domingo, 4 de julho de 2010

87ª Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana realizada em 2010

Depois de 8 horas viajando de carro, chegamos a Vitória da Conquista, cidade próxima à divisa entre Bahia e Minas Gerais. A temperatura, como se esperava, estava muito baixa para quem está acostumado aos padrões do nordeste. A sensação térmica chegou a 9 graus. 

Curtindo o frio e instalados no centro da cidade, nos preparamos e fomos para a 1ª "sessão" da 87ª Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana. Assim fizemos a cada dia, até sexta-feira, uma vez que, "afônico" em função de choque térmico, retornamos no sábado pela manhã, não participando da sessão de encerramento, no sábado à noite.

As reuniões aconteceram numa quadra coberta com muita abertura lateral, fato que fez com que sentíssemos o máximo de frio prossível. A Igreja hospedeira - Igreja Batista Bethelem - sob a liderança do Pr. Sérgio Costa, empenhou-se em fazer o melhor possível e agradecemos a Deus por isso.

As atividades de cada período do dia

Os períodos da manhã foram dedicados ao estudo bíblico. O Pr. Luis Sayão fez uma exposição do livro de Rute, procurando nos aproximar da realidade dos tempos em que o mesmo foi escrito, através do aprofundamento das informações contidas no texto e confrontando o tempo presente com princípios contidos num livro que geralmente é citado apenas em cerimônias de casamento.

Nas reuniões noturnas ouvimos diversos oradores que, dentro da proposta de cada programação, procuraram sensibilizar, alertar e desafiar o povo batista ao aprofundamento do compromisso em áreas diversas da vida.

As reuniões das tardes de quarta a sexta foram reservadas para assuntos deliberativos. Nelas, as organizações e instituições da Convenção apresentaram seus relatórios. 

A apresentação dos relatórios

Confesso meu incômodo com essa parte da programação. Parece-me que algo precisa ser feito com urgência em nossa denominação.  Não fica claro qual seria o objetivo de tais relatórios. Como nenhuma de nossas organizações tem um planejamento organizacional, não há como avaliar seu desenvolvimento. Trabalhamos com discurso e não com dados e as informações dadas representam aquilo que quem prepara o relatório deseja que saibamos e não o que de fato precisamos saber. 

O que de fato precisamos saber é se a organização piorou, estagnou ou melhorou em relação aos dados do relatório da assembléia anterior e como estariam em relação a metas estabelecidas. Mas como fazer isso se não temos metas nem dados ou se eles - os dados -  são publicados de maneira que não favorece uma análise profunda, comparativa e rápida? Como fazer isso se não temos um plano de metas? Assim, os relatórios não servem para avaliação, nem para marketing, muito embora essa segunda opção parece ser a motivação de alguns dos que apresentam relatórios.

Vale salientar que isso não é um problema apenas nosso, na Bahia. Parece ser um problema nacional. Até mesmo a CBB padece deste pecado.

Dados financeiros

Salvo melhor atenção, a área com algum dado apresentado de maneira adequada foi a financeira. 

O Indice de Liquidez Corrente (que relaciona bens e direitos das organizações com suas obrigações e indica a "capacidade de pagamento da empresa no curto prazo sem levar em conta os estoques") é calculado com base em unidade de real. Ele indica o quanto em dinheiro a organização dispõe para cada real de compromisso a ser saldado no curto prazo. Os nove gráficos, salvo melhor atenção, repito, apresentados pelas organizações apontam que aproximadamente 10% delas estão negativas e pioriando; 20% estão negativas e melhorando; 35% estão positivas e melhorando e 35% estão positivas e piorando.

Isso quer dizer que quase metade das organizações terminaram o ano apresentando resultados financeiros piores em relação ao final do ano anterior.

Claro que este não é o único indicador de avaliação, mas é o único que foi disponibilizado. Se fossem disponibilizados outros indicadores, poderíamos avaliar mais rapidamente os relatórios, os discursos dos apresentadores seriam mais agradáveis e nos sentiríamos mais atentos.

Momentos de tensão

Dois momentos de tensão (além do tradicional referente ao preenchimento das vagas nos conselhos) marcaram as sessões deliberativas. O primeiro foi  em relação ao Conselho Fiscal. Por razões que não vêm ao caso, o Conselho Fiscal preparou seu relatório, mas o Conselho da CBBA não tomou conhecimento prévio do mesmo, como determina o Regimento Interno. 

Além disso, o conteúdo do relatório extrapolou as atribuições regimentais do Conselho Fiscal, o que, se regimentalmente estava errado, na prática foi altamente positivo para o plenário que teve acesso a um retrato da realidade administrativa das organizações.

O problema é que não somente um tempo foi reservado no programa para apresentação do referido relatório, mas também seu conteúdo foi publicado no Livro do Mensageiro. O relatório não pode ser apreciado pelo plenário, implicando na não aprovação das contas de todas as organizações.

O segundo momento de tensão ficou para a sessão de eleição da diretoria, pela seguinte razão:

O artigo 14 do Regimento Interno diz: "A diretoria da Convenção será composta de presidente, 1º, 2º e 3º vice-presidentes; 1º,2º e 3º secretários eleitos para um período de dois (2) anos, VEDADA A REELEIÇÃO DOS MEMBROS DA DIRETORIA PARA TERCEIRO MANDATO CONSECUTIVO

O problema foi a divergência de interpretação.

Um parecer da Comissão Jurídica apresentado ao plenário, interpretava que a proibição de reeleição seria para o mesmo cargo. Uma outra tese foi levantada defendendo a proibição para qualquer cargo. A primeira tese permitia a permanência eterna de um convencional na diretoria, num sistema de rodíizio nos cargos; a segunda, defendia a proibição após dois mandatos, gerando alternância, como no caso da presidência da República do Brasil.

(Na Convenção Batista Brasileira a regra diz: "O mandato da diretoria eleita será de dois anos, sem direito à reeleição no período subsequente" (Art 8º, & 1º). A interpretação vigente é que nenhum mensageiro pode continuar na diretoria por mais de um mandato seguido, nem mesmo mudando o cargo).

Depois de muito debate, a questão foi submetida ao plenário e 2/3 dos presentes entenderam que a segunda tese - a de que uma pessoa não pode ficar indefinidamente na diretoria - prevaleceu. 


Apesar disso, o presidente, por razões que somente ele e Deus sabem, decidiu não obedecer a decisão do plenário, permitindo que um mensageiro que já estava na diretoria há pelo menos dois mandatos concorresse e fosse reeleito ilegalmente à luz da decisão interpretativa do plenário.

Pessoalmente pressenti, como parte do plenário, que, se insistíssimos, poderíamos provocar um acirramento tal, com consequências danosas imprevisíveis e irreparáveis. Optei pelo silêncio consciente, pelo mal menor.

(É importante que se destaque que a discussão não ocorreu motivada por um suposto desejo de mudança, muito menos porque qualquer pessoa eventualmente atingida pela regra não fosse qualificada para estar na diretoria. O debate se deu pelo cumprimento do espírito da regra que seria o princípio da alternância)

Candidato único a presidente

Como somente um candidato disponibilizou-se a concorrer à presidência, o escrutíneo foi dispensado na forma da alínea III, do & 1º, Art. 14º do Regimento e o candidato foi eleito, sem votação, totalmente dentro da legalidade.

Mês de Missões Estaduais

Acredito que tais tensões ainda que desagradáveis têm seu lado criativo e serão superadas na caminhada. Agora, como líderes, devemos pensar nos missionários que estão nos campos, nos desafios que temos diante de nós e fazermos o melhor neste mês de julho, dedicado ao levantamento de oferta para o sustento daqueles que estão em frentes pioneiras.

7 comentários:

Roberto Amorim 4 de julho de 2010 às 22:35  

Edvar,


Obrigado pelo relatório. Quem nao pode ir à Conquista ficou voando, porque o site da CBBa nada diz acerca da Assembléia.
Em relação aos relatórios financeiros o ILC (julgue se vale a pena divulgar esta informação ou vetá-la) não tem uma nota explicativa dizendo que o Indice do Cosenlho está um pouco mais elevado em função da venda de tres imóveis, que foram vendidos para se adquirir um novo imóvel e que de maneira estranha está colocado como Ativo Circulante, elevando o índice artificialmente. Alertei na assembléia anterior e também perante o Cosenlho, mas parece que ninguém ouve. Outra coisa que pedi para mostrarem no relatório e que nao seria mostrado - nao sei se publicaram porque nao tive acesso ao livro, é o calote no Plano Cooperativo do ano passado. A CBBa não repassou um centavo referente a 2009 e simplesmente o passivo nao aparecia no relatório.
Estas duas manobras elevaram significativamente o indice de liquidez corrente.
Mais uma vez obrigado pelas informações uteis. Abraços. Roberto Amorim

Norton Lages 4 de julho de 2010 às 23:32  

Ate quando?... Quantos irmaos nossos terao que perdar as esperancas na cooperacao batista?...Quantos terao que deixar de enviar as contribuicoes ao plano cooperativo ?...

Rinaldo Costa 5 de julho de 2010 às 22:54  

Creio que diante de tantas manobras, precisamos nos purificar.
Como se dará essa purificação eu não sei, mas, já está na hora de criarmos outra Organização com mais seriedade.

Pr. Ivan Luna 6 de julho de 2010 às 09:54  

Estive na convenção em Vitória da Conquista. Fiz algumas reflexões como batista baiano:
1. Quando da eleição da diretoria para o novo biênio, será que os aplausos dos presentes diante da proposta de renovação, foi pelo menos, entendido pelos nossos dirigentes, como um desejo pelos batistas baianos de mudanças?
2.Por que os dirigentes para o bem da nossa amada denominação entendem que a rotatividade e alternancia no poder são no mínimo salutar e participativa para a denominação que amam?
3.Fui com alguns membros da igreja que pastoreio. Por que os membros das igrejas não se sentem motivados a participar das sessões? Não seria porque na verdade não se sentem parte dessa "engrenagem" que mantem o "status quo" que os faz apenas paricipantes do Plano cooperativo?
4. O que preciso fazer como pastor batista para mudar esse quadro? Por que sou tão omisso, distante e silencioso, diante dos fatos, sendo um batista há mais de 40 anos?
Pr. Ivan Luna

Unknown 15 de julho de 2010 às 23:13  

Pr:Edvar

Sou seminarista e estive na minha 2ª assembleia da CBBa.Sempre gostei de participar dos trabalhos denominacionais, seja aqui na associação como na convenção.

Confesso que pela primeira vez tive vergonha de ser batista diante do que vi em Conquista-Ba na eleição da diretoria.

Pela primeira vez vi uma decisão de um plenario ser desrespeitada por um presidente.

Mas ao mesmo tempo tive uma imensa alegria e sentir orgulho de ser batista quando vi a sua pessoa discursar com exatidão e coerencia.

Acredito numa denominaçao mais justa, com homens compromissados com o Reino de Deus, como a vossa pessoa.

Continuarei indo as assembleias e apoiando o trabalho batista, por que sei que ainda há esperança para nossa abençoada denominção.

Continue com essa força e coragem...

Abraços Sem.Anacleto Torres
STBNe-Feira de Santana-Ba

Jorge Bezerra 18 de julho de 2010 às 15:59  

Caro colega Edvar, ja ha algum tempo tenho notado este expediente sagaz sendo utilizado em nossas assembleias anuais da CBB. Você foi muito feliz na abordagem do assunto. Um forte abraço

prado 23 de agosto de 2010 às 11:05  

estive em conquista, nao tive a oportunidade de acompanhar toas as reuniões, mas vc. viu tudo que aconteceu.
abraço Pr. Carlos prado