segunda-feira, 20 de junho de 2011

O início de um novo ciclo - parte 1

A vida é feita de ciclos, não somente em seus aspectos biológicos (infância, juventude, idade adulta e terceira idade ou nascimento, desenvolvimento, envelhecimento e morte, por exemplo), mas também em seus aspectos psicológicos, religiosos, sociais, enfim.

A identificação dos ciclos se dá a partir de referenciais por nós escolhidos. Podem ser, por exemplo, cronológicos (o período de atuação em uma atividade); humanos (um pastorado numa igreja); materiais (casa onde moramos) ou acadêmicos (escolas onde estudamos, curso realizado).

A identificação de ciclos nos ajuda na avaliação de aspectos da vida, na renovação de metas e revigora as energias que nos movem.

Podemos identificar alguns ciclos em nossa caminhada como igreja, inclusive nesse período de sete anos incompletos que estamos andando juntos. Podemos falar em período de estruturação organizacional, jurídica, patrimonial, operacional ou política, por exemplo.

Tenho uma compreensão de que estamos chegando ao final de um ciclo ou iniciando um novo ciclo e as razões que me levam a crer nisso são diversas, ainda que, prefira não publicá-las aqui e agora.

O fato é que, à luz de diversos indicadores, tenho a sensação e uma forte convicção de que estamos em processo de transição para um novo ciclo na vida de nossa igreja, no qual a atividade fim poderá, finalmente, ocupar maior espaço em nossas reflexões e ocupações.

Alguém perguntará: porque isso não aconteceu até agora? Gostaria de responder iniciando com uma analogia.

A relação de um casal pode ser dividida em duas fases. A primeira é a fase do namoro; a segunda, do casamento. Na fase de namoro, cada um mora em sua casa, onde não tem a responsabilidade de gerenciá-la (cuidar do abastecimento, preparo da alimentação, preocupação com limpeza e manutenção, cuidados com as roupas, administração do orçamento, enfim), uma vez que isso é responsabilidade dos pais.

Nesta fase, o casal geralmente se encontra em horários específicos, previamente acertados, com o objetivo de vivenciarem atividades lúdicas. O tempo é investido em atividades afetivas e não institucionais.

No casamento ambos passam a viver sob o mesmo teto e assumem a responsabilidade de administrar todos os aspectos estruturais da vida a dois. São responsáveis pela definição e administração do orçamento, divisão e execução dos deveres de casa, organização do tempo e cuidado dos filhos, elementos que não faziam parte de suas preocupações anteriores.

Casais em crise não percebem que muitos dos seus conflitos ocorrem não porque um deles mudou depois do casamento, mas por não perceberem que as circunstâncias mudam totalmente depois do casamento. Não percebem que é justamente a inabilidade para administrarem juntos os deveres e direitos da convivência sob o mesmo teto, uma das principais causas de conflitos. A questão, portanto, não seria somente falta de investimento na afetividade, mas também despreparo para gerenciamento das responsabilidades.

Para que um casal construa uma caminhada feliz, é preciso ser competente para equilibrar questões relacionadas à afetividade e questões ligadas à institucionalidade. Se alguma coisa não anda bem, o primeiro passo é fazer uma relação daquilo com o que ambos estão satisfeitos e outra do que gera insatisfação, a fim de buscar uma solução.

Na caminhada espiritual ocorre o mesmo. Não percebemos que viver em comunhão com Deus e viver em comunhão com a família de Deus tem implicações e exigências diferentes. A primeira geralmente nos agrada, especialmente quando se vive num clima de contemplação, de apenas ouvir Deus dizendo-nos sobre os caminhos pelos quais seguir ou de somente receber as boas oportunidades, as bênçãos que ele nos dá.

A segunda – fazer parte da família de Deus -, entretanto, tem a ver com equação de pensamentos diferentes referentes a crenças, uso de tempo, dinheiro, espaço, valores e prioridades numa convivência democrática constituída por uma população plural.

Nesse caso, ainda que a dimensão espiritual da fé precise ser enfatizada, não há como desenvolver uma caminhada saudável se os elementos institucionais que norteiam a convivência não forem adequadamente equacionados. Por maior que seja o investimento em oração e estudo da Palavra, sem ações concretas em relação aos elementos institucionais, a convivência se caracterizará pelo círculo vicioso “orar - ler a Bíblia - apagar fogo”. Pior: sem dar atenção aos problemas da organização, o cupim vai se instalando e, mesmo que tudo pareça bem diante de belos discursos, em dado momento a casa cai, literal e figuradamente.

No primeiro mês do meu ministério na IBG fiz uma pesquisa por escrito, perguntando duas coisas: 1) o que te atraiu à IBG; 2) o que você modificaria na IBG. Com base nela elaborei uma trilha pela qual tenho caminhado até aqui.

Nesses anos trabalhamos sim a dimensão teológica, mas em nossa percepção o "cupim" era tanto na dimensão organizacional e patrimonial que, ou priorizávamos a dedetização eclesiológica ou ficaríamos sem espaço (organizacional e físico) e gente para trabalhar a teologia.

Agora, parece-nos que os macros problemas de natureza política, organizacional, jurídica, patrimonial e operacional estão saneados e, assim, acreditamos poder, doravante, investir ainda mais tempo e recursos no que é central: a comunhão de cada membro com Deus e com o semelhante, visando o compromisso com uma vida saudável – santa na linguagem sacerdotal – para todos, em todas as dimensões.

1 comentários:

Alonso 20 de junho de 2011 às 17:31  

Muito Bom! Gostei.
Alonso