sexta-feira, 31 de julho de 2009

Nossas crises (2001)

Crise é uma das palavras mais pronunciadas em nossos dias por representar a situação de uma série de instituições, de sistemas e de parcelas significativas da população. As que mais ouço são: crise espiritual, crise política, crise econômica, crise de emprego, crise energética, crise financeira, crise moral, crise da família, crise conjugal, crise de relacionamentos, crise denominacional, crise de identidade, crise doutrinária, crise existencial e algumas outras...

Falar em crise, na condição de analista é, de certa forma, confortável; vivê-la, porém, é bastante desagradável. Geralmente ela é acompanhada de uma boa dose de ansiedade, sensação de vazio, solidão, amargura, ressentimento, sofrimento enfim, com consequências dolorosas e imprevisíveis.

Uma das tentativas mais comuns de encará-la, segundo profissionais de diversas áreas do conhecimento humano, inclusive pastores, é definindo-a como sendo uma situação de oportunidades. E para criar aquele ar de autoridade e intelectualidade, informa-se que essa compreensão tem raiz numa determinada palavra chinesa. Eu mesmo, confesso, já usei esse argumento sem entender nada de chinês, mesmo tendo um trabalho com chineses funcionando na sede de nossa Igreja! Essa tentativa positiva de enfrentar a crise não deixa de ser interessante e até serve de consolo para quem está mergulhado num mar de incertezas; serve de alento, ajuda o ouvinte a respirar um pouco mais, mas, isoladamente tem pouca utilidade.

Compreender crise como acúmulo de problemas não resolvidos parece-me ser mais eficaz. Essa compreensão é pouco propagada pois, num primeiro momento, aumenta nossa crise, na medida em que exige coragem para parar, analisar nosso histórico, admitir e descobrir problemas colocados sob o tapete e solucioná-los, um a um. Isso implica, muita vez, numa revisão de crenças, valores, paradigmas que nem sempre estamos dispostos a fazer.

Se é verdade que a inexperiência nos torna mais susceptíveis a crises, é verdade também que, em alguns casos, entramos em crise porque somos medrosos, inseguros, conservadores e acomodados diante de problemas. A síndrome de Gabriela - eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim - personagem do recém-falecido Jorge Amado, toma conta de nós e insistimos em manter, sem justificativa plausível, costumes estabelecidos em circunstâncias bastante diferentes das atuais. Nossas conveniências pessoais, movidas em alguns casos pela necessidade de agradar os outros, a falsa crença de que, ainda que o mundo se acabe para outros não seremos atingidos ou o medo de se deixar guiar pela própria percepção e consciência da realidade, faz com que sejamos omissos e resistentes até, a mudanças de posturas diante de problemas. E o acúmulo, repito, de problemas não resolvidos, culminam em crises dolorosas.

Essa mesma compreensão de crise, como sendo um conjunto de problemas não resolvidos, pode ser aplicada a crises psicológicas. Nesse caso, geralmente o indivíduo não tem consciência de uma série de problemas interiorizados ao longo de sua história de vida e, por isso, pode precisar de auxílio de um psicólogo, profissional capacitado para tal. Através do uso de técnicas específicas, ele ajuda na compreensão e superação de sentimentos e comportamentos nocivos. Se uma empresa em crise, procura consultores qualificados para ajudá-la, indivíduos em crise, inclusive pastores, devem vencer preconceitos e procurar profissional de psicologia, em vez de mistificar a situação. Agindo assim, faz um tremendo bem para si, para os seus, para todos enfim que, de alguma forma, fazem parte do seu mundo.

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