segunda-feira, 28 de junho de 2010

Meu coração missionário


Tenho um coração missionário. Suas características são bem próprias, não por não guardarem semelhanças com outros corações, mas pelo processo prolongado de exposição à reflexão e confronto com diversas possibilidades teóricas e práticas de compreender e fazer missões.



Meu coração missionário preserva traços de referenciais que marcaram minha história. O primeiro é o próprio Deus. Criado numa tradição cultural religiosa judaico-cristã, aprendi que o envio de Jesus foi a maior manifestação missionária do amor divino.



Ao longo da vida, procurei entender o significado do evento histórico denominado JESUS CRISTO, especialmente em termos de revelação do amor divino pela humanidade. A despeito da diversidade de correntes teológicas e de estruturas religiosas que giram em torno e fora desse nome, minha relação com Jesus permaneceu, pois o sentido que nele encontrei satisfazem meus anseios. 



Independente, portanto, de qualquer comparação que possa haver entre Jesus e alternativas outras e em que pese o respeito que nutro pelas diversas tradições religiosas, estou convencido de que, espelhados na vida e ensinos de Jesus, a imagem e semelhança de Deus é restaurada e dignificada na vida humana.



O segundo traço histórico do meu coração missionário é a tradição batista. Neto de católicos, com o pai convertido no presbiterianismo e a mãe no batistismo e batizado por um missionário norte-americano, o Pr. Paul Stouffer, mesmo que desejasse, não conseguiria expurgar dos meus pensamentos e sentimentos e, muito menos, da minha história, o forte ardor missionário.



Nem mesmo o conhecimento que tenho hoje das estruturas empresariais que sustentam o avanço missionário; das diversas ideologias que motivam nossas ações no mundo e das políticas que tencionam o fazer missões (desde as tensões presentes nas igrejas cristãs primitivas, conforme registros bíblicos, entre partidários e abolicionistas da circuncisão, entre judeus exclusivistas e universalistas ou entre Paulo e Barnabé, até as tensões presentes nas entranhas do sistema batista dominante, do qual faço parte e pelo qual sou responsável por uma fração próxima de zero em termos de influência e importância), nem mesmo isso foi capaz de arrefecer meu compromisso missionário.




Meu coração não é missionário por causa do imperativo de Jesus. O IDE de Jesus não é minha motivação. Não faço missões por obediência a uma ordem. Em que pese meu reconhecimento da autoridade de Jesus e seu poder para nos enviar ao mundo como missionários, confesso que faço missões por uma experiência de fé, por um sentimento de amor e por uma convicção arraigada de que a relação com Jesus tem o poder de dar salvação, isto é, de mudar estruturas de relacionamentos de vida doentios em saudáveis. Mesmo que não existisse um IDE nas palavras de Jesus, acredito que não poderia conter o desejo de compartilhar o amor de Deus que muda o sentido da existência.


Meu coração missionário não se move em função de discursos elaborados em torno de mesas de marketing de empresas missionárias. Sem desmerecer o trabalho honesto daqueles que colocam seus conhecimentos técnicos a serviço da divulgação da pessoa e mensagem de Jesus, meu coração se move em torno dos dons disponibilizado pelo criador, visando dar sustentação à vida.


Não creio em missões, se isso significar o reconhecimento de um único dom, o de proclamar, visando somente produzir efeitos escatológicos. A supervalorização desse único dom na obra missionária equipara o ministério, na prática, a empreendimentos empresariais que visam tão somente ampliar a fatia de mercado. Creio em missões se isso significar o reconhecimento e valorização igual da diversidade de dons e seu exercício a serviço da vida em todas as dimensões.



Meu coração missionário não se move, portanto, em função da vida futura. Ele pulsa em favor da vida, porque minha vida teve o significado recuperado a partir da relação com Jesus e da compreensão de sua missão e efeitos no tempo e espaço. Por isso, coloco-me diariamente a serviço de Deus, usando dons que me foram dados, conhecimentos que pude construir e recursos financeiros disponíveis, em projetos que restaurem, através da fé em Jesus, a imagem de Deus em cada ser humano e sua glória em todas as estruturas que compõem a existência.

3 comentários:

Pr. Josué Moura 28 de junho de 2010 às 20:35  

Creia em Missões, colega. Creia em Missões sempre... ainda que tudo venha a parecer errado. Porque por cima, debaixo, por entre, apesar de e sempre... a graça indescritível do Salvador vai alcançando perdidos e doando vida aonde e a quem não tem mais esperança.

Grande abraço.

Josué Moura

Fco.Araújo 28 de junho de 2010 às 23:11  

Gostei do artigo, missões é tudo isso que vc falou e disse. Missões sempre foi e será um ato de fé em Jesus e de obediência à sua ordem "ide, fazei discípulos". Quanto à metodologia, entendo que se mede pela quantidade de frutos reprodutivos.

Pr. Josué Moura 1 de julho de 2010 às 15:02  

Permita-me discordar no que trata de medir pela quatidade de frutos.
Quantidade é coisa bem relativa. Alguns esforços missionários em determinados contextos não concedem aquelas alegrias de ver muita gente sendo salva; trabalhos entre indíenas demandam décadas para que se chegue aos primeiros resultados... Mas... é isso.
Talvez o compromisso de fazer missões a qualquer custo por causa do amor (ao menos o de Deus) aos perdidos, seja o que nos faz mais do que religiosos.
Abraço
Pr. Josué Moura