O “Som de Graça”, a música e a teologia das letras que cantamos
“Som de Graça” é o nome de um
evento promovido pela Igreja Batista da Graça, coordenado pelo Ministério de Adoração.
Tem sido realizado em nossa quadra com a participação predominante de jovens,
inclusive vindos da vizinhança e de outras igrejas. O próximo será no sábado,
13 de junho, e, além do aspecto musical, proporcionará uma reflexão sobre a
teologia das letras que não cantamos nos cultos.
Uma das capacidades humanas é
a de classificação. É por volta dos 7 anos de idade que nossa mente começa a
apresentar sua capacidade de classificar objetos com base no que eles possuem
em comum. Essa competência é essencial e seu adequado desenvolvimento influenciará
as escolhas que faremos pelo resto da vida. Quanto melhor aprendermos a
classificar, melhor será nosso relacionamento com a realidade que nos cerca e
com as pessoas com as quais nos relacionarmos.
Tomemos por exemplo a questão
da música na igreja. Que critérios usamos para diferenciar uma música “sacra” de
outra “profana”? São as notas usadas? As pausas? O ritmo? A harmonia? Seriam as
crenças de seus compositores? Seria a finalidade definida por quem as compôs?
Seria o ambiente nos quais elas são executas ou a motivação e finalidade de
quem participa? Seria o resultado imediato que produz no sentimento e no corpo
do ouvinte?
Em relação às letras que as
músicas veiculam que critério usamos para definir se são sacras? Seria pelo
vocabulário usado? Seria pelo fato de incluir palavras como “Deus”, “Jesus”, “Espirito
Santo” ou repetir expressões bíblicas?
Seria por enfatizarem conceitos mais abstratos como amor, justiça,
alegria ou mais concretos como corpo, dinheiro, templo? Seria a declaração da
motivação de quem escreveu? Que elementos, presentes na letra das músicas, as
tornam sagradas ou profanas? Seria saudável e teologicamente correto fazer essa
dicotomia na vida?
Na história do protestantismo
brasileiro, definiu-se como sacras, as músicas e letras contidas em hinários
produzidos para cultos como, por exemplo, “Cantor Cristão”, “Melodias de
Vitória’, “Harpa Cristã”, etc. Para toda uma geração, música sacra era a
desses hinários. Somente elas poderiam ser executadas nos cultos e mais: crente
verdadeiro cantava somente tais hinos. Qualquer música afora essas, eram
classificadas como mundanas, do diabo, etc.
Com o desenvolvimento cultural,
educacional, tecnológico e comercial, tais hinos saíram dos hinários, foram
para os LPs (Long Plays, de vinil), conquistaram prateleiras, passaram a ser
tocados em emissoras de rádio e inauguraram visivelmente a era comercial das “músicas
e letras sacras”. Digo visivelmente porque os hinários já não eram gratuitos. Havia
uma reserva de mercado em torno deles, uma forma discreta de comercialização,
com a diferença de que, até onde se sabia, o lucro de suas vendas eram
reinvestidos na “causa”. Não se falava em lucros para indivíduos ou empresas comerciais
privadas.
Até esse momento, música sacra
seria a produzida por pessoas do círculo de relacionamento religioso
denominacional dos que se classificavam como os “verdadeiros cristãos”,
portanto, sacros genuínos, originais; a finalidade, exclusivamente divulgar a
mensagem do evangelho sem lucro financeiro aos produtores.
A confusão na cabeça
evangélica começa a ocorrer quando tais músicas passam a ser executadas em
cultos católicos ou em ambientes fora de igreja, como programas radiofônicos e
depois televisivos. Gerou sentimento de culpa em muitos, cantar no culto aquela
música que foi executada no dia anterior no “Xou da Xuxa”. Mais estranho foi
começar a conviver com músicas que veiculavam letras de CDs produzidos por
evangélicos conhecidos, nas quais as necessidades humanas passaram a ocupar o
status antes pertencente a Deus, a Jesus Cristo ou ao Espírito Santo.
O golpe fatal ocorreu quando “cantores
sacros” começaram a cobrar cachês para se apresentarem nos cultos e “cantores
mundanos”, especialmente em declínio, passaram a gravar “músicas sacras”. Esse
movimento de mão dupla tem produzido o efeito colateral positivo de forçar-nos
a rever nossos conceitos e preconceitos relacionados às músicas e letras
executadas em ambientes cúlticos, forçando-nos a valorizar a análise e a usar a
competência de classificação.
É nesse contexto que o “som de
Graça” abre espaço para destacarmos e refletirmos sobre a teologia presente em
músicas “profanas” e como a qualidade delas pode ser igual ou superior a
presente em músicas ditas “evangélicas”. Participe conosco deste momento de
amadurecimento na maneira como lidamos com a música e suas letras, na igreja e
em nossa vida cotidiana.
1 comentários:
Excelente reflexão!
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