terça-feira, 10 de maio de 2011

Por que eu e a minha casa não servimos ao Senhor?

Uma das expressões bíblicas mais repetidas nas igrejas foi cunhada por Josué, líder hebreu. “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” era um desafio frente a alternativas que dividiam o coração, os relacionamentos e, consequentemente, reduziam a probabilidade de alcançarem êxito no projeto de conquista por ele liderado.

Tal divisão de sentimentos e pensamentos era geradora de comportamentos desagradáveis aos olhos do Senhor Deus, pois o projeto do qual o povo participava havia nascido em seu coração e visava um objetivo mais amplo para a humanidade.

Retirada do contexto, a expressão tem sido usada por pessoas que abraçaram a fé em Jesus, cujos familiares não as acompanha nessa decisão ou não participam de maneira ativa de uma comunidade de fé. Por isso, sempre que possível expressam com emoção “eu e a minha casa serviremos ao Senhor”, como manifestação do desejo de ver a família toda engajada na vida da igreja.

Diante disso peguei-me pensando no porquê de uma pessoa, em sã consciência, negar-se a servir ao Senhor. Se servir ao Senhor representa, em última análise, colocar-se a serviço do bem, que motivos justificariam alguém a negar-se a servi-lo?

Enquanto pensava nisso, lembrei-me de uma expressão atribuída a Gandhi, na qual ele teria dito: “aceito o vosso Cristo, mas rejeito o vosso cristianismo”. Ela expressa, a meu ver, o mesmo que acontece com muitos dos nossos familiares que não nos acompanham no serviço a Deus.

Não são muitas as pessoas que conseguem diferenciar “servir a Deus” de “servir a uma estrutura religiosa”. Ainda que, sempre que somos sinceros no desejo de servir a Deus, ocorra como desdobramento o sentimento de servirmos com outras pessoas e, ainda que isso implique, inevitavelmente, na necessidade de um sentido mínimo de organização, o fato é que, geralmente, a tal organização acaba se tornando um fim em si mesma. Quando nos damos conta, em vez de estarmos juntos servindo a Deus, estamos juntos servindo aos institutos da organização.

É claro que a caminhada a dois gera necessidades de atenção à caminhada a dois, porém, a finalidade da caminhada deve merecer mais da nossa atenção, energias e outros recursos, do que os elementos que constituem meio para caminharmos a dois.

Além disso, julgo importante dizer que “servir ao Senhor” significa, antes de tudo, servir às pessoas. Isso Jesus deixa claro quando diz: “o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram”. (Mat. 25.40) e Paulo corrobora, ao declarar: “Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, pois ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas”. (At. 17.25)

Ainda que seja importante destacar que, à luz da vida e ensinos dos primeiros cristãos, cooperar com uma comunidade de fé é algo inerente à vida cristã, uma exigência até, o fato é que isso não serve de motivação para quem ainda não se comprometeu a seguir como discípulo de Jesus.

Se há algo capaz de levar alguém a cogitar sair do discurso da crença em Deus para uma prática cooperativa em igreja, isso seria a realidade de nos reunimos não para servir uma estrutura ou apenas nos servirmos dela, mas para juntos servirmos uns aos outros e daí servimos à vida, à luz de finalidades coerentes com projetos divinos.

Uma importante razão para que o “eu e a minha casa serviremos ao Senhor” não se concretize é a nossa incapacidade de mostrar que santidade significa saúde para todas as dimensões da vida e que a instituição igreja é apenas canal de serviço a Deus através de serviços ao próximo e não estímulo à hipocrisia, falsa moralidade ou combustível de neuroses.

Enquanto não nos convencermos disso, mais difícil se torna realizar o desejo expresso na frase: “eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.

1 comentários:

Anônimo 11 de maio de 2011 às 19:58  

Concordo plenamente!