Variações sobre O Jornal Batista (2004)
Minhas primeiras lembranças do Jornal Batista remontam à adolescência. Meu tio Messias, um piauiense radicado no interior paulista, era o único da igreja que o assinava. Através dele, por uma certa insistência até, lia um artigo aqui, outro ali…De uma maneira geral, não gostava mas, depois que aprendi sobre público-alvo, entendi a razão: o jornal não era para adolescentes.
Daquela época, dois títulos ficaram gravados. O primeiro, parece-me, “Eu chorei na Rússia”, escrito por “um tal de” Valdemiro Tymchak. Meu tio era um vibrador da, se não me engano, série escrita por ele. Somente anos depois vim saber quem era o referido escritor. Ele se tornaria, para mim, o mais visível símbolo de credibilidade dos batistas brasileiros. Se a imagem que sua vida pública repassa, pudesse ser reproduzida em mais meia dúzia de líderes, em áreas distintas, a realidade denominacional, eclesiástica e nacional, seriam bem melhores.
O segundo título era da coluna “Um pouco de Sol”. Tive um único e frustrante contato direto com seu autor, Rubens Lopes. Ainda adolescente, caipira, de uma igreja pequena do interior, participando de uma atividade da Jubesp na Igreja Batista de Vila Mariana, recebi dele um frio aperto de mão, sem que me olhasse nos olhos. Mas não fiquei com uma opinião distorcida dele por causa disso, nem deveria. Reconheço seu importante papel na história dos batistas.
De sua coluna ficou o título. O título das colunas dizem muito mais dos autores e seus contextos do que imaginamos. Uma leitura psico-teológico-sociológica deles daria muito pano prá manga. Examinai Tudo, por exemplo, retrata sentimentos de inconformação com posturas superficiais diante de realidades opressoras que afetam o viver.
O fato, porém, é que nossos discursos expressam muito mais nossos desejos do que as palavras conseguem expressar. Por isso, imagino que, talvez, “Um pouco de Sol”, nos porões da ditadura militar, significaria para um pastor, o mesmo que o “Afasta de mim esse cálice”, de Chico Buarque de Hollanda, ainda que apontando causas e soluções com símbolos e linguagem diferentes.
Quando seminarista fiz uma assinatura do Jornal Batista. O período coincidia com o fim da ditadura militar e, talvez, com a mais visível investida do fundamentalismo norte-americano sobre instituições batistas brasileiras. O Jornal era tido como politicamente conformista e teologicamente uniformizador. Pensamentos diferentes dos do Editor não eram publicados, dizia-se sob as mangueiras do STBNB.
Ao iniciar o pastorado, passei a enviar alguns textos para publicação que, em sua maioria, foram ‘enlixeirados’. Certa vez comentei isso com o hoje falecido Pr. Luis de Assis, cujos “bilhetes” eram regularmente publicados. Pr. Assis era, além de conselheiro, meu supervisor de língua portuguesa. Mantínhamos um pacto. Todas as vezes em que, na expressão escrita ou oral, cometesse desvio do português oficial, ele me corrigiria. Pois bem, ao comentar com ele sobre o ‘enlixeiramento’ dos textos que enviava, ele disse: “não desanime. Continue escrevendo e enviando. Alguém um dia vai se interessar e publicar...” Até o momento ele acertou...
Com o soprar dos ventos da democracia, O Jornal Batista se reencontrou com a identidade histórica dos batistas. Não tenho idéia se hoje há textos ‘enlixeirados’, mas, pelo menos, percebe-se que há espaço para pensamentos divergentes sobre temas iguais. Quando um escritor questiona pensamentos dominantes, publica-se depois, o pensamento oficial da Convenção Batista – Declaração doutrinária, princípios ou filosofia – ou até o de alguém que, no momento, ocupa função de poder.
Isso demonstra que ter um pensamento oficial e canonizá-lo são coisas diferentes. Significa também que, conquanto tenhamos pensamento oficial, dominante, (e de oficiais), continuar refletindo de forma responsável sobre ele é um imperativo para uma denominação que não deseja fossilizar-se. Assim deve ser pois não há sobre a face da terra um grupo de iluminados ou um indivíduo, a quem a onisciência foi presenteada.
Entre escritores, uns escrevem para impor, outros, para expor pensamentos. Uns escrevem para conquistar leitores, outros para confrontar idéias. Há até os que, narcisicamente, escrevem para se ver num texto. O importante é que o texto, seja qual for a motivação ou o estilo, cumpra a finalidade de levar leitores a pensar. Pensar é essencial para ações consistentes.
Quando o Jornal Batista abre espaço para formas de pensamentos e motivos divergentes e leitores reagem expressando suas opiniões, todos têm oportunidade de refletir e construir, com maior solidez, suas próprias opiniões e práticas. Dessa forma, escritores e leitores contribuem, através da reflexão, para a abertura de caminhos que nos aproximem cada dia mais de estruturas de pensamento e de práticas que expressem valores do Reino de Deus.
Daquela época, dois títulos ficaram gravados. O primeiro, parece-me, “Eu chorei na Rússia”, escrito por “um tal de” Valdemiro Tymchak. Meu tio era um vibrador da, se não me engano, série escrita por ele. Somente anos depois vim saber quem era o referido escritor. Ele se tornaria, para mim, o mais visível símbolo de credibilidade dos batistas brasileiros. Se a imagem que sua vida pública repassa, pudesse ser reproduzida em mais meia dúzia de líderes, em áreas distintas, a realidade denominacional, eclesiástica e nacional, seriam bem melhores.
O segundo título era da coluna “Um pouco de Sol”. Tive um único e frustrante contato direto com seu autor, Rubens Lopes. Ainda adolescente, caipira, de uma igreja pequena do interior, participando de uma atividade da Jubesp na Igreja Batista de Vila Mariana, recebi dele um frio aperto de mão, sem que me olhasse nos olhos. Mas não fiquei com uma opinião distorcida dele por causa disso, nem deveria. Reconheço seu importante papel na história dos batistas.
De sua coluna ficou o título. O título das colunas dizem muito mais dos autores e seus contextos do que imaginamos. Uma leitura psico-teológico-sociológica deles daria muito pano prá manga. Examinai Tudo, por exemplo, retrata sentimentos de inconformação com posturas superficiais diante de realidades opressoras que afetam o viver.
O fato, porém, é que nossos discursos expressam muito mais nossos desejos do que as palavras conseguem expressar. Por isso, imagino que, talvez, “Um pouco de Sol”, nos porões da ditadura militar, significaria para um pastor, o mesmo que o “Afasta de mim esse cálice”, de Chico Buarque de Hollanda, ainda que apontando causas e soluções com símbolos e linguagem diferentes.
Quando seminarista fiz uma assinatura do Jornal Batista. O período coincidia com o fim da ditadura militar e, talvez, com a mais visível investida do fundamentalismo norte-americano sobre instituições batistas brasileiras. O Jornal era tido como politicamente conformista e teologicamente uniformizador. Pensamentos diferentes dos do Editor não eram publicados, dizia-se sob as mangueiras do STBNB.
Ao iniciar o pastorado, passei a enviar alguns textos para publicação que, em sua maioria, foram ‘enlixeirados’. Certa vez comentei isso com o hoje falecido Pr. Luis de Assis, cujos “bilhetes” eram regularmente publicados. Pr. Assis era, além de conselheiro, meu supervisor de língua portuguesa. Mantínhamos um pacto. Todas as vezes em que, na expressão escrita ou oral, cometesse desvio do português oficial, ele me corrigiria. Pois bem, ao comentar com ele sobre o ‘enlixeiramento’ dos textos que enviava, ele disse: “não desanime. Continue escrevendo e enviando. Alguém um dia vai se interessar e publicar...” Até o momento ele acertou...
Com o soprar dos ventos da democracia, O Jornal Batista se reencontrou com a identidade histórica dos batistas. Não tenho idéia se hoje há textos ‘enlixeirados’, mas, pelo menos, percebe-se que há espaço para pensamentos divergentes sobre temas iguais. Quando um escritor questiona pensamentos dominantes, publica-se depois, o pensamento oficial da Convenção Batista – Declaração doutrinária, princípios ou filosofia – ou até o de alguém que, no momento, ocupa função de poder.
Isso demonstra que ter um pensamento oficial e canonizá-lo são coisas diferentes. Significa também que, conquanto tenhamos pensamento oficial, dominante, (e de oficiais), continuar refletindo de forma responsável sobre ele é um imperativo para uma denominação que não deseja fossilizar-se. Assim deve ser pois não há sobre a face da terra um grupo de iluminados ou um indivíduo, a quem a onisciência foi presenteada.
Entre escritores, uns escrevem para impor, outros, para expor pensamentos. Uns escrevem para conquistar leitores, outros para confrontar idéias. Há até os que, narcisicamente, escrevem para se ver num texto. O importante é que o texto, seja qual for a motivação ou o estilo, cumpra a finalidade de levar leitores a pensar. Pensar é essencial para ações consistentes.
Quando o Jornal Batista abre espaço para formas de pensamentos e motivos divergentes e leitores reagem expressando suas opiniões, todos têm oportunidade de refletir e construir, com maior solidez, suas próprias opiniões e práticas. Dessa forma, escritores e leitores contribuem, através da reflexão, para a abertura de caminhos que nos aproximem cada dia mais de estruturas de pensamento e de práticas que expressem valores do Reino de Deus.
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