Em tempos de escassez financeira
"Conservem-se
livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus
mesmo disse: "Nunca o deixarei, nunca o abandonarei". (Heb. 13:5)
Ninguém
vive sem dinheiro no modelo de sociedade do qual fazemos parte. Seja na
manutenção individual, seja na de um empreendimento de qualquer natureza, não
há passo dado que ele não seja incluído, direta ou indiretamente. Se ele não
sai do nosso bolso, sai do bolso de alguém. Ele é o sangue operacional de
qualquer ação na qual se possa estar envolvido. Se assim é, como compreender e
levar a efeito a recomendação bíblica aos Hebreus, relativa a dinheiro?
Primeiro,
reconhecer que o texto não demoniza o dinheiro, não o adjetiva pejorativamente,
nem propõe ou sequer insinua que ele deva ser eliminado de nossa vida. Nem
mesmo Jesus Cristo em sua passagem por este planeta viveu sem ele. Judas era
tesoureiro do seu grupo de discípulos (Jo. 12:6) e, dentre as pessoas que
investiam em seu ministério, lá estavam “Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes;
Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus
bens.” (Lc. 8:3).
Segundo, estabelecer
princípios que norteiem a maneira como nos relacionamos com o dinheiro, a fim
de que ele não ocupe o controle de nossos corações, nem se torne o deus de
nossa existência. Até porque, a experiência mostra que aqueles que não se
relacionam adequadamente com o dinheiro – na fartura ou na escassez - não apenas tornam-se vítimas de males, mas
também causam prejuízos à vida alheia. Quem não é capaz de relacionar-se
adequadamente com ele, certamente sofrerá mais na falta dele.
Terceiro, identificar o tipo
de sentimento que o dinheiro provoca em nós e nós nutrimos por ele. O texto
recomenda que o amor não deve ser a atitude a prender-nos ao dinheiro; que ele
não deve ser a inspiração de nossa vida. É lei no primeiro testamento bíblico,
explicitamente ratificada por Jesus, no segundo, que o amor a Deus deve estar
acima de todas as coisas – dinheiro, inclusive – e deve ser canalizado ao
próximo como a si mesmo. Paulo chega a advertir que “o amor ao dinheiro é a
raiz de todos o males”.
Quarto, empenhar-se para
adequar a vida às condições financeiras reais. Investir no que precisa, não no
que deseja. Contentar-se com o que tem é o estado de uma pessoa que tornou-se
capaz de reger suas emoções não pelo que acontece ao redor, mas pelas atitudes que desenvolveu em
seu coração. O dinheiro não deve ter o poder de determinar como nos sentimos,
antes, nós devemos ter o poder de definir como nos sentirmos na fartura ou
escassez.
Essa atitude não é natural, é
fruto de aprendizado. Paulo, por exemplo, declara ter aprendido a relacionar-se
com a realidade. Pelo fato de Cristo ter se tornado o lucro de sua vida e todas
as demais coisas, esterco (Fil. 3:7-8), ele diz: “... aprendi a adaptar-me a toda
e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter
fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja
bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso
naquele que me fortalece.” (Fil 4:11-13)
Por último, desenvolver a confiança naquele que é nosso
criador, bem como de todas as coisas. Isso não significa parar de agir em busca
do sustento, mas também não se deixar derrotar emocionalmente quando ele é
escasso. Na falta de dinheiro, importante é avaliar o que realmente é
indispensável à sobrevivência, rever detalhadamente as despesas, colocar a
cabeça para pensar em como fazer dinheiro, tudo isso sem perder a confiança de que
há alguém, para além do que nossos sentidos percebem, capaz de nos responder e
nos dizer, como declara Jeremias (3:33), “coisas
grandes e insondáveis” que não conhecemos. Confiar, orar e agir, sem desanimar,
“porque
Deus mesmo disse: "nunca o deixarei, nunca o abandonarei".
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