bem à vida do que mil elogios, especialmente elogios oriundos de clientes litúrgicos ou crentes em processo de amadurecimento em busca de aceitação.

Desconfio de muito elogio ou de muito tempo sem receber crítica. É como se algo estivesse errado em mim - pois tenho alguma idéia de minhas limitações - ou em quem está me ouvindo - pois tenho alguma idéia a respeito dos seres humanos. Se o que falo não incomoda, acomoda. Isso pode ser um mal sinal, pois, se assim não fosse, "não vos conformeis"  não seria um imperativo bíblico.

Então, conquanto elogios sejam mais agradáveis, críticas, certamente, ajudam mais em nosso crescimento humano. Ou, como disse Dom Helder Câmara: "Se você concorda comigo, me confirma. Mas, se discorda, me ajuda mais porque me obriga a aprofundar o meu ponto de vista”.

Tenho muitas pessoas como amigas, mas as amizades nas quais mais acredito são daquelas que, quando é preciso, me chamam do lado e, amorosamente, me ajudam a pensar e enxergar melhor a mim mesmo ou o que disse. Daquelas que nunca me "confrontam", desconfio.

0 comentários: