sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Batistas e a Lei de Gerson

“Por que pagar mais caro se o “Vila” me dá tudo o que eu quero... ? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também...” (Gerson, da seleção tricampeã do mundo de futebol, em propaganda veiculada em 1976)

Ainda tenho na memória a escalação da Seleção Brasileira vencedora da copa de 70. Dentre os campeões, lá estava Gerson, o “canhotinha de ouro”. Infelizmente, lembro-me dele não somente pelas belas jogadas. Lembro-me, também, de que, em 1976, ele protagonizou um comercial de cigarros – atletas deveriam ser proibidos de fazer propaganda de fumo e bebida alcoólica – no qual popularizou um slogan que norteia a vida de muita gente, das quais, alguns batistas: “o importante é levar vantagem em tudo”.

A cultura da Lei de Gerson se consolida em nossas igrejas quando enfatizamos mais (e, pior, distorcidamente) Malaquias 3:10-11 do que II Coríntios 8 e 9 (NVI). Alguns enfatizam o dar para abastecer a “casa do Senhor” (leia-se, NOSSA igreja) e, como conseqüência, sermos abençoados com RETORNO garantido e multiplicado do NOSSO investimento.

Diferente, porém, era a ênfase paulina. Nela os crentes davam:
1.  Movidos pela graça (II Cor. 8:1)
2.  Em meio a severa tribulação e extrema pobreza (II Cor. 8:2)
3.  Dando o que podiam e além do que podiam (II Cor. 8:3)
4.  Insistindo para ter o privilégio de dar (II cor. 8:4)
5. Como consequência da entrega que fizeram de suas vidas a Deus( II Cor.8:5)
6.  Pelo simples privilégio de contribuir (II Cor. 8:7)
7.  Com sinceridade e dedicação ((II Cor. 8:8)
8.  Empobrecendo-se para enriquecerem outros((II Cor. 8:9)
9. Proporcionalmente ao que possuíam (II cor. 8:11)
10. Com prontidão, não hesitação (II Cor. 8:12)
11. De forma justa (II Cor. 8:13-14)
12. Porque os líderes eram éticos e zelosos na administração (II Cor 8:16-22)
13. Com objetivo de honrar ao Senhor (II Cor. 8:19)
14. Com generosidade, não com avareza ( II Cor. 9:5)
15. Visando uma colheita abundante para o Reino (II Cor. 9:6)
16. Não por obrigação, mas por alegria (II Cor. 9:7)
17. Visando acréscimo de graça e boas obras (II Cor. 9:8)
18. Visando atender necessitados, não a si mesmos (II Cor. 9:9)
19. Cientes de que Deus não deixaria que nada lhes faltasse (II Cor. 9:10)
20. Visando o aumento da generosidade individual e glorificação a Deus (II Cor. 9:11)
22. Visando suprir as necessidades alheias e aumentar o sentimento de gratidão (II Cor.9:12)
23. Como manifestação de serviço, testemunho de obediência e generosidade (II Cor. 9:13)
24. Porque o retorno seria o amor dos que eram abençoados (não aumento patrimonial próprio) (II Cor. 9:14)

Em termos denominacionais, o espírito de “levar vantagem em tudo” revela-se quando perguntamos: “que vantagem levamos ao cooperar com a Convenção?”, em vez de perguntamos: “quem estamos abençoando ou abençoaremos com a nossa cooperação?”. Convenção não é consórcio, muito menos Fundo de Investimentos. Não cooperamos para levar vantagem, mas para abençoar vidas. Daí as palavras de Jesus: “Mais bem aventurado é dar do que receber” (At.20:35).

Se os que estão administrando os recursos NÃO manifestam o mesmo cuidado manifestado por Paulo (II Cor.8:16-22), tenhamos a coragem de apontar o que precisa ser melhorado, de dizer como isso pode ser corrigido e, não havendo resposta, de destituí-los. Jamais, porém, usar isso para justificar atitude egoísta, egocêntrica, de quem só pensa em “levar vantagem em tudo”.

É verdade que, dentre as finalidades de uma Convenção, está a de apoiar as igrejas, equipando-as para melhor desenvolverem seus ministérios, o que deve ser feito, predominantemente, através da oferta de educação por suas organizações (no caso da Bahia, AECBA, AMUBAB, CENTRE, Integração Comunitária, JUBAB, Seminários, UFMB e UMMB).

A finalidade primeira dessas organizações não é, portanto, fazer o que é papel das igrejas, mas capacitar as igrejas para que façam ainda melhor. Se não cumprem seu objetivo, apontemos as deficiências, as soluções e nos disponibilizemos para fazer (até porque ficar num pedestal, à distância, apontando falhas dos outros é fácil!). Aos líderes das organizações, por nós eleitos, cabe planejar estrategicamente, avaliar e apontar caminhos. Seus cargos não existem como trampolim para carreira “ministerial”, espaço de manifestação de egos envaidecidos ou meio de angariar prestígio político visando benefícios próprios.

Pastor, se sua relação com a Convenção é na expectativa de levar alguma vantagem própria, é hora de rever sua relação com Deus e o próximo, à luz de II coríntios 8 e 9. Talvez nisto esteja a causa de problemas em sua igreja: os membros agem com ela, da mesma forma que seu líder com a Convenção.

Quando ouço de pastores que se beneficiaram de educação no mínimo subsidiada pela Convenção; que exercem ministério em igrejas plantadas com dedicação e know-how de outras igrejas; que se abrigam em templos construídos com esforço alheio e, da noite pro dia, sob alegação de desejo democrático dos membros, resolvem roubar esse patrimônio – história, gente, organização e prédios – visando seus próprios interesses, o que é isso senão uma manifestação da Lei de Gerson?


Creia: você e sua igreja não levam vantagem alguma sendo fiéis à cooperação denominacional porque não é isso que devem visar.  Se a finalidade de todos fosse essa, o sistema não subsistiria. A cooperação se mantém há séculos porque há batistas  - homens e mulheres - que não se dobram à Lei de Gerson. Sabem que, onde ela é tolerada, o resultado não pode ser outro: enfraquecimento e destruição do sistema.

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