Tudo me é permitido
"Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convém; todas as coisas são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma delas (pois "nem todas edificam")." (I Cor. 6:12,23)
Todas as coisas me são lícitas.
Isso não é invenção de Paulo. Até veneno de cobra tem sua utilidade, pelo menos
para dele extrair-se soro para anular os efeitos mortais sobre quem por ela
picado. Não há, portanto, nada neste planeta que seja absolutamente ilícito.
Tudo tem a ver com a forma e finalidade do uso.
Isso exige que cada pessoa
desenvolva sua inata capacidade de pensar em torno das informações que dispõe,
abstraindo, fazendo conexões entre elas, construindo conhecimento e encontrando
possibilidades. Por isso, dizer ou fazer algo, não pode ser classificado como
nocivo à vida da pessoa ou das pessoas ou coisas que as cercam, senão após avaliação.
Há coisas cuja decisão em torno
delas não exige uma parada para avaliação. A experiência demonstra os prejuízos
e assim, automaticamente decidimos fazer ou não fazer. Exemplo: ninguém se
aproxima de um abismo pra estudar os efeitos de se atirar nele (a não ser para
especular como poderia se sentir atirando-se à morte). Já temos noção dos
efeitos e instintivamente nos preservamos.
Porém, a distância que devemos ficar de sua margem, abre uma
possibilidade de avaliação, dependendo das experiências, da estrutura emocional
e capacidade cognitiva de cada um.
(By András Sásdi and Raphael Gimenes)
Visitando a maravilhosa Cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina, depois de 2h30 de caminhada montanhosa, senti um desejo profundo de ver a beleza dela por ângulos, cujo risco de cair abismo adentro era grande. Aceitei meus limites e troquei, conscientemente, a possibilidade de ver algo ainda mais belo pela segurança, não me arriscando. Outros se arriscavam mais.
Visitando a maravilhosa Cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina, depois de 2h30 de caminhada montanhosa, senti um desejo profundo de ver a beleza dela por ângulos, cujo risco de cair abismo adentro era grande. Aceitei meus limites e troquei, conscientemente, a possibilidade de ver algo ainda mais belo pela segurança, não me arriscando. Outros se arriscavam mais.
(By András Sásdi)
(Enquanto meu filho se arriscava, confesso, eu de longe orava)
Todas as coisas e pessoas têm seu
lado bom ou ruim, ainda que inicialmente imperceptível. Daí todas as coisas
serem lícitas, daí o complemento das palavras de Paulo: “mas nem todas me
convém”.
“Nem todas as coisas me convém”
indica que de cada um deve ser reconhecido o direito e responsabilidade de
escolher (se é ou não conveniente), inerente à sua condição humana.
Claro que condição de escolher e
poder de escolher não são a mesma coisa. Poder escolher depende de fatores
diversos. Quanto maior for nossa dependência de alguém ou de algo, menor nosso
poder de escolha.
É comum ouvirmos adolescentes
dizendo: “não vejo a hora de completar 18 anos”. Ele está pensando somente na
independência civil, mas nessa idade, a não ser em casos excepcionais, a
maioria não terá alcançado a independência econômica. Ganha o poder civil, mas
a dependência econômica mantém restrito seu poder de escolha.
O medo de acreditar na própria
capacidade de pensar, leva pessoas a fazerem ou deixar de fazer coisas, apenas
porque herdou a informação de que pode ou não pode. Jamais se aventurou a
perguntar, pesquisar e avaliar o porquê do pode ou não pode. São pessoas que se
regem a vida inteira por costumes (mores, no latim = costumes, moral) não
porque entendeu o que gerou tal costume, mas apenas para não contrariar seu
grupo significativo.
Não perguntam, por exemplo: por
que isso ou aquilo é ilícito, proibido? Ou: a partir de quando e de que lugar
tornou-se ilícito, proibido? Ou ainda: os elementos ou motivos que justificaram
a ilicitude, proibição, naquele tempo e local continuam presentes em nosso
tempo e espaço?
Reconheço que, seja pela
necessidade de controlar outros, seja por insegurança, medo ou mesmo dúvida
sobre a própria capacidade de carregar nos ombros o peso da liberdade, alguns
preferem seguir costumes, cegamente. Se seus limites são estreitos, têm meu respeito,
mas também devem reconhecer que não lhe cabe impor a outros que se enquadrem no
seu quadrado.
O alerta paulino, em seu contexto,
traz consigo uma carga restritiva, mas também deixa uma brecha à decisão
individual. Que sejamos capazes de avaliar custo-benefício, implicações,
efeitos colaterais sobre si e próximos, e assim exercer nossos direitos e
deveres de maneira saudável, para o bem de todos e glorificação do criador.
1 comentários:
Gostei do texto. Ótima reflexão!
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