O apagão na Câmara dos Deputados Federais
O apagão na região nordeste
ganhou as manchetes na tarde de 28 de agosto, não somente pelos prejuízos
incalculáveis à economia, mas também pelos danos físicos e morais que decorrem
da falta de energia, num mundo que gira em torno das turbinas de
hidroelétricas.
Prejuízo maior, porém, ocorreu no
final da noite do mesmo dia, no plenário da Câmara dos Deputados em Brasília.
Escondidos sob a máscara do voto secreto, a maioria dos representantes de
interesses corporativistas, por ação ou omissão, decidiu manter em seus quadros
o primeiro deputado federal - Natan Donadon (PMDB-RO)
- condenado pelo Supremo Tribunal Federal, na “Nova” República.
A população, talvez com os olhos
fitos nos jogos de futebol da quarta-feira à noite, pareceu não se dar conta do
que significaria o atentado cometido pelos deputados contra o país. Não
percebeu, pelo menos não a julgar pela inicial falta de reação, o significado
ético e político da referida decisão.
Primeiro, a decisão indica que,
no Brasil, nem todos são iguais perante a lei. Ora, se o STF condena um
indivíduo, depois de um processo que levou anos tendo o réu todas as chances de
se defender; se vivemos sob a “Lei da Ficha Limpa” que impede condenado por
órgão colegiado a candidatar-se; se um funcionário público pode ser demitido
após sentença
judicial transitada em julgado, como podem os deputados preservar como
representante do povo um criminoso que já está atrás das grades?
Segundo, a decisão não afirma o
legislativo como um poder independente, mas como um poder que afronta o povo
que deveria representar, que desrespeita a decisão daqueles que têm o poder
para colocar atrás das grades qualquer indivíduo julgado e condenado,
independente de serem ou não, os juízes, susceptíveis – e são – de influências
políticas.
Terceiro, a decisão indica
desrespeito aos milhões de empobrecidos deste país que trabalham e pagam
impostos não para sustentar família de criminoso com prestígio, que está atrás
das grades, mas na expectativa de ter melhor saúde, educação, segurança, etc.
Quarto, a decisão indica à
sociedade que o crime compensa. Que um indivíduo é condenado por ter roubado milhões
do dinheiro de altíssimos e sem retorno impostos pagos por nós, não devolve um
centavo – até onde ouvi -, e sabe que, após passar alguns anos atrás das grades,
voltará ao cotidiano e usufruirá do fruto do seu ato criminoso para o resto da
vida.
Quinto, a decisão confirma o que
a população já percebeu: se eles mantêm em seus quadros um bandido, quando
poderiam expurgá-lo, isso evidencia um ato de precaução a favor de si próprios,
por possível consciência (consciência?) de rabo preso.
Sétimo, a decisão indica um total
desrespeito ao mínimo de postura ética esperada por aqueles que são eleitos
para trabalhar por um país mais justo, no qual a corrupção deveria receber adequada
e exemplar punição.
Lamento, profundamente, a decisão
dessa quarta-feira, 28 de agosto e, em meu círculo de relacionamento, me
empenharei para transformar esse lamento em ações contrárias a esses “homens de
máscara”, mais perigosos do que os chamados “vândalos de junho”, eleitos por
nossos votos e sustentados pelo fruto do nosso trabalho, que cometeram tamanho atentado
contra todo um país.
3 comentários:
Assim caminha o Brasil. Vem mais gente por ai para usufruir desse resultado.
Lamentável a decisão dos deputados federais, pois mostra, infelizmente, que a maioria dos nossos representantes da Câmara de Deputados possuem medo de também serem condenados.
Muito lúcido o comentário.
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