E o carnaval continua...
Não sou filiado a partido
político – o que não é virtude – nem acadêmico de política – o que não é
necessidade. Sou um cidadão que procura ser minimamente informado das realidades
que me cercam, ciente de que nada na caminhada em sociedade, seja bom ou ruim,
acontece por acaso. Tudo é resultado de um jogo de forças movido por “n”
interesses e valores.
Essa consciência faz com que me
interesse até certo ponto, inclusive pelo que ocorre nos mais altos escalões
dos 3 poderes constitucionais – Legislativo, Executivo e Judiciário – bem como
do quarto poder, os meios de comunicação de massa. Deles procedem as “saídas da
vida”, pois em suas entranhas os que foram investidos de poder – direta ou
indiretamente - pela sociedade expressam o que vai em seus corações, muito
mais, infinitamente mais, do que o que vai no coração de parte significativa do
povo que os empoderou.
Se no quarto poder o carnaval se
manifesta através do monopólio (2 ou 3 grupos detém a maioria absoluta da mídia
nacional fazendo o que bem entende com a cabeça politicamente ingênua de
parcela considerável da população), no Legislativo isso ficou evidente nas
eleições de seus presidentes, na Câmara e Senado.
Antes de qualquer coisa, gostaria
de deixar claro que política e ética podem se misturar ou não, de acordo com a
correlação de forças existente. Os que controlam a maioria dos votos, de
esquerda, direita ou centro (seja lá o que isso signifique!), elegem os
dirigentes não por sua folha corrida, mas pela relação custo-benefício que eles
representam diante das alternativas existentes à manutenção de seus poderes.
Assim, enquanto aqueles que não
foram investidos de poder em cargos públicos ou nem têm consciência do poder
que têm defendem que a ética deveria ser o critério primeiro norteador da
escolha dos presidentes das casas legislativas, para a maioria dos legisladores
a ética é um ingrediente a ser considerado não por seu valor intrínseco, mas
pelos resultados decorrentes. Se o candidato fortalecerá seus interesses, pouco
importa o histórico ético ou a quem está associado. O pragmatismo, então, não a
ética, é a cosmovisão norteadora. (Tanto lá, quanto cá, pois agimos da mesma
forma, de dois em dois anos).
A lógica dos que elegeram os presidentes
do Senado e da Câmara, parece destoar da que rege seus eleitores, mas só
parece. Na verdade é idêntica. A maioria de nós, na maioria das vezes, elege
não pela “ficha limpa” ou pelo espírito predominantemente público do postulante,
mas pela percepção de vantagem que pode representar para os fins almejados.
Fins nem sempre altruístas.
Não me norteio pela cosmovisão
purista, embora valorize a pureza. Considero herética a radicalização de
qualquer “ismo”. Sei que todos os candidatos são “pecadores”. Também não me
norteio pelos parâmetros estabelecidos pelas mídias. Elas não são neutras e,
antes de tudo, defendem sua sobrevivência e interesses econômicos. Até mesmo relatórios policiais e decisões
judiciais têm, em maior ou menor grau, um viés político-ideológico. Porém,
quando as evidências levantadas por diversas fontes distintas, de diversos
lugares e natureza, apontam muita fumaça, a probabilidade de haver fogo é
grande. Nesse caso, a precaução seria recomendada, mas...
Enquanto assim é e enquanto assim
for, o carnaval continua: continuamos brincando, fazendo de conta que não somos
o que somos e que a vida em sociedade não é o que é. E, assim como os
indicadores de violência se elevam no carnaval, mantém-se elevados os
indicadores de violência de todo tipo na sociedade brasileira. E continuará, pela
manutenção do bem estar de alguns em detrimento do da maioria, enquanto
silenciarmos.
1 comentários:
Como poderia não concordar o senhor, pastor?
Ana Maria
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