sábado, 30 de julho de 2011

"Necessitamos de um choque de gestão" - Convenção Batista Brasileira

Ao Editor d'O Jornal Batista, da Convenção Batista Brasileira
Prezado editor,
A cada semana acompanho O Jornal Batista à procura de informações ou pensamentos que possam ajudar a mim ou a igreja à qual sirvo como pastor.

Geralmente seleciono o que investirei tempo para ler usando dois referenciais, nesta ordem: o autor e o assunto.
autores que, mesmo escrendo sobre assunto fora do nosso interesse ou opinando em bases diferentes das nossas, sempre conseguem proporcionar-nos prazer, pela clareza da exposição, pela coesão e coerência do texto, pela boa fundamentação teórica, pela contextualização ou mesmo pela humildade que sempre demonstra ao não posiconar-se como dono da verdade ou juiz de nossas vidas. Há ainda os que conhecemos pessoalmente e ler seus escritos faz-nos sentir como se estivéssemos próximos.
assuntos que, por razões que não vem ao caso, não fazem parte do nosso foco de interesse. Quando fazem, mesmo que o autor não esteja na lista dos preferidos, acabamos nos interessando por acreditarmos na importãncia dele para nossa caminhada individual, na igreja local ou na vida denominacional.
Faço esse rodeio todo pra dizer que geralmente leio os textos do Pr. Lourenço Rega, pelo autor - gosto da pessoa dele (temos trabalhado juntos em alguns momentos na caminhada denominacional) e da forma como ele escreve - e pelos assuntos que aborda. Por isso, sinto-me à vontade para fazer alguns comentários sobre o texto "Necessitamos de um choque de gestão!".
1. 
Gostei do texto porque trata de assunto que julgo relevante para igrejas locais e instituições denominacionais e porque me levou à década de 80 quando David Mein, professor da matéria Realidade Denominacional no STBNB, nos colocava em contato com a liderança, ajudando-nos a compreender melhor o funcionamento da máquina batista;
2. 
Sobre as crises de gestão, para nossa reflexão destaco que também já as vimos em juntas missionárias em passado recente. A diferença entre as juntas missionárias e outras organizações, no meu distante e limitado ponto de vista, é que por uma distorção conceitual e política (inclusive já abordada por Lourenço) impregnada na cultura batista brasileira: 2.1. elas gozam de maior espaço quantitativo e qualitativo, na vida denominacional; 2.2. o aumento ou redução de suas receitas dependem prioritáriamente da manutenção de um bom discurso de sensibilização junto às igrejas, diferentemente das outras organizações; 2.3. contam com uma rede de arrecadação "paralela" ao Plano Cooperativo que lhes garante receita infinitamente maior do que a oriunda do Plano e mais eficiente do que o PC, tanto porque as igrejas enviam diretamente para elas, sem risco de retenção pelas Convenções Estaduais, quanto por, agora, já estarem recebendo também diretamente de membros das igrejas, eliminando também o "obstáculo" igreja local; 2.4. não ficam expostas à adimplência ou inadimplência de compradores de serviços ou produtos; 2.5. não têm concorrência, como é o caso da JMM ou tem concorrência pequena, como é o caso da JMN, cujos "concorrentes" são algumas convenções estaduais que também mantém missonários. Daí minha restrição à comparação do sucesso delas em face do insucesso de algumas outras instituições.

3. 
Em relação aos critérios para renovação dos conselhos/juntas (qualificação de conhecimento/experiência para atuar em cargos de liderança) ou político (representação regional), já expus por diversas vezes minha opinião sobre este assunto e, por já ter participado diversas vezes de Comissões de Renovação de juntas ou conselhos, em nivel estadual e nacional, inclusive como relator, defendo que um critério não anula o outro. Dispomos de pessoas qualificadas tecnicamente em todas as regiões do pais, portanto, podemos sim escolher bons técnicos e, ao mesmo tempo, manter o critério político da representação regional. O problema é que, sob alegação tecnicista e de redução de custos financeiros, vez por outra priorizamos "os mesmos", das "mesmas" regiões, dos "mesmos" círculos de relacionamentos de líderes estabelecidos. Nem mesmo o discurso da presença dos executivos regionais no conselho da CBB, (que a meu ver vem se confirmando ter sido um critério estritamente político, pois, por razões de "ética-corporativista", rarissimamente um executivo estadual se sente à vontade para emitir opinião "técnico-crítica" sobre o que é feito pelos colegas executivos nacionais), justifica a concentração de uma região e detrimento de outra, nos casos regidos pela renovação.

4. 
Em relação a atuação dos pastores como gestores, tem me incomodado a ideologia política deste argumento. A idéia é que priorizamos pastores em vez de administradores (não gosto da expressão gestores, ainda que ela seja a palavra da moda). 4.1. Cada pastor, além do pastoreio, manifesta força em pelo menos uma outra área. (Na verdade, o próprio conceito pastor merece aprofundamento em seu aspecto histórico). Geralmente somos pastores + evangelista, ou + músico, ou + educador, ou + escritor, ou + professor ou + conselheiro e assim por diante. Alguns, então, são pastores + administradores; 4.2. Também poderia citar nomes de "n" experiências mal sucedidas de administração na denominação produzidas por empresários + administrator, engenheiros + administrador, professores + administrador ou advogados + administrador, por exemplo; 4.3. Também poderia citar nomes de "n" experiências bem sucedidas de pastores + adminitrador, como é o caso do próprio Lourenço Rega que é pastor há décadas, e, apesar de eu não ter nenhum acesso a dados da Teológica de São Paulo, sua administração é tida como bem sucedida.

Analisar o sucesso ou insucesso de uma administração exige avaliar não somente as decisões tomadas pelos administradores, mas toda uma conjuntura histórico-social. Eu por exemplo, fiquei com um pé atrás ao final da última crise na Junta de Missões Nacionais e também do Seminário do Norte, simplesmente porque nunca foram disponibilizados indicadores do periodo anterior à chegada dos executivos demitidos para serem comparados com os de suas administrações e da administração posterior para identificarmos se o problema foi técnico ou político. Como conhecemos somente discursos, sem acesso a dados, corremos o risco de nos enganarmos e, pior ainda, elegermos a condição de pastor dos administradores demitidos para bater numa classe que já apanha tanto em seu dia-a-da. Nesses quase 28 anos de consagração ao pastorado, já fui também executivo denominacional e sei a diferença entre ter título de pastor e exercer a função pastoral.

Meu desejo, finalmente, é que esses comentários ajudem na reflexão de tão importante tema e que o Pr. Lourenço continue nos brindando com sua amizade, sua dedicação e suas relevantes reflexões.

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