domingo, 26 de julho de 2020

De volta a Jesus (9.1.2020)

Os céus proclamam a glória de Deus, nem por isso eles são Deus, nem por isso eles são iguais a Deus, nem por isso, muito menos, eles são maiores do que Deus. Deus é Deus; os céus, céus.

A Bíblia é um conjunto de livros a respeito de Deus, nem por isso ela é Deus, nem por isso ela é igual a Deus, nem por isso, muito menos, ela é maior do que Deus. Deus é Deus; a Bíblia, Bíblia.
"No princípio criou Deus os céus e a terra". Não foram os céus que no princípio criaram Deus. "No princípio era o logos (o sentido) e o logos estava com Deus e era Deus". Não era a Bíblia que no princípio estava com Deus e era Deus.

Não foram os céus que nos amaram e seu filho por nós doaram. Não foi a Bíblia que nos amou e seu sangue por nós derramou. Os céus, conquanto proclamem a glória de Deus, continuam sendo criaturas e Deus, seu criador. A Bíblia, conquanto revele Jesus, continua sendo criatura e Jesus, seu criador.

A Bíblia é um livro. Um livro é feito de palavras. Palavras são códigos criados por humanos. Humanos retratam percepções, idéias e sentimentos em palavras. Palavras são criaturas. Humanos são criaturas. Deus é o criador de humanos e suas palavras. É desvio, pecado, adorar e servir a criatura em lugar do criador.

Conquanto creia na inspiração da Bíblia, alimente forte respeito e amor por ela e dela não abdico em minha vida devocional, em minhas formulações ético-doutrinárias e em meu trabalho como pastor, líder e pregador, jamais poderia declarar, por exemplo, que a aceito como "meu único e suficiente salvador".

Conquanto reconheça ser ela a única fonte de informação a respeito do Senhor de quem recebi salvação, jamais a equipararia àquele que derramou seu sangue na cruz, em meio a profunda dor.

De fato, como escreveu o historiador batista Justo C. Anderson, não há unanimidade quanto a qual deve ser o princípio batista do qual os demais emanam, se o senhorio de Cristo ou a autoridade das Escrituras. É difícil separar Jesus da Bíblia e vice-versa. Isso, porém não os torna a mesma coisa. Um é o fim; o outro, meio. Um é o revelador; o outro, revelação. Um é o criador; o outro, criatura. Um é a origem; o outro, extensão.

A Bíblia é um registro em letras. Jesus é o significado desse registro. Letras podem matar, se o significado não for lúcido, se seu espírito não predominar. Se não reconheço o logos, o sentido, o significado Jesus, jamais entenderei, saudavelmente, o sentido das mensagens, dos princípios da Bíblia. Por isso, mais importante do que repetir o que a Bíblia diz é entender, clarear e proclamar seu significado.

Se apregoo a importância da Bíblia, o faço porque só nela encontro relatos da vida e ensinos do Senhor e Salvador. Se respeito a autoridade da Bíblia, o faço porque suas páginas são testemunho verídico a respeito da autoridade suprema que é Jesus, o Deus que se fez gente e habitou entre nós.

Não por acaso, os slogans mais famosos, utilizados pelos batistas brasileiros, nesses últimos 60 anos foram: "Jesus Cristo é a única esperança". Não a Bíblia. "Só Jesus Cristo salva". Não a Bíblia. "Jesus transforma". Não a Bíblia. Não por acaso, esses slogans estão em harmonia com a declaração clássica do primeiro pastor batista, John Smith, em 1610: "Só Cristo é rei e juiz da igreja e da consciência". Não a Bíblia.

Dai a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira ser explicitamente cristalina: a Bíblia "deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo".

Estudemos, pois a Bíblia. Aprofundemos nosso conhecimento em sua história, seu conteúdo e em hermenêutica. Trabalhemos para que todos possam lê-la. Lembremo-nos, entretanto, de que tudo isso deve ser feito pensando em ajudar pessoas a conhecerem JESUS. É para Jesus que devemos olhar, pois ELE - não a Bíblia - é o autor e consumador de nossa fé. Ele deve ser o foco de nossa atenção e mensagem, seja em nossa educação teológica ou em nossos púlpitos. Ele é o nosso ponto de partida e de chegada. É para Jesus, portanto, que devemos voltar.
Em tempo: trocar Jesus pela Bíblia é o mesmo que trocar o remédio pela receita.

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