Administração Batista (2008)
Por uma administração transparente, democrática, austera e eficaz.
Vez por outra somos surpreendidos com notícias de instituições batistas enfrentando sérios problemas, geralmente na área financeira. O interessante é que os dirigentes são batistas cuidadosamente escolhidos, atuam cercados de profissionais vinculados a igrejas da convenção e seguem diretrizes de conselhos formados por dezenas de líderes democraticamente eleitos. Por que, então, surpresas desagradáveis não cessam de aparecer?
Neste texto tentarei responder essa pergunta, apontando caminhos que poderão nos poupar de situações constrangedoras e, também, nos colocar na trilha da saúde em termos de administração.
FALTA TRANSPARÊNCIA
A primeira razão é a falta de transparência. Se a instituição por nós administrada está bem financeiramente, a informação é “escondida” para não chamar a atenção; se está mal, fazemos o mesmo para não sermos criticados ou haver risco de perda de emprego.
A cada ano investimos um bom dinheiro em livros do mensageiro que logo após as assembléias vão pra lata de lixo sem nos dizerem muita coisa. As informações neles contidas, em alguns casos, não passam de histórias de atividades repetitivas de dirigentes realizadas sem conexão clara com a missão ou visão estratégica da instituição.
Outras informações são colocadas de tal modo que mesmo técnicos da área não se entendem em torno delas. Somente poucos “iluminados” conseguem enxergar a realidade através do material fornecido. John Nisbitt, em “O líder do futuro”, escreveu: “a complexidade muitas vezes é usada como instrumento de camuflagem, enquanto a simplificação promove a transparência”. Por que optamos pela “complexidade”?
Jeffrey Stinson escreveu o seguinte, sobre a transparência em relação ao salário da população, praticada na Suécia, Finlândia, Noruega e Escandinávia: “A política sueca de tornar pública a declaração de imposto de renda - como é na Finlândia e na Noruega - vem de uma tradição de abertura de informações e transparência de governo, exceto nos casos de segurança nacional e em alguns aspectos das investigações criminais”. Na Escandinávia, isso é uma tradição para indicar que “ninguém é melhor do que ninguém”. (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/usatoday/2008/06/23/ult582u835.jhtm)
Na cultura brasileira, por detrás da falta de transparência geralmente está ou a consciência das injustiças sociais entre os participantes ou uma latente atitude de corrupção. No caso batista, a experiência com Cristo e a contracultura cristã parecem não conseguir superar a cultura brasileira na qual nosso caráter é forjado. Por isso, nos agitamos sempre que um “convencional” pouco convencional se atreve a falar em transparência em nossas assembléias.
FALTA DEMOCRACIA
A segunda razão é a falta de democracia. Somos um povo inexperiente e imaturo em matéria de democracia. Para nós, democracia é ter o direito de escrever numa cédula o nome de candidatos a cargos públicos, dentre os apresentados por partidos políticos.
Em relação às assembléias legislativas, a democracia existe somente no dia da eleição. Depois é a ditadura dos eleitos que deliberam desavergonhadamente de forma corporativa.
Participar da pré-seleção, filiando-se a um partido político é um privilégio de uma elite, inclusive porque alguns líderes eclesiásticos ensinam que partido político é coisa do demônio.
A vinculação da palavra democracia a eleições faz parte do jogo político comandado por aqueles que jamais gostariam que a população entendesse que democracia significa governo do povo e não somente eleição de dirigentes pelo povo.
Essa compreensão nos levaria a darmos a mesma importância tanto ao processo eleitoral quanto a criação e manutenção de mecanismos eficazes, estruturas adequadas, que possibilitem o real governo sobre toda a coisa pública.
Democracia, portanto, é a capacidade de governarmos as instituições públicas, mesmo não sendo seus executivos.
Graças a líderes corajosos a CBB dá sinais de recuperação do poder de governança sobre suas instituições, perdido em uma estrutura que, parece, atendia muito mais a interesses de alguns “empregados e seus amigos” do que dos criadores e mantenedores do sistema.
Democratizar, repito, não significa que todas as decisões administrativas de cada instituição devam ser tomadas mediante votação pelos mantenedores, mas que devem ser criados meios eficazes para o exercício da governança por todos os cooperadores do sistema.
FALTA AUSTERIDADE
A terceira razão é a falta de austeridade. Por faltar-nos clareza de missão, visão estratégica, programas e projetos ou, numa hipótese pior, senso ético, não raras vezes os recursos disponíveis são utilizados de maneira indisciplinada, supérflua, luxuosa até.
Não refletimos sobre a origem de cada centavo por nós administrado. Esquecemos-nos de que é resultado da fé e também, muita vez, do sacrifício de pessoas empobrecidas que deixam de poupar para sua aposentadoria ou de usufruir um pouco mais de conforto pela expansão do Reino de Deus.
Há dirigentes que se esquece de que o dinheiro por eles administrado está em suas mãos porque, nas bases, pastores, líderes e gente simples trabalham diuturna e arduamente a fim de que dízimos sejam devolvidos com alegria. A maioria desses pastores, como em todas as categorias profissionais nesta injusta “sociedade” brasileira, não recebe salários decentes, mas suas igrejas não deixam de transferir, mensalmente, parte das parcas receitas para a cooperação denominacional.
Por isso, devemos desenvolver uma atitude de austeridade e cobrar a lembrança e presença dela no uso dos recursos.
FALTAM DADOS INDICADORES
A quarta e última razão é a falta de indicadores do desenvolvimento de nossas instituições. Pela cultura da “palavra”, somos guiados por discursos eloqüentes e emocionantes e não nos interessamos por dados concretos. Não damos valor a dados que apontem a situação real de nossas instituições. Confiamos em discursos eletrizantes de líderes capazes de tirar leite de pedra e desprezamos aqueles que defendem a necessidade de dados quando da tomada de decisões.
Para alguns, reivindicar dados é incompatível com a fé. Assim, um senso de credulidade ingênua predomina em nossas reuniões e, conquanto tenhamos, o tempo todo, a sensação de estarmos vencendo o jogo, pelo entusiasmo das palavras dos que discursam, vez por outra nos deparamos com a triste e dolorosa realidade de instituições à beira da falência ou falida.
“Confira o placar do jogo” é a expressão usada por John Nasbitt, no livro já citado. Ele dedica um capítulo todo a exemplos de como os dados sobre a realidade nem sempre confirmam os discursos. Discursos são movidos por interesses de quem discursa e nem sempre condizem com a realidade. Prioridades são invertidas simplesmente porque, em vez de prestarmos atenção a dados, damos ouvidos a discursos carismáticos. Não consideramos que “é da natureza dos seres humanos virar a informação na direção das conclusões desejadas”, diz Nasbitt.
Em agosto de 2007 o Conselho da CBB aprovou a criação de uma série de indicadores do desenvolvimento da CBB que deveriam ser levantados por cada instituição, referentes aos últimos 5 anos, a fim de podermos analisá-los e, a partir daí, verificarmos em que áreas estamos de fato progredindo, regredindo ou estagnados.
No meu ponto de vista a disponibilização de tais indicadores é essencial tanto para diagnóstico, como para prognóstico. Sem eles nenhum batista pode dizer, com autoridade, se estamos ganhando ou perdendo, simplesmente porque não sabemos o “placar do jogo”.
Estou convencido de que, sem transparência, democracia, austeridade e dados concretos, a administração batista estará sempre aquém da eficácia desejada e a mercê de surpresas desagradáveis.
Neste texto tentarei responder essa pergunta, apontando caminhos que poderão nos poupar de situações constrangedoras e, também, nos colocar na trilha da saúde em termos de administração.
FALTA TRANSPARÊNCIA
A primeira razão é a falta de transparência. Se a instituição por nós administrada está bem financeiramente, a informação é “escondida” para não chamar a atenção; se está mal, fazemos o mesmo para não sermos criticados ou haver risco de perda de emprego.
A cada ano investimos um bom dinheiro em livros do mensageiro que logo após as assembléias vão pra lata de lixo sem nos dizerem muita coisa. As informações neles contidas, em alguns casos, não passam de histórias de atividades repetitivas de dirigentes realizadas sem conexão clara com a missão ou visão estratégica da instituição.
Outras informações são colocadas de tal modo que mesmo técnicos da área não se entendem em torno delas. Somente poucos “iluminados” conseguem enxergar a realidade através do material fornecido. John Nisbitt, em “O líder do futuro”, escreveu: “a complexidade muitas vezes é usada como instrumento de camuflagem, enquanto a simplificação promove a transparência”. Por que optamos pela “complexidade”?
Jeffrey Stinson escreveu o seguinte, sobre a transparência em relação ao salário da população, praticada na Suécia, Finlândia, Noruega e Escandinávia: “A política sueca de tornar pública a declaração de imposto de renda - como é na Finlândia e na Noruega - vem de uma tradição de abertura de informações e transparência de governo, exceto nos casos de segurança nacional e em alguns aspectos das investigações criminais”. Na Escandinávia, isso é uma tradição para indicar que “ninguém é melhor do que ninguém”. (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/usatoday/2008/06/23/ult582u835.jhtm)
Na cultura brasileira, por detrás da falta de transparência geralmente está ou a consciência das injustiças sociais entre os participantes ou uma latente atitude de corrupção. No caso batista, a experiência com Cristo e a contracultura cristã parecem não conseguir superar a cultura brasileira na qual nosso caráter é forjado. Por isso, nos agitamos sempre que um “convencional” pouco convencional se atreve a falar em transparência em nossas assembléias.
FALTA DEMOCRACIA
A segunda razão é a falta de democracia. Somos um povo inexperiente e imaturo em matéria de democracia. Para nós, democracia é ter o direito de escrever numa cédula o nome de candidatos a cargos públicos, dentre os apresentados por partidos políticos.
Em relação às assembléias legislativas, a democracia existe somente no dia da eleição. Depois é a ditadura dos eleitos que deliberam desavergonhadamente de forma corporativa.
Participar da pré-seleção, filiando-se a um partido político é um privilégio de uma elite, inclusive porque alguns líderes eclesiásticos ensinam que partido político é coisa do demônio.
A vinculação da palavra democracia a eleições faz parte do jogo político comandado por aqueles que jamais gostariam que a população entendesse que democracia significa governo do povo e não somente eleição de dirigentes pelo povo.
Essa compreensão nos levaria a darmos a mesma importância tanto ao processo eleitoral quanto a criação e manutenção de mecanismos eficazes, estruturas adequadas, que possibilitem o real governo sobre toda a coisa pública.
Democracia, portanto, é a capacidade de governarmos as instituições públicas, mesmo não sendo seus executivos.
Graças a líderes corajosos a CBB dá sinais de recuperação do poder de governança sobre suas instituições, perdido em uma estrutura que, parece, atendia muito mais a interesses de alguns “empregados e seus amigos” do que dos criadores e mantenedores do sistema.
Democratizar, repito, não significa que todas as decisões administrativas de cada instituição devam ser tomadas mediante votação pelos mantenedores, mas que devem ser criados meios eficazes para o exercício da governança por todos os cooperadores do sistema.
FALTA AUSTERIDADE
A terceira razão é a falta de austeridade. Por faltar-nos clareza de missão, visão estratégica, programas e projetos ou, numa hipótese pior, senso ético, não raras vezes os recursos disponíveis são utilizados de maneira indisciplinada, supérflua, luxuosa até.
Não refletimos sobre a origem de cada centavo por nós administrado. Esquecemos-nos de que é resultado da fé e também, muita vez, do sacrifício de pessoas empobrecidas que deixam de poupar para sua aposentadoria ou de usufruir um pouco mais de conforto pela expansão do Reino de Deus.
Há dirigentes que se esquece de que o dinheiro por eles administrado está em suas mãos porque, nas bases, pastores, líderes e gente simples trabalham diuturna e arduamente a fim de que dízimos sejam devolvidos com alegria. A maioria desses pastores, como em todas as categorias profissionais nesta injusta “sociedade” brasileira, não recebe salários decentes, mas suas igrejas não deixam de transferir, mensalmente, parte das parcas receitas para a cooperação denominacional.
Por isso, devemos desenvolver uma atitude de austeridade e cobrar a lembrança e presença dela no uso dos recursos.
FALTAM DADOS INDICADORES
A quarta e última razão é a falta de indicadores do desenvolvimento de nossas instituições. Pela cultura da “palavra”, somos guiados por discursos eloqüentes e emocionantes e não nos interessamos por dados concretos. Não damos valor a dados que apontem a situação real de nossas instituições. Confiamos em discursos eletrizantes de líderes capazes de tirar leite de pedra e desprezamos aqueles que defendem a necessidade de dados quando da tomada de decisões.
Para alguns, reivindicar dados é incompatível com a fé. Assim, um senso de credulidade ingênua predomina em nossas reuniões e, conquanto tenhamos, o tempo todo, a sensação de estarmos vencendo o jogo, pelo entusiasmo das palavras dos que discursam, vez por outra nos deparamos com a triste e dolorosa realidade de instituições à beira da falência ou falida.
“Confira o placar do jogo” é a expressão usada por John Nasbitt, no livro já citado. Ele dedica um capítulo todo a exemplos de como os dados sobre a realidade nem sempre confirmam os discursos. Discursos são movidos por interesses de quem discursa e nem sempre condizem com a realidade. Prioridades são invertidas simplesmente porque, em vez de prestarmos atenção a dados, damos ouvidos a discursos carismáticos. Não consideramos que “é da natureza dos seres humanos virar a informação na direção das conclusões desejadas”, diz Nasbitt.
Em agosto de 2007 o Conselho da CBB aprovou a criação de uma série de indicadores do desenvolvimento da CBB que deveriam ser levantados por cada instituição, referentes aos últimos 5 anos, a fim de podermos analisá-los e, a partir daí, verificarmos em que áreas estamos de fato progredindo, regredindo ou estagnados.
No meu ponto de vista a disponibilização de tais indicadores é essencial tanto para diagnóstico, como para prognóstico. Sem eles nenhum batista pode dizer, com autoridade, se estamos ganhando ou perdendo, simplesmente porque não sabemos o “placar do jogo”.
Estou convencido de que, sem transparência, democracia, austeridade e dados concretos, a administração batista estará sempre aquém da eficácia desejada e a mercê de surpresas desagradáveis.
0 comentários:
Postar um comentário