Quando o plug da panela de pressão estoura - Administrando em situaçōes de crise
O QUE É QUE EU FAÇO? O QUE É QUE EU FAÇO? O QUE É QUE EU FAÇO?, gritei três vezes, como se clamasse à trindade.
Gláucia chega correndo na cozinha perguntando pelo que estava acontecendo e eu, ali parado. Foi em questão de segundos.
Tudo transcorria normalmente num sábado ensolarado. Logo no início da manhã os amigos Wilde e Maria passaram em casa pra me ajudar a resolver um problema que sozinho não conseguiria. Terminado o serviço, tomamos um suco, rimos um pouco e eles partiram.
Pouco mais tarde vou preparar uma carne de panela. Separo os ingredientes, corto a cebola, o tomate, o pimentão, a cebolinha, o coentro; acrescento alho, batatinha, abóbora e alguns temperos, coloco na panela de pressão, ligo o fogo e começo a lavar alguns utensílios que estavam na pia.
De repente, um estouro tipo abertura de champanhe, um susto inesperado, um esguicho de água quente atingindo o exaustor e espirrando pelos arredores e a chama do fogo parecendo multiplicar-se.
No automático, repito 3 vezes a pergunta: O que devo fazer?
E enquanto a repetia, naqueles segundos, o cérebro identificava e conectava o perigo do fogo, indicando que a primeira coisa a fazer seria desligar o gás, mas, ao mesmo tempo, apontava o risco de queimadura com água quente, inclusive porque estava sem camisa.
Dos males, o menor pareceu-me arriscar desligar o gás, apagando o fogo, e assim o fiz, com sucesso.
Feito isso, restava diagnosticar e avaliar a situação, repensar o almoço, limpar o fogão, o exaustor, prateleiras próximas, paredes, piso, enfim, fazer uma bela de uma faxina e pensar em outro ingrediente para o almoço...
... e ainda, responder ao porquê do estouro, pra evitar repetições futuras...
Sem pressão da panela e do perigo e com a ajuda experiente de Gláucia, as ações foram replanejadas, medidas preliminares para garantir o almoço e ações que restaurassem a limpeza do ambiente foram adotadas.
E então, depois que a situação estava sob controle, almoçamos pelo plano B, descansei, iniciei a faxina enquanto pensava na relação "estouro da panela de pressão" e administração.
Ao longo da vida exerci muitos cargos e funções de liderança. Especializei-me em apagar incêndios. A maioria criada por terceiros; alguns, por mim mesmo. Alguns estavam em andamento e fui chamado pra apagar. Outros surgiram na caminhada.
A meu ver, esses que acontecem na caminhada são mais difíceis de debelar porque estamos envolvidos no processo. Sob pressão, fazer diagnóstico, identificar o que está acontecendo e decidir como agir para alcançar o melhor resultado visualizado, provocando o menor efeito colateral negativo, é o grande desafio. (Essencial, nestas situações, é definir focos, estabelecer ordem de prioridade e atacá-los, um por um).
Por isso tenho pouca paciência com "engenheiros de obras prontas", especialmente os que não demonstram competência para entender que uma coisa é tratar de um problema sentado numa sala confortável ouvindo narrativas passadas e dando opinião e outra é estar envolvido no problema concreto, sob a pressão de variáveis nem sempre tão claras, mas precisando tomar decisões urgentes. (Desconfio das intenções de quem assume um cargo, critica depreciativamente as decisões do antecessor sem levar em conta o contexto de seus erros e acertos. Se não estava lá quando as coisas foram feitas, que autoridade têm para criticar?)
Particularizando, nas reuniões de conselhos e assembléias de igrejas e denominação isso é muito comum. Algumas pessoas - portanto nem todas, muito menos a maioria - participam apenas dos cultos, mas quando estão em reuniões deliberativas exercem seus poderes como se fossem totalmente envolvidas nos processos cotidianos objetos de decisão. Não são. Precisam, por isso, ser mais prudentes, humildes, generosas, em suas colocações.
Liderar é decidir e decidir, muita vez, sob pressão. Decidir sob pressão dificulta o diagnóstico e, consequentemente a escolha da melhor opção para solucionar um problema.
Já decidi muito. Milhares de pessoas já foram afetadas por decisões que tive que tomar em cargos e funções que ocupei. Muitas vezes errei, mas não mais do que acertei. E digo com tranquilidade que, em todas as vezes que errei, nas difíceis decisões que tive que tomar, nenhuma delas foi com a intenção de prejudicar alguém. Se houve prejudicados em decisões tomadas, certamente faziam parte da escolha menos ruim enxergada no contexto, pois, como se diz, "não se faz omelete sem quebrar ovos".
Você que já viveu experiências com estouro de panela de pressão ou já estudou o assunto, pode fazer mil comentários dos "porquês" da explosão, dos "comos" que poderiam ser adotados nessa situação, das etapas do durante e do depois, mas colocar na berlinda, impiedosamente, quem viveu o caso concreto e precisou decidir sob a pressão do contexto é um grande equívoco.
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