Michelle Bolsonaro e a causa dos surdos
"Nossa cabeça pensa, onde pisam nossos pés!"
A Primeira Dama, Michelle Bolsonaro, roubou a cena no dia da posse do Presidente da República, ao discursar em LIBRAS, no parlatório, antes do seu marido. O ato foi simbólico sobretudo por trazer a debate os desafios enfrentados pelos surdos, uma parcela da população brasileira cujos problemas são desconhecidos ou ignorados pela maioria.
Criada na perifera de Brasília, Michelle teria se dedicado a aprender a Lingua Brasileira de Sinais - LIBRAS - pelo fato de ter convivido com um tio surdo. Disso teria nascido seu interesse por dedicar-se a este segmento.
Nossas escolhas pessoais têm relação direta com as experiências que tivemos. Isso ocorre inclusive na produção acadêmica. "É a relação afetiva para com um objeto, que me atrai ou me ameaça, que cria as condições para a concentração de minha atenção", escreveu Rubem Alves. Somos impulsionados a agir, visando entender e alterar uma realidade, quando nosso coração é tocado por uma situação que presenciamos, por uma narrativa que lemos ou ouvimos, por uma experiência que afetou nosso sentimento.
Lembro-me de narrativas dos pastores Paulo Eduardo, da PIB de São Paulo e Fernando Brandão, da Junta de Missões Nacionais e de como teriam sido movidos a agir após contato, "in loco", com a miserabilidade dos moradores da Cracolândia, na capital paulista. Essa experiência fez surgir um dos mais destacados projetos de recuperação e apoio a dependentes químicos conhecidos atualmente no Brasil.
O tête-à-tête dificulta nossa indiferença e nos faz tratar melhor quem está ao nosso lado. As palavras de Paulo indicam isso: “Vocês bem sabem que nunca fiz questão de riqueza ou de vestir do bom e do melhor. Com estas mãos limpas, cuidei das necessidades básicas, minhas e dos que trabalham comigo. Em tudo o que fiz, demonstrei a vocês que é preciso trabalhar a favor dos fracos, não explorá-los. Vocês não estão errando se guardarem a lembrança daquilo que o Senhor disse: ‘Vocês são mais felizes dando do que recebendo’.” (At. 20:32-35, em A Mensagem)
Mateus registra que Jesus, movido por compaixão, curou e alimentou pessoas quando VIU a multidão e seus enfermos e OUVIU que pessoas estariam com fome. (Mt 14). É, portanto, natural que, havendo um mínimo de compaixão em nosso coração, há empenho para usar os meios de poder acessíveis, por menores que sejam, para agirmos em favor de quem está em situação de vunerabilidade, desfavorecimento ou injustiça.
Michelle usou o parlatório, um instante de visibilidade "mundial", para alavancar, potencializar, o que tocou sua vida, seu coração, e fez bem. Importante, entretanto, é entendermos que não apenas sentimentos ou experiências particulares devem mover nossas ações. Não é preciso, por exemplo, ter na família um sem-teto para lutar por moradia ou uma mulher que foi violentada, para lutar pelos direitos das mulheres.
O conhecimento de dados da realidade, mesmo referentes àqueles que não fazem parte do nosso "mundo significativo", deve mover nossas escolhas, nossas lutas, como manifestação de amor ao ser humano, como Deus ama. E isso não somente para minorar a dor, assistencialmente, mas para atacar as causas geradoras e seus efeitos nocivos.
Michelle, repito, fez bem ao usar seu novo papel social e a repercussão de seus atos em favor daquilo que toca seu coração. E nós, temos usado nossas oportunidades e recursos para alavancar e potencializar não apenas o que mexe com nossas emoções, mas, sobretudo, o que move o coração de Deus, revelado em Jesus?
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