Fichas-Sujas em todos os poderes
Ficha limpa ninguém tem. A história de todos nós está suja. As manchas da vida de alguns são como as das grandes catástrofes ecológicas que caracterizam acidentes com navios petroleiros no oceano; as de outros são identificadas apenas quando se faz coleta da água e a submete a exames laboratoriais. Mas todos, sem exceção, temos a ficha suja.
Não digo isso apenas fundamentado na teologia paulina que afirma que Deus olhou e não viu um só justo, porque todos pecaram. A história é suficiente para revelar-nos isso. Maquiamos nossas sujeiras, acreditamos ser capazes de escondê-las, mas, como disse Jesus, nada há escondido que não venha a ser descoberto.
Porém, quando falamos de políticos fichas-sujas não estamos falando de deslizes inerentes à condição limitada de nossa humanidade ou de atitudes, palavras ou ações erradas cujos efeitos prejudiciais não transpassam os limites da vida de quem os comete. Estamos pensando no criminoso. Naquele que, consciente e deliberadamente, transgrediu a lei visando benefícios próprios sem respeitar os prejuízos causados a terceiros, incluindo o patrimônio público.
Estamos pensando, portanto, em homens e mulheres que foram submetidos a processo e, no mínimo em primeira instância, foram condenados.
Nessa condição, tais pessoas deveriam ser impedidas de ocupar função pública, tanto por representarem um perigo real aos interesses da vida em sociedade, quanto por se aproveitarem de uma lei absurda que protege uma casta de indivíduos de serem processados por crime comum sem autorização de seus parceiros que, diga-se de passagem, têm se demonstrado corporativistas inclusive no que há de pior.
Ao liberar políticos “fichas-sujas” para concorrerem em 2010, os deputados que, por definição, seriam “aqueles que, em comissão, tratam dos negócios alheios”, demonstram, mais uma vez, o cinismo predominante e a total falta de respeito a nós, donos dos negócios aos quais foram comissionados para cuidar.
Saliento, entretanto, que a falta de respeito deles por nós é consequência da nossa falta de auto-respeito. Se nos mesmos nos respeitássemos não aceitaríamos tamanha afronta e, no mínimo, reagiríamos manifestando nossa indignação.
Segundo o Jornal A tarde (18.09.09), de Salvador, o líder do PT, Cândido Vaccareza, justificou sua posição contrária à lei aprovada no Senado dizendo: “isso é ridículo, é fazer lei sem responsabilidade. Dizer que tem de ter reputação ilibada é jogar para a platéia. Quem vai dizer, juiz? A boa técnica legislativa não combina com pirotecnia”
Compreendo as palavras dele por duas razões: 1) ele faz parte de um partido - igual a todos no que há de pior - cujos líderes, em quantidade alarmante, estão atolados até o último fio de cabelo em processos por corrupção; 2) estamos perdendo a confiança também em nossos juízes não por causa da imensa maioria de homens e mulheres honestos que compõem o judiciário, mas por causa das polêmicas em torno de alguns
– coincidentemente indicados pela presidência - que compõem o STF.
Quem quiser saber do que estou falando, pesquise o que está sendo dito em torno de José Antonio Toffoli, em processo de aprovação para compor o Supremo Tribunal Federal – STF.
Reajamos. Declaremos em alto e bom som que não concordamos com mais esta afronta. Informemo-nos e unamo-nos em torno da idéia de dar o troco em 2010.
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