terça-feira, 18 de junho de 2013

Vinte centavos versus bilhões de reais RAZÕES. O povo brasileiro vai às ruas!

“Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão ... Vocês oprimem o pobre e o forçam a dar-lhes o trigo. Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra, nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do seu vinho ... Pois eu sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus pecados. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais...  Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembléias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras.. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!" (Amós 5:7,11-12,21-24)
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos”. (Mt 5:6)


O mundo enviou suas “câmeras” ao Brasil para ver craques nas até bilionárias novas arenas de futebol construídas em tempo recorde, mas acabou sendo surpreendido vendo o povo nas ruas expressando seus sentimentos de contrariedade. A Rede Globo de televisão, detentora dos direitos exclusivos de transmissão dos jogos da Copa das Confederações está tendo que dobrar-se diante de outras emissoras que, até por força das circunstâncias, estão priorizando o povo nas ruas, mobilizados através das Redes Sociais.

Se o motivo das manifestações fosse somente os “20 centavos” de aumento nas passagens de ônibus, já seria de bom tamanho. É que 20 centavos, multiplicados por milhões de passageiros, significa maior concentração de recursos nas mãos de uns poucos proprietários de empresas que oferecem péssimo serviço e, vez por outra, são denunciados como fonte de financiamento de partidos em eleições para defenderem seus interesses, mini retrato de um dos principais círculos viciosos da corrupção no país.

Há quem diga que muitos vão às ruas sem saber bem a razão. E daí? Isso não é demérito. Nem sempre sabemos com clareza as causas das nossas dores. Muita vez agimos como bebes incapazes de elaborar pensamentos, de expressar o que sente através da linguagem oral, por isso, instintivamente, apela para gritos e choro. “Bem aventurado os que choram...” (Mt. 5). E se não são ouvidos por reconhecimento de suas necessidades, o são pela inconveniência dos gritos, bem ao estilo da viúva perseverante diante do juiz ímpio, da Parábola de Jesus (Lc. 18).

Claro que na medida em que o movimento nas ruas cresce, crescem também as tentativas de elaboração discursiva do que está ocorrendo. Nesse processo de elaboração o discurso torna-se, inevitavelmente ideologizado, colocando-se a serviço dos interesses, das crenças, dos valores de quem discursa. Ainda assim a manifestação merece nosso apoio.

Alguém está feliz vendo, por exemplo, a Transnordestina ou o Metro de Salvador que nunca são concluídos quando arenas de futebol recebem bilhões de financiamento e são levantadas rapidamente? Alguém está feliz quando, diante de ininterruptas denúncias terríveis de corrupção no país, políticos propõem a PEC 37 conhecida como PEC da impunidade, que visa tirar o poder de investigação criminal dos ministérios públicos federal e estaduais, modificando a constituição? Alguém está feliz com as notícias diárias de assaltos de aposentados em saídas de bancos; de pais que perdem filhos assassinados; de aumento no tráfico de drogas? Alguém está feliz com serviços públicos educacionais e de saúde? Claro que não!

Isso tudo não é problema de um partido. Na verdade é problema de todos eles, pois o próprio Sistema Eleitoral, contrário às necessidades da população, é mantido por eles que não manifestam disposição para mudá-lo! Iludem-se, portanto, aqueles que acreditam que a solução está somente nas escolhas que fazemos nas urnas, inclusive porque nelas apenas ratificamos ou não os nomes de candidatos eleitos pelos partidos por sabe-se lá que critérios.

Antes de tudo, claro, devemos orar pelas autoridades, conforme recomendou-nos Paulo (I Tim. 2). Jamais, porém, isso deve ser usado como ideologia para o silêncio ou acomodação dos cristãos. Cabem também as palavras de Jesus dadas como resposta aos que pediam que os discípulos se calassem: "se eles se calarem, as pedras clamarão." (Lc 19)!

Uma vez que, no final das contas, vivemos num Estado Democrático de Direito e, portanto, os problemas da sociedade são nossos, são de cada um de nós, manifestar-se nas ruas é um meio ética e legalmente legítimo, um importante meio de expressão de insatisfação. Mas não devemos ficar só nisso!


7 comentários:

ioash 18 de junho de 2013 às 11:45  

Lúcido, como sempre.

ioash 18 de junho de 2013 às 11:45  

Lúcido, como sempre!

Anônimo 18 de junho de 2013 às 12:07  

COPIEM E COLEM EM SEUS MURAIS!

"Um bom protesto sem vandalismo seria todo o estádio no próximo jogo do Brasil cantar o hino nacional de costas, levantando mensagens escritas como "Esse protesto não é contra a seleção, mas sim contra a nossa corrupção" teria um efeito mundial imediato potente e sem violência. A Copa das Confederações pode render bons e criativos protestos... Vamos aproveitar a mídia INTERNACIONAL."

Laio Magno 18 de junho de 2013 às 12:49  

Maravilhoso ler um comentário desse proveniente de um líder evangélico. Em tempos de marchas em favor da família, como as que ocorriam em 1964, dá até para reascender a esperança num evangelho puro e simples. Parabéns!

José Vieira 18 de junho de 2013 às 14:26  

Trata-se de um movimento que expressa o esgotamento das instituições. É por isso que, por natureza, vão sendo rechaçadas as tentativas de aproximação e instrumentalização por parte das instituições (partidos/mercado/mídia).
Por isso, cabe uma auto critica também por parte de outras instituições, como as da cultura e da religião. Não vai pegar bem artistas, celebridades e sacerdotes virem pegar carona, tentando alguma empatia, sem confessarem que igualmente foram coniventes até aqui e não construíram o despertar de consciências (e talvez até pelo contrário). Despertemos cada um, como cidadãos e não como representantes funcionais do que quer que seja.

Lucy 18 de junho de 2013 às 15:04  


Obrigada Edvar, pela lucidez, verdade e coragem do seu texto! Continue assim!!!

Djalma Santos 18 de junho de 2013 às 20:15  

Obrigado Edvar, por esta oportunidade de expressar meu pensamento sobre estas legítimas manifestações que estão acontecendo em diversas cidades deste nosso amado País. Os R$ 0,20 da tarifa dos ônibus foi a gota d`água. Até que enfim os nossos compatriotas humildes e pacíficos pela própria natureza, resolveram usar as redes sociais e ir às ruas para demonstrar o seu descontentamento com todos os absurdos e coisas negativas que nos vem sendo enfiadas guéla abaixo por aqueles que se dizem detentores do poder. Como é que num pais em que seus habitantes vêm sofrendo há muito tempo com os péssimos serviços de educação, saúde, segurança, transportes e etc; o seu governo federal faz doações financeiras exorbitantes para outros países, e constroi suntuosos estádios que em breve serão elefantes brancos, com o dinheiro público? Quantas injustiças! Desperta e muda Brasil. Antes que seja tarde demais!