domingo, 26 de julho de 2020

Por uma igreja conservadora e progressista (2) (6.2.2020)


Polarizações sempre existiram e sempre existirão. Reconhecer a existência delas é mais saudável do que negar. Nas narrativas bíblicas, como na história da igreja e das nações, elas sempre estão presentes, por causa de prestígio, propriedades, dinheiro, sexo, poder, ideologia, pensamento doutrinário, enfim. Basta usar lentes adequadas e, em quase cada página das Escrituras ou de histórias, enxergaremos evidências disso.

Isso não as legitima. Apenas demonstra o quanto somos movidos por instinto e o pouco que a razão espiritual é capaz de nortear nossas avaliações e escolhas.

Continuando a reflexão sobre o raciocínio do filósofo conservador inglês Roger Scruton que declara: "conservadores, segundo eu percebo, são pessoas que estão cientes do fato de que herdaram algo bom", e já tendo dito que algo bom, no contexto inglês do discurso dele, justificava ele ser conservador, mas no contexto brasileiro, os aspectos destacados por ele eram, em qualidade, diametralmente opostos, destaco um outro ítem que merece consideração: o conceito "bom".

Nas relações comerciais há um ditado que diz que "um negócio só é bom quando é bom para ambas as partes". Isso significa que, para que duas partes caminhem juntas, elas não apenas precisam ter clareza do significado do conceito bom, aplicá-lo corretamente a um dado objeto ou situação, mas também desejar que ambas as partes sejam beneficiadas, pelo que é bom, de maneira justa.

Quando uma parte está muito bem e, para conservar a situação, demonstra-se incapaz de perceber que a outra está muito ruim e, em condições opostas, uma outra, sofrendo muito, quer mudar (progredir) o quadro, a polarização se estabelece.

Isso, além de tornar-se um inferno para ambas, ainda cria um ambiente para torcedores fanáticos, extremistas. Uns são movidos por empatia, mas a maioria, movida por instinto animalesco, escolhe um lado e passa a jogar lenha na fogueira. São "aliados políticos" que se elogiam como "conservadores" e xingam a outra parte de "progressistas", ou vice versa.

Se, entretanto, desejamos ver ambas as partes se saindo minimamente bem na relação é essencial que, cientes do bem que se quer para todos, abra-se diálogos constantes e lute-se pela conservação do que é reconhecido como bom pelas partes e progrida-se em busca de alternativas através das quais se consiga sair do ruim para o bom, para todos.

Em tese, isso é fácil. Na prática, é um imenso desafio, pois os instintos, repito, falam mais alto do que a razão. Isso é triste, pois, se continuarmos nos agredindo com rótulos: conservadores ou progressistas; fundamentalistas ou liberais; direitistas ou esquerdistas; petralhas ou bolsomilicianos, a chance de chegarmos ao bom desejado diminue e o mau para todos vai aumentando seus espaços.

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