domingo, 17 de julho de 2011

Os discursos e os dados: a semelhança entre gays e evangélicos*

A Folha de São Paulo publicou matéria, neste domingo 17 de julho, revelando a capacidade máxima dos três principais espaços da capital paulista onde eventos abertos reunindo multidões acontecem.

O texto mostra que tanto os organizadores da PARADA GAY, quanto os da MARCHA PARA JESUS superestimam os números. Os primeiros falam em 4 milhões de participantes; os segundos, em 5. A capacidade máxima, entretanto, do maior dos 3 espaços - a Avenida Paulista - seria de um milhão de pessoas (isso mantendo-se filas organizadas, com pessoas lado a lado, fato que geralmente não acontece).

Isso significa que gays e nós, evangélicos*, que já somos iguais na condição de pecadores, agora nos igualamos em mais este elemento: o do exagero nas informações como estratégia de marketing.

Por ter aprendido a não dar ouvidos a discursos, mas a avaliar dados, gosto de, automaticamente, sempre que possível, fazer contas, quando ouço pessoas empolgadas falando dos resultados do seu próprio trabalho.

Percebi que dentre nós, pastores, alguns evangelistas são os que mais exageram. O resultado de seus trabalhos, geralmente são "evangelásticos". Em segundo lugar ficam alguns pastores dirigentes de organizações que dependem mais de resultados  para aumentar recursos financeiros para suas atividades ou, quando a coisa está feia, para manter-se na função. Alguns pastores de igrejas locais, por dependerem mais de relacionamentos, tendem a exagerar menos nos números e fazem isso, geralmente, quando precisam de afirmação, em conversas com colegas sobre número de membros ou receitas financeiras.

Falando em números, há igrejas que não fazem recadastramento de membros não por amor às pessoas, mas para manutenção de status. Números impressionam, não importa a verdade, afinal, quantos se dispõem a confrontar discurso com realidade?

Gosto de números, apesar de já ter fugido da escola por causa de uma professora de matemática. Eles não são tudo, mas são uma importante ferramenta na avaliação de realidades; não dizem tudo, mas ajudam muito quando queremos analisar situações visando melhorá-las.

Compreendo a necessidade psicológica, política ou econômica que algumas vezes temos de sair da realidade para sobrevivermos a ela, porém, enfrentá-la como ela é, parece-me ser o mais indicado e também um bom indicador da nossa própria saúde e dos valores que abraçamos.

* Evangélico no sentido mercadológico e não teológico. Leia comentários  ...

Parte da matéria da Folha de São Paulo
"QUANTOS CABEM?


Paulista e Consolação


CÁLCULO DO DATAFOLHA
A área total inclui calçadas, canteiros, árvores e espaços como bancas de jornais
216 mil m2 x 7 pessoas/m2


1,5 milhão
é o número máximo de pessoas que cabem ao mesmo tempo nas duas vias, sendo 948,5 mil na av. Paulista e 563,5 mil na rua da Consolação


Isso equivale a:
19 estádios do Pacaembu lotados


17 vezes o público do show do U2 no estádio do Morumbi, em abril deste ano


3,7 vezes a população do centro da cidade


O QUE DIZEM OS ORGANIZADORES
Segundo a Parada Gay, o público do evento do dia 26 de junho foi de 4 milhões durante sete horas


Para caberem 4 milhões na Paulista e na Consolação, cada m2 teria que conter 18 pessoas


QUANTOS CABEM?


Campo de Bagatelle


CÁLCULO DO DATAFOLHA
164 mil m2 x 7 pessoas/m2


1,15 milhão
é o número máximo de pessoas que cabem ao mesmo tempo nesse espaço


O QUE DIZEM OS ORGANIZADORES
A Marcha para Jesus, no dia 24 de junho, anunciou que o total de participantes foi de 5 milhões


Para a estimativa dos organizadores estar certa, 30 pessoas teriam que ocupar 1 m2


outros jeitos de medir
PELOTÃO Veja como é a conta que considera a movimentação de pessoas aglomeradas na av. Paulista

1
A av. Paulista tem 47 m de uma calçada a outra. Uma fileira de lado a lado teria 85 pessoas

2
A cada 2 s, a fileira cruzaria um ponto fixo da avenida, andando, em média, a 1,8 km/h. Logo, 1.800 pelotões, ou 153 mil pessoas, passariam por ali a cada hora

3
Em sete horas, somente 1 milhão de pessoas passariam pela Paulista. Para 4 milhões, seriam necessárias 26 horas

DO ALTO Um helicóptero registra imagens aéreas para aferir se, durante o evento, a concentração de pessoas chega a seu índice máximo (seis) e mínimo (dois) por m2


PASSO A PASSO Até os anos 1980, PMs mediam a área com passos largos (cada um tinha cerca de 1 metro). Depois, multiplicava-se pelo número de pessoas por m2


LIXO Nos EUA, para medir o número de pessoas, fiscais de algumas cidades contam a quantidade de lixo produzida


RENOVAÇÃO Pesquisadores entrevistam a cada duas horas grupos diferentes. Se a pessoa estiver ali há menos de 2 h, representa um novo público e a conta final sobe


QUANTOS CABEM?
Anhangabaú


CÁLCULO DO DATAFOLHA

54,2 mil m2 x 7 pessoas/m2
379,4 mil
é o número máximo de pessoas que cabem ao mesmo tempo nesse espaço


multidões históricas
As estimativas que foram refeitas pelo Datafolha

DIRETAS-JÁ - ABRIL DE 1984  

Local: vale do Anhangabaú
Público estimado por organizadores:
1 milhão
Cálculo do Datafolha:
400 mil

CARAS PINTADAS - SETEMBRO DE 1992  

Local: vale do Anhangabaú
Público estimado pelos organizadores:
1 milhão
Cálculo do Datafolha:
70 mil

Outro lado
A organização da Parada Gay afirma que está fazendo um estudo de público sobre o evento de junho, mas que ele ainda não foi concluído. Os números levam em conta a rotatividade e a quantidade de pessoas nas imediações da av. Paulista, segundo os organizadores.

"Nos inspiramos nos cálculos feitos pelo 'Guinness', com a estimativa de público em diferentes momentos da Parada", explica Leandro Rodrigues, assessor do evento. A Igreja Renascer, que organiza a Marcha para Jesus, usa critérios semelhantes, mas admite que não dispõe de base científica.


A exemplo da Parada Gay, afirma que o público é grande por causa da alta movimentação de gente em suas nove horas de duração. A igreja diz que ruas próximas ao palco da pça. Campo de Bagatelle também são ocupadas.
"
Fonte: Folha de São Paulo, de 17.07.2011 

5 comentários:

Fco.Araújo 17 de julho de 2011 às 09:44  

concordo plenamente com o texto. Há um exagero enorme destes organizadores de eventos quanto ao numero de participantes. É uma jogada de marketing e uma forma de dizerem que são fortes. É lamentável que uma organização dita evangélica embarque num costume mentiroso e mundado. Felizmente nem todos os evangélicos podem ser incluidos nesse rol de "mistificadores". Particularmente sou muito desconfiado com essa turma que exageram suas estórias, inicialmente divido os fatos por 2, e do que sobre dou um desconto de 70%.

Juliana Passinho 17 de julho de 2011 às 15:43  

Professor quando leio textos semelhantes a esse, a única coisa que me vem a mente é que perto está o Senhor e o quão precioso é o conselho que a Bíblia Sagrada nos dá quando diz: guarda o que tens para que não tomem a sua coroa e também o que está escrito no verso 01 do salmo primeiro.

edvardeoliveira@gmail.com 19 de julho de 2011 às 19:29  

Publico este diálogo, travado com um colega de ministério, no Facebook, em torno deste texto.

EL - "Creio que há uma diferença fundamental e essencial entre um pecador e um pecador redimido. Este é chamado na Palavra de de Deus é chamado de santo. Que semelhança tem um santo de Deus com um gay? Absolutamente nenhum. Haja barateamento da graça de Jesus!!!"

EGO - "Observe que usei as categorias gay e evangélico e você usou as categorias pecador, pecador redimido e santo. Se as categorias usadas foram diferentes, não entendi que relação isso tem com o barateamento da graça (inclusive no sentido dado por Bonhoeffer). Também fiquei em dúvida se pra você evangélico e pecador redimido são sinônimos."

EL - "Meu comentário Edvar é contestatório da expressão contida na matéria exposta no seu blog. “Isso significa que gays e nós, evangélicos, que já somos iguais na condição de pecadores.” Isto é um sofisma, linguagem que desconhece a obra da cruz, e o que Jesus fez por aquele que uma vez pecador agora está unido a Ele. Para Bonhoeffer a graça barata é a justificação do pecado sem a justificação do pecador. Eu aplico o termo num sentido peculiar; todas as vezes que minimizamos a obra da cruz e seus efeitos estamos barateando a graça de Deus. Há uma enorme confusão sobre termos no meio cristão. Tomo o termo evangélico no sentido empregado a uma pessoa que tem profundo compromisso em obedecer o evangelho de Jesus e que demonstra vida transformada como consequência do novo nascimento. A diferença entre um pecador contumaz e um pecador redimido (evangélico), é tão grande quando as suas consequências, céu e inferno. O menor do reino é maior que João Batista."

EGO - "Sem entrar em outros detalhes do seu comentário, parece-me que o fundamental é observarmos que estamos usando a mesma palavra - evangélico - com significados diferentes. Eu falo de evangélico como marca religiosa; você, num sentido teológico. Estou totalmente convencido de que pertencer a um grupo que usa a marca "evangélico" não é sinônimo de ser seguidor do evangelho, muito menos ser um "redimido". Tenho visto "evangélico" de carteirinha fazer coisa que até o diabo tremeria diante de Deus, mas faz sem que a cara fique vermelha. Mas também estou convencido de que qualquer pessoa que se submete ao senhorio de Jesus é evangélica, inclusive até quem não faz parte do mundo "evangélico"."

edvardeoliveira@gmail.com 19 de julho de 2011 às 19:32  

Publico este segundo diálogo travado no Facebook com outro colega de ministério.

UE - "Dizer que aquele que é do Senhor Jesus, que é considerado por Deus santo, que não tem prazer em viver no pecado, que foi regenerado, convertido e lavado pelo Sangue de Jesus Cristo que purifica o homem de todo pecado é semelhante a gays ou a qualquer que não foi transformado por este poder, é força a barra. É será que os evangéliicos estão fora do Reino de Deus?"

EGO - "observe que meu texto não discute, nem afirma: 1) se fazer parte de igreja chamada evangélica é sinônimo de redenção; 2) se fazer parte de igreja evangélica por si só significa ser considerado santo; 3) que quem faz parte de igreja evangélica tem ou não tem prazer no pecado; 4) que fazer parte de igreja evangélica torna alguém regenerado; 5) que fazer parte de igreja evangélica é sinônimo de conversão e purificação pelo sangue de Jesus; 6) que quem é do senhor Jesus é igual gay; 7) que evangélico não faz parte do Reino de Deus. Nenhum desses tópicos foi abordado por mim. Waldir Martins e Magda Vasconcelos perceberam o objetivo do texto. Ainda que o objetivo do texto não seja discutir salvação ou santidade, interessante seria responde se seer membro de igreja evangélica torna uma pessoa menos pecadora do que ser da comunidade gay? Mesmo distinguindo evangélicos tradicionais (batistas da CBB, presbiterianos, metodistas...) dos novos evangélicos(Renascer, IURD, Internacional da Graça...), participar de um desses grupos torna a pessoa menos pecadora?"

Catarine Heiter 22 de julho de 2011 às 12:40  

Excelente post!

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