Chamados para transformar
A
natureza humana tem uma forte tendência conservadora e isso, em si mesmo, é
bom. Conservar saudáveis, por exemplo, a saúde do corpo, dos relacionamentos
interpessoais, do meio ambiente e da relação com Deus é altamente positivo. O
problema é que tudo nesta vida é passível de deterioração e, pior, há quem
ganhe com a deterioração, embora, em algum momento, todos – portanto, até quem aparenta
estar ganhando - comecem a sentir os prejuízos. Dai a necessidade de
inconformação, reformação e transformação.
Quando
estamos atentos aos sinais de deterioração de determinada realidade que nos
afeta e agimos imediatamente, fazendo as devidas manutenções, impedimos que o
problema atinja um nível que somente uma reforma seria a solução. Isso ocorre
com casamentos, finanças, estruturas patrimoniais ou de outra natureza, enfim.
Indivíduos
com vidas deterioradas, organizações e sistemas apresentando enfermidades é o
que mais temos, especialmente em nossa realidade brasileira. Assim sendo, além
de estarmos atentos àquilo que clama por manutenção, a começar em nossa própria
vida, estamos frequentemente expostos a situações que clamam por reforma, restauração,
recuperação. Daí a pertinência do slogan: “Chamados para transformar”.
Todos
são chamados. O chamado divino não exclui qualquer um de nós dessa
responsabilidade. Todos podem contribuir, em algum grau ou situação, à saúde de
nossas vidas, em suas múltiplas manifestações.
Algumas
vezes somos chamados para uma missão específica, com início, meio e fim
definidos (Ananias, por exemplo, em Atos 9); outras, para missão cujo resultado
final pode ser desejado, mas nem sempre visualizado, especialmente quando se
trata de trabalhar com pessoas (Paulo, no mesmo episódio de Atos 9).
Há
chamados que envolvem elementos profundamente místicos, como foi o caso de
Paulo já mencionado e há outros que acontecem em clima de aparente “normalidade”,
como seria o caso de Mateus (Lc. 5:27).
Há
chamados nos quais a voz de Deus soa de maneira contundente (At. 9:3-6) e há outros cuja presença de Deus nem é mencionada, mas as ações e seus resultados
são evidências de que Ele esteve por detrás do chamado, como ocorreu nos casos
de Mardoqueu e Ester (Livro de Ester).
Há,
entretanto, um último aspecto que considero da maior relevância: Deus não nos
chama somente para serviços religiosos. Há uma cultura religiosa estabelecida
em nosso meio que reconhece apenas o chamado de pessoas que se dispõe a
dedicar-se estritamente à dimensão religiosa da vida. Chamado, nessa
compreensão, é aquele que deixa todas as atividades cotidianas, vai para uma
escola de educação teológico-ministerial e, depois, dedica-se a atividades
relacionadas à vida de uma instituição religiosa, no caso batista, como pastor,
missionário, ministro de música, educação cristã ou ministério social cristão.
Porém,
embora casos de chamado que não se caracterizam por envolvimento em atividades
tipificadas com religiosas sejam uma minoria – Mardoqueu, José do Egito, por exemplo, cujo chamado foi para atuar no
campo da política e administração pública – a verdade é que, pelo fato de Deus
ter criado a vida e ter interesse pelo desenvolvimento integral dela, nossa
ação, como cristãos, em qualquer área da vida, deve ser encarada como um
chamado. Fomos nós, não Deus, que fizemos distinção entre profano e sagrado,
entre mundano e religioso. A vida, porém, não pode ser encarada desta maneira, sem
que isso provoque sérias deteriorações, como a experiência tem mostrado.
Encare
sua vida, sua profissão, como um chamado, seja qualquer for a atividade na qual
estiver envolvido. Encare seu espaço de atuação como um espaço sagrado. Aja de
maneira que sua ação não permita a deterioração ou enfermidade da vida e
trabalhe para curar, salvar, transformar aquilo que se evidencie como
necessitando.
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