segunda-feira, 11 de junho de 2018

Minha dupla conversão a Jesus


Antes que reajam, os literalistas e os preciosistas da teologia, adianto que, nas palavras que seguem, faço uso de um recurso didático, não pretendendo, portanto, discutir cristologia, soterologia ou outras logias, ainda que isso seja inevitável, por ser naturalmente despertado naqueles - como eu - cujos cérebros podem ter sido treinados  para brincar ou brigar com as palavras.

Adianto também que, pra mim, Jesus é único, ainda que na prática de muitos, por mim percebida, ele já seja dividido, por razões que não vêm ao caso. Isto é, muitos cristãos já selecionam aquilo que da história de Jesus parece-lhes mais convenientemente seguir ou deixar de lado. 

Portanto, a divisão didática que faço aqui, na narrativa da minha experiência com Jesus, visa apenas ajudar na unificação que muitos ainda precisariam fazer entre JESUS CRISTO e JESUS, O CRISTO.

Minha primeira conversão foi a JESUS CRISTO; a segunda, a JESUS, O CRISTO.

JESUS CRISTO não é nome e sobrenome. Jesus é nome, Cristo é adjetivo de origem grega que, em português, seria ungido. Em hebraico, seu equivalente é Messias. 

Popularmente, usa-se JESUS CRISTO referindo-se ao significado teológico - diferente do histórico - da vida de Jesus. Nesse caso, a ideologia do tratamento aponta para o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, para o salvador que morreu na cruz pra nos salvar. 

Geralmente, o foco de quem anuncia JESUS CRISTO como salvador e de quem o aceita, nesses termos, é escatológico. Seus efeitos seriam de natureza individual, espiritual, desconectado da realidade e multiplicidade de dimensões da vida presente na qual quem o aceita está inserido. 

Em outras palavras, quando JESUS CRISTO é proclamado e aceito, os efeitos disso é a experiência de perdão dos pecados do indivíduo, a libertação do inferno futuro e a garantia de morada com Deus no céu, repito, no futuro.

Nesse sentido, aceitei JESUS CRISTO quando tinha em torno de oito anos de idade. Fui tocado pelo sentimento de que, quando morresse, queria estar onde meus pais, que eram seguidores de Jesus, estariam.  

Foi, portanto, por um lado, o medo do inferno e por outro, o amor aos meus pais, o sentimento à época consciente, que me moveu a levantar a mão, respondendo ao apelo do pregador, visando receber perdão dos meus pecados e salvação da minha "alma".

Independente da motivação, o fato é que aquela decisão marcou minha vida e norteou minha caminhada no final da infância, adolescência, juventude e início da vida adulta.

Entretanto, ainda na adolescência, na comum crise existencial pela qual todos passamos em maior ou menor grau, consciente ou não, questionava-me muito a respeito de qual seria o significado da minha vida com JESUS CRISTO, entre a decisão de recebê-lo como salvador e minha morte. Ou seja, durante os anos de vida neste corpo, qual seria meu papel à luz da minha relação com JESUS CRISTO.

A resposta dada pelos doutrinadores de que meu papel seria ajudar a despovoar o inferno e povoar o céu foi minha única prioridade durante algum tempo, mas foi se tornando mais pobre de significado quanto mais eu refletia e compreendia a respeito do amor de Deus, da Bíblia e seus significados,  da criação, do ser humano e suas múltiplas e complexas dimensões e das causas do sofrimento humano criadas pela natureza em si da existência ou por nós e pelos sistemas sociais por nós criados para vivermos e sobrevivermos neste planeta.

Lembro-me de que um hino do Cantor Cristão (primeiro hinário usado nas igrejas batistas do Brasil), cuja teologia se desviava da predominante e, talvez por isso, não era dos mais cantados, tocava não somente meu coração, mas também minha mente. Ele dizia:

"Depois que Cristo me salvou, em céu o mundo se tornou; 
Até no meio do sofrer, é céu a Cristo conhecer! 

[coro] 
Oh Aleluia sim é céu, fruir perdão que concedeu; 
Em terra ou mar seja onde for, é céu andar com o Senhor! 

Prá mim mui longe, estava o céu, mas quando Cristo me valeu; 
Feliz senti meu coração, entrar no céu da retidão! 

Bem pouco importa eu ir morar, em alto monte, à beira mar; 
Em casa ou gruta boa ou ruim, com Cristo aí é céu pra mim!"

(James Milton Black (1856-1938) e Benjameim Rufino Duarte (1874-1942))

A teologia desse hino não limitava os efeitos da salvação a um céu futuro, nem a uma morada com Deus no depois. Falava-me de um Deus presente que, por isso, trazia consigo o céu para qualquer lugar ou situação do planeta.

Portanto, aceitar a JESUS CRISTO como salvador seria um ponto de partida para uma nova vida e não um ponto de chegada a se dar somente no futuro. Salvação seria, portanto, a vida em comunhão com Deus desde o presente, não apenas um espaço geográfico distante e futuro, onde Deus fica recolhido e para lá recolhe os que são "lavados pelo sangue de JESUS CRISTO".

xxx

Dai a converter-me a JESUS, O CRISTO, foi uma questão de tempo, inclusive necessária, para que a vida neste planeta ganhasse pra mim um siginificado mais profundo.

Sem necessidade de anular a fé em JESUS CRISTO ou, como dizem alguns, a fé no Cristo da teologia, especialmente da teologia paulina, passei a aprofundar o conhecimento, a comunhão e a fidelidade a JESUS, O CRISTO, o ungido de Nazaré. 

Passei a prestar mais atenção à sua vida nos termos descritos pelos 4 evangelistas, à forma como vivia, ensinava e se relacionava com as pessoas, com as coisas, com as Escrituras, com a religião e os religiosos, com as mulheres e as crianças, com os poderosos e os empobrecidos, com os doentes e marginalizados, com o ter e o não ter, enfim, com a vida.

Não fiz isso por sentir necessidade de agradar a Deus ou conquistar algo dele, até porque, no final da juventude já havia consolidado meus pensamentos e sentimentos em relação ao significado da graça de Deus manifesta em JESUS CRISTO e nela já havia depositado minha confiança. 

Viver pela graça, já havia aprendido com o "conceito teológico" JESUS CRISTO. Faltava-me aprender a ser mais gracioso no meu modo de viver e isso passei a aprender focando-me no JESUS, O CRISTO, o ungido da desconhecida, desvalorizada e menosprezada Nazaré.

Desde então, o desafio tem sido cada dia novo. 

Confiante na graça divina tal qual conheci ao conhecer JESUS CRISTO, empenho-me, simplesmente pelo significado que isso dá à minha existência neste corpo. 

Ao conhecer e, por isso reconhecer, que, sendo JESUS, O CRISTO, a luz do mundo, seguí-lo, aplicando seu caráter ao meu e seus ensinos a tudo o que me cerca, coloca-me no caminho da luz, liberta-me do caminho das trevas, em todas as dimensões e relações da vida.

Quando me perguntam a respeito de outras manifestações de fé religiosa, não sinto necessidade de negá-las ou afirmá-las, mas apenas de declarar que o significado teologico de JESUS CRISTO e o norteamento de vida de JESUS, O CRISTO, o ungido de Nazaré, enchem meu coração de paz e minha vida de significado. 

Por isso, não preciso viver minha fé como uma disputa com a fé alheia, nem minha vida ou ministério como um empreendimento, um negócio religioso, pois em JESUS CRISTO e em JESUS, O CRISTO, minh'alma sente-se satisfeita. Apenas compartilho o que JESUS fez e faz em minha vida e pode fazer na daqueles que nele - em sua integralidade - confiarem. 



(Próximo texto: Por que muitos aceitam JESUS CRISTO e rejeitam JESUS, O CRISTO?)

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