Fortalecendo o desejo de participar da igreja
“Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns...” (Heb. 10:25)
Cresce a população de “desigrejados”
no Brasil. O adjetivo “ex-evangélico” está se popularizando. O slogan “cristo
sim, igreja não”, famoso na década de 70, usado como mote para arrebanhar
insatisfeitos com igreja, está retornando aos nossos ouvidos. E alguns de nós,
líderes de igrejas, continuamos preferindo escrever “pecador” na testa de quem se afasta da
instituição a fazer autocrítica a respeito dos possíveis “pecados da igreja”,
causadores disso.
Pensando no assunto, reporto-me
a 4 versões do texto de Hebreus 10:25. Na primeira – Almeida RA - leio que não devemos
deixar “de congregar-nos”. Na segunda
– A Bíblia de Jerusalém -, que não
devemos deixar “as nossas assembléias”.
Na terceira – A Mensagem - , que não
devemos “evitar as reuniões de culto”.
Na quarta – NVI –que não devemos “deixar de reunir-nos, como igreja”.
Os termos das versões suscitam
lembranças e sentimentos diferentes. Nas três últimas - BJ, Mensagem e NVI - aparecem “assembléias”,
“reuniões” e “cultos”. Eles nos lembram atividades formais da instituição
igreja. Já a primeira –ARA – foca no ato de congregar-se. Esse nos remete à
idéia simples de estar com gente.
Se considerarmos que boa parte
dos afastamentos de pessoas da vida eclesiástica não ocorre porque elas não
gostam de “estar com gente”, muito menos por não gostarem de estar com Deus, mas
porque se cansaram de experiências desagradáveis nas “assembléias”, “reuniões”
e “cultos”, isso pode ser uma boa pista para tratar os que se afastam.
Enquanto estar com gente na igreja
aponta mais para possibilidades de exercício do amor, da comunhão, da
solidariedade, do crescimento pessoal através do conhecimento e aceitação
mútuos, estar em “reuniões”, “assembléias” e “cultos” de algumas igrejas
provoca, muita vez, conflitos e indignação por aquilo que se ouve, se vê,
enfim, se percebe, especialmente na forma negativa como o exercício do poder se
manifesta neles.
Sem a consciência dos nossos “pecados”
que contribuem para o afastamento das pessoas, não adianta pregar que
teologicamente “o isolamento não faz parte dos ensinos cristãos”, que “devemos
olhar pra Jesus e não para as pessoas” ou que “igreja é assim mesmo, todos
somos pecadores”, pois isso dificilmente trará pessoas de volta à comunhão.
Nem adianta, também, usar a
manipulação como forma de atrair pessoas. O uso de artifícios em igrejas, ainda
que legítimos e bem intencionados, não substituem o poder que a vivência e o
ensino simples e honesto da vida de Jesus têm, quando levados a sério
principalmente por nós que ocupamos cargos ou funções de liderança.
A manipulação tem o poder de
atrair pessoas para eventos religiosos, especialmente àqueles caracterizados
por arte, com ou sem catarse, e até de inspirá-las a contribuir financeiramente.
Isso, porém, além de ser insuficiente para alterar a comunhão cotidiana das
pessoas com Deus ou, muito menos, alterar a escala de valores ético-espirituais
dos participantes, isso, repito, não é capaz de gerar fidelidade espiritual ou
compromisso com o reino de Deus.
É importante reconhecer que são
muitos os motivos que levam pessoas a freqüentar uma igreja e que recriminá-las
por isso é ineficaz. Mais importante ainda é que nós líderes busquemos conhecer
em profundidade a razão de ser de uma igreja à luz da vida, missão e ensinos de
Jesus, a fim de ajudar os participantes a se congregarem movidos por eles.
Alimentar a presença por dever
religioso, pela beleza retórica do sermão pastoral, pela qualidade ou estilo artístico-musical
utilizada, enfim, por aquilo que a instituição tem a oferecer aos sentidos, sem
“trazer à memória aquilo que nos dá esperança”, isto é, a vida comprometida com
o misericordioso Jesus, o Cristo de Nazaré, isso é “hamartia”, é desvio de
propósito, é pecado e causa afastamento
de muita gente do convívio eclesiástico.
Não temos, como igreja, o
poder de impedir que pessoas escolham viver longe da comunhão com Deus ou com o
“corpo de Cristo”, nem mesmo que participem por motivos secundários, mas
podemos estar atentos, empenhados em remover de nossas vidas, como igreja, aquilo
que serve de obstáculo à comunhão das pessoas, ao desejo e necessidade que
todos têm, ainda que em níveis diferentes, de viver “congregados”.
Isso – a remoção de obstáculos
- é possível se humilde e graciosamente fizermos auto-crítica, avaliando permanentemente
atitudes, comportamentos e discursos adotados em nossas “assembléias”, “reuniões” e
“cultos”. Isso ajuda a fortalecer o desejo das pessoas de se congregarem, de
estarem juntas, e nos dá autoridade para dizer: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns...” (Heb.
10:25).
1 comentários:
"Bom dia Edvar! Interessante tema. À primeira lida, reporto a mim mesma: por quê deixei de congregar?
A convivência não me fazia melhor do que sou. Intolerância muito acentuada, controle do tempo...
Sabe aquela história de cobrar presença em toda a programaçao? Ninguem merece.
A cultura da valorização do ausente, da falta:
- vc não veio hoje pela manhã, ontem, na quarta...
- estamos atrasados, mas vamos esperar mais um pouquinho (será que a pessoa virá???)...
Pregações raivosastambem me cansaram, ameaças de castigo, fogo, ira divina...
Escrevo porque tenho a impressão de que vc pode atingir muita gente boa que se sente "desirmanada" (de irmão, não de manada). Encontro-as vez em sempre."
Postar um comentário