terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A lembrança de um dia triste

Uma releitura de *Mateus 2.1-18

Aquele dia ficou marcado como um dos mais tristes da história de um povo. Foi caracterizado como dia de muito choro e lamentação. Até mesmo o consolo foi recusado. A causa não é difícil de ser compreendida. Basta apenas relembrarmos os fatos.

Tudo começou com uma notícia que se tornou motivo de alegria para muitos, inclusive menos favorecidos. Porém, houve quem dela se desagradasse profundamente.

Inicialmente a manifestação do desagrado não foi clara. Pelo contrário, ele – o desagrado – recebeu uma roupagem diametralmente oposta à realidade dos sentimentos. O sentimento real era de profunda perturbação, começando no coração do chefe do povo e contagiando a população da cidade.

A cidade não era qualquer uma. Tinha uma história de religiosidade, mas, sobretudo, de poder político. E porque era a sede local do poder político, os sentimentos negativos que dominaram especialmente o chefe, foram transformados rapidamente em articulação.

O que motivava a articulação era impedir o surgimento de alguém que poderia alterar o status quo vigente. Mas isso não poderia ser dito, publicado, pois não pegaria bem. Esconder a real motivação atrás de uma linguagem religiosa, porém falsa, foi o caminho seguido.

Inicialmente precisavam resolver um problema. O chefe temia aquele que havia chegado e que poderia alterar o “establishment” - a ordem ideológica, política e econômica estabelecida -, mas não sabia exatamente onde ele estava.

Então, a liderança político-religiosa foi convocada e a grande pergunta foi lançada: onde está o recém-nascido? Seus súditos do primeiro escalão religioso, usando os conhecimentos que tinham, deram uma verdadeira, porém insuficiente informação. Faltavam detalhes. Foi aí que o monarca resolveu buscar a cooperação de terceiros para atingir o objetivo desejado.

Não podendo manifestar seus reais sentimentos, ética e politicamente incorretos, ele usou a mentira como arma para convencer alguns viajantes a o apoiarem, pedindo-lhes que descobrissem informações mais precisas a respeito de onde estava o menino prodígio (leia-se: “ameaça para o reino”), “para que eu também vá adorá-lo” (leia-se, exterminá-lo).

O Soberano, entretanto, não imaginava que, depois de descobrirem exatamente onde estava o suposto perigo, os tais homens teriam uma revelação indicando que deveriam mudar o caminho da volta para não o ajudarem na execução de plano tão maquiavelicamente elaborado.


Também não previa que os pais do menino receberiam uma revelação e resolveriam mudar-se de localidade, visando preservar a vida daquele que, na sua ótica, representava uma ameaça.

Ao descobrir que os visitantes, também conhecidos como magos, foram infiéis, ele ordenou, desesperada e furiosamente, a morte de todos os meninos com idade inferior a dois anos, da cidade (e região circunvizinha) apontada pelos “pelos chefes dos sacerdotes e mestres da lei”.

Esse dia ficou marcado pela profunda tristeza que provocou. Foi um verdadeiro infanticídio movido por interesses políticos. “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem”. (Mt. 2.18).

E hoje, como temos reagido à morte de milhares de crianças em consequência da corrupção assustadora, presente nas diversas esferas da sociedade, especialmente na administração pública? Como nos sentimos diante do número assustador de crianças cujas vidas não seguem um curso saudável em face da profunda injustiça social? Lamentamos, reagimos, somos coniventes ou simplesmente nos omitimos silenciando?

* Em palavra-chave ou referência bíblica, escreva Mt 2 e de ok, no site indicado

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