sábado, 28 de abril de 2012

Diretrizes para uma vida de oração

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará; quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. (Mt. 6.5-8)

Considero essas palavras de Jesus as mais relevantes diretrizes sobre oração nas Escrituras. Elas contêm o essencial para que, não somente os objetivos, mas também nossos motivos sejam saudáveis ou, numa linguagem sacerdotal, santos.

Ele começa declarando que não devemos ser como os hipócritas. Aqui, a palavra hipócrita é usada como sinônimo de fariseu. Os Fariseus eram o maior partido político-religioso de Israel, portanto, maior do que Saduceus, Essênios e Zelotes.

Não se destacavam, entretanto, pela força política, mas pela hipocrisia. A respeito deles, Jesus declarou: “Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície.” (Mt. 23.27). Até a oração deles era usada com má fé: “Vocês devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações.” (Mt. 23.14)

No contexto de comparação com a prática dos fariseus, que gostavam “de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos”, Jesus recomenda a privacidade. “Vá para seu quarto”, disse nosso Senhor.

Avaliando algumas narrativas bíblicas, encontramos Jesus despedindo-se da multidão (Mt.14.23), separando-se dos discípulos (Mt.26.36) ou recolhendo-se num monte (Lc. 6.12), para orar. Não que o quarto, o monte ou o isolamento tornassem a oração mais sagrada. Jesus orou com os discípulos no Monte da Transfiguração (Lc. 9.28); os discípulos oraram em grupo na escolha de Matias para ocupar o lugar que era de Judas (At. 1.23-25) e Paulo juntou-se ao grupo de oração liderado por Lídia (At. 16.13).

O lugar ou as companhias não são impeditivos, nem aditivos, à eficácia da oração. Não é este ou aquele monte sagrado, mas o coração consagrado (Jo. 4.20-23). No contexto das palavras de Jesus, a ênfase à privacidade visava contrapor-se ao uso político da oração. Quando não estamos sob holofotes, a opinião pública torna-se irrelevante; o sentimento se sobrepõe ao racionalismo; as palavras deixam de ser meio para impressionar o público e o discurso dá lugar ao eloqüente silêncio da alma que só pode ser decodificado pelo Espírito Santo (Rom. 8.26).

Assim, não há porque tornar-se repetitivo. “Não useis de vãs repetições” não tem a ver com a disputa político-doutrinária entre protestantes e católicos em torno dos conceitos oração e reza. Deus não nos ouve nem deixa de nos ouvir em função de definições ou articulações lingüístico-teológicas. Ele conhece nossas limitações cognitivas e discursivas, bem como nossas intenções, inclusive quando nem mesmo nós temos consciência delas.

Paulo tinha uma necessidade, orou três vezes e silenciou. (II Cor. 12.8); a viúva da parábola, pelo contrário, não parou de insistir enquanto não foi atendida (Lc. 18.3). É irrelevante discutir quem estava certo, nesses casos. Paulo revelava uma forte confiança e capacidade de adaptação a situações adversas (Fil. 4.11-13); a, viúva, uma forte perseverança diante de suas necessidades.

A questão não era a repetitividade em si, mas o falso pressuposto motivador: Deus atende a quem fala muito. O estudo de ensinos e casos bíblicos nos leva a crer que para Deus o importante em nossas orações não é a riqueza cultural, quantidade de vocabulário ou a entonação da voz, mas a humildade e sinceridade de coração. O fariseu falou muito vaidosamente de si e foi rejeitado; o publicano,que clamou humilde e sinceramente por misericórdia, foi abençoado (Lc. 18.13).

Por isso, não orar com hipocrisia, repetitivamente, para impressionar ou manipular pessoas ou Deus são diretrizes básicas para uma vida de oração. Quem as segue não tem garantia da resposta como deseja, mas encontra forças que resultam de corações que se sentem acolhidos e vivem pela fé na soberania e graça divinas.

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